ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
Prefeitura de Goiânia vai proibir venda de bebidas a partir das 20h
Após denúncias de furadas de fila, MP-GO começa a divulgar dados sobre a vacinação
Especialistas analisam decreto com implantação da lei seca em Goiás
Oito hospitais em Goiânia têm 100% dos leitos de UTI para covid-19 ocupados
Diretor do Butantan contraria instituto ao dizer que intervalo de doses pode ser maior
Governo federal diz que não se envolve em compras privadas de vacina
Butantan faz testes de soro em animais para tratar covid-19
Tratamento precoce | ‘Kit covid é kit ilusão’: os dados que apontam riscos e falta de eficácia do suposto tratamento
Médico que fez lipoaspiração de influencer Liliane Amorim afirma que seguiu ‘diretrizes técnicas’
Às vésperas do colapso e com vacina em mãos, população desiste do combate à pandemia
TV ANHANGUERA
Prefeitura de Goiânia vai proibir venda de bebidas a partir das 20h
https://globoplay.globo.com/v/9216275/
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Após denúncias de furadas de fila, MP-GO começa a divulgar dados sobre a vacinação
https://globoplay.globo.com/v/9216475/?s=0s
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Especialistas analisam decreto com implantação da lei seca em Goiás
https://globoplay.globo.com/v/9216469/?s=0s
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A REDAÇÃO
Oito hospitais em Goiânia têm 100% dos leitos de UTI para covid-19 ocupados
Jéssica Torres
Goiânia – Oito hospitais privados de Goiânia, que possuem estrutura reservada para tratamento de covid-19, estão com 100% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) lotados. O levantamento foi feito pelo jornal A Redação, na manhã desta quarta-feira (27/1), a partir da plataforma oficial disponibilizada pela Secretaria do Estado de Saúde (SES) de Goiás.
As unidades de saúde com ocupação máxima de UTIs para covid-19 são: Hospital Santa Rosa; Hospital Gastro Salustiano; Instituto Ortopédico de Goiânia – IOG; Hospital das Clínicas; Hospital Ruy Azeredo; Hospital de Urologia; Hospital do Rim e Hospital Cliame. Ainda segundo levantamento realizado, outros oito hospitais na capital estão com a ocupação de leitos acima de 80%.
Os dados correspondem às atualizações realizadas até 9h de quarta-feira, e que são enviadas pelos próprios hospitais. Ainda segundo o painel, a taxa geral de ocupação de leitos de UTI para covid-19 na capital, considerando os públicos e privados, é de 77,84% na manhã desta quarta-feira. Já na enfermaria, é de 66,54%.
Na última quinta-feira, conforme levantamento feito pelo jornal A Redação na plataforma, o percentual de leitos ocupados para tratamento de pacientes com covid-19 era de 74,90%. Já na enfermaria, de 52,73%. Ou seja, em menos de uma semana o aumento foi de 2,94% e 13,81%, respectivamente. Vale destacar que os dados da plataforma são atualizados a todo momento. Portanto, podem sofrer oscilações.
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CORREIO BRAZILIENSE
Diretor do Butantan contraria instituto ao dizer que intervalo de doses pode ser maior
Instituição já havia dito em nota que a CoronaVac tem melhor resposta imune quando aplicada entre 21 e 28 dias. Dimas Covas afirmou, nesta quarta-feira (27/1), que não há “problema nenhum” em aumentar mais 15 dias
Sarah Teófilo
Em razão do posicionamento do governo de São Paulo de querer utilizar todas as doses da CoronaVac, vacina contra covid-19, que estão no estado num primeiro momento, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse nesta quarta-feira (27/1) que não há problema algum em aplicar a segunda dose em um prazo que extrapole os 28 dias previstos em bula, apontando que poderia chegar a 43 dias o intervalo entre uma dose e outra. Entretanto, uma nota divulgada anteriormente pelo próprio Butantan contradiz a informação.
No texto, a instituição diz que o estudo realizado pelo Butantan para testar a eficácia da CoronaVac, produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, apontou que ‘a melhor resposta imune acontece no maior intervalo de tempo entre a aplicação das duas doses – entre 21 e 28 dias’.
‘Dos cerca de 13 mil voluntários que participaram do estudo no Brasil, 1.400 receberam suas doses com um intervalo de três semanas. A resposta imune desse grupo foi cerca de 20% melhor do que a observada nos demais participantes da pesquisa’, informou. O instituto ainda cita fala de Covas, na qual ele diz que o intervalo estudado foi de 0 a 28 dias, ‘e que foi comprovado que a vacina é segura e eficaz igualmente em todos os cenários’.
Ainda conforme texto, o Butantan esclareceu que no estudo, ‘a maioria das vacinas foi aplicada no intervalo de 0 a 14 dias devido à situação emergencial da população envolvida’. Também em nota divulgada na quinta-feira da semana passada (21), o instituto aponta que não seria possível saber a resposta imune dos pacientes se o intervalo entre uma dose e outro for prolongado.
A intenção do governo de São Paulo é adiar a aplicação da segunda dose, para poder utilizá-la agora, vacinando mais pessoas. Nessa terça (26), em entrevista coletiva ao lado do governador João Doria (PSDB), Covas disse que a primeira recomendação é de um intervalo de até 28 dias, mas que existe uma segunda recomendação que prevê que o prazo pode ser estendido por até 15 dias, sem problema algum. ‘No estudo aconteceram alguns casos que tiveram essa vacinação e não houve nenhum problema do ponto de vista da resposta imunológica’, ressaltou.
Segundo ele, o que se discute no Brasil é a necessidade de reservar 50% de doses nesse momento, quando há uma alta demanda pelo imunizante. ‘Isso, inclusive, pode não ser eticamente justificável. Se temos a vacina na prateleira, nós temos do outro lado pessoas morrendo, precisamos usar essas vacinas. Não tem justificativa ética guardar essas vacinas’, disse, pontuando que é melhor usar as doses em sua totalidade e depois de um prazo de 43 dias providenciar a outra dose.
O coordenador do Centro de Contingência da Covid-19, o médico Paulo Menezes, também afirmou nesta quarta que o grupo é favorável a dar as segundas doses em um prazo maior que isso.
‘Do ponto de vista científico-biológico, é possível pensar que a segunda dose dada numa data posterior aos 28 dias seja até mais eficaz do que aos 28 dias. A principal razão de que o estudo utilizou 14 dias foi para que os resultados pudessem sair mais rapidamente e nós pudéssemos ter a vacina disponível para a população o mais rápido possível. O centro de contingência, nesse momento, é favorável à possibilidade de ter uma extensão do intervalo de tempo entre a primeira e a segunda doses’, afirmou.
Bula
A orientação na bula da vacina, com base nos estudos realizados, é que a segunda dose seja aplicada em um intervalo de 14 a 28 dias, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orienta para que seja sempre seguido o que está previsto no documento.
Na última sexta-feira (22), o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, ressaltou que a orientação da Anvisa é que se siga o que está na bula, quando se fala no intervalo entre as duas doses. Não seguir isso, segundo ele, poderia trazer risco para a eficácia da vacina.
‘O risco de não seguir o recomendado em bula pode ser tanto em relação à eficácia – ou seja, se não tiver o intervalo respeitado, se não tiver uma segunda dose tomada, não atingir, não conseguir atingir os anticorpos mínimos para fazer a neutralização -, quanto ao risco de segurança também, se for, de repente, uma superexposição, ou alguma questão assim. Então, é muito importante essa recomendação que estava no voto para que se assegure uma vacinação adequada’, pontuou.
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AGÊNCIA BRASIL
Governo federal diz que não se envolve em compras privadas de vacina
O governo federal informou nesta quarta-feira (27) que não se envolveu em qualquer negociação para aquisição de vacinas contra a covid-19 por empresas privadas. Em nota conjunta, o Ministério das Comunicações, o Ministério da Saúde, a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU) disseram que não fazem objeção a que grupos privados comprem os imunizantes, desde que respeitem a legislação brasileira e cumpram algumas exigências específicas.
“O governo federal foi procurado por um grupo de empresários na semana de 18 a 22/01/2021, sendo informado acerca de tratativas de empresas privadas para a aquisição de 33 milhões de doses da vacina contra a covid-19, produzidas pela empresa AstraZeneca. Porém, não há e não houve o envolvimento do governo nessas negociações”, diz um trecho da nota. A nota ressalta que o governo federal não possui contrato oneroso com empresas privadas nacionais para aquisição de vacinas em seu nome, portanto, não há dinheiro público envolvido na eventual negociação entre o empresariado brasileiro e a empresa AstraZeneca.
“Por não apresentar objeções à negociação ou à compra das vacinas, desde que respeitados os trâmites e especificidades normativos impostos pela legislação brasileira, inclusive os regulamentos de importação, alfandegários, sanitários e, sobretudo, a permissão da Anvisa, o governo federal emitiu carta evidenciando não ter nenhuma objeção à hipótese”, informa o texto, em seguida.
De acordo com a nota conjunta, no último dia 22 de janeiro, uma carta assinada pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, e pelos ministros da AGU, José Levi, e da CGU, Wagner Rosário, estabelecia condições para que uma eventual compra de vacinas pudesse ser efetivada entre a AstraZeneca e um grupo de empresas privadas. Entre as exigências, está a doação de pelo menos metade do volume de doses adquiridas, cerca de 16,5 milhões, para o Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, que seriam aplicadas conforme o calendário estabelecido pela pasta. Outra condição exigida pelo governo seria a de que a imunização pelas empresas deveria se restringir apenas aos funcionários, respeitando os grupos prioritários já estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
“Ademais, as empresas eventualmente envolvidas devem garantir a rastreabilidade das doses aplicadas em seus funcionários, mantendo, insista-se, a vedação quanto à comercialização da vacina”, diz a nota.
Ontem (26), o presidente Jair Bolsonaro disse que o seu governo apoia a iniciativa de empresários de importar, por conta própria, vacinas contra a covid-19 para imunizar seus funcionários. A afirmação ocorreu durante participação, por videoconferência, em um seminário sobre investimentos na América Latina, realizado pelo banco Credit Suisse.
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Butantan faz testes de soro em animais para tratar covid-19
O Instituto Butantan está testando em animais um soro contra o coronavírus. O medicamento começou a ser desenvolvido há mais de cinco meses pelo instituto, usando vírus inativo para induzir a produção de anticorpos por animais. Nos próximos dias, a instituição deve apresentar os resultados dessa etapa da pesquisa.
O soro que está sendo testado atualmente em hamsters foi produzido a partir da inoculação do vírus inativo em cavalos. O corpo dos animais reage ao microrganismo e produz anticorpos para combater a infecção. Depois, o sangue dos equinos é coletado e esses anticorpos isolados para que possam ser usados contra a doença. É esse produto que está sendo testado nos roedores que foram inoculados previamente com coronavírus. Agora, os pesquisadores podem observar se o soro será efetivo contra a doença.
Segundo a diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Butantan, Ana Marisa Chudzinski Tavassi, os testes clínicos do soro em animais vivos são uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que o medicamento possa ser usado em pacientes com covid-19. ‘A Anvisa pediu para fazer um teste para provar que esse teste é capaz de reduzir a quantidade de vírus’, enfatizou em entrevista à Agência Brasil.
O Butantan já é referência na produção de soros, como os antiofídicos, que neutralizam os efeitos de venenos de cobras, e o antirrábico, contra a raiva. ‘O Butantan produz soro há mais de cem anos’, afirmou Tavassi.
Rio de Janeiro e América Latina
O soro que está sendo desenvolvido no Butantan se diferencia do que está sendo produzido no Instituto Vital Brazil por usar o vírus inteiro inativado. No instituto de pesquisa do Rio de Janeiro, o soto foi produzido a partir da reação dos cavalos a uma das proteínas do coronavírus.
A diretora do Butantan disse que outros países da América Latina, como México e Costa Rica, também estão desenvolvendo produtos semelhantes. ‘Na Argentina já fizeram ensaio clínico em pacientes moderados para grave, pacientes hospitalizados. Eles provaram que funciona, que reduziu mortalidade e necessidade de ventilação’, exemplificou.
Infraestrutura e expertise
Caso os resultados dos testes em animais sejam favoráveis, e seja possível administrar o medicamento e obter bons resultados também com pacientes humanos, Tavassi acredita que o soro vai abrir uma importante possibilidade de tratamento contra a doença no Brasil.
De acordo com ela, o Butantan possui um número significativo de animais e infraestrutura para fazer uma produção em escala do produto, se for o caso. Capacidade que pode, inclusive, ser ampliada com eventuais parcerias. ‘A gente consegue fazer a coisa muito rapidamente, porque a gente tem a infraestrutura para fazer isso e o pessoal que é expert no assunto’, destacou, sobre o apoio da pesquisa em uma construção desenvolvida ao longo de muito tempo. ‘É claramente o resultado de anos e anos de investimento em uma área específica em que o Butantan é líder.’
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PORTAL G1
Tratamento precoce | ‘Kit covid é kit ilusão’: os dados que apontam riscos e falta de eficácia do suposto tratamento
Nos últimos meses, drogas como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina foram avaliadas como formas de lidar com a infecção pelo coronavírus em seus estágios iniciais. Mas nenhuma delas se mostrou eficaz contra a Covid-19. Entenda por que é tão difícil encontrar ou desenvolver novos medicamentos em meio a uma pandemia e como diversas entidades estão se posicionando a respeito do assunto
Durante a Peste Negra que assolou a Europa no século 14, os médicos recorreram aos mais diversos “tratamentos” para lidar com as doenças. Alguns apostaram numa técnica de esfregar cebolas ou carne de cobra nos furúnculos que apareciam na pele. Outros sugeriam que os pacientes sentassem perto de fogueiras ou de fezes para expulsar a doença do corpo.
Mais recentemente, quando a gripe espanhola de 1918 se espalhou pelos continentes, também não faltaram terapias milagrosas para lidar com a crise sanitária. Alguns especialistas lançaram fórmulas à base de formol, canela e até flores de jasmim amarelo para “curar” a doença que matou milhões de pessoas no mundo todo.
O mesmo cenário volta a se repetir agora, durante a pandemia de Covid-19. Em meio a um número crescente de casos e mortes, parte dos médicos, parte da população e até o Ministério da Saúde defenderam um suposto tratamento precoce contra o coronavírus cuja eficácia não foi comprovada até o momento.
Segundo diversos estudos rigorosos realizados ao redor do mundo, medicamentos que integram esse “kit covid” ofertado nas fases iniciais da doença no Brasil já se mostraram inclusive ineficazes ou até mais prejudiciais do que benéficos quando administrados nos quadros leves, moderados e graves de Covid-19.
Ao longo dos últimos meses, diversas entidades nacionais e internacionais se posicionaram contra o coquetel de medicamentos promovido pelo governo Bolsonaro, que inclui a hidroxicloroquina, a azitromicina, a ivermectina e a nitazoxanida, além dos suplementos de zinco e das vitaminas C e D.
Atualmente, esse mix farmacológico não é reconhecido ou chega a ser contra-indicado por entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da Europa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Mas antes de entrar nos detalhes sobre como tantas instituições chegaram a essa conclusão de que esses remédios não são eficazes e de que não existe tratamento precoce que funcione contra a Covid-19, é importante explicar como surge um novo remédio contra determinada doença e como esse processo pode ser acelerado durante uma pandemia.
Da bancada do laboratório à prateleira da farmácia
Geralmente, a descoberta de um novo tratamento se inicia com a pesquisa básica. Um grupo de cientistas começa a estudar uma molécula para entender suas características e seus potenciais de uso.
Essa substância, então, é testada num pequeno conjunto de células na bancada do laboratório. O objetivo aqui é entender se as coisas funcionam como o esperado e se aquele composto tem alguma ação interessante dentro de um sistema biológico simples.
Se tudo der certo, a próxima etapa inclui testes com cobaias. A nova molécula é administrada em camundongos, macacos e outros animais que apresentam algumas características semelhantes ao que ocorre no corpo humano.
Caso a candidata apresente bons resultados, ela passa para a nova etapa: os testes clínicos. Esses estudos são divididos em três fases, envolvem centenas ou até milhares de seres humanos e têm como objetivo final garantir a segurança e a eficácia daquela nova formulação.
O teste clínico de fase 3 costuma ser o mais rígido e amplo de todos. Para comprovar que aquele novo medicamento é realmente bom, os cientistas dividem os voluntários em pelo menos dois grupos.
O primeiro deles toma doses do remédio de verdade. Já o segundo vai receber uma substância placebo (sem nenhum efeito no organismo) ou o melhor tratamento existente até aquele momento contra a doença que o novo candidato a farmáco promete combater.
O ideal é que nem os cientistas, muito menos os participantes do estudo saibam quem integra qual grupo. Isso evita vieses ou o chamado efeito placebo, quando a pessoa se sente melhor por acreditar que foi tratada, mesmo quando recebeu um comprimido de farinha.
O que acabamos de descrever aqui é um estudo randomizado (os voluntários são sorteados para entrar em um esquema terapêutico ou no outro), duplo cego (os participantes e os cientistas não fazem ideia de quem recebeu o quê) e controlado (uma parte do grupo tomou placebo ou a melhor terapia disponível até então). É considerado o padrão-ouro das pesquisas.
Depois de todo esse rito, os resultados dos dois grupos são comparados. O esperado é que a turma sorteada para tomar o candidato a medicamento esteja melhor em relação a quem fez parte do grupo placebo. Também é essencial que a nova molécula não provoque efeitos colaterais graves demais.
Os relatos de todo esse esforço são então publicados num jornal científico, onde eles passam por uma revisão de especialistas independentes e, caso sejam aprovados, poderão ser lidos, contestados e repetidos por outros grupos de pesquisa em qualquer lugar do mundo.
Se os resultados forem bons, os donos daquele novo produto entram com um pedido de aprovação nas agências regulatórias, como a Anvisa no Brasil e o FDA nos Estados Unidos. Se essas entidades estiverem de acordo com o que foi apresentado, elas liberam o uso do novo medicamento no país.
Para você ter ideia como esse processo é complicado e criterioso, de cada 5.000 moléculas testadas em células e cobaias, apenas uma consegue passar por todas as etapas e chegar às farmácias e aos hospitais. Esse processo dura, em geral, 12 anos, e exige um investimento de US$ 2,6 bilhões.
Para você ter ideia como esse processo é complicado e criterioso, de cada 5.000 moléculas testadas em células e cobaias, apenas uma consegue passar por todas as etapas e chegar às farmácias e aos hospitais. Esse processo dura, em geral, 12 anos, e exige um investimento de US$ 2,6 bilhões.
Dá pra acelerar esse processo?
É claro que, durante uma pandemia que ceifa milhares de vidas todos os dias, torna-se impraticável esperar mais de uma década para encontrar uma solução.
Uma estratégia que permite agilizar as coisas é o chamado reposicionamento de fármacos. Em resumo, os cientistas começam a avaliar um monte de remédios já disponíveis para tratar outras doenças. Quem sabe eles também não podem ajudar num contexto diferente?
“É possível pegar vários medicamentos aprovados e utilizar uma plataforma automatizada para fazer testes com culturas de células. Assim já se descartam aquelas que não mostraram efeito algum e se delimita um grupo de moléculas que apresentam algum potencial”, explica o microbiologista Luiz Almeida, coordenador de projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência.
Esse processo funciona como uma peneira: o objetivo é descartar o material que não tem serventia e selecionar, mesmo que grosseiramente, aqueles que podem ajudar de alguma maneira.
O reposicionamento traz algumas vantagens. O principal deles é o fato de trabalhar com produtos que já estão aprovados pelas agências regulatórias e, portanto, já se mostraram relativamente seguros à saúde humana.
Importante mencionar que, para comprovar o seu valor diante de qualquer enfermidade, os remédios (mesmo os reposicionados) precisam passar por aqueles estudos randomizados, duplo cegos e controlados que explicamos um pouco acima.
E isso tudo aconteceu com intensidade a partir de fevereiro e março de 2020: quando diversos especialistas notaram a gravidade da Covid-19, houve uma verdadeira corrida para conferir se algum produto farmacêutico já aprovado poderia servir como solução.
Foi assim que hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e tantas outras candidatas entraram na história da pandemia de Covid-19.
Hidroxicloroquina, uma droga apadrinhada por Trump e Bolsonaro
O potencial da hidroxicloroquina contra a Covid-19 começou a ser explorado a partir de um pequeno trabalho publicado na China. Mas ela só ganhou as manchetes com a publicação de um estudo feito pelo médico francês Didier Raoult e por sua equipe.
Divulgada em março de 2020, a pesquisa envolvia 36 pacientes e afirmava que o remédio, usado no tratamento de doenças como malária, lúpus e artrite reumatoide, era capaz de diminuir a carga de coronavírus no organismo.
E mais: de acordo com as conclusões do experimento, esses benefícios eram ainda maiores se a azitromicina (um antibiótico) fosse administrada em conjunto.
Apesar da esperança inicial, os cientistas rapidamente começaram a notar que havia algo muito estranho nessa história. “A publicação do artigo foi muito criticada, pois estava cheia de erros metodológicos e coisas sem explicação”, relembra o médico Jose Gallucci-Neto, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Em setembro, Raoult foi denunciado pela Sociedade de Patologia Infecciosa de Língua Francesa (SPILF) por “promoção indevida de medicamento”. Agora em janeiro, o médico admitiu numa carta ter excluído alguns voluntários do resultado da pesquisa.
“Ao avaliar esses dados completos, com esses participantes que ficaram de fora do artigo original, o resultado da hidroxicloroquina é negativo e não houve redução de mortalidade, necessidade de UTI ou oxigenação”, completa Gallucci-Neto.
“Ao avaliar esses dados completos, com esses participantes que ficaram de fora do artigo original, o resultado da hidroxicloroquina é negativo e não houve redução de mortalidade, necessidade de UTI ou oxigenação”, completa Gallucci-Neto.
Mesmo com essas suspeitas iniciais e as correções posteriores, o estrago já estava feito. Ainda no primeiro semestre de 2020, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, bancou a ideia de Raoult. O então presidente escreveu que a hidroxicloroquina “deveria ser colocada em uso imediatamente, pois pessoas estão morrendo”.
As convicções de Trump encontraram ressonância em outro ponto do continente americano, mais especificamente no Brasil. O presidente Jair Bolsonaro também fez ampla defesa do uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19.
No dia 21 de março, ele publicou um vídeo no Twitter intitulado “Hospital Albert Einstein e a possível cura dos pacientes com o covid-19”, em que anuncia que o laboratório químico e farmacêutico do Exército Brasileiro iria ampliar a fabricação desse medicamento.
Ao longo dos meses, não faltaram demonstrações de apoio à hidroxicloroquina. Bolsonaro levou o fármaco a tiracolo em diversos vídeos e transmissões ao vivo.
A hidroxicloroquina também foi um dos motivos centrais da queda de dois ministros da Saúde. Os médicos Luiz Henrique Mandetta (que dirigiu o ministério entre 1º de janeiro de 2019 a 16 de abril de 2020) e Nelson Teich (que liderou a pasta de 17 de abril a 15 de maio de 2020) saíram após pressões e discordâncias sobre o uso amplo desse medicamento para combater a pandemia no país.
Mas o que diz a ciência sobre a hidroxicloroquina?
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que era até compreensível usar a hidroxicloroquina nos momentos iniciais da pandemia, em meados de março, abril e maio de 2020 – afinal, os médicos estavam tateando no escuro e lidavam com uma doença sobre a qual não havia experiência nenhuma.
A partir de junho e julho, porém, começaram a ser publicados estudos mais robustos a respeito do tema. Eles mostravam que esse remédio realmente não funcionava em qualquer estágio da doença, seja antes do início dos sintomas, seja no leito de uma UTI.
“Atualmente, temos uma enorme quantidade de evidências mostrando que a hidroxicloroquina não é efetiva como tratamento da doença nos quadros graves, nos leves ou como profilaxia, para impedir que o vírus invada nossas células”, afirma a pneumologista brasileira Letícia Kawano-Dourado, que faz parte do painel da Organização Mundial da Saúde (OMS) que desenvolve diretrizes de tratamento contra a Covid-19.
Nos últimos meses, vários estudos foram publicados a respeito do tema. Um dos mais importantes deles foi feito no Reino Unido e é conhecido como Recovery Trial. Numa análise de mais de 4.500 pacientes hospitalizados, o uso de hidroxicloroquina e azitromicina não trouxe benefício algum.
O mesmo resultado foi observado na pesquisa da Coalizão Covid-19 Brasil, com cerca de 500 voluntários brasileiros com a infecção pelo coronavírus em estágios leves ou moderados. Mais uma vez, a dupla de fármacos não mostrou o efeito desejado.
Além disso, os tratamentos testados foram associados a efeitos adversos mais frequentes, principalmente aumento do chamado intervalo QT, um sinal de maior risco para arritmia detectado por eletrocardiograma; e aumento de enzimas TGO/TGP no sangue, alteração que pode indicar lesão no fígado.
Segundo documento da Sociedade Brasileira de Infectologia, outros efeitos adversos são retinopatias, hipoglicemia grave e toxidade cardíaca. Por isso, é “exigido contínuo monitoramento médico dos indivíduos em uso da cloroquina ou hidroxicloroquina”. E outros efeitos colaterais possíveis são diarreia, náusea, mudanças de humor e feridas na pele.
Numa nota informativa publicada em seu site, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) também orienta sobre ineficácia do uso desse esquema terapêutico:
“As evidências disponíveis sobre benefícios do uso de cloroquina ou hidroxicloroquina são insuficientes, a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento. Por isso, enquanto não haja evidências científicas de melhor qualidade sobre a eficácia e segurança desses medicamentos, a Opas recomenda que eles sejam usados apenas no contexto de estudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis.”
Kawano-Dourado conta que o uso do fármaco contra o coronavírus é um assunto superado na maioria dos lugares. “A hidroxicloroquina e outras representantes do tratamento precoce seguem em pauta apenas em alguns países subdesenvolvidos, como Brasil, Índia, Costa do Marfim e Filipinas.”
Ivermectina, o antiparasitário que virou a bola da vez
A partir do segundo semestre, a ivermectina passou a disputar espaço como outra promessa contra a Covid-19. Tudo começou a partir de um estudo experimental com células, em que esse remédio usado contra infestações de vermes, parasitas e ácaros mostrou ter poder de fogo contra o coronavírus.
O problema, mais uma vez, estava em sua origem. A dose utilizada neste trabalho inicial era absolutamente irreal. Alguns cálculos posteriores mostraram que, para obter o mesmo efeito visto na bancada do laboratório, seria necessário dar a seres humanos dosagens de ivermectina dez vezes superiores ao limite considerado seguro.
Em outras palavras, tudo indica que a quantidade necessária de ivermectina para “matar” o coronavírus num cenário real de infecção representaria um risco de efeitos colaterais gravíssimos e overdose nas pessoas.
Em outras palavras, tudo indica que a quantidade necessária de ivermectina para “matar” o coronavírus num cenário real de infecção representaria um risco de efeitos colaterais gravíssimos e overdose nas pessoas.
Porém, ao contrário da hidroxicloroquina, cuja ineficácia contra a Covid-19 está bem demonstrada pelos estudos publicados até o momento, a situação da ivermectina é de incerteza.
Por aqui, ainda inexistem aqueles estudos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo sobre os quais falamos mais acima.
Os resultados das pesquisas feitas até agora ficam, então, contraditórios. Uma delas, do Centro Internacional de Doenças Diarreicas de Bangladesh, por exemplo, até revela uma diminuição da carga viral dos pacientes com Covid-19, sem que isso resulte numa melhora significativa dos sintomas.
Um trabalho do Instituto de Saúde Global de Barcelona, na Espanha, indica que o uso da ivermectina aliviou um pouco os incômodos da infecção num grupo de voluntários tratados. Mas os próprios autores admitem a necessidade de testes clínicos maiores para confirmar as observações.
Como pode ser visto, essas investigações são muito pequenas, com poucos participantes, e não têm significado prático. Tanto que as principais entidades de saúde do mundo, como os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, não indicam o uso dessa droga como tratamento da Covid-19.
Isso porque os estudos sobre o papel do antiparasitário são inconclusivos e os cientistas estão conduzindo investigações maiores para descartar ou recomendar seu uso durante a pandemia.
Portanto, não se recomenda que esse medicamento deva ser usado no atual estágio.
Azitromicina, sem efeitos em pacientes graves e risco de superbactérias
Em setembro de 2020, um estudo de pesquisadores brasileiros publicado na Lancet, a segunda revista médica mais influente do mundo, afirmou que a azitromicina não leva a melhoras em pacientes hospitalizados e, portanto, não tem indicação de uso para casos graves.
Os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois grupos – 214 deles receberam azitromicina mais o tratamento padrão, e outros 183 receberam apenas o tratamento padrão, sem azitromicina. O tratamento padrão, feito em ambos os casos, incluía a hidroxicloroquina, pois naquela época – entre março e maio – seu uso estava sendo bastante frequente.
Não houve diferença entre os dois grupos em relação a número de óbitos nem ao tempo de internação.
“Gostaríamos muito que tivesse funcionado, porque é um medicamento barato, conhecido e normalmente bem tolerado na questão dos efeitos colaterais”, disse Luciano Cesar Pontes de Azevedo, médico do Hospital Sírio-Libanês e parte da equipe que assina o artigo no Lancet, em entrevista à BBC News Brasil na época da publicação.
Ele esperava que, com os resultados, pelo menos a azitromicina deixasse de ser receitada indiscriminadamente no tratamento para Covid-19, o que poderia levar à falta do medicamento para quem precisa e também aumento da resistência de bactérias. Isto porque a função original da azitromicina é de antibiótico, muito usado em infecções bacterianas nas chamadas vias aéreas superiores, como no nariz e garganta.
Nitazoxanida: da fama instantânea ao ostracismo imediato
De um dia para o outro, o vermífugo nitazoxanida ganhou os holofotes no Brasil como uma possível solução contra a Covid-19.
No dia 19 de outubro de 2020, Bolsonaro e o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, anunciaram um estudo que mostrava que essa droga poderia ser útil como tratamento precoce.
Alguns dias depois, os resultados dessa pesquisa foram publicados no periódico científico European Respiratory Journal. De acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem, as conclusões do teste foram consideradas muito fracas e sem nenhuma aplicação prática.
Prova disso é que, hoje em dia, a nitazoxanida nem faz parte do protocolo do já questionável tratamento precoce que foi encampado pelo Ministério da Saúde brasileiro.
Dexametasona, um dos poucos que vingaram
Nem só de fracassos vive a estratégia de reposicionamento de fármacos contra a Covid-19. Há pelo menos um medicamento já conhecido que mostrou seu valor nos quadros graves da infecção pelo coronavírus.
Falamos aqui da dexametasona, representante da classe dos corticoides, muito usada contra doenças de pele, enfermidades reumatológicas, asma e alergias.
Um estudo capitaneado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, revelou que esse medicamento é um aliado valioso para os quadros que necessitam de internação.
“Em alguns pacientes, a infecção pelo coronavírus desencadeia uma forte reação inflamatória do organismo. Isso, por sua vez, passa a afetar diferentes órgãos e pode até causar a morte”, contextualiza o médico Momtchilo Russo, professor sênior do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).
A dexametasona entra justamente nessa situação. Ela ameniza a pane inflamatória que se instala em parte dos quadros agravados de Covid-19.
Que fique claro: esse corticoide não é um tratamento precoce e nem deve ser usado por todo mundo que se contamina. Os médicos avaliam caso a caso e prescrevem esse fármaco de acordo com critérios muito bem estabelecidos.
Um grupo anti-‘kit covid’ que só cresce
O avanço da ciência ao longo dos últimos meses permitiu que muitas entidades adotassem posturas contundentes contra a adoção do tratamento precoce ou do “kit covid”.
No Brasil, um dos primeiros órgãos a se posicionar foi a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Em junho de 2020, a entidade produziu o primeiro documento analisando a pouca evidência científica disponível de alguns remédios, como a hidroxicloroquina.
Ao longo dos meses, a SBI atualizou esses pareceres e adotou uma posição muito firme contra o tratamento precoce. Em seu último informe, publicado no dia 19 de janeiro, a sociedade reafirma:
“As melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no ‘tratamento precoce’ para a covid-19 até o presente momento. Pesquisas clínicas com medicações antigas indicadas para outras doenças e novos medicamentos estão em pesquisa. Atualmente, as principais sociedades médicas e organismos internacionais de saúde pública não recomendam o tratamento preventivo ou precoce com medicamentos, incluindo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entidade reguladora vinculada ao Ministério da Saúde do Brasil”.
O médico Clóvis Arns da Cunha, presidente da SBI, relata que a repercussão dos posicionamentos fez com que ele próprio e vários membros da entidade fossem atacados pelas redes sociais e chegassem a receber até ameaças de morte. “Isso exigiu muita resiliência de nossa parte e fez com que nos uníssemos e nos apoiássemos ainda mais”, diz.
Cunha também se incomoda com a falta de respaldo de outras entidades ao longo de 2020. A Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) não chancelaram os posicionamentos da Sociedade Brasileira de Infectologia e não se manifestaram contra o tratamento precoce e o “kit covid”.
O Conselho Federal de Medicina chegou a dizer que caberia a cada médico decidir individualmente se prescreveria ou não hidroxicloroquina, ivermectina e afins.
Na última semana, o Conselho Federal de Medicina soltou uma nota à imprensa afirmando que muitas dessas drogas “não contam com reconhecimento internacional”.
Já a Associação Médica Brasileira teve uma mudança de diretoria a partir de janeiro de 2021. Os novos gestores da associação deram indicativos de que terão uma postura mais ativa a partir de agora – seu novo presidente, César Eduardo Fernandes, coassina o informe da Sociedade Brasileira de Infectologia citado acima.
A BBC News Brasil tentou entrar em contato com CFM e AMB, mas nenhuma das entidades respondeu aos pedidos de entrevista.
Posição sem respaldo científico do governo federal
A despeito de todas evidências científicas e do posicionamento de entidades nacionais e internacionais, o Ministério da Saúde e algumas secretarias estaduais e municipais de saúde insistiram no tratamento precoce – embora o aplicativo do Ministério que recomendava o tratamento precoce tenha saído do ar recentemente.
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DIÁRIO DO NORDESTE
Médico que fez lipoaspiração de influencer Liliane Amorim afirma que seguiu ‘diretrizes técnicas’
Em nota, o Dr. Benjamim Alencar declarou estar à inteira disposição da família da paciente
O médico-cirurgião plástico Bejamim Alencar, responsável pela cirurgia de lipoaspiração da modelo Liliane Amorim – falecida após internação no último domingo (24) – falou, em comunicado nesta quarta-feira (27), que seguiu todas as normas técnicas para a realização do procedimento cirúrgico e do pós-operatório, de acordo com as diretrizes do Conselho Federal de Medicina, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da lex artis para a prática cirúrgica.
“Diante dos fatos relacionados ao procedimento cirúrgico de lipoaspiração realizado em Liliane Amorim, o Dr. Benjamim Alencar, por intermédio de sua assessoria jurídica e de comunicação, registra seu profundo pesar pelo falecimento da paciente e registra que já se colocou e permanece à disposição da família para auxiliar em tudo o que seja necessário.
Membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o médico cirurgião plástico esclareceu em nota que o procedimento cirúrgico foi realizado em centro hospitalar de referência, apropriado para o ato, observando rigorosamente todas as exigências regulamentares e legais.
“Toda a atuação médica ocorreu, portanto, com estrita observância às diretrizes legais, técnicas e aos valores éticos que norteiam a profissão. A adequada assistência médica foi permanentemente prestada, do pré ao pós-operatório, não somente pelo cirurgião responsável, como por toda a equipe multidisciplinar, que também atendeu e acompanhou a paciente”.
Ainda em comunicado, o médico ressalta que a perda de uma vida representa enorme dor, tendo sido recebida, assim, com muita tristeza a lastimável notícia. “Tal circunstância jamais é desejada ou aceita por aqueles que conduzem suas atividades diárias pautadas pelo respeito à vida humana e ao bem-estar dos pacientes”.
Por fim, o Dr. Benjamim Alencar reitera que está à inteira disposição da família da paciente e das autoridades competentes para os esclarecimentos que se façam necessários.
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JORNAL OPÇÃO
Às vésperas do colapso e com vacina em mãos, população desiste do combate à pandemia
Por Italo Wolff
Com alta no número de novos casos de Covid-19, em meio à linhagens mutantes do vírus e próximo da lotação dos leitos de UTI, resistência à Lei Seca é preocupante
O Brasil atravessa a anunciada segunda onda da pandemia de Covid-19. Em outubro de 2020, quando o número de novos casos diários era apenas metade dos 51,5 mil que registramos atualmente (média móvel desta semana epidemiológica), cientistas já registravam a reversão de tendência de queda na taxa de infecção do vírus. Embora grandes eventos como a campanha eleitoral e as festas de fim de ano sem dúvidas tenham auxiliado o vírus a se propagar, a razão por trás da alta no número de casos tem diversos outros fatores.
Agrava o cenário o fato de que diversos estados tiveram redução no número de leitos após fechamento de hospitais de campanha – Goiás incluído, com a perda de 74 leitos de UTI após fechamento do Hospital de Campanha de Águas Lindas por decisão do governo federal. Atualmente, a taxa de ocupação dos leitos de UTI para adultos está em 83% e dos leitos de UTI destinados exclusivamente à Covid-19 em 86%.
Houve também, no início deste mês, o surgimento de uma nova linhagem do Sars-CoV-2 no estado do Amazonas. Um estudo brasileiro fez a análise genômica de amostras de coronavírus da nova cepa (conhecida como P.1), e a relacionou com a variante B.1.1.7, detectada no Reino Unido. Diversos estudos sugeriram que estas linhagens do vírus são mais transmissíveis e podem agravar a pandemia de Covid-19 devido ao seu potencial superior de se espalhar pela população.
Combate à pandemia
Nesta terça-feira, 26, o governador Ronaldo Caiado (DEM) assinou decreto que restringe o comércio e o consumo de bebidas alcoólicas em locais de uso público ou coletivo, entre 22h e 6h em todo território goiano. A professora titular de imunologia da Universidade Federal de Goiás, Ana Paula Junqueira Kipnis, classificou a medida (que tem sido chamada de Lei Seca) como tímida, mas afirmou que pode ajudar na contenção da doença.
Ana Paula Junqueira Kipnis afirmou: “Qualquer medida adotada, mesmo que não seja totalmente efetiva, é bem-vinda. Se a partir das 22h as pessoas pararem de se aglomer, já é algo. Imagina se Caiado sugerisse um lockdown?! Seria linchado. Então é preciso começar de algum lugar e essa medida já é um começo.”
Entretanto, as medidas de combate à pandemia não foram tão prontamente aceitas pela população quanto a cientista gostaria. Em entrevista ao Jornal Opção, Newton Pereira, presidente do Sindicato dos Bares e Restaurantes do Município de Goiânia (SindiBares) falou em “não cumprimento” da lei seca.
É compreensível. Pesquisas revelam o esgotamento físico e mental da população em geral, de forma que é difícil avaliar quanto as medidas para a contenção da Covid-19 continuam em vigor. A realidade socioeconômica também mudou desde a primeira onda da pandemia, quando o auxílio emergencial garantia aos trabalhadores do ramo alguma segurança financeira e a possibilidade da suspensão de contratos garantia aos empresários do setor condições de passar meses com as portas fechadas.
Porém, é necessário pontuar que a justificativa oferecida por Newton Pereira para o funcionamento de bares, restaurantes e eventos não está cientificamente correta. “Bares e restaurantes não são causadores do agravamento da pandemia de Covid-19”, afirmou Newton Pereira nesta segunda-feira, 25. “No dia 19 de julho o setor foi aberto e este momento coincide com a queda da curva de contaminação.
Vitor Mori, doutor em engenharia biomédica que atua no Observatório Covid-19 BR, afirma que, ao contrário do que se pensou no começo da pandemia, o caminho mais prevalente da transmissão da Covid-19 não se dá por meio de superfícies contaminadas. Ao invés disso, o cientista reforça a necessidade do uso de máscara e da ventilação adequada de ambientes para evitar ‘eventos de super espalhamento’ – que são ocasiões em que uma pessoa contaminada infecta diversas outras. “Esses eventos estão muito ligados à transmissão por aerossóis”, afirma.
Vitor Mori faz a analogia entre os aerossóis emitidos quando um infectado pela Sars-CoV-2 fala e a fumaça do cigarro. “Em ambientes fechados, a fumaça do cigarro se concentra e fica impregnada no cabelo e roupas das pessoas. Mas em locais ventilados ou ao ar livre, é mais difícil sentir o cheiro da fumaça de cigarro”, afirmou Vitor Mori em webinar promovido pelo Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde, uma iniciativa do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ). Podemos afirmar, portanto, que bares e restaurantes são exatamente o ambiente onde pode ocorrer a transmissão do Sars-CoV-2.
Cepas mutantes
Eduardo Furtado Flores é doutor em Virologia pela Universidade de Nebraska, Estados Unidos, e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. O pesquisador afirma que não se sabe se a variante de Manaus é responsável pelo aumento no número de casos de Covid-19 em todo o Brasil. A cepa P.1 já foi detectada em 6 estados, mas possivelmente existe em todo o país, inclusive Goiás, afirma Eduardo Flores. Entretanto, o sistema de vigilância brasileiro é precário, e o monitoramento da dispersão das cepas do vírus é feito em sua maior parte por pesquisadores autônomos.
Profissionais que atuam na linha de frente contra a COVID-19 em Manaus relataram sua percepção de que, além de ser mais transmissível, essa variante também parece ser mais letal, especialmente em pessoas jovens. Embora esta seja uma possibilidade, Eduardo Furtado Flores ressalta que não há estudos científicos publicados que comprovem essa impressão empírica.
Sobre as medidas de contenção às novas linhagens do coronavírus, Furtado Flores afirma: “Variantes mutantes são preocupantes o suficiente para fazer com que outros países fechem suas portas para nós. O Reino Unido e Portugal atualmente não aceitam brasileiros. A restrição da movimentação de pessoas é uma medida cautelosa e adequada para limitar a entrada de uma doença potencialmente mais grave em locais onde o sistema de saúde já colapsou. É muito difícil impedir completamente que o vírus circule, mas podemos limitar”.
Outra preocupação é descobrir se essas mutações têm o potencial para driblar a imunização gerada pelas vacinas ou por infecções anteriores. Todas as mutações citadas modificam a forma como o vírus expressa a proteína da espícula (proteína S, ou Spike). Este é o alvo dos anticorpos produzidos pela vacina, então há o temor de que os anticorpos da pessoa vacinada possam não reconhecer o vírus. “Mas até o momento, não há nenhuma indicação de que as vacinas não serão efetivas contra as variantes – é possível, mas até o presente momento não existem evidências”, conclui Eduardo Flores.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação