Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

CLIPPING SINDHOESG 18 A 20/04/20 FINAL

CONTINUAÇÃO

 

METRÓPOLES

Tudo sobre Annita (nitazoxanida): nova promessa contra Covid-19
Depois da cloroquina e da ivermectina, a nitazoxanida entrou no radar da população brasileira por conta de um anúncio feito na última quarta-feira (15/03) pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes. Sem revelar o nome para não estimular uma corrida às farmácias, ele afirmou que testes do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) tinham encontrado um medicamento já comercializado que apresentou 94% de eficácia em ensaios de laboratório contra o Sars-CoV-2
Venda controlada
No dia seguinte, pipocaram especulações sobre qual seria o medicamento e seu princípio ativo. A charada foi resolvida pela própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que mudou as regras de comercialização do Annita (nitazoxanida) – um vermífugo bastante popular.
O remédio é usado para infecções do aparelho gastrointestinal provocadas por vírus, como o rotavírus, ou bactérias, como a ameba. O medicamento, em seu uso correto, tem contraindicações para pessoas com problemas no fígado ou nos rins.
Corrida frenética
No caso do Sars-CoV-2, a comunidade científica está em uma corrida frenética para encontrar tratamentos e vacinas. Quando aparece uma nova doença, é comum que os estudos comecem por medicamentos que já existem no mercado, testando por "aproximação" a efetividade deles para o problema a ser enfrentado
A primeira etapa do trabalho são os testes na bancada do laboratório, que avaliam se o princípio ativo do medicamento consegue combater o vírus in vitro. O medicamento citado por Pontes está, justamente, nessa etapa. "Da chamada fase zero até a comercialização, o comum é que se leve, pelo menos, 10 anos", explica a especialista em virologia e professora do Centro Universitário Saúde ABC, Flávia Gerhke.
Depois de encontrar a molécula correta capaz de reagir ao vírus, os pesquisadores precisam avaliar a toxidade da substância para, só então, passarem aos testes com pacientes em protocolos médicos. "Na bancada do laboratório, é possível conseguir muita coisa contra um vírus, mas, até que a efetividade e a segurança sejam comprovadas, é um longo caminho a ser percorrido", pondera.
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Informação foi divulgada pela Comissão Nacional de Ética e Pesquisa, que precisa aprovar pesquisas com humanos
De acordo com revisão científica, nenhum dos estudos sobre tratamentos para enfrentar a Covid-19 conseguiu demonstrar segurança
Ainda sem tratamento
Mesmo neste quadro de urgência mundial, a pesquisadora estima que pelo menos cinco anos sejam necessários entre os primeiros testes laboratoriais e a inclusão do medicamento em protocolos gerais de tratamento.
Desde que a pandemia alcançou o Brasil, 76 estudos sobre o coronavírus foram aprovados na Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep) do Conselho Nacional de Saúde, ligada ao Ministério da Saúde. Desses, 21 são protocolos de tratamento que envolvem ensaios clínicos
Em pesquisa realizada na China, a nitazoxanida foi reprovada em uma fase anterior ao uso em humanos, na bancada do laboratório mesmo, pois a quantidade necessária da substância para matar o novo coronavírus se mostrou tóxica para o desenvolvimento de um fármaco.
Divulgado nesta semana, um estudo encomendado pela Associação Médica Americana (AMA), avaliou 109 artigos científicos sobre tratamentos clínicos – testes com medicamentos em pacientes – relacionados ao novo coronavírus. O resultado, entretanto, foi decepcionante. De acordo com a revisão, nenhum dos artigos conseguiu comprovar a eficácia dos tratamentos que vêm sendo aplicados.
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A REDAÇÃO
Sobe para 393 o número de casos de coronavírus em Goiás

Goiânia – Boletim divulgado na tarde deste domingo (19/4) pela Secretaria de Estado da Saúde indica que Goiás possui 393 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus. Até sábado, o número era de 378. São 18 óbitos confirmados, dados que não sofreram alteração nas últimas 24 horas.

No Estado, há 6.494 casos suspeitos em investigação. Outros 2.021 já foram descartados. Atualmente o Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO) concentra 127 amostras em análise.

Os casos confirmados foram registrados nos municípios de Águas Lindas de Goiás (2), Aloândia (1), Anápolis (30), Anhanguera (1), Aparecida de Goiânia (12), Aragoiânia (1), Bela Vista de Goiás (1), Bom Jesus de Goiás (1), Caldas Novas (1), Campestre (1), Carmo do Rio Verde (1), Catalão (1), Ceres (2), Cidade Ocidental (2), Faina (1), Formosa (3), Goiandira (1), Goianira (1), Goianésia (22), Goiânia (231)*, Goiatuba (1), Guapó (1), Inhumas (1), Itaguaru (2), Itumbiara (8), Jataí (4), Luziânia (10), Montividiu (1), Nerópolis (1), Nova Glória (1), Nova Veneza (1), Paranaiguara (1), Paraúna (1), Pires do Rio (3), Professor Jamil (5), Rialma (4), Rio Verde (13), Santo Antônio do Descoberto (1), São Luís dos Montes Belos (2), Senador Canedo (2), Silvânia (1), Trindade (5), Valparaíso de Goiás (7) e Vianópolis (1).

Os 18 óbitos confirmados até o momento foram registrados nos municípios de Aparecida de Goiânia (1), Goiandira (1), Goiânia (10),  Luziânia (2), Paraúna (1), Pires do Rio (1), Rio Verde (1) e Valparaíso de Goiás (1). Há um óbito suspeito em investigação na cidade de Araçu.
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JORNAL OPÇÃO

Na linha de frente do combate à Covid-19, profissionais de saúde se dividem entre dedicação e medo
Por Ton Paulo

Eles têm família, sonhos e medos, mas precisam colocar o profissionalismo acima de tudo para salvar vidas nesta época de crise na Saúde
O governador Ronaldo Caiado sancionou, recentemente, uma lei que autoriza a estadualização de quatro hospitais do interior de Goiás, nos municípios de Formosa, Jataí, Luziânia e São Luís de Montes Belos. O ato é mais um aceno do governo de Goiás no sentido de preparar o Estado para a crise do coronavírus que está colocando o mundo em sofrimento. Entretanto, além de estruturas prediais, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), insumos e aparelhos especiais para o tratamento da Covid-19, uma ferramenta é absolutamente essencial na luta contra o coronavírus: os profissionais da saúde, justamente aqueles que têm atuado na linha de frente de combate ao vírus e absorvido o impacto de seus efeitos, fazendo todo o possível (e impossível) para remediar o estrago e salvar vidas.
Um dos principais “campos de batalha” contra o coronavírus no Estado tem sido o Hospital de Campanha, o HCamp, em Goiânia. A unidade hospitalar funciona no antigo Hospital do Servidor, e foi criada exclusivamente para receber os pacientes com suspeitas de terem sido infectados pelo novo coronavírus. O local conta com 406 funcionários, divididos em 89 médicos e 293 profissionais da saúde das mais variadas áreas, como enfermeiros, técnicos de enfermagem, odontólogos, fonoaudiólogos, psicólogos e nutricionistas. Porém, o número de pessoas com sintomas de Covid-19 tem aumentado e, antes de serem transferidos para o HCamp, os pacientes dão entrada em outras unidades hospitalares.
José (nome fictício, o entrevistado pediu para não ser identificado), de 24 anos, é enfermeiro numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira, o Hugol. Ele conta que, até o momento, sua unidade recebeu nove pacientes com suspeita de Covid-19. Ao darem entrada no hospital, os pacientes têm os dados protocolados e o material genético coletado, que é enviado ao Laboratório Estadual de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros, o Lacen.
José relata que, antes mesmo de serem confirmados – ou descartados – como portadores de Covid-19, os pacientes são transferidos para o HCamp. Porém, o corpo técnico do hospital precisa estar preparado para tudo. Ele conta que o paciente já chega com insuficiência respiratória e precisa ser submetido à intubação. Durante o procedimento, todos os médicos, enfermeiros e técnicos precisam estar devidamente paramentados. José descreve o rigor com que os profissionais se protegem: “O protocolo de imediato é a máscara N95. Então tem a máscara cirúrgica por cima, a touca, o protetor facial e o macacão. Todo cuidado é pouco”, destaca.
O enfermeiro diz que o momento de desparamentar, que é quando o profissional despe os EPIs, também é de suma importância, porque neste momento o risco de contaminação é alto, além do fato de que os insumos precisam ser economizados.
José, assim como todos os médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos, e outros profissionais do Hugol, passou por intenso treinamento com base nas notas técnicas emitidas pela Anvisa. Mas mesmo ciente da adoção dos procedimentos adequados para sua proteção, os acontecimentos não deixam de assustar o enfermeiro.
“Eu como pessoa fico com medo. A gente tem os pais da gente, eu tenho minha mãe, que já tem 56 anos, tenho minha irmã, meu sogro, que é idoso, minha namorada, que é profissional de saúde também, então eu fico me policiando. Eu preciso me proteger em dobro, e ter inteligência emocional, senão a equipe inteira se desestrutura”, finaliza.
“É por amor ao paciente que muitos cruzam a linha de perigo”, diz enfermeiro
O jovem Victor Augusto, de 28 anos, também é enfermeiro. O rapaz atua no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, e também tem lidado diretamente com os afetados pela Covid-19.
Segundo ele, o enfrentamento ao coronavírus teve diferentes momentos na unidade. Há algumas semanas, conforme o enfermeiro, houve uma evolução nos procedimentos de diagnóstico da Covid-19 no hospital, o que facilitou o trabalho do corpo técnico. Ele conta que, diante da crise do corona, os médicos e enfermeiros passaram a se preparar melhor depois dos devidos treinamentos.
“Duas semanas atrás tivemos um caso suspeito, paciente que já veio entubado, e estabilizamos ele. Mas já estávamos precavidos com a paramentação e EPI correto. A equipe, há três semanas, ainda estava tentando entender, lidar com cada situação, então imagina, o medo dos técnicos de enfermagem, da equipe, em questão de receber esses pacientes, e com medo não só de pegar esse coronavírus, mas também de como lidar com ele. Mas graças a Deus fomos informatizados”, destaca.
Victor Hugo relata que antes o hospital não contava com triagem 24hrs, o que agora é uma realidade. Segundo ele, todo paciente que dá entrada no hospital “com sintomas de síndrome gripal, tosse, febre acima de 37.9, dispneia (dificuldade para respirar)”, já é enquadrado como suspeito de Covid-19. “Tentamos ser discretos para encaminhar esse paciente para o setor de imagem e não alarmar todo o setor, os postos, principalmente acompanhantes e pacientes”, conta.
O enfermeiro vê a situação atual como um desafio, mas enfatiza que uma “equipe capacitada  com conhecimento e prática” pode vencê-lo. Victor também fala a respeito do risco que enfrenta, enquanto profissional de saúde, mas é categórico ao defender a dedicação ao que faz. “Sinto que a preocupação com a família é o verdadeiro obstáculo para poder exercer essa função, mas é por amor à profissão e ao paciente que muitos cruzam linha do perigo e do medo e demonstram, no final, a coragem que poucos têm de encarar de verdade”, arremata.
Profissionais de saúde precisarão mobilizar recursos psicológicos para enfrentar o sofrimento, explica psicóloga
Neste momento de crise, os profissionais de saúde devem buscar forças, mas estão suscetíveis a transtornos psicológicos. Segundo a psicóloga e neuropsicóloga Leidiane Rosa da Silva, ao mesmo tempo em que profissional de saúde deve promover a cura e a recuperação do doente, ele, por sua vez precisa também “mobilizar todos os recursos psicológicos de enfrentamento contra o sofrimento do confronto real entre o adoecer, a experiência do isolamento social e a solidão”.
Segundo ela, mesmo se atendo às táticas de enfrentamento e resistência psicológica nesta crise provocada pelo coronavírus, “os trabalhadores da saúde precisam de apoio psicológico para que recebam uma escuta humanizada a este momento de extrema ansiedade emocional”.
A psicóloga esclarece que alguns transtornos psicológicos podem ser reativos aos momentos de intensa sobrecarga emocional, e a experiência da “ansiedade, medo e a luta pela sobrevivência em intensidade alta poderão desencadear problemas psicológicos tais como depressão, ansiedade e estresse pós-traumático” e outros. Entretanto, o profissional de saúde pode buscar a ajuda de outros profissionais, e salienta: a atuação do psicólogo na prevenção da saúde emocional do profissional da saúde pode ajudar no enfrentamento de menor sofrimento desta experiência atual com a pandemia.
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Pandemia pode deixar legado para a Saúde de Goiás

Por Italo Wolff

Enquanto a rede de saúde dos primeiros Estados começa a colapsar, Goiás tenta
ampliar sua capacidade de atendimento

Nas últimas semanas, o colapso do sistema de saúde chegou às primeiras unidades da federação em função do novo coronavírus. Isto é, todas as unidades de terapia intensiva (UTI) capazes atender infectados com a Covid-19 foram ocupadas. Por enquanto, Estados como Amazonas – o primeiro a ser sobrecarregado – podem receber ajuda federal e de outros entes, mas com o pico da pandemia sendo projetado para o fim de maio, e com a superlotação ocorrendo semanas antes do esperado, podemos estar diante de um cenário tenebroso.
Em números absolutos, o Amazonas é apenas o quinto ente federado mais afetado pela Covid-19; com 1.554 casos confirmados e 106 mortes, está atrás de Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e muito atrás de São Paulo, com seus 778 óbitos e 11.043 casos confirmados. Entretanto, foi o primeiro Estado a entrar em colapso. Seu sistema de saúde durou apenas um mês desde a confirmação do primeiro caso. Além de filas para ocupar uma vaga na UTI, são reportados a falta de médicos nos hospitais e o descumprimento das orientações de distanciamento social e de fechamento do comércio.
A Covid-19 é uma infecção com alta virulência e leva em média 5% dos contaminados à UTI. Enquanto o Amazonas tem a maior taxa de incidência da doença no país, com 303 casos por milhão de habitantes, tem também uma das menores proporções de leitos de UTI por quantidade de habitantes. Como resultado, o estado tem a maior taxa de mortalidade, com 17 mortes por 1 milhão de habitantes.
A proporção de leitos de unidades de terapia intensiva pela quantidade de habitantes revela a capacidade da rede de saúde absorver estes doentes. São 1,2 leitos para cada 10 mil amazonenses e todos os leitos públicos estão na cidade de Manaus. Para que se tenha um parâmetro, em Goiás existem 2 leitos por 10 mil habitantes e em São Paulo são 2,5 a cada 10 mil. Agrava o problema o fato de que alguns pontos do maior Estado da federação estão a cinco dias de distância da capital, viajando de barco.
Segundo informações do Ministério da Saúde, na quarta-feira, 15, os primeiros profissionais voluntários da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) foram enviados ao Amazonas. Os 17 médicos e enfermeiros que seguem para Manaus fazem parte dos mais de 8,2 mil profissionais de saúde do país, que se voluntariaram, até o dia 19 de março para integrar a Força Nacional de combate ao coronavírus. Antes de embarcar, os 17 profissionais receberam treinamento de 06 horas.
Esta alternativa é uma possibilidade dos primeiros Estados cuja saúde colapsa, mas todo o país vem dando mostras de sinais de fadiga do SUS. O Ceará declarou na quinta-feira, 16, que tem 100% de seus leitos de UTI para Covid-19 ocupados. O Rio de Janeiro tem atualmente 72% dos leitos ocupados e prevê colapso ainda em abril. Quase metade dos internados com Covid-19 no estado de São Paulo se encontra em UTIs. Pernambuco já tem mais de 90% de seus leitos para a doença ocupados.

Quando chega o caos?
Frequentemente, ouvem-se questionamentos do gênero: “Os hospitais estão vazios; então não é verdade que a Covid-19 pode sobrecarregar os leitos de UTI”. Em parte, a afirmação é justificada. Atualmente, entre os representados da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), a taxa de ocupação dos leitos comuns varia entre 15% e 50%, ou seja, cerca de metade está ociosa. Nos leitos de UTI, a ocupação está entre 50% e 100% e, nos prontos-socorros, o movimento caiu cerca de 60% durante a pandemia. Resumindo: os hospitais privados estão com uma ocupação mais baixa que o comum.
Isso ocorre porque o governador Ronaldo Caiado (DEM), no dia 19 de março, suspendeu por decreto 50% das cirurgias, internações e exames eletivos, na intenção de desocupar parte da rede como preparação para a demanda da Covid-19. Além disso, hospitais inteiros, como o Hospital de Doenças Tropicais (HDT), tiveram suas unidades de terapia intensivas destinadas ao combate da Covid-19, já que não se pode misturar pacientes infectados com o novo coronavírus com pacientes comuns.
Segundo Haikal Helou, presidente Ahpaceg, nem todas as unidades de tratamento intensivo são iguais: “Doenças infectocontagiosas não costumam levar ao tratamento intensivo. Este não é o perfil da maioria dos hospitais. Pacientes com o novo coronavírus só podem colocados em UTIs isoladas ou em espaços comunais onde todos os pacientes já estão infectados. Caso contrário, aquele será um ponto de contágio para os demais.”
Na tentativa de se preparar para o aumento da demanda, novos leitos foram providenciados. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), o Hospital de Campanha (Hcamp), em Goiânia, possui capacidade para ativar até 70 leitos para pacientes críticos. A unidade é referência no Estado para atender pacientes da Covid-19 e não atenderá pacientes de outra natureza. Além destes, já estão sendo preparados leitos de diferentes complexidades (críticos e semicríticos) em diferentes regiões de Goiás para assistência dedicada à Covid-19.
Além deste, a SES-GO informa que oito hospitais serão equipados e receberão profissionais capacitados para lidar com a Covid-19. “Algumas unidades são transitórias, como o Hospital de Campanha Modular de Águas Lindas e o Centro de Convenções de Anápolis. Outras unidades serão estadualizadas, integrando a rede de saúde pública de Goiás para atender, de acordo com estudos da SES-GO, as necessidades de cada local, contribuindo para reforçar a regionalização da saúde no Estado, como em Formosa e Luziânia”, afirma a Secretaria.
A estrutura física dos hospitais é montada pelo Governo Federal enquanto as novas unidades, como o HCamp, devem ser geridas por Organizações Sociais (OS), cabendo a estas a contratação de profissionais. Os equipamentos e materiais adquiridos pela SES-GO configuram patrimônio público. Assim, mesmo após a pandemia, estarão entre os bens da Secretaria, sendo utilizados de acordo com as necessidades da pasta.
No âmbito municipal, também foram providenciados novos leitos, com a conversão temporária da Maternidade Oeste para receber pacientes com coronavírus. Segundo o médico Sérgio Nakamura, integrante do departamento de políticas públicas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a unidade hospitalar tem atualmente 30 leitos, deve chegar a 60 quando em pleno funcionamento, mas que tem potencial para abrigar 160 leitos, segundo a necessidade. Também no âmbito municipal foram suspensos atendimentos eletivos.
É o bastante durante a pandemia?
Haikal Helou afirma que o leito de UTI é apenas uma engrenagem de um todo mais complexo que é a atenção ao paciente em estado crítico. “É, sobretudo, gente”, diz o presidente da Ahpaceg. “É necessário um complexo de profissionais da saúde – médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de operação e manutenção de aparelhos. Não se consegue montar isso de uma hora para outra. Na pandemia de Covid-19, o que mata é a dificuldade do paciente realizar trocas gasosas, então também estamos preocupados com o número de respiradores.”
A necessidade de respiradores é tão urgente que, no dia 28 de março, o governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, adquiriu três mil respiradores manuais e encomendou outros quatro mil. Os respiradores manuais são uma invenção médica dos anos 1950 e requerem que quatro ou cinco profissionais se revezem na tarefa de bombear com as mãos o ar para dentro do pulmão do paciente. O político do partido democrata admitiu que fez a compra porque, com respiradores mecânicos esgotados no mercado, esta era sua única opção. Entretanto, por conta da quantidade de pessoas necessária para operar o mecanismo, Cuomo admitiu: “Se precisarmos recorrer a este dispositivo em larga escala, essa não é uma situação aceitável”.
De volta à Goiás: a SMS afirma que a rede SUS tem 638 respiradores disponíveis em Goiânia, isso inclui equipamentos em estabelecimentos de saúde do município, Estado, governo federal, filantrópicas e rede privada conveniada. Somando os respiradores mecânicos particulares, o número chega a 926. A SES-GO informa que, além destes, há três atas de registro de preços para aquisição de 1.000 respiradores, 1.000 monitores multiparamétricos e 1.000 camas especiais. Estes números reduzem bastante a quantidade de leitos de UTI que realmente serão úteis durante a pandemia.
Por isso, a SES-GO afirma estar correndo contra o tempo para aumentar este número: “Há em andamento um projeto para manutenção de equipamentos obsoletos de ventilação pulmonar e monitores multiparamétricos para aferição de sinais vitais que estavam no almoxarifado da SES-GO e em hospitais da rede estadual. A parceria conta com a participação da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), com o Instituto Federal de Goiás (IFG) e com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senais). Os equipamentos que estão em desuso, por não terem mais peças de reposição no mercado, serão disponibilizados para tentativa de recuperação”.
Quando perguntado se podemos atravessar a pandemia com o que temos, Haikal Helou é realista: “Teoricamente, sim, seria suficiente. Mas, para isso, teríamos de refrear a ida da população ao sistema de saúde. Mas se sairmos do isolamento para a rua, como está acontecendo hoje, não dá. Se todo mundo pegar a doença junto, acabaram os respiradores e os leitos. O nosso foco deve ser o isolamento social e a testagem e o tratamento de quem está doente. Querer acabar com a quarentena sem fazer testes nem ter UTIs e nem respiradores é irresponsabilidade.”

Como providenciar mais agora?
Segundo a SES-GO, os equipamentos e materiais já adquiridos configuram patrimônio público e, mesmo após a pandemia, estarão entre os bens da Secretaria, sendo utilizados de acordo com as necessidades da pasta. Entretanto, a compra em massa de equipamentos para lidar com a epidemia por todos os países afetados causou uma escassez geral de respiradores, equipamentos de proteção individual, testes e insumos médicos. Portanto, para muitos itens, a importação deixou de ser uma solução. Uma alternativa pode vir da colaboração entre as redes de saúde pública e privada.
A falta de sincronia entre os setores é expressa por Haikal Helou: “Me impressiona o Estado criar um Comitê de Gestão de Crise e não convocar a rede privada para participar. Nós temos mais de metade dos leitos, estamos ligados a assistência diretamente. Em Goiás, existem mais pacientes de Covid-19 na rede privada do que na pública. Representantes de diversas federações e associações comerciais estão lá, mas a rede assistencial privada não participa. Aguardamos reunião com o governador há quatro dias, mas até agora viemos nos comunicando apenas por meio da imprensa.”
O presidente da Ahpaceg cita o caso do Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado de Goiás (Ipasgo) como ação bem sucedida que pode ser ampliada. “O Ipasgo arrendou três instituições e transformou em hospitais de referência, apenas para tratamento da Covid-19. Mas o resto da rede não seguiu o exemplo. Nós, enquanto hospitais de alta complexidade, temos a técnica e a vontade para colaborar com o combato ao coronavírus.”

É o bastante durante a normalidade?
Segundo Haikal Helou, é impossível determinar precisamente quantos leitos de UTI seriam necessários em tempos normais. “A população envelhece, então temos mais casos de câncer que demandam tratamento intensivo. Se você providencia dez novos leitos, a notícia se espalha e chegam pacientes de Estados vizinhos. Você aumenta a quantidade de unidades novamente, mas como não adotamos critérios claros de admissão, todos pacientes em processo de óbito vão para a UTI desnecessariamente. Desta forma, nunca haverá leitos suficientes”.
Haikal Helou afirma que só devem ir para a UTI os pacientes com perspectiva de recuperação ou que possam se beneficiar de redução significativa do sofrimento. Diferentemente da forma como são às vezes percebidas por nossa cultura, as unidades de tratamento intensivo não são locais de passagem obrigatória antes da morte. “É uma rede em constante expansão”, afirma Haikal Helou. “Na saúde pública, vemos o clamor popular por mais leitos e as filas que se formam para ocupá-los. Na saúde privada, a quantidade aumenta em função da demanda; nunca há falta de leitos, a não ser em situações em que há aumento súbito da procura, como em casos de pandemia”.
Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), Goiás possui 80 instituições com unidades de tratamento intensivo. No total, são 530 leitos para adultos em Goiânia e 390 no interior do estado; mais 110 unidades pediátricas na capital e 42 no interior. A maior parte destes estabelecimentos é da rede privada – 56 dentro do total de 80 instituições. Apesar de haver apenas 13 estabelecimentos de saúde na rede pública com UTIs, cinco destes possuem mais de 40 leitos. Já na rede privada, 33% dos estabelecimentos têm apenas de 1 a 9 leitos. Goiás tem também nove instituições de caráter filantrópico que contam com UTIs.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação