Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

CLIPPING SINDHOESG 29/10/13

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.

O POPULAR
Mais Médicos
Treinamento vai começar hoje
Profissionais da segunda etapa do programa seguirão para 18 municípios na próxima semana
Cleomar Almeida

Três dias depois de chegarem a Goiânia, os 57 médicos estrangeiros ou brasileiros com formação no exterior começam hoje o curso sobre o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiás, antes de serem enviados aos 18 municípios onde vão trabalhar na rede básica de atenção à saúde. Eles tiveram o dia livre ontem e, em entrevista concedida ao POPULAR no hotel onde estão hospedados na capital, contaram as expectativas de trabalho, a ansiedade para conhecer as comunidades goianas e o que têm feito para lidar com as críticas sobre a chegada deles.
Um dos 52 médicos cubanos que chegaram no grupo ao Estado pelo programa Mais Médicos, Jobino Rojas, de 44 anos, vai trabalhar em Novo Gama, no Entorno do Distrito Federal (DF), e não esconde a inquietação para começar a atender, na segunda-feira, logo depois de assistir, nesta semana, ao curso oferecido pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). “Sei que vou trabalhar muito, e estou preparado para isso”, diz ele, que é especializado em Medicina Comunitária.
Homem de aparência tranquila, Jobino expressa até pelo brilho no olhar o desejo pela profissão. “Sou médico porque preciso atender, ajudar a população. Se eu não pensar assim, como posso ser médico?”, questiona, para ponderar que, em Cuba, morava e trabalhava na zona rural. “Quando você vive na comunidade, começa a sentir muito apreço pelas pessoas e passa a se dedicar mais a elas”, acrescenta ele, antes de retornar ao computador, para ler mais sobre saúde pública brasileira.
No grupo também está a médica colombiana Shirley Cerinca Vila, de 24, que vai trabalhar em um posto de saúde da família na periferia de Goiânia. “Quero ir para a minha população, porque quero conhecer as pessoas, saber quais os problemas delas e como posso ajudá-las”, afirma ela, que se formou em uma universidade de Cuba.
Shirley acentua que vai atender bem todos aqueles que precisarem dela. “Isso, para mim, é suficiente”, frisa. “Embora eu possa não encontrar condições completas para trabalhar, sei que posso dedicar o tempo que as pessoas necessitarem de mim, para colaborar com elas da melhor forma possível”, emenda.
TRABALHO COMO MISSÃO
Mais que um trabalho, os profissionais entrevistados pela reportagem enxergam a Medicina como uma missão. Quem resume isso é o brasileiro Thiago Queiroz, de 26, recém-formado no curso por uma universidade cubana. “Todo profissional, quando vai prestar uma atenção à saúde, deve se perguntar se fez tudo o que poderia ter feito”, pontua ele, que nasceu em Barra do Garças (MT).
Para Thiago, o médico também deve “desenvolver empatia e se colocar no lugar do paciente.” “Muitas vezes o paciente está na fila de espera há duas horas e, quando será atendido, não é que você tenha culpa, mas ele também não tem culpa de estar naquela situação”, assevera. “Eu me alegro muito por ter aprendido a atender com paciência.”

“Precisamos nos unir para ajudar o povo que precisa”
O médico cubano Jorge Luiz Orreissi, de 50 anos, é um dos profissionais que já estão em Goiás para trabalhar pelo programa Mais Médicos. “Estou muito agradecido por mais uma oportunidade de agir com humanidade.”
Por que o senhor decidiu trabalhar no Brasil?
Vim para o Brasil porque, como médico, tenho sentimento de solidariedade com o País, com o povo. Não é a minha primeira missão. De 2000 a 2002 trabalhei na Guatemala; de 2002 a 2004, em El Salvador; de 2004 a 2006, na Venezuela; de 2006 a 2008, na Angola. Agora, estou aqui. Em Cuba, se falava muito do Brasil, onde a população pobre carece muito de saúde. Estou aqui para trabalhar.
O senhor vai trabalhar em Cristalina. O que espera encontrar lá?
Penso que vou ser bem acolhido, já que esse município necessita de um médico permanente. Tenho experiência em trabalhar em comunidades afastadas. Quando trabalhava em Angola, atendi a um homem que sofreu um enfarte. Ele sobreviveu, está vivo, graças a Deus. Esse homem está muito feliz, a família dele, de renda baixa, está muito feliz também, porque ele não morreu.
Como lidar com a saudade da sua família?
Sou um ser humano, mas nós avisamos à família que vamos ficar longe por pouco tempo. Estamos preparados para isso. Espero que eu sirva para mudar a esperança de vida deste povo, que necessita de atendimento.
Alguns profissionais, no Brasil, têm resistência à chegada dos senhores aqui…
Deve haver união com o médico brasileiro, para aproveitar a experiência e o conhecimento dele. Não pode ter divisão. Em vez de criticar, precisamos nos unir para ajudar o povo que precisa muito de atenção médica. Penso que o Mais Médicos é muito maravilhoso. Este programa vai triunfar. Estou muito agradecido por mais uma oportunidade de agir com humanidade.

Revalida tem índice de aprovação para segunda etapa de apenas 9,7%
Apenas 9,7% dos 1.595 candidatos do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras, o Revalida, foram aprovados para a segunda fase. A nova etapa, em 30 de novembro e 1º de dezembro, será feita por 155 candidatos. É o pior resultado, desde que o exame foi criado, em 2011.
No primeiro ano do Revalida, 96 candidatos, o equivalente a 14% dos inscritos, passaram para a segunda etapa. Em 2012, a taxa de aprovação na primeira fase foi de 12,5%. Os resultados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ontem, uma semana depois da sanção da lei do Mais Médicos.
Profissionais estrangeiros recrutados no exterior para trabalhar no programa, criado em julho pelo governo federal, não precisam fazer o Revalida. A facilidade foi criticada por entidades médicas desde que a ideia do programa foi apresentada. Os baixos índices de aprovação, argumentavam as entidades, seriam um indicativo de que a qualidade da formação de profissionais no exterior é questionável. Liberar a atividade dos profissionais sem um exame, completavam, seria expor a população ao risco de um atendimento por profissionais sem conhecimento necessário.
Na segunda fase, candidatos serão submetidos a uma prova de habilidades clínicas, com simulação de atendimento médico. Para participar da prova, será preciso fazer inscrição até dia 4 de novembro e pagar uma taxa de R$ 300. O Revalida tem a participação de 37 instituições de educação superior públicas.
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Artigo – Algo de novo na saúde pública?
A Organização Mundial da Saúde está colocando todas suas fichas no pano verde e rude da fortuna com uma aposta: Universal Health Coverage (UHC), que em português pode ser traduzida como Cobertura Populacional em Saúde, pela qual cada pessoa deverá ter acesso a cuidados de saúde sem enfrentar dificuldades financeiras para custeá-los. Dessa vez sim, é para todos. A promessa já foi feita em Alma-Ata, a capital do Casaquistão, em 1978. Então, representantes de 134 países e 64 organizações internacionais reconheceram o acesso universal a cuidados à saúde como um direito humano fundamental, comprometendo os governos nacionais a assumirem a Atenção Primária à Saúde (APS) e a Promoção da Saúde para o conjunto da população como uma obrigação a ser financiada com recursos públicos.
O consenso de Alma-Ata, tão brilhantemente concebido, logo perdeu a unanimidade inicial e passou a enfrentar pesados obstáculos, claudicando perante a ofensiva avassaladora do neoliberalismo favorecida pelos longos mandatos de Ronald Reagan na presidência dos Estados Unidos (1981-1989) e de Margareth Thatcher como primeira-ministra do Reino Unido (1979-1993). Numa mudança radical de atitude, permitiu-se que as forças de mercado passassem a ditar as regras. Veio, então, a onda da privatização, a liberalização do comércio de medicamentos, o estímulo à venda direta de serviços e o incentivo ao mercado privado com a transformação de pacientes em consumidores, alastrando-se pelo setor saúde mundo afora uma febre de precoce descentralização, esta com o apoio de forças progressistas interessadas em fortalecer o nível local e a participação comunitária. Alertas de que os mais pobres não poderiam pagar pelos cuidados de que necessitassem foram ignorados. Seguiram-se trinta anos de políticas neoliberais causando imensos prejuízos especialmente às áreas de saúde e de educação. O Sistema Único de Saúde (SUS), aprovado com base na Constituição brasileira em 1988, inevitavelmente sofreu os efeitos dessa onda. Afinal, nos últimos suspiros da primeira década dos anos 2000 a maré desfavorável foi revertida, dando novo alento às políticas de caráter social, do que se aproveitou a OMS para apresentar a UHC como “o mais poderoso instrumento de saúde pública que é possível oferecer”. No entanto, UHC não é Alma-Ata. Nem poderia ser, pois os tempos são outros, o contexto é distinto. O exame dos estudos e dos textos mais recentes sobre o tema revela diferenças e perspectivas preocupantes, inclusive para o Brasil em relação ao seu sistema de saúde.
Desde logo, ficou claro que os dois mais tradicionais sistemas de atenção à população – o que é financiado por impostos como no Sistema Nacional de Saúde inglês ou no SUS e o que é baseado em taxas sobre a folha de salários, como na Alemanha (e na previdência social brasileira do século 20) – já “não são úteis para decisão política”.
Os teóricos da UHC dizem que esta não advoga qualquer sistema de organização de sistemas de saúde em particular, assim como não tem preferência entre os esquemas tradicionais ou inovadores de financiamento, desde que assegurem os recursos necessários. Uma vez que a diretora da OMS é chinesa, é possível que tenha recordado a famosa e pragmática afirmativa de Deng Xiaoping de que não importa a cor do gato, desde que cace o rato. A guerra, em relação ao financiamento, está concentrada no combate aos pagamentos diretos, do bolso do contribuinte, pois estes podem obrigar a gastos ditos catastróficos, relacionados a doenças e acidentes de alta gravidade e custos muito elevados, com potencial para conduzir o indivíduo e a família ao empobrecimento.
No esforço que vem sendo feito para consolidar sistemas correspondentes à filosofia predominante da UHC, destaca-se o empenho com que vem atuando o Banco Mundial, exatamente a instituição responsável pela implantação dos princípios do neoliberallismo no mundo. Seus ideólogos chegaram a escrever, com notório exagero, que estamos diante de uma terceira revolução da saúde. Depois da demográfica e da epidemiológica, teria chegado a hora e a vez de definir como a saúde é financiada e como os sistemas de saúde são organizados.
Uma vez que a proposta da UHC surge em aberto, aceitando ampla variedade de soluções com foco no aumento da população protegida, a iniciativa privada como de hábito se apressa a ocupar os espaços disponíveis.
As análises internacionais sobre UHC têm virtualmente ignorado o SUS brasileiro. Uma das razões para esta colocação em segundo plano do caso brasileiro é a opção pela retirada de apoio aos sistemas clássicos de estruturação dos sistemas nacionais de saúde. O SUS está ficando fora de moda. Isolado, corre o risco de perenizar e agravar suas dificuldades que têm causas internas conhecidas: a má vontade e o boicote das forças neoliberais logo após a sua instituição; o desfinanciamento crônico não corrigido nem quando o Brasil se beneficiou, nos últimos dez anos, do período de boom financeiro internacional; a falta de apoio governamental e a não correção dos problemas criados pela descentralização precoce do sistema.
O enfrentamento e a resolução dos verdadeiros problemas de fundo que afetaram e continuam afetando o SUS foram uma vez mais deixados para depois por iniciativas diversionistas como a Lei do Ato Médico e o Programa Mais Médicos, cujos efeitos mais notórios foram o esgotamento das energias dos litigantes (governo e categoria médica) e o fornecimento de combustível à campanha eleitoral. A estratégia UHC representa um caminho a ser percorrido, mas sem abrir mão das conquistas acumuladas pelos sistemas públicos nacionais e em particular pelo Brasil no último quarto de século.
Vitor Gomes Pinto é escritor, analista internacional, doutor em Saúde Pública
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Cartas dos Leitores – Médicos cubanos
Concordo que os médicos cubanos façam curso de capacitação sobre a realidade e funcionamento da saúde pública em Goiás. Mas concordo também que, no caso de não passarem na prova, retornem ao seu país de origem. Porém, acredito que os médicos brasileiros, pelo menos dos locais nos quais os médicos cubanos vão atuar, também devem fazer a mesma prova e, em casos de reprovação, sejam impedidos de exercer a profissão. Afinal, devemos testar a todos com similaridade.
Marília B. Gabriel – Goiânia – GO

■ O pensamento de que os médicos cubanos vão usurpar os lugares dos jalecos brancos dos brasileiros é um tanto quanto ignorante, devido ao fato de que os mesmo serão destinados apenas para lugares onde os nossos jovens médicos não se dispuseram a ir após o chamamento feito pelo governo. Não importa de onde é o médico, o simples fato de ter um médico para atendê-los já é importante. Assim, os médicos cubanos deveriam ser vistos como uma ajuda e não com o preconceito com que estão sendo tratados.
João Marcelo A. Brito – Goiânia – GO
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação