Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

CLIPPING SINDHOESG 06 A 08/09/14

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.

DESTAQUES DE HOJE

• TSE proíbe Cremego de pedir votos contra Dilma
• Editorial – O custo da falta de médicos
• Cartas dos Leitores – Parto humanizado
• HPV – Adolescentes passam mal após vacinação
• Transplante – Doação ainda difícil em Goiás
• Saúde pública – “Superplantões” no interior
• Suicídio – 80% dos casos são evitáveis
• Sexualidade – Falta de diálogo pode afetar saúde da mulher
• Artigo – Uma cirurgia contra a violência
• Impressora 3D revoluciona cirurgias


O HOJE
TSE proíbe Cremego de pedir votos contra Dilma
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) interrompa o envio de carta aos associados, a partir de um e-mail institucional do conselho, em que pede votos contra a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. A decisão liminar foi concedida ontem pelo ministro Herman Benjamin. Segundo o ministro, conselhos de classe estão sujeitos à lei eleitoral, que proíbe a utilização de cadastros eletrônicos em favor de candidatos, partidos ou coligações. “Os conselhos de classe integram a administração pública indireta, a eles se aplicando todas as vedações eleitorais incidentes sobre a administração direta”, explicou a liminar. O ministro ainda apontou o “efeito multiplicador da mensagem”, em prejuízo à campanha de Dilma. O presidente do Cremego, Erso Guimarães, ainda não se pronunciou sobre a decisão do tribunal. O mérito ainda será apreciado pela Corte. A liminar dá prazo de defesa em até 48 horas. (06/0914)

O POPULAR
Editorial – O custo da falta de médicos
Reportagem do POPULAR mostrou ontem que médicos têm sido contratados a peso de ouro e sem concurso público para atuarem em municípios goianos na forma de pessoa jurídica. A modalidade de contratação, além de burlar a previsão de concurso público para preencher os cargos, possibilita salários bem acima do teto do funcionalismo municipal, chegando a R$ 48 mil por mês em pelo menos um caso.
Para justificar vencimentos tão altos, os contratos prevêem escalas de trabalho de até 28 plantões de 24 horas por mês, o que é humanamente impossível de ser cumprido mantendo um mínimo de qualidade. O Ministério Público do Estado aponta diversas irregularidades nesses contratos e vê brechas perigosas para desvios na administração pública.
No entanto, esta realidade é fruto, em parte, da dificuldade de se encontrar mão de obra especializada disposta a trabalhar em municípios mais afastados, já que existe demanda nos grandes centros, onde se tem maior qualidade de vida.
Ou seja, a falta de profissionais impacta de forma mais perversa justamente nos municípios mais pobres, que têm de investir mais do que cidades mais ricas para contratar um médico especialista. Esta constatação reforça a tese de que é preciso formar mais profissionais no País, discussão que se intensificou desde o ano passado. Mas não pode servir de muleta para prefeitos gastarem fortunas burlando os princípios da administração pública. (08/09/14)
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Cartas dos Leitores – Parto humanizado
Doutor Luiz é um homem simples de pensamento complexo, sabe que a medicina não é uma ciência exata e que sua profissão precisa ser recheada de humanismo. Compreende que a saúde não deve ser vista como mercadoria. Tem a sabedoria para entender que as mulheres grávidas são, acima de tudo, portadoras de vida e que as vidas delas estão em suas mãos. Minha esposa é sua paciente. Fez o pré-natal com dr. Luiz. Para o nascimento foram 25 horas de trabalho de parto, nenhum minuto sem a presença do padroeiro. Demos entrada na maternidade no sábado, finzinho de tarde. A bebezinha, minha maravilha, nasceu às 16h15 do dia seguinte, Dia dos Pais. Foram horas duras para minha esposa, vivemos momentos de quase desespero com as contrações. Mas fomos orientados permanentemente pelo doutor Luiz. Ele chegou um pouco antes da gente no hospital e só saiu depois de constatar que tudo estava em ordem, que minha filha mamava bem, que sua mamãe se recuperava com certa tranquilidade.
Médicos assim são raros, infelizmente. A lógica do capital, do mercado, do lucro e da rentabilidade predomina na medicina brasileira. O parto humanizado demanda tempo e no mundo capitalista “tempo é dinheiro”. No caso, mais gastos para os planos de saúde e menos dinheiro para os médicos que podem fazer várias cesáreas numa manhã de dia útil. Mas minha bebê quis nascer no final de semana e deu sinais bem antes. Menos dinheiro, porém mais vida. Nasceu saudável, serelepe, no tempo certo, da maneira correta para situações normais.
Dinheiro é importante sim, mas a profissão para ele é uma vocação. Tem paciência, disposição, disponibilidade para esperar a hora em que o bebê está pronto para chegar. É a vida dentro da mãe que decide e não o obstetra. Essa lógica exige também humildade.
Flávio Munhoz Sofiati
Goiânia – GO (08/09/14)
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HPV
Adolescentes passam mal após vacinação
São Paulo – Três adolescentes de Bertioga, no litoral norte de São Paulo, estão internadas em um hospital de Santos por suspeita de reações provocadas pela vacina contra o papilomavírus humano (HPV).
A vacina, administrada a adolescentes entre 11 e 13 anos, protege contra lesões do colo de útero que podem se desenvolver e virar câncer. As meninas receberam a vacina entre quarta (3) e quinta-feira (4) na Escola Estadual William Aureli. Depois, elas relataram ter sentido dor de cabeça, vermelhidão no corpo e perda de sensibilidade nas pernas.
Outras oito adolescentes que receberam a vacina na mesma escola de Bertioga também relataram esses sintomas. Elas já receberam alta. A Prefeitura de Bertioga afirmou que ainda não é possível associar os sintomas relatados à imunização. (08/09/14)
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Transplante
Doação ainda difícil em Goiás
Dos 140 potenciais doadores identificados no 1º semestre, apenas 8 foram efetivados
Patrícia Drummond

Em Goiás, é histórica a não efetivação da doação de órgãos por parte de potenciais doadores identificados pela Central de Transplantes. Segundo as estatísticas do Registro Brasileiro de Transplantes (RBTO), esse índice aumentou consideravelmente no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, e também quando se analisa a situação há uma década.
De acordo com o RBTO, de janeiro a junho de 2014, dos 140 potenciais doadores notificados em Goiás – ou seja, com morte encefálica verificada por equipes médicas locais -, 132 (94%) acabaram como não doadores e apenas 8 tiveram, efetivamente, órgãos transplantados em outros pacientes que aguardavam na fila de espera. Em 2013, no mesmo periodo, os potenciais doadores identificados somaram 106, dos quais 94 (89%) acabaram como não doadores, 12 foram doadores efetivos e 7 tiveram órgãos transplantados. Em 2005, de janeiro a dezembro, o Estado apresentou 193 potenciais doadores; 169 não doadores (87,6%); 24 doadores efetivos; e 19 doadores em que houve a remoção de múltiplos órgãos.
Em dez anos, o Estado figura sempre entre as cinco Unidades da Federação que apresentam os porcentuais mais altos de não doadores, mesmo diante da intensificação das campanhas de conscientização e esclarecimento sobre o assunto desde 1997, quando foi sancionada, em nível federal, a Lei 9.434, referente ao tema.
“Não há dúvida de que, aqui, ainda não há uma cultura para a doação de órgãos”, reconhece o médico Luciano Leão, gerente da Central de Transplantes de Goiás. “Nenhuma ação em saúde depende tanto da colaboração da sociedade, do gesto cristão das pessoas, quanto a doação de órgãos. Se não tivermos doações, não teremos transplantes, e, consequentemente, muita gente vai continuar morrendo na fila de espera”, acrescenta, destacando que, ao final de agosto passado, 1,2 mil pacientes cadastrados pela Central aguardavam pela doação de um órgão, no Estado, a maioria necessitada de uma córnea (850) ou de um rim (300).
No caso do rim – assim como medula óssea, pâncreas, fígado e pulmão -, existe a possibilidade de que se realize o transplante do órgão com doador vivo; necessariamente, não é preciso esperar pela morte encefálica comprovada de um doador. Entretanto, a legislação brasileira permite a doação desses órgãos apenas entre parentes até quarto grau, que sejam compatíveis com o receptor e estejam dispostos a fazer a doação. Além desse grau de parentesco, o transplante só é realizado mediante autorização judicial.
Essa situação foi experimentada pelo representante comercial Marcos José Ferreira, de 52 anos, que encontrou em um então mero conhecido a chance que precisava para sobreviver. “Não tenho e não terei nunca como pagar o que ele fez por mim. Eu não estaria mais aqui, hoje, se não fosse o Valderir”, declara Marcos, emocionado, referindo-se ao pedreiro Valderir Nunes Filho do Nascimento, de 43 anos, que doou-lhe um rim no ano passado.
De acordo com o médico Luciano Leão, não bastasse o alto índice de recusa de doação de órgãos entre os goianos, nas situações em que há a possibilidade de efetivá-la nem sempre isso é possível, em função de uma série de intercorrências – como paradas cardíacas – e critérios estabelecidos, por lei, para a realização do transplante. Segundo ele, uma série de exames clínicos a serem realizados após o diagnóstico de morte encefálica – no caso de doadores cadáveres – podem apontar para a contra-indicação e outros obstáculos de ordem médica.
É o caso, por exemplo, de pacientes com quadro séptico, provocado por infecções virais ou bacterianas graves; portadores de HIV ou Hepatite C; e falecimento do possível doador em decorrência de algum tipo de câncer ou por causa desconhecida, entre outros. “Quando o paciente se torna um potencial doador, inicia-se toda a investigação necessária para o transplante, o que nem sempre termina com resultados positivos”, frisa Leão.
No que diz respeito à resistência e negativa da família à doação de órgãos – que ele estima ocorrer em 70% dos casos -, o gerente da Central de Transplantes relata alguns dos motivos: “A morte ainda é um assunto considerado tabu; as pessoas preferem não pensar que vão morrer um dia. Nesse sentido, não conversam entre si, com relação ao desejo de doar. As famílias, então, em geral, se negam, alegando desconhecerem ser esta a vontade do familiar. Raramente vemos o contrário”, atesta.

Homem doa órgão em vida
O caso do representante comercial Marcos José Ferreira, de 52 anos, é ainda mais rato no cenário goiano: encontrou não em um doador cadáver, mas em um amigo a chance de sobreviver. “Não tenho e não terei nunca como pagar o que ele fez por mim. Eu não estaria mais aqui, hoje, se não fosse o Valderir”, declara Marcos, emocionado, referindo-se ao pedreiro Valderir Nunes Filho do Nascimento, de 43 anos, que doou-lhe um rim no ano passado.
A história começou há cerca de quatro anos, quando Ferreira descobriu a gravidade de sua diabetes, que o levou para a hemodiálise. Dos seis irmãos, uma irmã fez os testes de compatibilidade, assim como a esposa. Nenhuma das duas, infelizmente, apresentou as condições necessárias para fazer o transplante, e o representante comercial, então, entrou para a fila de espera por doador cadáver.
“Fiquei um ano esperando pela doação de alguém cuja família autorizasse a retirada de um rim. Enquanto isso, continuava com a hemodiálise e, em um dia de sessão, depois que cheguei em casa, recebi a notícia de que o Valderir queria fazer os exames para ver se poderia ser meu doador.”
Nascimento era conhecido do representante comercial há cerca de 20 anos, mas ambos não mantinham relações tão estreitas quanto hoje. Na ocasião, o pedreiro relata que fazia um trabalho na casa de Ferreira, no Jardim Europa, quando pode presenciar, por algumas vezes, a chegada dele das sessões de hemodiálise. Ficou comovido com a situação do amigo e, depois de pensar por uns dias, decidiu oferecer ajuda. “Vi que ele estava sofrendo, e isso me tocou; pedi a Deus para abençoar, para dar tudo certo. E meu pai morreu, lá no Maranhão, precisando de um fígado. Teve hepatite, decorrente de uma diabetes. Fiz isso também pelo meu pai.” (08/09/14)
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Saúde pública
“Superplantões” no interior

Prefeituras fogem de concurso e contratam médicos para carga horária impossível
Galtiery Rodrigues
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Um ponto polêmico referente ao modo de contratação dos médicos por prefeituras do interior do Estado tem sido cada vez mais praticado e questionado pelo Ministério Público de Goiás (MP/GO). Trata-se do credenciamento de pessoa jurídica, mecanismo que permite celebrar contratos temporários com o profissional, que isenta a prefeitura dos encargos previdenciários e possibilita a remuneração acima do teto salarial (salário do prefeito).
No Estado, em cidades como Turvânia e São Domingos, graças a esse modelo de contrato, os promotores já identificaram casos em que um médico chegou a receber R$ 48 mil por mês, bem mais que o valor bruto do vencimento de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que é de R$ 32,7 mil.
Para se livrar dos gastos com tributos e direitos trabalhistas, em caso de servidor efetivo ou contratação de pessoa física de acordo com as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), alguns gestores chegam a pressionar os médicos para que eles se inscrevam no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Dessa forma, o profissional pode ser contratado por meio de credenciamento como se fosse uma empresa prestadora de serviços, sobre a qual os encargos são menores e não recaem sobre a contratante (no caso, a prefeitura). Além disso, não mais se trata de um servidor público propriamente dito, o que extingue a obrigatoriedade de obedecer o teto salarial, regra descrita no Artigo 37 da Constituição Federal.
Esse aspecto financeiro, conforme a justificativa de prefeitos de cidades menores e afastadas, é interessante porque permite oferecer um valor maior e atrair o interesse do profissional para trabalhar num lugar que, geralmente, sofre com a falta de médicos. Em contrapartida, é justamente essa vantagem financeira que tem despertado a atenção do MP em relação aos contratos celebrados em Goiás.
Além de burlar tanto o princípio do concurso público, meio ideal para a ocupação de cargos, quanto a lei de licitações, que rege a contratação de empresas e prestadoras de serviço, o credenciamento, nos moldes como vem sendo aplicado no Estado, abre brechas para uma outra questão: a possibilidade de favorecimento de pessoas conhecidas, amigas ou parceiros políticos do gestor.
O Tribunal de Contas da União (TCU), que foi o primeiro a lidar com a questão e entender que ela é aceitável em alguns casos, estipula uma série de regras para a efetivação do credenciamento, de forma a garantir a lisura, amplo conhecimento e divulgação. Pelo teor da posição do Tribunal, percebe-se que ele considera o credenciamento pertinente para contratar prestadores de serviços especiais. A contratação de um único médico, travestido de empresa, torna-se questionável.
672 HORAS
Em Turvânia, cidade a 103 quilômetros de Goiânia, o salário do prefeito é de R$ 12 mil, quase quatro vezes menos que o rendimento do médico cirurgião-geral Ramiro Calderon, de 53 anos, contratado pelo município por meio de credenciamento de pessoa jurídica e que recebe dos cofres públicos, desde abril deste ano, R$ 41 mil por mês. O valor elevado e que chamou a atenção da promotora do município, Cláudia Maria Rojas de Carvalho, é justificado por meio de um elemento bastante comum nesse tipo de relação contratual: a carga horária que fere os princípios da lógica e da capacidade humana. Segundo as cláusulas, Ramiro executa 28 plantões mensais de 24 horas cada. Em tese, ele passa 28 dias no hospital, à disposição da população, o que equivale a 672 horas ininterruptas de trabalho.
O POPULAR visitou a cidade na semana passada e conheceu o Hospital e Maternidade Enfermeira Maria Helena dos Santos. É nele onde Ramiro Calderon, um colombiano naturalizado brasileiro, atua como diretor clínico e único médico plantonista em seus 28 dias de trabalho por mês. Nos demais dias, quem assume a função de plantonista 24 horas é Leônidas de Campos, cujo salário também vem sendo questionado.
O prazo de resposta da prefeitura venceu no dia 28 de agosto e a promotora, que propôs, primeiramente, o envio de projeto de lei à Câmara Municipal para realização de concurso público e a anulação dos contratos em vigência, deu mais cinco dias, sob possibilidade de instaurar ação civil pública.
A secretária municipal de Saúde de Turvânia, Marta Selma da Silveira, reconheceu que a única forma de resolver a questão é por meio de concurso. Segundo ela, já foi criada uma comissão para elaborar o edital e encaminhar o projeto. “Acredito que até o final deste ano já estejamos com tudo pronto”, promete.

Recém-formado recebe R$ 48 mil por mês
Em São Domingos, na divisa de Goiás com a Bahia, o médico recém-formado Júlio César Sandoval Júnior foi contratado para trabalhar para a prefeitura no período de 20 de janeiro deste ano a 31 de dezembro pelo valor total de R$ 528 mil, o que representa uma cifra mensal de R$ 48 mil. “Em dois anos, ele ganharia R$ 1 milhão tranquilamente”, expressa o promotor Douglas Chegury, que instaurou ação civil pública de improbidade administrativa contra a prefeita da cidade, Etélia Vanja Moreira Gonçalves (PDT), e mais três pessoas. O profissional foi contratado, inicialmente, como pessoa física e, depois, foi pressionado pela prefeitura a registrar uma empresa para que ele pudesse mudar o tipo de vínculo e ser credenciado como pessoa jurídica. Assim como no caso de Turvânia, o valor elevado foi justificado nas cláusulas do contrato por meio de uma carga horária expressiva: 40 plantões mensais de 12 horas.
A ação segue na Justiça, mas o médico deixou o cargo por vontade própria. “Toda contratação que é feita por um município tem de observar os preceitos da lei de licitações públicas. E a prerrogativa da lei é fazer a melhor contratação, do melhor serviço, com o melhor preço e dar isonomia, poder igualitário de concorrência”, expõe Chegury.
Ele explica que o credenciamento não é citado na lei, mas que é aceito pelo TCU, desde que obedecidas as regras de divulgação, publicação e convocação dos interessados, o que, segundo o promotor, não ocorreu em São Domingos. “As pessoas começaram a distorcer a situação. Passaram a utilizar como termo de credenciamento algo que não é credenciamento. De fato, é interessante para a prefeitura a contratação de pessoa jurídica, por causa da redução dos encargos tributários, mas tem de ser dentro das normas da lei”, pontua.
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Cremego e Simego defendem concursos
O posicionamento do Sindicato dos Médicos de Goiás (Simego) e do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) é claro: que o médico só aceite trabalhar, independente de qualquer coisa, em local que dê condição mínima de trabalho e que o vínculo seja formal, de acordo com as leis trabalhistas ou por concurso público e não por vínculo temporário. “Todo o resto é considerado contrato precário. Algumas prefeituras passaram a exigir que médicos se tornem pessoas jurídicas para serem contratados, fugindo completamente das garantias trabalhistas”, critica o presidente do Cremego, Erso Guimarães, referindo-se ao modelo de credenciamento.
O presidente do Simego, Rafael Cardoso Martinez, diz não ter notícia, neste momento, de nenhum concurso público em cidades do interior com vagas oferecidas para médicos. Para ele, do jeito que as relações contratuais estão sendo estabelecidas, ficou muito cômodo para os gestores. “Recebemos com frequência histórias de colegas contratados precariamente e que a prefeitura não honra o valor acertado”, relata. Acontece, ainda, do profissional sofrer pressão política por parte do prefeito que, ao pagar um salário alto, se acha no direito de cobrar favores e prestação de serviços para eleitores. “Amigos nossos já tiveram experiências nesse sentido. O contrato é por relação unilateral: ‘Se você não me apoiar, vou te demitir’. Mais ou menos assim.”
Para Erso Guimarães, não é salário alto que vai fixar o médico no local, mas condições de trabalho e segurança trabalhista, com férias, 13º, abono salarial, indenização trabalhista, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e outros direitos, que, no caso de pessoa jurídica, não precisam ser garantidos. “Tem médico para trabalhar. Só falta tornar atrativo, com concursos, plano de carreira e estabilidade. Salário alto não é o único elemento, tampouco o atrativo mais importante para poder tirar os médicos dos grandes centros e levar para o interior”, afirma.

“Meu salário seria de R$ 33, 34 mil só”
Colombiano naturalizado brasileiro e médico há mais de 30 anos, Ramiro Calderon é contratado pela prefeitura de Turvânia, por meio de credenciamento de pessoa jurídica, e recebe R$ 41 mil por 28 plantões mensais de 24 horas.

Como é a rotina no hospital, já que só fica você de médico durante 28 dias por mês?
Sozinho, não. O nosso hospital é a unidade de referência do município para os PSFs. Então, o volume nosso de atendimento ambulatorial é pequeno, porque temos quatro médicos nos dois PSFs. Não tem motivo para o hospital estar lotado. Os postos fazem o trabalho preventivo.

Como funciona esses plantões de 24 horas?
Como o município é pequeno (menos de 5 mil habitantes), o nosso volume de atendimento de urgência e emergência é facilmente sanado. Não se precisa mais do que um profissional para lidar com esse tipo de atendimento aqui no hospital. Não estou falando do município, porque se fosse para eu ficar sozinho no município, seria inviável, mas tem os PSFs, com dois médicos cada.

Por ser um único vínculo empregatício, o salário é alto. O senhor concorda?
Estou ganhando pouco. E eu faço as contas para você ver. Meu ganho líquido atual é de R$ 1,1 mil por plantão de 24 horas. O valor real é de cerca de R$ 2 mil. Isso multiplicado por 27 dias dá R$ 29,7 mil mais o cargo de diretoria clínica da unidade, que equivale a R$ 3 mil. O resto é imposto. Meu salário seria de R$ 33, 34 mil só. Estou defasado.

Se você não está ganhando o quanto deveria, porque você fica aqui então?
Porque eu já trabalhei em outros municípios aqui perto. Fico aqui por causa da minha esposa, que é daqui. Esse é o meu motivo.

Quando surge uma emergência na cidade, independente de horário, o senhor vai estar aqui.
Isso. Estou aqui.

Madrugada…?!
Madrugada passada dormi só três horas.

Quantas horas em média, por dia, você fica no hospital e fora?
24 horas por dia eu fico no hospital.

O senhor não fica em casa?
Sim, eu almoço em casa, janto em casa e tenho alguns momentos que vou para minha casa, porque não preciso estar aqui. Eu acho que fico 24 horas aqui, porque minha casa é aqui perto. Fica a três quadras, 300 metros. Considero que fico aqui o dia todo. (07/09/14)
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Suicídio
80% dos casos são evitáveis
Especialista diz que é possível prevenir tentativa de morte e pessoa dá sinais de que pensa em tirar a vida
Cleomar Almeida
“Quando me sentia na pior, era como se buscasse uma fuga para me tirar da realidade.” O relato é de um professor de 26 anos que tentou suicídio por duas vezes. “Minha mãe e o meu trabalho com crianças fazem meus dias valerem a pena.” Hoje ele recebe acompanhamento de psicólogo e de psiquiatra e consegue ver sentido na vida. Em Goiás, 118 pessoas se mataram nos últimos oito meses, engrossando a estatística de um problema de saúde pública que aumenta ano após ano (veja quadro). Mas há prevenção. Oito em cada dez suicídios no mundo podem ser evitados, segundo o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), o psiquiatra José Manoel Bertolote.
A OMS divulgou, na última quinta-feira, um relatório que põe o Brasil como o oitavo país com mais suicídios no mundo. A pesquisa aponta que 804 mil pessoas entram para a lista do suicídio por ano – uma a cada 40 segundos, em média. O órgão faz um alerta para o que define como “um grande problema de saúde pública”: apenas 28 países do mundo possuem planos estratégicos de prevenção. O governo federal informa que o Brasil é um dos que têm uma política nacional e oferece acompanhamento psicológico e psicoterápico, como terapia ocupacional e assistência psiquiátrica hospitalar. Há quase dez anos, no entanto, o Brasil adotou uma política nacional de prevenção ao suicídio, que ainda não saiu da gaveta.
No País, o suicídio é o quarto motivo mais incidente entre os óbitos por causas externas, seguido por homicídios, acidentes de transporte e causas não identificadas. As pessoas mais vulneráveis são do sexo masculino e idosas. Em Goiás, considerando os números absolutos dos últimos três anos repassados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), as taxas de jovens também têm aumentado. Em entrevista ao POPULAR, Bertolote ressaltou que, no País, as taxas de suicídio entre pessoas de 15 a 35 anos cresceu mais de 300%, nos últimos 10 anos, e quase 1.000%, nos últimos 20 anos.
A maioria das pessoas vulneráveis ao suicídio não quer morrer, conforme alerta o professor de Medicina da Unesp. “A maioria, cerca de 80%, diz que não queria morrer. Queria mudar uma situação intolerável, desagradável, de muito sofrimento”, ressaltou Berlotote, referindo-se aos resultados de vários estudos realizados sobre o assunto no mundo. Ele também é autor do livro O Suicídio e Sua Prevenção, que elenca estratégias para prevenir o problema, relacionado a diversos fatores (leia entrevista na página 5)
ALERTA E PREVENÇÃO
O psiquiatra Célio Ribeiro de Barros, do Departamento da Polícia Federal em Goiás, chama a atenção para quem tem histórico de depressão. “É preciso fazer diagnóstico precoce e buscar tratamento”, indicou ele, destacando a importância de familiares e amigos ficarem atentos para possíveis riscos. “Geralmente, a pessoa, quando vai cometer o ato, pede ajuda antes pelo menos para outras cinco pessoas, sinaliza que não está bem e, às vezes, procura serviço médico não especializado ou não verbaliza, mas dá sinais de que o suicídio está perto de ser uma opção para ela”, destacou.
Muitas pessoas não concretizam o suicídio depois de buscarem terapia, segundo a psicóloga Ivone Félix de Sousa, professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e do Instituto de Pós-Graduação (Ipog). “A terapia é uma forma de prevenção”, orientou a pesquisadora. “Mas, às vezes, a terapia, sozinha, não é suficiente. Tem de haver trabalho junto com a família e as pessoas envolvidas no processo de relação afetiva com esta pessoa”, ponderou ela.
Em alguns casos, os sentimentos de vergonha e de perda também podem ter relação com o suicídio, na avaliação de Ivone. “A gente é treinado para ganhar, e, não, perder, mas ser super-herói vai em desacordo com as características de uma pessoa que tem saúde mental”, observou a psicóloga, para continuar: “A pessoa com saúde mental sabe reconhecer que precisa de ajuda e tem limites, já que nem sempre vai saber lidar, sozinha, com as situações adversas da vida. É necessário buscar ajuda de profissionais.” Depois de se ver numa situação aparentemente sem saída, o jovem professor de 26 anos fez isso e atesta: “Buscar acompanhamento é de fundamental importância.

Psicologia tem meios para identificar riscos
A psicologia tem diversos mecanismo de identificação de risco ao suicídio. A síndrome de Burnout é decorrente de esgotamento profissional. “É uma síndrome que vem do estresse crônico no trabalho em que o ambiente hostil provoca o estresse crônico e pode levar a pessoa à depressão e ao suicídio”, explica a psicóloga Ivone Félix de Sousa, professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e do Instituto de Pós-Graduação (Ipog).
A pressão diária no trabalho, sem observar os limites do profissional, representa um grande risco, avalia Ivone. “Para algumas pessoas, não cumprir meta de trabalho é algo pequeno, mas, para outras, é como se fosse uma perda maior que perder um parente.”

Primeira menção foi registrada em 1645
Apesar de o suicídio seguir na história da humanidade, o assunto só se consolidou na agenda de saúde pública a partir dos anos 1990 do século 20.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) levou cerca de 30 anos para começar a trabalhar a prevenção do suicídio, que antes era atrelado apenas às perspectivas religiosas e filosóficas.
Em 1643, um texto fez a primeira menção à palavra suicídio, em grego, e, em 1645, houve a adoção dela pela língua inglesa. Depois de passar por discussões religiosas e filosóficas, o suicídio chegou a ser tratado como uma questão política, na Inglaterra.
No século 18, o assunto começou a levantar interesse de psiquiatras e, no século 19, entrou para a lista de temas sociológicos, a partir de Émile Durkheim. No século 20, foi a vez de psicólogos também despertarem curiosidade sobre a questão e, somente nesta época, há os primeiros passos para ganhar força no âmbito de saúde pública.
Um dos maiores defensores da prevenção do suicídio no mundo, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da OMS, o psiquiatra José Manoel Bertolote, avalia que grande parte do tabu acerca do suicídio é sustentada pela via religiosa. “As religiões monoteistas, fundamentalmente o Cristianismo, o Islã e Judaísmo, consideram o suicídio como um grave pecado e, por isso, se fala pouco”, analisa ele. “O silêncio é prejudicial. É preciso falar do assunto de maneira adequada”, esclareceu.

Atendimento não precisa de agendamento
As pessoas que necessitam de acompanhamento multiprofissional podem ir a uma das 62 unidades de Centro de Atenção Psicossocial (Caps), em Goiás, sem agendar consulta. É o que explica a terapeuta ocupacional Vera Lúcia Cardoso, gerente de Saúde Mental da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Segundo ela, as unidades básicas de saúde têm equipes suficientes para avaliar a situação das pessoas e, inicialmente, encaminhá-las para terapias individuais ou em grupo. “Se a pessoa chega ao Caps sozinha ou levada por um familiar, é possível evitar o suicídio”, recomenda a terapeuta.
O problema é que, geralmente, uma pessoa depressiva tem dificuldade de buscar ajuda, avalia a gerente de Saúde Mental da SES. “A família tem de ficar mais atenta, também”, destacou ela, pontuando que há uma tendência de aumento de tentativa de suicídio entre adolescentes. “O adolescente até consegue ter um bom desempenho na escola, mas não tem relações sociais, não sai, não passeia, não tem amigos, fica muito no quarto. A família tem de prestar atenção nisso”, assevera.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia informa que, além dos Caps, oferecem atendimento o Pronto Socorro Psiquiátrico Wassily Chuc e o Ambulatório Municipal de Psiquiatria. O acompanhamento, segundo a pasta, também ocorre em residências terapêuticas.

Professor pede fim de tabu sobre tema
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), o psiquiatra José Manoel Bertolote afirma que o silêncio em torno do suicídio é prejudicial para que a questão seja enfrentada. “A pessoa que comete suicídio passa por transtorno mental e, por isso, precisa de tratamento, mas, se ela segue em meio ao silêncio, não será tratada, não saberá como ser tratada.” Para Bertolote, o fato de o assunto ser um tabu não o impede de ser abordado, só precisa de cuidado. “Esse tabu é fundamentalmente ligado ao fato de atribuir o suicídio a um pecado, o que complicou bastante.”
O psiquiatra alerta para fatores de risco que precisam ser tratados, como transtornos mentais e físicos. Ele informa que a depressão é a doença mental mais associada ao suicídio mas que responde por 30% dos casos. As outras causas mais associadas são alcoolismo (18%) e esquizofrenias (10%).
Apesar de ser um assunto tabu na sociedade, Bertolote diz não acreditar em uma resistência por parte dos médicos, mas, sim, um certo desconhecimento. “O silêncio não contribui para o conhecimento, é ignorância. Nas escolas médicas e de saúde, em geral, fala-se muito pouco de suicídio. O médico é um ser de raciocínio muito simples, linear. O suicídio não é linear, existe uma infinidade de fatores de riscos, assim como de fatores de proteção.”
O psiquiatra afirma que uma estratégia geral de prevenção de suicídio passa por três pontos: tratamento do paciente com transtornos mentais, restrição do acesso aos métodos de suicídio e moderação da imprensa. “Não é tabu falar. Pode falar, mas tem forma de falar. A OMS considera a imprensa um parceiro indispensável, para divulgar informação adequada e não divulgar informação inadequada.”
Outra estratégia citada pelo professor envolve as pessoas aprenderem a “ouvir mais”, colocando-se à disposição do outro. “Existem parceiros no mundo inteiro que se prestam a isso. O Centro de Valorização à Vida (CVV) recebe muitos chamados nesse sentido e a pessoa não precisa se identificar. Neste caso, então, ouvir tem um valor inestimável e é uma atitude simples para prevenção do suicídio.”
Bertolote explica que o suicídio não pode ser visto como uma doença, mas uma causa de morte, já que está vinculado a alguma doença. “Tem quatro formas de classes de óbito. Aquelas decorrentes de causas naturais, de acidentes, de homicídio ou de suicídio. Acidente e homicídio, em geral, não estão vinculados à doença, ao contrário do suicídio, que tem uma correlação com alguma doença, principalmente mental.” (07/09/14)
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Sexualidade
Falta de diálogo pode afetar saúde da mulher
Discussão sobre tema com parceiros e médicos pode revelar diagnóstico de doenças
Janda Nayara

A vida sexual feminina ainda é um mundo obscuro para muita gente, inclusive mulheres. Por incrível que pareça, em pleno século XXI, o sexo ainda é um assunto que está envolto numa áurea de tabu e mistério. Muitas coisas não são ditas e tantas outras, por conta disso, não são sentidas.
Com a facilidade de acesso à informação, muitas mulheres discutem sobre sexo com as amigas, na internet, mas não se abrem para o seu parceiro ou para o seu médico, o ginecologista. Essa dificuldade de comunicação impede, segundo a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex), da Universidade de São Paulo (USP), o esclarecimento de dúvidas e até mesmo o diagnóstico de algumas doenças que podem interferir no prazer feminino, como diabetes, depressão ou problemas hormonais. “A sexualidade é um dos parâmetros de saúde. Quem não está bem de saúde, não consegue sexo de qualidade e quem não tem sexo de qualidade, pode ter diversos problemas de saúde. Claro, desde que a pessoa necessite do mesmo. Já comprovamos que cerca de 10% da população não sente falta. Destes, 7,7% são mulheres”, acrescenta.
Sobre as leituras na internet, Carmita avalia como importantes, mas observa que é preciso filtrar conteúdos de fontes confiáveis, baseados em pesquisas e estudos científicos e não apenas em opiniões pessoais. “A sexualidade é um aspecto da personalidade e ideias generalizadas não casam. Cada pessoa tem o seu ritmo, mais ou menos necessidade, além do seu estilo, seu perfil. Se a mulher respeitar sua forma de ser, o sexo se torna mais confortável e também satisfatório”.
Para o médico ginecologista Ivaldo Silva, do Grupo Afrodite, do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), as mulheres são podadas desde criança em tudo relacionado ao sexo. “Quando criança, se um menino pega em seu órgão genital, todos acham ‘engraçadinho’. Mas se a menina faz a mesma coisa, ela é cortada. E isso segue durante a criação. Muitas mulheres não conhecem o seu próprio órgão genital, nunca se masturbaram ou se assustam quando o assunto é abordado”.
As mulheres mais esclarecidas, com mais estudo, teriam, segundo ele, mais facilidade em expor suas dúvidas e anseios em relação a sexualidade. “A gente percebe também uma diferença em relação as regiões, porque vai muito da cultura, da criação”. Entre os principais tabus, segundo Silva, estaria o prazer. “A mulher brasileira sofre com a nossa cultura latino-americana de mulher ‘multifunções’. Ela é mãe, dona de casa, trabalha fora e poucos homens contribuem, gerando uma sobrecarga de trabalho, de estresse.”

Maioria dos ginecologistas não investigam vida de paciente
A falta de diálogo sobre sexo entre médicos e pacientes também pode ser responsabilidade do profissional. Em pesquisas realizadas em 2001, Carmita constatou que 56% dos ginecologistas brasileiros não investigam a vida sexual de suas pacientes e 50% deles mostraram-se pouco seguros para responder sobre os problemas sexuais das mesmas. Esta é a mais recente informação sobre o tema.
Segundo Silva, a sexualidade ainda é uma disciplina que ocupa pouco espaço nas grades dos cursos de medicina. Os assuntos são fracionados para o ensino e o médico acaba visualizando o seu paciente assim, dividido, sem associar as partes. “É preciso retomar o conhecimento pleno e enxergar o paciente com uma visão global, entendendo-o como um todo, para relacionar problemas ligados entre si, como os de origem emocional e física”.
CAMPANHA
Com o objetivo de ampliar o diálogo nos consultórios sobre a qualidade de vida sexual das mulheres e eventuais dificuldades enfrentadas por elas, os especialistas dos grupos Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Prosex, da Universidade de São Paulo (USP), lançaram a campanha nacional “Sinta-se”. Uma pesquisa em âmbito nacional está sendo realizada, para saber como os ginecologistas se posicionam perante esse tema.
Para o ginecologista e obstetra Aldair Novato, primeiro vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), mesmo que superficialmente, o médico sempre pergunta sobre a vida sexual da mulher, mas que alguns assuntos ainda precisam de tato, já que são considerados tabus. “Ele abre o diálogo, mas o desenrolar da conversa, vai depender da paciente. Algumas não querem falar e precisamos respeitar”.
Novato reforça que o diálogo aberto no consultório pode contribuir para soluções de diversos problemas que afetam a vida sexual da mulher. “O médico vai poder sugerir soluções de problemas de origem orgânica, como o climatério, diminuição de libido, e em questões psicológicas, encaminhar para o profissional responsável”. (07/09/14)
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Artigo – Uma cirurgia contra a violência
Os assassinos em série ou serial killers não são personagens da sociedade moderna. O mais famoso deles, Jack, o Estripador, é pseudônimo de um que agiu na sombria Londres de 1888. O que há de novo é que há uma psicocirurgia para corrigir distúrbios emocionais ou comportamentais através da implantação de eletrodos no cérebro. Uma intervenção cirúrgica para eliminar o instinto violento e agressivo.
No Brasil, cerca de 25% da população é acometida por algum transtorno psiquiátrico. Desses, entre 10% a 15% são portadores de doenças psiquiátricas como depressão grave, transtorno obsessivo-compulsivo, comportamento agressivo e automutilador que não responderam a medicamentos, psicoterapia e/ou eletroconvulsoterapia. Nesses casos, a doença causa extremo sofrimento aos pacientes e familiares, além do isolamento social. No caso de agressividade, riscos à integridade física dos que estão próximos e do próprio paciente.
É observado em pacientes violentos que certas regiões do cérebro são incapazes de conter impulsos de comportamento agressivo provenientes da amígdala e hipotálamo, que fazem parte do sistema responsável pelas emoções. Estes dados são confirmados por exames como o PET-FDG (tomografia por emissão de prótons – fluorodexoglicose), que demonstram diminuição do metabolismo da glicose na região frontal e temporal. Em relação aos neurotransmissores cerebrais, sabemos que a diminuição da serotonina e ocitocina permite o aparecimento de comportamento agressivo.
A indicação do procedimento é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina. A cirurgia é indicada pelo psiquiatra e não pelo neurocirurgião. É necessário consentimento informado por escrito do paciente ou responsável legal, concordando com a realização do procedimento. Incapacitação social ou ocupacional de pelo menos dois anos. Normalmente, o procedimento é realizado após cinco anos de doença, com documentação de refratariedade a farmacoterapia, psicoterapia, eletro convulsoterapia, em doses e duração adequadas.
Existe ainda hoje grande estigma e preconceito em relação a realização desses procedimentos cirúrgicos, tanto por médicos quanto pela população em geral. A principal razão foi o resultado das lobotomias realizadas na década de 40 sem critérios rigorosos.
O maior conhecimento neurofisiológico da circuitaria cerebral associado a exames de imagens de melhor resolução, como a ressonância de crânio conjuntamente com técnicas cirúrgicas de alta precisão (cirurgia estereotáxica), contribuíram para maior segurança na realização de cirurgias do comportamento.
O índice de sucesso na abordagem cirúrgica é de aproximadamente 70% a 80% com mortalidade baixa, inferior a 1%, sendo que a piora cognitiva fica em torno de 0,45%.
Sobre o procedimento cirúrgico, esse poderá ou não ser realizado com paciente acordado, dependendo da gravidade do quadro cognitivo. É definido o alvo responsável pela agressividade e por técnica ablativa (coagulação) ou por neuromodulação, conhecido como marcapasso cerebral, estimulamos ou inibimos a região responsável pelo quadro clínico apresentado pelo paciente. A técnica ablativa tem como vantagem ser mais barata, porém lesa de forma definitiva a área afetada. A técnica modulatória tem como vantagem não destruir a parênquima cerebral, sendo reversível, porém tem custo elevado devido a tecnologia utilizada. O procedimento tem duração em torno de três horas e o período de internação estimado é de 48 horas.
Importante salientar que mesmo após realização do procedimento é imperioso o paciente manter acompanhamento por equipe multidisciplinar.
É importante dizer que quase todas as cirurgias para agressividade ocorrem em pacientes com retardo mental grave, que apresentam hetero e/ou autoagressão. É rara em pacientes esquizofrênicos agressivos e não é indicada simplesmente pelo fato de o paciente ser agressivo.
Ledismar José da Silva é neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e professor de Medicina na PUC . (06/0914)
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DIÁRIO DA MANHÃ
Impressora 3D revoluciona cirurgias
Novo método, que tem trazido benefícios para a medicina por todo o mundo, chega agora em Goiás
DEIVID SOUZA
As impressoras em 3D podem produzir inúmeros objetos com os mais diversos materiais. Aviões, armas e até aquele produto de marca famosa estão na lista de possibilidades. Se por um lado essas facilidades levantam um debate ético, por outro é um caminho sem volta. No entanto, o que mais chama atenção na atualidade são os usos que têm sido descobertos para esta tecnologia, muitos deles na medicina.
Esta área do conhecimento vive um momento de transformação por causa da facilidade de construção de partes do corpo humano. Esses procedimentos estão se tornando mais comuns e representam uma nova era nas cirurgias. As próteses antes fabricadas por meio de outras técnicas não atingiam a precisão possível com impressões em 3D.
Essa tecnologia beneficia pessoas como o bem-humorado publicitário Danúbio Nogueira Fernandes, 73 anos. Ele perdeu parte da mandíbula devido a um tumor cancerígeno. Ele acabou restringindo o convívio social por causa da aparência.
Danúbio Nogueira foi operado na tarde da última quarta-feira, no Hospital Geral de Goiânia (HGG). Ele recebeu uma prótese impressa em um equipamento dotado da tecnologia 3D que recompôs parte da mandíbula, que havia sido perdida durante o tratamento contra o câncer.
O publicitário lamentava não poder fazer os mesmos trabalhos de antes, alguns com a voz que emprestou ao programa “Voz do Brasil” ao longo de anos, como locutor. “Eu vou poder andar na rua mais tempo, participar de reuniões, o famoso briefing da publicidade, poder contatar com o cliente. Provavelmente, numa segunda operação, eles vão soltar minha língua e eu possa voltar também a fazer locução”, acredita.
Atualmente, sua alimentação se restringe a alimentos pastosos e líquidos. Os sólidos são inviáveis por causa da deficiência na mastigação.
Demonstrando muita força, o simpático idoso disse não se importar com a vaidade e com o preconceito. Sua recuperação impressionou a equipe de saúde. “A gente não pode impedir o corpo de envelhecer, mas a alma pode continuar bem jovial, bem vigorosa”, ensina.
OUTROS CASOS
Em junho de 2012, na Holanda, uma mulher de 83 anos fez uma cirurgia semelhante a de nosso personagem. Na época, a equipe que conduziu o procedimento disse que a cirurgia era a primeira do gênero. O material utilizado na prótese foi o pó de titânio.
Também na Holanda, uma mulher recebeu o implante de uma prótese do crânio. O procedimento é semelhante ao que vai reconstruir a parte frontal do crânio de um fazendeiro de 46 anos na China, país que já teve um paciente de 12 anos que tinha câncer nos ossos com uma vértebra, impressa com a tecnologia 3D, implantada na coluna.
Como foi a cirurgia
O procedimento realizado em Goiânia durou aproximadamente 1h40min. Primeiramente, foram abertas duas cavidades na cabeça, a primeira da base do lóbulo da orelha até a região central do crânio. Parte do músculo intertemporal foi utilizada para fazer o contato entre a prótese e o crânio. A segunda cavidade, que mede aproximadamente oito centímetros, foi feita na parte inferior da mandíbula até as proximidades do centro do queixo. Em seguida, a prótese feita de uma resina acrílica foi inserida por meio desta segunda cavidade e encaixada na parte central do lado direito da mandíbula, recompondo a parte que havia sido perdida. A fixação foi feita com placas de titânio.
“A vantagem desse tratamento é que a gente tem uma previsibilidade maior do pós-cirúrgico, é desgastar menos as regiões anatômicas remanescentes. Imagina um paciente que está há seis anos sem um pedaço da mandíbula a gente também tirar uma parte do crânio dele, tirar mais um pedaço da mandíbula pra colocar uma prótese de titânio que se ele se acidenta perfura, quebra. A ideia foi ser o menos invasivo possível e buscar o mais anatômico também”, ressaltou o cirurgião bucomaxilofacial Fernando Almas, que conduziu o procedimento.
Outro ponto destacado pelo cirurgião, foi o trabalho da equipe multidisciplinar, que contou com o apoio de profissionais de Fonoaudiologia, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Assistência Social, Enfermagem e médicos. “Cada um fez a sua conduta. A interdisciplinaridade é isso, eu respeitei o colega que nutriu melhor o paciente, então a gente trabalhou em conjunto para o melhor resultado”, avalia o cirurgião.
Dentro de alguns meses, o paciente deve fazer uma segunda cirurgia para soltura da língua e posteriormente poderá receber próteses dentárias para recuperar a mastigação. O sonho do publicitário é comer um pão francês.
Outras cirurgias como a que o senhor Danúbio se submeteu podem ser feitas no HGG. Para isso, o interessado deve procurar a rede básica de saúde para encaminhamento à unidade.
Entenda o procedimento
1 – Uma cavidade foi aberta na cabeça da base do lóbulo da orelha (abaixo da orelha) até a região central do crânio.
O músculo intertemporal foi revertido com a função de fazer o contato entre a prótese e o crânio – isso evita atrito entre as duas partes.
Foi aberta a segunda cavidade, que mede aproximadamente oito centímetros. Ela foi feita na parte inferior da mandíbula até as proximidades do centro do queixo.
A prótese foi inserida por meio da segunda cavidade e encaixada na parte central do lado direito da mandíbula, recompondo o que havia sido perdido. A fixação foi feita com placas de titânio. (07/09/14)
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Rosane Rodrigues da Cunha

Assessora de Comunicação