Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

CLIPPING SINDHOESG 28 A 30/06/14 (FINAL)

CONTINUAÇÃO

O HOJE
 Falta de pediatras pode piorar
Falta de médicos nessa área já é grande e com aumento de mais um ano na formação dessa especialidade, situação pode piorar

Cristiane Lima

Goiás tem quatro vezes menos pediatras que o recomendado. É o que diz dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A falta de estabilidade e salários baixos podem ser as justificativas para a baixa procura, por parte dos estudantes de medicina, para tal especialidade. O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria – Seção Goiás (SBP-GO), Leônidas Bueno Fernandes, alerta que a tendência de escassez desse profissional da saúde pode ainda aumentar, já que a partir de 2015 tal especialização média passará de dois para três anos.
No Estado existem 2 milhões de crianças e adolescentes e 695 pediatras. Destes, cerca de 500 estão ativos. Dividindo o número de profissionais pelo de habitantes, verifica-se que em Goiás existe um pediatra para cada 4 mil habitantes. A OMS indica que o ideal seja um pediatra para cada mil pessoas. Em Goiânia, a realidade é um pouco melhor: existe um pediatra para cada 1,4 mil pacientes. “Mas isso gera uma corrida de pacientes do interior para a capital e sobrecarrega o sistema”, afirma Leônidas Fernandes.
O presidente da SBP-GO é enfático ao dizer que o atendimento pediátrico não merecido a atenção necessária tanto da rede pública quanto dos planos de saúde. Isso, segundo ele, porque não há foco na prevenção, o que gera acúmulo de pacientes nos pronto-atendimentos. O ideal, segundo o médico, seria o acompanhamento da criança por um mesmo profissional desde o último trimestre de gestação até seus 19 anos. “Dessa maneira, seriam evitados diversos problemas que lotam filas nos hospitais.”
Dr. Leônidas acentua que o problema não é só em Goiás, mas nacional, principalmente porque não há concursos públicos ou outros meios que garantam a fixação desses pediatras nas cidades do interior e periferias das grandes cidades. Assim, o médico que ainda opta pela pediatria, não vê outro meio de sobreviver a não ser na capital. “Outras especialidades não têm na consulta seu meio de sobrevivência. Na pediatria não existe procedimentos que possam ser cobrados, como cirurgias, por exemplo.”

Dilema dos pais
Enquanto a falta de médicos pediatras se agrava, mães e pais ficam sem opção para atendimento. A contadora Rosicler Aparecida Pinto, 38 anos, planeja trocar de plano de saúde. Ela afirma que no mês de maio, o filho mais velho, João Vitor Amaral de Jesus, de 9, precisou de atendimento e ela afirma ter enfrentado dificuldade para que o primogênito fosse consultado por um especialista. Ele teve dor de garganta e febre. “Foi difícil conseguir atendimento”, ressalta.
Mas desde o último domingo, a contadora enfrenta um novo desafio. A filha de 2 anos, Ana Clara Amaral de Jesus, apresenta mal-estar, vômitos e diarreia. “Desde segunda, ela ficou peregrinando por unidades de saúde, algumas que já não são credenciadas ao plano. Quando a gente chega no local, somos avisados que descredenciaram porque paga mal ou não têm garantias. Mas não podemos ficar reféns. Pagamos o plano é justamente para ter o atendimento quando precisamos”, reclama.

Entrevista  Leônidas Bueno

O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Leônidas Bueno, defende o atendimento preventivo para crianças e adolescentes como forma de evitar sobrecarga no pronto-atendimento. Mas o médico ressalta que, caso não haja incentivos, cada vez menos médicos vão optar pela especialidade, o que pode gerar crise ainda maior nesse tipo de atendimento. Para o presidente da SBP-GO, seriam necessárias pelo menos 18 consultas desde o nascimento até o adolescente completar 19 anos para manter um acompanhamento adequado.

O HOJE – Por que o médico tem optado cada vez menos pela especialidade de pediatria, principalmente no interior e na periferia das grandes cidades?
Leônidas Bueno – Não é que os médicos não querem atender. É que não existe garantias. Não tem concurso público, não tem salário adequado, não tem segurança, não tem estabilidade. Então falta estímulo para os pediatras que existem trabalharem nesses setores e mais ainda para os que estão chegando na profissão. São 11 anos para um profissional desse se formar. É uma especialidade desgastante cuja consulta é diferenciada de outras especialidades. Com salário baixo e falta de garantias, certamente esse profissional vai buscar outras áreas.

O HOJE – Por que médicos recusam vagas existentes na rede básica?
Leônidas – Existe uma má gestão e falta de interesse dos gestores, principalmente no interior. Fica mais fácil investir em ambulâncias do que em uma unidade especializada. Com a falta de concursos e estabilidade, o médico recusa a vaga. Principalmente no interior, ele fica à mercê do prefeito, dos gestores, de um contrato temporário e sem segurança. Quando muda o gestor, certamente ele será demitido. Então esse profissional médico não tem segurança. Como ele vai escolher trabalhar com média de 20 atendimentos, em quatro horas diárias, para receber um salário médio de R$ 2 mil?
O HOJE – A rede municipal de saúde treinou clínicos gerais para atender pediatria. A SBP aprova isso?
Leônidas – Na emergência, qualquer paciente pode e deve ser atendido por qualquer médico. Mas a partir dali, no caso da criança e do adolescente, tem que ter o acompanhamento do pediatra. A residência de pediatria tem duração de três anos, com detalhes específicos para cada idade. Como é que você dá um treinamento de três anos em um mês e esse profissional está qualificado para atender? O único profissional adequado para atender a criança é o pediatra.
O HOJE – Como seria o atendimento preventivo na pediatria?
Leênidas – A mãe deveria se consultar com o pediatra no último trimestre de gestação. Depois disso, uma vez ao mês até que a criança complete seis meses. Depois, a criança deve retornar com nove meses, um ano, 18 meses e dois anos. Depois disso, uma vez ao ano, até que ela complete 19 anos. São 18 consultas que valem a vida toda. Nessas consultas são realizados exames, prevenções, orientações e uma série de conversas que podem ser fundamentais para o desenvolvimento saudável da criança. (30/06/14)
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DIÁRIO DA MANHÃ
Faltam pediatras em Goiás

O número de profissionais é quatro vezes menor em relação ao mínimo indicado pela Organização Mundial da Saúde
FABIANA GUIMARÃES

Em Goiás, a Sociedade Goiana de Pediatria mostra que não existem pediatras suficientes para atender as demandas. São 695 profissionais registrados, sendo que a quantidade real em atividade é de 500 pediatras. A população goiana, segundo o Censo Demográfico do IBGE, estudo feito em 2010, mostra que entre as idades de zero a 19 anos, há uma quantidade de dois milhões de habitantes. Se dividir o número de pediatras ativos com o número dos habitantes que necessitam deste atendimento, percebe-se que há um profissional para cada quatro mil pacientes. O ideal, sugerido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) seria um pediatra para cada 1.000 pessoas.
Leônidas Bueno Fernandes, presidente da Sociedade Goiana de Pediatria, conta que há uma falta de incentivo na área de pediatria para médicos, por ser uma área com baixa remuneração e condições não favoráveis de trabalho “tem se investido muito em pronto atendimento ou atendimento emergencial. Máquinas de última geração para exames. Enquanto isso, os médicos que dependem do atendimento clínico, que é basicamente o trabalho do pediatra, acabam não recebendo reconhecimento e estão sendo desvalorizados”, afirma ele.

A especialização em pediatria vem sendo pouco procurada. Os estudantes e os médicos recém-formados não se interessam, pois não é um trabalho lucrativo. A baixa remuneração e a carga horária extensa não garante o interesse na escolha desta residência médica, tornando uma especialidade desvalorizada no meio “os especialistas necessitam de motivação para atuarem neste ramo da medicina, além de estimular o engajamento de novos profissionais a atuarem na pediatria. Os principais motivos, acredito, sejam falta de planejamento do Estado, falta de concursos, incentivo à profissão, salários e estruturas inadequadas. O desestímulo à permanência destes especialistas na assistência à saúde de crianças e adolescentes e a formação de novos profissionais da área acaba sendo inevitável”, conta Leônidas. A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirma que ainda não há um planejamento para este problema.

Relatos

Um médico pediatra tem uma rotina complicada em atendimento. Primeiro ele atende à mãe e ao filho, ambos com problemas. A mãe com o desespero de ver o filho doente e o filho com a doença. Célio Cloves da Silva Rocha, médico pediatra em Uruaçu – região norte do Estado, à aproximadamente 280 km de Goiânia – e atuante no local desde 1983 fala à respeito “o trabalho começa na relação entre médico e paciente. Hoje em dia essa relação não possui um respeito do médico para com o paciente e vice-versa”, apresenta a primeira dificuldade do pediatra. “Tratar uma mãe e um filho não é uma tarefa fácil”, explica Cloves.

Apontando sobre os hospitais, ele fala “se você for em um hospital público localizado no centro da cidade, você fica maravilhado com a estrutura desse hospital, mas não é bem assim. Se você vai à um hospital público na periferia, a diferença na estrutura é imensa”, afirma ele, contando que trabalhar em um hospital público falta material, falta estrutura “por menor conhecimento em medicina que você tenha, se for a um hospital público, com menos evidência, e pedir para visitar um ambulatório, percebe que falta uma incubadora, um respirador neonatal e muitos outros aparelhos”, porém ele acredita que precisa ocorrer uma mudança por parte do povo “acredito que não é só culpa da estrutura, o povo precisa aprender a cuidar dos patrimônios, zelando pela estrutura desses locais”.

Trabalhar em um hospital particular é uma chance complicada, porque segundo Cloves “poucos médicos têm acesso a esses hospitais”. Ele acredita que a falta de pediatras é devido ao não incentivo à profissão e a baixa remuneração “toda a medicina, não só a pediatria, vem sofrendo problemas com estrutura e baixa remuneração. Se não houver incentivo econômico, não haverá médicos. No caso de pediatras, só com muito amor no que faz para continuar em atividade, se não procura outras alternativas com mais retorno financeiro, lembrando que o imposto de renda cobrado ao médico é de 27,5%”, aponta Cloves.

Os pacientes

Na saúde pública nada é agendado. O atendimento emergencial acaba se confundindo com o atendimento clínico nas filas de espera. O paciente grave e o paciente em consulta tem a mesma necessidade, esperar. Tentando entrar em contato com o atendimento dos Cais, a equipe não encontrou um pediatra da rede pública que falasse sobre o assunto. Para marcar consultas particulares, o menor tempo de espera encontrado pelo DM é de três dias. Raimunda Rodrigues, auxiliar de produção, esteve no Cais Amendoeiras, região leste de Goiânia, na tarde desta quinta-feira (26), onde aguardou atendimento para a filha de sete anos que estava com febre de 39º e dores na face “ela estava passando mal e resolvi trazer na emergência. Se eu fosse procurar um médico, só encontraria daqui vários dias”.

Eliane Gomes, auxiliar de serviços gerais, que estava no local por dores de garganta não concorda com o descaso com a saúde “de graça você não consegue marcar uma consulta assim de imediato. Deveria ter um médico imediatamente para resolver seu caso da mesma forma que acontece quando você paga pelo serviço”, ajudando Raimunda, ela ainda comenta “quem paga seu plano de saúde paga duas vezes. Nós também trabalhamos e pagamos impostos, merecemos o atendimento devido”, conta ela.

Arlete da Silva, vendedora, estava no mesmo cais acompanhando o filho de cinco meses que estava com problemas na pele. Ela chegou ao local por volta das 8h, sendo atendida por um pediatra que não resolveu o problema “ele me encaminhou para uma dermatologista. Fui na assistente social, ela me disse para voltar às 13h que a médica estaria aqui. Estou aqui desde esse horário e até agora não fui atendida”. A mãe, que não terá outro dia para resolver o assunto, aguarda pela solução “eu só queria que alguém me passasse um remédio para eu dar para ele, porque não sei mais o que fazer”. (30/06/14)
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação