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DESTAQUES
Novo presidente da Unimed prega mudanças e cita desafios da gestão
Ipasgo mira auditorias em benefício de servidores
Drama do preconceito revivido é revivido em Goiás
Chefe de federação de indústrias compara vírus a césio-137
Brasileiros resgatados na China chegam à Base Aérea de Anápolis
Velhas doenças ainda ameaçam mais do que coronavírus
Lacen é reconhecido como laboratório apto para exames do coronavírus em Goiás
Goiás ocupa 6ª posição em número de casos detectados de hanseníase no Brasil
DIÁRIO DE GOIÁS
Novo presidente da Unimed prega mudanças e cita desafios da gestão
A Unimed Goiânia empossou nesta sexta-feira (7) a nova diretoria, eleita no pleito realizado na quinta-feira (6). O novo presidente é Sérgio Baiocchi, que acredita que a eleição da chapa UniMais é a consumação de um pedido por mudança e oxigenação na cooperativa.
"Tenho um grande respeito com o pessoal com o qual concorremos, mas eles estão aí há mais de 20 anos", pontuou Baiocchi em entrevista ao Diário de Goiás.
A eleição foi apertada. No Conselho Administrativo, foram 1.059 votos a favor da chapa UniMais e 1.022 para a UniMédicos. No Conselho Fiscal, a vitória por 1.017 a 1.005 contra o grupo de Breno Álvares.
O mote do novo grupo é "menos cooperativa, mais cooperados". Segundo Baiocchi, a intenção é que todos os cooperados sintam-se representados por uma administração mais moderna. "Precisamos de uma estrutura administrativa mais ágil, leve e mais século XXI para entregar na mão dos cooperados, na mão dos donos. Somos 2.800 donos", afirmou.
O novo presidente pontuou que a chapa elegeu um Conselho rejuvenescido e com capacidade de fazer a Unimed crescer. "São jovens conselheiros com experiência em gestão e cooperativa. O que esperamos fazer com a Unimed é melhorar a gestão do ponto de vista negocial e empresarial, abrir a cooperativa para que os cooperados participem, envolver esses 2.800 na movimentação da máquina. Somos representantes deles, não somos patrões", ponderou Baiocchi.
Concorrência e finanças
O Grupo Hapvida, maior operador de planos de saúde do Norte e Nordeste do país, está chegando a Goiânia e lança um alerta sobre a Unimed. Por isso, o grupo liderado por Baiocchi se inteirou de todos os aspectos para encarar a nova concorrência.
"Fizemos uma romaria ao longo de onde o Hapvida já passou. Nós vimos como o Hapvida funciona. É um concorrente, mas trabalha de maneira verticalizada. Ela tem estrutura própria. O preço do produto deles é muito mais barato. O que é pior, ela explora o trabalho do médico, pagando às vezes metade do que pagamos para um médico. Por isso, conseguem oferecer um serviço mais barato", criticou.
Apesar das ressalvas ao concorrente, o novo presidente garante que preza pela competição. "É saudável. Não acho que o ideal é ter uma marca só. Deve haver competição para que o beneficiário seja realmente beneficiado", opinou.
O novo presidente também citou que a Unimed Goiânia está financeiramente saudável. Segundo ele, o faturamento anual é de cerca de R$ 2 bilhões. Mesmo com todas as despesas, houve sobra por volta de R$ 120 milhões em 2019, segundo Baiocchi.
"A Unimed tem um faturamento de cerca de R$ 170 milhões mensais. Apresentamos as contas com uma sobra de algo em torno de 6%. Mesmo pagando a todos os cooperados e fornecedores em dia, houve essa sobra. Temos também aplicações obrigatórias e livres num volume bem grande. É uma situação cômoda. Podemos melhorar, mas é uma situação bastante regular", detalhou.
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O POPULAR
Ipasgo mira auditorias em benefício de servidores
Instituto quer alterar sistema interno por causa de fraudes como solicitação médica emitida e auditada pelo mesmo profissional
O Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) fará licitação para alterar sistema de informática e começou este ano a notificar auditores após casos de fraudes. Além do que foi divulgado por conta de operações da Polícia Civil (Morfina e Metástase) em 2019, O POPULAR teve acesso a levantamento que revela entre as irregularidades – ainda investigadas – até a prescrição médica emitida e auditada pelo mesmo profissional de saúde.
Ao ser questionado sobre as auditorias que beneficiavam funcionários do Ipasgo, que geram, no mínimo, conflito de interesses, o presidente do instituto, Silvio Fernandes, reconheceu que brechas ainda existem e não se limitam a casos verificados entre 2014 e 2018. "Não dá para dizer desde quando aconteceu, o sistema é falho, há 40 tipos de programas rodando dados e um levantamento quase que artesanal. Trabalha para dificultar a transparência e reflete até hoje", afirma.
A licitação para contratação de serviços de apoio operacional à autogestão e com disponibilização de softwares, segundo ele, está em andamento. A suspensão da mesma foi publicada ontem no Diário Oficial do Estado, mas o objetivo seria apenas fazer algumas alterações. O Ipasgo não divulgou quais seriam elas. Edital de dezembro do ano passado tinha valor estimado em R$ 174,645 milhões e a abertura da concorrência estava prevista para o dia 11 de fevereiro.
Por conta do alto valor, essa solução para estancar possíveis falhas e gastos desnecessários é criticada pelo Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado de Goiás (Sindipúblico). "Isso corresponde a 10% da arrecadação anual que é descontada dos segurados", pontua o presidente da entidade, Nylo Sérgio. Ele diz que há gargalos e melhorias precisam ser feitas, contudo o posicionamento é de que faltam justificativas para o investimento por esse preço.
Silvio defende que a licitação é vital para ter organização administrativa e barrar casos suspeitos. "Gastamos mais ou menos R$ 21 por usuário por mês. A ideia é passar o valor da licitação para R$ 23. Seriam R$ 2 a mais com economia assistencial de R$ 42." Ao todo são 625 mil pessoas atendidas. Crescimento dos gastos, porém, ele ressalta que não estão ligados somente a pagamentos indevidos ou que deveriam ser questionados, mas também há fatores como inflação da saúde.
Auditores
Outra solução apresentada pelo instituto para coibir irregularidades é a notificação de auditores, que começou a ser realizada. O pedido é para que identifiquem se possuem vínculo com empresas, pois há casos de servidores sócios de instituições credenciadas ao Ipasgo, e para que se comprometam a não auditar em causa própria. Legislação proíbe participação de empresas cujos sócios, administradores ou empregados sejam servidores ou dirigentes dos órgãos contratantes.
Além de emissões e autorizações feitas por um mesmo servidor, relatório aponta atendimento solicitado em nome de um usuário do plano e liberado em favor de outro diferente e procedimentos, como internações, autorizados com guias sem a assinatura dos beneficiários ou de seu responsável. Outros erros são a falta da assinatura ou registro de médicos em guias, pagamentos de serviços que não integravam contratos com prestadores e liberações de créditos sem comprovação.
Procurado pela reportagem o Conselho Regional de Medicina de Goiás não quis se manifestar. Enquanto o Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás esclareceu por nota que "o exercício da ética e da moralidade são intransponíveis, sobretudo para a classe médica, que se dedica ao próximo".
Desperdícios chegariam a R$ 20 milhões, diz presidente
Gastos mensais por conta de falhas gerais somam até R$ 20 milhões por mês, segundo estimativa do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo). O presidente, Silvio Fernandes, explica que a conta é sobre o que pode ainda ser usado de maneira incorreta e que a gestão não tem conseguido barrar. Especialmente por causa do sistema de informática e falta de ferramentas adequadas para trabalho correto de auditoria dos processos.
"Não basta ter pessoas sem ferramentas. Não adianta colocar regras para auditores sem ferramenta. Na era digital, não se pode achar que tem de fazer de maneira manual. É premiada a ineficiência."
Com casos de irregularidades e até crimes identificados e que ainda são alvo de investigação policial, o Ipasgo enfrenta crescimento de gastos e brechas históricas que permitem desvios, segundo Silvio. Os balanços financeiros apontam um crescimento de 76% nos gastos assistenciais entre 2014 e 2019.
Enquanto isso, relatórios mostram que gastos eram autorizados mesmo quando falhas deveriam ser claras, como a ausência de assinaturas ou preços muito acima do praticado no mercado. Por conta de auditorias automáticas, não havia questionamentos ou glosas por parte da equipe de auditoria e o sistema de tecnologia também não teria realizado travas automáticas diante das solicitações repetidas de liberações ou falta de documentação.
"Tomamos ciência do problema através das primeiras tomadas de conta no início da gestão. Conseguimos identificar todo o tipo de irregularidade." Além de licitação para troca de sistema e novas ferramentas, o Ipasgo também deve realizar licitação futura para auditoria interna, conforme afirma.
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Drama do preconceito revivido é revivido em Goiás
A tragédia do Césio 137 retorna nos comentários de quem critica a vinda dos repatriados à base aérea de Anápolis e também o sentimento de quem sofreu com a rejeição
Preconceito é um sentimento que os goianienses conhecem bem. Ele foi um dos traços marcantes da tragédia que se abateu sobre Goiânia quando a cápsula de césio 137 foi arrebentada à força propagando radioatividade pela capital. O episódio, há mais de 32 anos, ainda está presente na memória coletiva. E voltou à tona esta semana quando o ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ligou equivocadamente o fato à decisão do governo federal de resgatar brasileiros que vivem em Wuhan, na China, epicentro da epidemia do novo agente do coronavírus (nCoV-2019), que causa infecções respiratórias e pode levar à morte.
Bastou o anúncio de que Anápolis será a sede da quarentena dos repatriados para que agressivas manifestações de repúdio invadissem as redes sociais. Nesta sexta-feira (7), uma nota assinada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Sandro Mabel, se posicionando contra a escolha de Anápolis recrudesceu o clima de hostilidade, numa demonstração de que muitos não aprenderam com a lição de 1987.
"O governo goiano erra ao aceitar a instalação da base de quarentena do Coronavírus em Anápolis, pois a população goiana não suportaria outro trauma como ocorreu com o acidente com o césio 137, no triste ano de 1987, em Goiânia", diz Mabel.
Naquele ano os goianos foram as vítimas. A rejeição era tamanha que a atitude sensata durante meses era omitir o local de origem se fosse necessário ultrapassar as fronteiras estaduais. Os negócios despencaram e desapareceram as manifestações de afeto de familiares e amigos distantes. Um baque sem precedentes na economia de Goiás e na autoestima do seu povo. Por isso não deixa de ser surpreendente a reação contrária de internautas à escolha da Base Aérea de Anápolis como o espaço adequado para que os brasileiros resgatados da China cumpram o tempo protocolar de afastamento da sociedade para que se evite o risco de propagação do novo coronavírus, caso estejam contaminados.
Sim, por enquanto nada indica que os 34 repatriados, entre eles crianças, sejam portadores do vírus. Inicialmente, ao contrário de outros países, houve resistência do governo brasileiro de retirar essas pessoas da província de Hubei, de onde vieram as primeiras notificações. Mas um apelo dramático dos brasileiros na China em redes sociais e o provável desgaste político da decisão levou a União a agilizar providências para o resgate. Os repatriados devem chegar a Anápolis na na madrugada de domingo (9), onde ficarão isolados sob vigilância absoluta.
Reações
"Eles nem têm que vir. Têm que fechar a China, ninguém entra, ninguém sai", afirmou um internauta numa rede social. Outro comentou: "Não, não queremos esse povo aqui de jeito nenhum." Diretor jurídico da recém-criada Associação Chinesa em Goiás, Max Lu, analisa tudo como um grande exagero. "Os chineses são muito precavidos, para tudo usam máscaras. Proporcionalmente não houve tantas mortes num país de 1,5 bilhão de habitantes", afirma. Até esta sexta-feira, a China tinha registrado 637 mortes pelo coronavírus e 31 mil casos confirmados.
Paulista e filho de pais chineses que se revezam entre o Brasil e o pais de origem, Max Lu é também vice-presidente da Câmara de Comércio dos Empresários Chineses no Brasil. Ele acompanha as manifestações de repúdio na internet, mas diz que através da Associação Chinesa em Goiás, que até o momento reúne cerca de 500 pessoas, ainda não teve notícias de casos presenciais de preconceito. "Há sim, muitas brincadeiras pelo fato de sermos ligados à China. As pessoas brincam que podemos passar o vírus."
Brincadeira ou não, o fato é que nenhum empresário de origem chinesa estabelecido em Goiás quer associar seu nome ou de seu empreendimento ao coronavírus. O POPULAR tentou buscar informações sobre possíveis manifestações de preconceito em pontos comerciais da capital, mas a abordagem não foi bem recebida. Em São Paulo, o presidente do Instituto Sociocultural Brasil China (Ibrachina), Tomas Law, decidiu se manifestar depois de injúrias raciais na página da instituição em uma rede social.
"Vamos encaminhar os fatos para o Ministério Público e para o Poder Judiciário e também para as autoridades chinesas", disse ele. Um caso de preconceito considerado grave ocorreu no Ed. Berrini 550, no centro financeiro da capital paulista. Está instalada no prédio a loja de moda e design japonesa Miniso, onde trabalham vários chineses. A administração do condomínio colocou um comunicado alertando os "irmãos" chineses que para acessar o prédio deveriam usar máscaras cirúrgicas, o elevador privativo e higienizar as mãos com álcool em gel. O Ibrachina manifestou repúdio ao comunicado e prometeu combater o ato que considerou discriminatório.
Em outro condomínio no centro de São Paulo, muito antes das orientações das autoridades de saúde sobre a necessidade de isolamento temporário, chineses que vivem no local foram comunicados num aviso escrito em português e mandarim que deveriam evitar o contato com brasileiros por duas semanas, caso tivessem voltado da China recentemente. Houve relatos de que até mesmo crianças estão tapando a boca e o nariz ao se aproximar de pessoas de olhos puxados.
Diante das reações racistas e preconceituosas contra a comunidade oriental, um grupo de ativistas asiáticos desencadeou uma campanha na internet cujo mote é #eunaosouumvírus. A frase aparece em vários idiomas, mostrando que as condutas hostis contra os chineses são um fenômeno mundo afora.
Repatriação causa críticas e ofensas
A oposição do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Sandro Mabel, à quarentena da Base Aérea (Ala 2) de Anápolis casou reação extremada do governador Ronaldo Caiado (DEM). O democrata usou as redes sociais rebater a crítica e chamou Mabel de "mercenário, canalha e desumano".
"Estou na Base Aérea de Anápolis onde vamos fazer vistoria ao lado dos ministros da Defesa e da Saúde antes da vinda dos brasileiros da China. Fui informado da nota monstruosa assinada por Sandro Mabel. Chocou nosso Estado de Goiás a posição desse mercenário, canalha e desumano!", declarou o governador no Twitter.
Na noite desta sexta-feira, o presidente da Fieg participou de live no Facebook do POPULAR, onde reafirmou ser contrário à medida. Mabel se disse preocupado com a saúde dos goianos e afirmou que, caso haja um caso confirmado entre os repatriados, Anápolis ficará estigmatizada, o poderia refletir em perdas econômicas. Segundo ele, os empresários já sentem os efeitos por conta do problema de saúde na China, pois as exportações estariam afetadas. Também afirmou que pretende processar Caiado por danos morais.
"Revivo o que passei na época do acidente com o césio-137", mãe de Leide das Neves
Lourdes das Neves Ferreira fala sobre as comparações do surto do novo coronavírus com a tragédia em Goiânia e relata a dor do preconceito
Prestes a completar 67 anos, Lourdes das Neves Ferreira passou a reviver nos últimos dias os piores momentos de sua vida. Mãe de Leide das Neves Ferreira, que aos 6 anos perdeu a vida depois de comer um ovo cozido com as mãos sujas do pó do césio-137, ela vem acompanhando reportagens sobre o novo coronavírus. Para ela, a visão das máscaras e dos macacões brancos dos profissionais que tentam isolar o vírus na China remete às lembranças do acidente radioativo de Goiânia. Assim como se assemelham muito os atos de discriminação.
Como se não bastassem os ataques cotidianos e manifestações de repúdio às vítimas do acidente com o césio-137, em outubro de 1987 Lourdes vivenciou o fato que passou para a história como o símbolo do preconceito daquela tragédia. No enterro de Leide, a pessoa mais contaminada pela radioatividade, pedras foram atiradas por um grupo que tentava impedir o sepultamento do corpo da menina e de sua tia, Maria Gabriela Ferreira, no Cemitério Parque, em Goiânia. Entre os revoltados estava o hoje deputado federal José Nelto (Podemos).
A foto da caçula da família Ferreira ocupa lugar de destaque na casa onde Lourdes vive há mais de 30 anos na Cidade Satélite São Luiz, em Aparecida de Goiânia. "Ela nasceu oito anos depois do meu filho do meio. Quando aconteceu o acidente ainda não tinha ido à escola porque eu queria curtir muito ela. Era uma menina alegre e vaidosa. A última vez que a vi ela estava com essa mesma roupa", aponta para a fotografia que se tornou um emblema do episódio. Hoje avó de quatro netas e de nove bisnetos, Lourdes prefere olhar à frente. "Foi mais do que um furacão que passou em nossas vidas, mas a gente tem o dever de lutar. Por pior que seja a tragédia, a gente aprende com ela."
A senhora está acompanhando os fatos em relação ao coronavírus. Como analisa tudo isso?
É como se passasse um filme na minha cabeça. A cada reportagem, revivo o que passei na época do acidente com o césio. Foi difícil naquela época porque ninguém sabia do que se tratava. Quando vejo aquele pessoal com máscara e macacão branco na China me lembro do que vivi em Goiânia. Fico vendo o pessoal falar de quarentena e penso: parece que estou de quarentena até hoje.
Por que fala isso?
A vida da gente ficou meio embaraçada. Não há como programar um passeio, uma reforma em casa, uma melhoria de saúde porque minha situação financeira não permite. A pensão do césio é vitalícia. Se a pessoa morre, ela morre junto. Meu marido morreu e eu fiquei somente com a minha que deveria ser um salário mínimo da União e um do Estado de Goiás, que nunca paga o valor certo.
A senhora ainda sofre com discriminação?
Hoje sou bem resolvida em relação a isso. Já sofri muito. Me lembro que quando mudei para esta casa uma vizinha fez um abaixo-assinado no bairro para que eu não ficasse aqui. Hoje, quando alguém fala alguma coisa, ignoro. Penso que a pessoa não sabe de nada.
Uma das coisas que ficou na memória popular, como um símbolo do preconceito, foi o enterro da Leide, no Cemitério Parque, por causa do protesto de um grupo de pessoas que não queriam o sepultamento no local.
Sim. Foi a pior coisa que aconteceu. Fui acompanhada da Dona Iris e da primeira-dama de Goiás, Sônia Santillo. Eu estava dopada de remédios, mas prestava atenção em tudo. Via as pedras passando, aquele monte de gente. Tinha uma corda isolando. D. Sônia levou à mão na corda e levantou, e veio alguém dizendo que ela não podia ultrapassar para não ficar exposta. Ela disse que iria, que estava com a mãe da criança. Daí não lembro de mais nada. Alguém me filmou agachada no cantinho do caixão.
Entre as pessoas que protestavam estava o hoje deputado federal José Nelto (Podemos), na época vereador de Goiânia. A senhora já teve oportunidade de falar com ele sobre o assunto?
Depois do enterro, quando meu esposo, Ivo , estava vendo televisão e José Nelto aparecia, ele mudava de canal. Eu não, fazia questão de firmar meu olho nele. Tenho vontade de conversar com ele, não para agredi-lo, mas para saber o que passou na cabeça dele naquele momento. Gostaria de saber o que ele pensou, se arrependeu, se tinha ideia do nosso sofrimento, da minha dor. Uma dor que nunca vai passar.
Qual a última lembrança que a senhora tem da Leide?
Meu último contato com ela foi no Estádio Olímpico. Nos retiraram de casa de madrugada e fomos para o Estádio Olímpico. Eu jurava que jamais iria me separar dela. Eu a coloquei numa muretinha e abracei suas perninhas. O pessoal da Comissão Nacional de Energia Nuclear passou o aparelho e foi separando os mais contaminados. Ela foi colocada no grupo que iria para o Hospital de Doenças Tropicais. Ali arrancaram um pedaço do meu coração. Foi a última vez que a vi. Dali ela foi para o Rio de Janeiro. Foi quando percebi que a coisa era muito séria.
A senhora tem medo do coronavírus?
Não, porque já passei por coisas piores. É um exagero o que estão fazendo, como algumas pessoas falarem que não querem a presença dos brasileiros que estão vindo da China. Isso não existe. Na época do acidente com o césio achavam que todo mundo iria morrer rapidinho. Eu estou aqui para contar a história. Vamos acolher esse pessoal que está chegando com muito amor e carinho. Não podemos fazer uma visita, mas vamos pedir a Deus por eles. Todos nós podemos fazer isso.
Era tudo o que a senhora queria na época do acidente?
Sim. Eu queria ser acolhida, queria um abraço. Eu me apeguei muito com o pessoal da imprensa. Eu estava sozinha, abandonada. Eles chegavam, me davam um abraço. Fui muito acolhida por eles. Eu me sentia uma criança orfã, de pai e mãe.
Como a senhora acha que esse pessoal que está chegando vai se sentir?
Muito ruim, embora estejam mais esclarecidos da situação, diferente do que aconteceu com a gente. Para eles é uma situação mais fácil do que para nós. Não sabíamos de nada. Nós ficamos expostos para a mídia, todo mundo sabia quem éramos.
Quarentena em Anápolis terá até shows
Repatriados terão acesso à filmoteca, brinquedoteca, videogames e contarão com apresentações artísticas. Anvisa reforça que atividades não vão interferir na segurança sanitária
As 34 pessoas que devem chegar em Anápolis no fim da noite deste sábado, diretamente de Wuhan, cidade chinesa que é o epicentro de propagação do novo coronavírus, vão ficar em quarentena por 18 dias na base aérea da cidade goiana. A Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou nesta sexta-feira (7) que o grupo, que pode chegar a 58 pessoas se incluir as equipes que trabalham no resgate, terá acesso à biblioteca, filmoteca, brinquedoteca, videogames, atividades culturais, apresentações de artísticas e jogos.
O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o contra-almirante Antônio Barra Torres, diz que apesar de o local da quarentena contar com ampla estrutura de entretenimento para adultos e crianças, tudo foi extremamente bem pensado. "Pensamos no conforto, mas nada vai passar por cima das condições sanitárias ideais. Tudo que foi permitido e programado está dentro de todas as normas e do protocolo estabelecido internacionalmente", afirma.
O POPULAR esteve nas instalações da quarentena. O Hotel de Trânsito tem o perímetro de 900 metros, dividido em dois blocos, e foi adaptado para a missão. Na parte externa foram colocadas espreguiçadeiras, mesas, um pula-pula para crianças e um pequeno auditório coberto com espaço para apresentações e reprodução de vídeos. Cada pavilhão recebeu uma brinquedoteca, um refeitório, uma lavanderia e uma área de convivência. Todos os quartos foram equipados de acordo com a necessidade de cada família. Naqueles que receberão crianças pequenas, por exemplo, foram instalados berços. Todos os dormitórios contam com televisão, camas box, ar condicionado, frigobar, acesso à internet e têm itens de limpeza e higiene pessoal nos banheiros.
Sobre o contato dos repatriados com as pessoas que trabalharam diretamente com eles, Torres explica que toda a equipe já recebeu orientações e está bem preparada. "É preciso lembrar que fora dos quartos eles (repatriados) estarão de máscaras cirúrgicas. Elas impedem que as gotículas, que são o meio de transmissão do novo coronavírus, se espalhem. Por isso, as equipes que trabalharam no local estão seguras. Por exemplo, os grupos que forem fazer apresentações artísticas para eles não precisam se preocupar. Em primeiro lugar por causa da distância que ficarão dessas pessoas e em segundo, porque eles (repatriados) vão estar mascarados o tempo todo", esclarece.
Torres diz ainda que o perímetro onde ficarão os brasileiros será monitorado o tempo todo. "O comandante da Base Aérea de Anápolis já nos informou que conversou com o efetivo que trabalhará no local e instruiu que caso alguém saia do local delimitado, eles devem conduzi-lo educadamente de volta."
O diretor-presidente da Anvisa explica ainda que as determinações de segurança sanitária não são definitivas. "Nós tentamos planejar tudo pensando em todas as possibilidades possíveis. Porém, isso não significa que não vá acontecer algo que não esteja dentro dos planos. Justamente por isso há a possibilidade de adequações se notarmos a necessidade de mudanças."
Dia a dia
Ao todo 58 pessoas virão para o Brasil. "Serão brasileiros repatriados, 12 membros da equipe médica do Instituto Médico Aeroespacial (IMAE) da FAB, 8 tripulantes, 2 médicos do Ministério da Saúde e 2 jornalistas. O presidente permitiu ainda que quatro poloneses, uma indiana e um chinês viajasse até Varsóvia e desembarcassem", afirma o secretário de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno, responsável pela Operação Regresso à Pátria Amada Brasil.
O secretário substituto de Vigilância em Saúde, Júlio Croda, conta que antes de entrarem nas aeronaves que saíram de Wuhan no fim da tarde desta sexta-feira, os repatriados passaram por duas tiragens. "É uma triagem feita pelos chineses, que é muito rigorosa, já que eles não estão permitindo que ninguém doente saia do país, e depois uma triagem feita pela nossa equipe, seguindo os protocolos sanitários internacionais", explica. A necessidade das outras 24 pessoas também permanecerem em quarentena será avaliada em solo brasileiro depois da realização de uma avaliação de risco que dependerá do contato que cada pessoas teve um os repatriados.
Assim que chegarem ao Brasil, as 34 pessoas serão submetidas a testes para constatar se há a presença ou não do novo coronavírus. O exame laboratorial será repetido no 14º dia de quarentena. "Na manhã do domingo, às 10 horas, eles receberão instruções relacionadas à saúde, alimentação e lazer como, por exemplo, o fato de que serão servidas seis refeições diárias. Depois disso, apesar de receberem recomendações, eles estarão "livres". A exigência geral que fará parte da rotina deles é o aferimento dos sinais três vezes por dia até o fim da quarentena", explica Damasceno.
Além de assistência médica e odontológica 24 horas, a FAB também irá proporcionar suporte para a manutenção da saúde mental dos repatriados com apoio pedagógico e psicológico, além de assistência religiosa.
Lacen de Goiás será quarto laboratório a fazer testes
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou nesta sexta-feira durante a visita que realização aos hotéis de trânsito da Ala 2, da Base Aérea de Anápolis, que o Laboratório Central (Lacen) de Goiás será o quarto local no país a realizar os testes laboratoriais que confirmam a infecção pelo novo coronavírus.
"O primeiro local qualificado que tivemos foi a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ) e depois o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo e o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. Agora consideramos que o Lacen de Goiás tem capacidade para virar uma referência nesse tipo de teste", diz. Porém, o Ministério da Saúde não informou quando esses testes passarão a ser efetuados no Lacen.
Em nota, o Lacen Goiás informou que o Ministério da Saúde (MS) avaliou as condições técnicas e estruturais do laboratório e aprovou a realização dos exames na unidade. "O Ministério da Saúde enviará equipamentos, insumos e reagentes para a realização dos exames em Goiás. Uma técnica do Instituto Evandro Chagas (IEC) deverá vir a Goiás, ainda neste fim de semana, para capacitar os servidores da SES-GO", diz o texto.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), diz que a novidade é uma boa notícia para os goianos. "É uma surpresa muito boa. Mais uma prova da confiança do Ministério da Saúde. Tenho certeza que as instalações serão ótimas quando tudo estiver pronto", pontua.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) de Goiás também vai ter um papel importante durante a quarentena dos repatriados em Anápolis. De acordo com informações do secretário de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, que é o responsável pela operação de repatriação, servidores da pasta farão testes nos brasileiros assim que eles chegarem em Anápolis. "Eles vão colher uma amostra para o exame laboratorial que constata se essas pessoas estão com o vírus ou não", explica.
O Ministério da Defesa divulgou também que os servidores da SES irão aferir três vezes por dia os sinais vitais das pessoas que ficarão em quarentena.
Todos repatriados são autorizados a embarcar após exames
As duas aeronaves do governo federal que foram até Wuhan, na China, para buscar os repatriados saiu da cidade com o grupo na tardesta sexta-feira (horário de Brasília). Os aviões decolaram por volta das 17 horas, (4 hora no fuso horário da localidade chinesa), com previsão de chegada entre a noite deste sábado (8) e madrugada de domingo (9).
Alguns dos brasileiros usaram as redes sociais para publicar fotos antes de embarcarem. Em uma delas, o estudante de mandarim Heros Martines, de 23 anos, publicou uma foto com uma máscara preta no rosto e declarou se sentir estranho porque o aeroporto da cidade estava vazio.
Todos os repatriados que demonstraram interesse em retornar ao Brasil conseguiram passar pelos testes médicos e foram liberados a retornar. As avaliações foram feitas antes do embarque, no aeroporto de Wuhan.
Serão 26 horas de voo, sem contar as escalas. Saíram de Wuhan 34 brasileiros, incluindo os parentes, além de três diplomatas também de nacionalidade brasileira. Seguem a bordo 4 poloneses, 1 chinesa e 1 indiana que devem desembarcar na Polônia.
A primeira escala prevista era em Ürümqi, na China, depois disso o grupo segue para Varsóvia (Polônia). Em seguida os repatriados irão para Las Palmas, na Espanha e fazem uma última parada já em território brasileiro, em Fortaleza, no Ceará, por volta das 17h30 deste sábado. Depois disso, Anápolis como destino final por volta da meia noite como previsão de chegada.
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FOLHA DE S.PAULO
Chefe de federação de indústrias compara vírus a césio-137
SÃO PAULO
A Fieg (Federação de Indústrias de Goiás) compartilhou nesta sexta (7) uma nota em que o presidente do órgão, Sandro Mabel, diz que o governo estadual errou ao aceitar que o governo federal instalasse na cidade de Anápolis a base de quarentena.
Ele disse que a população "não suportaria outro trauma" como ocorreu com o acidente radiológico com césio-137, em Goiânia, em 1987, quando uma cápsula de fonte radioativa foi encontrada e aberta em um ferro-velho.
Na ocasião, pouco mais de mil pessoas foram monitoradas. Destas, 129 apresentaram contaminação, ficaram isoladas de acordo com a gravidade e foram encaminhadas para tratamento. Quatro morreram por síndrome de radiação aguda.
Goiás pode ser prejudicado com a discriminação, impactando no turismo, nos negócios, com queda na produção e comercialização de produtos. É um desastre para o estado. Podemos sofrer segregação do que é produzido em Goiás, afetando a exportação de industrializados e carne, por exemplo" diz o presidente.
O governador do estado, Ronaldo Caiado (Democratas), classificou a nota como "monstruosa". "Estou na Base Aérea de Anápolis onde vamos fazer vistoria ao lado dos ministros da Defesa e da Saúde antes da vinda dos brasileiros da China. Fui informado da nota monstruosa assinada por Sandro Mabel. Chocou nosso estado de Goiás a posição desse mercenário, canalha e desumano", escreveu em seu perfil no Twitter.
À Folha Mabel disse que tentou falar com Caiado por dois ou três dias, mas não foi recebido. "A gente tem o dever de alertar, é algo que se tem que falar" disse.
Para ele, o estado de São Paulo deveria receber os brasileiros que serão vindos da China. "Esse é um caso que não tem nada a ver com Goiás. A maioria das pessoas é paulista. Tem um monte de lugar em São Paulo para quarentena. Não é um problema nosso. Nós somos todos brasileiros, mas o problema não é em Goiás, a população é de outro estado, que deveria tomar conta disso. Não é preconceito nenhum, cada um com sua responsabilidade", afirmou.
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AGÊNCIA BRASIL
Brasileiros resgatados na China chegam à Base Aérea de Anápolis
Brasília – Os 34 brasileiros resgatados na China chegaram à Base Aérea de Anápolis, em Goiás, na manhã deste domingo (9/2). Eles vieram em dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) enviados ao país asiático na última quarta-feira (5). As aeronaves pousaram às 6h05 e 6h12 vindas de Fortaleza, última escala técnica no trajeto da chamada Operação Regresso.
O resgate foi feito na cidade chinesa de Wuhan, epicentro do surto mundial do coronavírus. As aeronaves também trouxeram quatro poloneses e um chinês que desembarcaram em Varsóvia, na Polônia, um dos locais de escala para abastecimento.
Os repatriados vão permanecer em quarentena por 18 dias, no hotel de trânsito da Base Aérea de Anápolis, que foi especialmente preparado para essa operação. A tripulação –médicos, pilotos, enfermeiros, etc… – que participou do resgate também vai cumprir período de quarentena.
Todos ficarão em apartamentos individuais ou, no caso dos que são pais ou mães de crianças menores, poderão ficar no mesmo quarto. O grupo inclui crianças de 2 e 3 anos e outras de 7 a 12 anos. As visitas estão proibidas.
Os dois aviões da FAB com os resgatados a bordo decolaram de Wuhan, na China, no início da noite de sexta-feira (7). No trajeto para o Brasil, as aeronaves pararam para reabastecimento em Ürumqi (China), Varsóvia (Polônia), Las Palmas (Espanha), e em Fortaleza, já em território brasileiro.
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O GLOBO
Velhas doenças ainda ameaçam mais do que coronavírus
No Brasil, especialistas temem queda na atenção dada ao combate a dengue, zika, chicungunha, febre amarela e sarampo
ANA LUCIA AZEVEDO, CÉLIA COSTA E CONSTANÇA TATSCH
A médica Patrícia Rosseti chega às 8h no Centro Municipal de Saúde (CMS) Píndaro de Carvalho Rodrigues, na Gávea, Zona Sul do Rio, e com mais duas pessoas atende a cerca de 50 pacientes todos os dias, muitos com dengue. Desde o início do ano, o CMS também realiza, pelo menos uma vez por dia, bloqueios vacinais contra o sarampo, quando pessoas do entorno de um paciente devem ser imunizadas.
Mas, nos corredores, conta a médica, os pacientes já se preocupam mais com o coronavírus:
– Ficamos muito frustrados. Parece que você orienta as pessoas mas tudo fica do mesmo jeito – diz, em referência aos cuidados necessários para se combater o mosquito Aedes aegypti ou manter a carteira de vacinação em dia. – Talvez o governo precisasse falar mais, incrementar as campanhas, divulgar mais os números. Até para nós fica difícil saber qual a realidade dos casos aqui no Rio, por exemplo.
O pânico global em relação ao novo coronavírus pode ser grande, mas, para o Brasil, pelo menos nesse momento, muito maior é a ameaça de velhas doenças, garantem especialistas. Os vírus da dengue, da chicungunha, da febre amarela e do sarampo são aqueles que o brasileiro realmente deveria temer e contra os quais se proteger.
– Vejo com pessimismo o cenário para dengue e chicungunha, apesar dos esforços do Ministério da Saúde. Enquanto não tiver saneamento básico, as doenças do Aedes aegypti vão nos acometer – destaca o virologista Pedro Vasconcelos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, que conclui: – Haverá um ano com mais casos, outros com menos, mas a tendência de crescimento será mantida.
Marzia Puccioni-Sohler, professora da UFRJ e da UniRio, lembra que o mosquito prefere água suja, mas, se encontrar oportunidade dentro das casas, vai infestá-las também. E não adianta cuidar da casa e ter esgoto a céu aberto na porta.
A chicungunha é uma doença incapacitante, causa limitações físicas, impede muitas pessoas de trabalhar. Embora o vírus seja menos comum, a parcela dos infectados que adoece é muito maior que a da dengue, por exemplo. Estima-se que 70% dos infectados desenvolvam sintomas, que nunca são brandos e podem se prolongar por meses, às vezes por anos. E 16% dos doentes podem apresentar complicações neurológicas. Já a dengue pode levar a doenças autoimune.
– Como toda novidade, o coronavírus desperta curiosidade e prende a atenção. Mas, para o Brasil, agora, problema mesmo são as nossas doenças conhecidas, que são graves, diz Marzia.
Para Ligia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em saúde pública e colunista do GLOBO, o coronavírus é "um desafio que se soma, e as estruturas da saúde já estão fragilizadas".
Segundo ela, para combater a dengue, por exemplo, seria necessário fazer um conjunto de ações, incluindo inquéritos sorológicos (pesquisa com uma amostra da população para saber se já teve dengue e qual tipo), além de desenvolver uma vacina, processo em que o Brasil "não está na vanguarda" pela "descontinuidade de investimentos".
– O coronavírus vai fazer sombra [às outras doenças] porque o mundo inteiro está apavorado e é uma ameaça que vem de fora, enquanto a dengue nos é familiar – afirma. – Na realidade, é quase uma competição de mau gosto entre os vírus.
VACINAS
Apesar das campanhas, o Brasil ainda não atingiu a cobertura vacinai adequada contra a febre amarela, e o vírus tem avançado para a Região Sul. Vasconcelos observa que, enquanto não tivermos a cobertura vacinai superior a 90% da população, haverá risco de o vírus voltar a se urbanizar. O sarampo, como a febre amarela, não precisaria mais existir se as pessoas se vacinassem, acrescenta:
– Quem não se vacinou e tem medo de coronavírus deveria tomar as vacinas disponíveis e se livrar de perigos bem mais imediatos. São dessas doenças virais que temos que ter mais medo no Brasil – diz.
Rodrigo Brindeiro, professor do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a diminuição dos casos de chicungunha neste início de ano não deve soar como sinal de alívio. Embora com menos casos do que o mês passado, a dengue, em comparação com as primeiras cinco semanas de 2019, tem alta de 71% no país.
– E o número de casos deve aumentar muito em abril e maio, quando teremos calor e menos chuva. A chegada da dengue 2 preocupa porque parte da população mais jovem nunca foi exposta ao vírus e não tem imunidade. Já pessoas mais velhas, expostas aos vírus 1 e 3, correm risco de desenvolver a forma hemorrágica, muito grave – diz Brindeiro.
O Ministério da Saúde vem alertando que, para a dengue, "2020 deve ser pior do que o ano passado". E no Rio o risco de duas epidemias este ano, de dengue e sarampo, assombra as autoridades.
Na semana passada, o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, fez um alerta: se as metas de vacinação contra o sarampo não forem atingidas, o estado pode ultrapassar os 10 mil casos da doença. Em 2019, a cobertura vacinai foi de 74%, a meta é ultrapassar os 95%.
Já o enfrentamento da dengue é para evitar uma epidemia tão grave como a de 2008, quando foram registrados 235.064 casos e 271 mortes:
– Com a volta do sorotipo 2, há risco de epidemia. A maior preocupação é que, normalmente, o tipo 2 evolui para casos graves – diz o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Alexandre Chieppe.
O Ministério da Saúde deve gastar R$ 140 milhões com equipamentos de proteção individual contra o coronavírus. Também estima despender entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões por mês com a instalação de 1.000 novos leitos de UTI. Mas garante em nota que as "ações para as demais doenças não vão deixar de acontecer".
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JORNAL OPÇÃO
Lacen é reconhecido como laboratório apto para exames do coronavírus em Goiás
Por Eduardo Pinheiro
Governo federal enviará equipamentos, insumos e reagentes para a realização dos exames
O Ministério da Saúde reconheceu o Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (LACEN Goiás), no Jardim Luz, em Goiânia, da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), como o quarto laboratório no país apto a realizar exames RT PCR para o Coronavírus.
O Ministério avaliou as condições técnicas e estruturais do LACEN Goiás e aprovou a realização dos exames na unidade. O governo federal enviará equipamentos, insumos e reagentes para a realização dos exames em Goiás. Uma técnica do Instituto Evandro Chagas (IEC) deverá vir a Goiás, ainda neste fim de semana, para capacitar os servidores da SES-GO.
Os outros laboratórios que realizam o exame são a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ), o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o IEC, no Pará.
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Goiás ocupa 6ª posição em número de casos detectados de hanseníase no Brasil
Por Ton Paulo
Dados da OMS indicam que o Estado corresponde a 6,5% dos casos detectados de hanseníase no Brasil
O Brasil é o segundo país no mundo com mais casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Conforme a Organização Mundial da Saúde, entre 1999 e 2018, foram diagnosticados 768.215 casos desta doença, que pode ser detectada com facilidade. Nacionalmente, Goiás ocupa a sexta posição em número de casos, com um acumulado que chega a 50.233 notificações, ficando atrás do Maranhão, Pará, Mato Grosso, Pernambuco e Bahia.
Mesmo com as constantes campanhas educativas, com foco no diagnóstico precoce, a detecção de novos casos tem indicado uma média de 38 mil registros por ano, no período. Na Região Centro-Oeste, o Estado só perde para o Mato Grosso em registros de ocorrência de hanseníase, conforme revelam dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Já no que se refere à taxa de detecção da doença na população geral, os indicadores também oscilam. Em 2000, ela era de 25,44 casos por 100 mil habitantes, chegando a 12,23, em 2016. Porém, como na contagem de números absolutos, esse índice também voltou a apresentar alta nos anos seguintes: 12,94 notificações, em 2017, e 13,70, em 2018.
Em Goiás, os números seguiram essa tendência nacional. Em 1999, foram registrados 3.196 novos casos. Em 2016, esse dado baixou para 1.452. Após um leve declínio, com 1.369 notificações, em 2017, voltou a subir no ano seguinte. Em 2018 foram registrados 1.472 novos casos de hanseníase em Goiás.
Diagnóstico precoce é de suma importância
A SBD somou forças para apontar a importância de se enfrentar essa doença tropical de evolução crônica, que se manifesta principalmente por meio de lesões na pele e sintomas neurológicos, como dormência e diminuição de força nas mãos e nos pés.
O diagnóstico, tratamento e cura da hanseníase dependem de exames clínicos e, principalmente, da capacitação do médico. Ao longo dessas duas décadas, a avaliação dos números da hanseníase comprova que seu enfrentamento exige o desenvolvimento de diferentes estratégias devido à complexidade de seus determinantes. Múltiplos fatores estão envolvidos nessa questão, entre eles a dificuldade de acesso da população aos serviços de saúde, principalmente no Norte, Centro-Oeste e Nordeste, levando ao diagnóstico tardio.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação