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Reclamações na Unimed vão de cobrança indevida a falta de atendimento
Referência em Goiás, Hospital de Doenças Tropicais completa 46 anos
Covid-19: Goiás confirma 4,7 mil casos e 7 mortes em 24 horas
Câncer no intestino que afeta Preta Gil é cada vez mais comum antes dos 50 anos; entenda
Influencer relata cegueira temporária causada por pomada de cabelo
Após cirurgia com duração de mais de 10 horas, siamesas Valentina e Heloá são separadas em Goiânia
ONU lamenta morte “intolerável” de cinco milhões de crianças em 2021
Sobreviventes de Covid grave têm mais estresse pós-traumático e dificuldade de voltar ao trabalho
Governo Lula veta nomeação de especialista em vacinação por postagem pró-Lava Jato
Número de cesáreas volta a subir no Brasil e bate recorde durante a pandemia
Artigo – Novo olhar sobre o prontuário eletrônico do paciente
O HOJE
Reclamações na Unimed vão de cobrança indevida a falta de atendimento
Jornal O Hoje ouviu relatos a respeito de seguradora de saúde em Goiás
Por: Yago Sales
Embora o Procon – tanto de Goiânia quanto estadual – se intensifique para garantir que o plano de saúde da Unimed garanta atendimento de qualidade aos usuários, as reclamações continuam entre ano e sai ano. Levantamento do jornal O Hoje mostra que, apenas em 2022, o Procon Estadual registrou 63 reclamações e o Procon Municipal, 11, ou seja, 74.
Por outro lado, as reclamações se intensificam no Reclame Aqui, site que concentra centenas de reclamam de descaso com a necessidade das pessoas que buscam ajuda.
Presidida por Sérgio Baiocchi, a Unimed também tem reclamação na sede da operadora do plano no pomposo prédio erguido na Praça Gilson Alves de Souza, no Setor Bueno, um dos pontos altos de bairros nobres de Goiânia.
A cooperativa que, em tese e na prática, deveria aglutinar serviços de saúde tem feito o caminho na direção incorreta: atrapalhado quem precisa de atendimento, exames.
É o caso de uma mulher que procurei o plano para fazer um exame e acabou ficando duas horas em uma fila. “Quando ficaram sabendo que tipo de exame eu tinha que fazer pediram para eu falar com um diretor. Ou seja, sem nenhum protocolo. Uma pessoa específica analisaria meu caso e, individualmente, me confirmaria, ou não, se eu teria autorização para fazer o exame”, reclama ela, que acabou procurando uma clínica e pagando do próprio bolso.
O proprietário de uma clínica que prefere não ser identificado afirma que tem havido uma dificuldade de o segurado chegar à sua empresa. E faz uma denúncia grave: “A Unimed está privilegiando o próprio sistema de exames que ela tem. Um cartel? Eu aposto que sim”.
No levantamento obtido pela reportagem com o Procon Estadual, havia reclamações de falta de cobertura, negativa, cobrança indevida – inclusive sobre o valor de multa não constante no contrato -, recusa e até mau atendimento.
A pedido da reportagem do jornal O Hoje, o presidente do Procon Goiânia, Júnior Café, comentou a situação. Inicialmente, ele diz reconhece que há muito mais reclamantes do que de fato está registrado no órgão municipal. “Falta informação do segurado que às vezes prefere pagar do próprio bolso ou até procurar o Ministério Público”, explica.
“Em muitas situações o segurado não sabe que o plano cobre. A gente busca atender a questão contratual, ouvindo a pessoa e tentando intermediar junto ao plano para resolver a situação”, emenda.
Ainda segundo Júnior Café, muitos planos restringem o acesso do segurado a exames e a alguns tipos de cirurgia. “Geralmente exames mais simples são liberados mais rápidos, os menos complexos, como exame de sangue. Alguns casos mais complexos demora até 180 dias.”
Como a reportagem encontrou no site Reclame aqui, Júnior Café lembra que tantas vezes o segurado esbarra na carência. Sobre a atuação junto à Unimed, o presidente esclarece que o plano normalmente responde com rapidez. “Se não o faz, a gente manda fiscalização que pode gerar multas que chegam a R$6 milhões”.
Para ele, é bom esclarecer aos consumidores que fiquem atentos às cláusulas contratuais. “Caso perceba que não está sendo cumprindo, é preciso buscar ajuda no Procon até para gerar dados”.
A reportagem procurou a Unimed Goiânia por meio da assessoria de imprensa via e-mail, mas até o fechamento da reportagem não havia recebido nenhuma resposta.
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A REDAÇÃO
Referência em Goiás, Hospital de Doenças Tropicais completa 46 anos
Com qualidade certificada pelos selos de qualidade 1 e 2 da Organização Nacional de Acreditação (ONA), o Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT) já tem muito o que celebrar no dia a dia da unidade de saúde especializada em doenças infecciosas. Mas nesta quarta-feira (11/1), a comemoração foi pelos 46 anos do lugar. O evento, realizado no auditório da instituição, destacou as conquistas da equipe que realiza mais de dez mil atendimentos por mês.
A unidade conta com 121 leitos em operação e é referência no Estado de Goiás em atendimentos de média e alta complexidade, com prioridade para doenças infecciosas, infectocontagiosas e dermatológicas. Com uma visão humanizada, realiza, mensalmente, 3.870 atendimentos médicos emergenciais e ambulatoriais, 8 mil atendimentos multidisciplinares e 270 internações.
O titular da Secretaria de Estado da Saúde, Sérgio Vencio, reforçou a importância do HDT para os goianos e pontuou o nível de excelência dos serviços prestados em infectologia e dermatologia sanitária. “Temos aqui uma unidade que realiza atendimentos eletivos e de emergência em média e alta complexidade para doenças infecciosas e dermatológicas, atendendo os goianos dos 246 municípios com qualidade, nas suas mais diversas necessidades de saúde”.
Na cerimônia, colaboradores do HDT acompanharam a apresentação do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de Goiás, sob regência do subtenente, Daniel das Neves. A tradicional banda da PM-GO executou, com a maestria de sempre, clássicos da música brasileira e internacional. Logo após, houve momento solene com falas da diretoria e distribuição de bolos individualizados aos mais de cem colaboradores presentes.
Conquistas e atendimentos
O HDT registra ainda o reconhecimento de conquistas como o concurso cultural Somos Parte do SUS que Dá Certo, do Ministério da Saúde (MS), com menção honrosa da pasta na Semana Nacional de Humanização. A unidade também foi reconhecida pelo MS por seu trabalho no documentário Humanização-SUS-HDT Humanização Contagiante, que foi divulgado em todo o País. A unidade é também o primeiro e único hospital de doenças infecciosas do Brasil com certificação ONA, Nível 1 – recebido em setembro de 2014, e nível 2, em 2018.
A diretora clínica da unidade, Camila Freire, reforçou a relevância do HDT para a saúde da população goiana. “O HDT é hoje a mais importante unidade especializada em doenças infecciosas do Centro-Oeste. Nas últimas décadas, desenvolveu expertise para o enfrentamento de vários surtos epidêmicos de doenças graves e, atualmente, é uma das referências em casos contra a Covid-19. Celebrar os 46 anos de história é uma forma de valorizar o nome desse gigante da saúde goiana que há tanto tempo presta uma assistência qualificada, eficiente e humanizada”, disse.
Diretora executiva interina, Camila Costa falou da alegria de poder celebrar a data: “Nós, colaboradores, que dia a dia nos doamos e nos entregamos para promover uma assistência cada vez mais eficiente, estamos emocionados com a ação ocorrida aqui hoje. Nossa missão de cuidar e salvar vidas segue pujante como sempre”, pontuou a diretora interina.
História
A fundação do HDT, em 10 de janeiro de 1977, é reflexo de uma epidemia de doenças meningocócicas ocorrida em Goiás no período de 1972 a 1976. Na época, os antigos hospitais Osvaldo Cruz e Pênfigo não dispunham de estrutura para atender a sobrecarga da demanda. Dessa forma, surgiu a necessidade da criação de um hospital que atendesse pacientes portadores de doenças infecciosas e dermatológicas. Assim, nasceu o HDT, uma conjunção entre os dois antigos hospitais.
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Covid-19: Goiás confirma 4,7 mil casos e 7 mortes em 24 horas
Caroline Louise
Goiânia – Goiás confirmou 4.733 casos e 7 mortes pela covid-19 em 24 horas. As informações constam no boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) nesta quarta-feira (11/1). A taxa de letalidade do vírus no Estado é de 1,51%.
De acordo com a SES-GO, já são 1.848.482 casos e 27.838 óbitos de coronavírus desde o início da pandemia. 62 mortes ainda estão em investigação para saber se há relação com a doença.
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JORNAL OPÇÃO
Câncer no intestino que afeta Preta Gil é cada vez mais comum antes dos 50 anos; entenda
O estilo de vida, como alimentação e sedentarismo contribuem para o aparecimento da doença
A cantora Preta Gil publicou em seu perfil no Instagram na última terça-feira, 10, que foi diagnosticada com um câncer no intestino, Preta tem 48 anos. A cantora Simony, com 46 anos, também foi diagnostica com a doença no mesmo local. Infelizmente, esse tipo de câncer tem aparecido cada vez mais antes dos 50 anos.
No ano passado um estudo divulgado pela Universidade Harvard (EUA), e publicado na revista científica Nature Reviews Clinical Oncology, apontou que esse tipo de câncer eram diagnosticados em pessoas mais velhas. Porém, ele tem aparecido com mais frequência entre pessoas com menos de 50 anos. As informações são endossadas por outro estudo, o britânico, publicado na British Journal of Cancer.
Os cientistas de Harvard analisaram 44 países e identificaram que a incidência precoce está crescendo rapidamente em países de renda média a alta, o que aponta não se tratar de falta de recursos ou informações preventivas.
Um dos motivos apontados pela pesquisa é o estilo de vida, que mudou muito nos últimos anos. O sedentarismo, consumo de álcool, consumo de alimentos ultraprocessados, insônia e poluição ambiental estão entre os hábitos que favorecem o surgimento da doença – e são mais comuns hoje que há 50 anos.
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DIÁRIO DA MANHÃ
Influencer relata cegueira temporária causada por pomada de cabelo
“Eu sigo no tratamento, ainda não posso ficar com os olhos abertos e não posso ficar tão exposta à luz porque meus olhos estão com sensibilidade”, disse a cario
A influenciadora carioca Bielle Elizabeth, de 29 anos, viralizou nas redes sociais ao relatar ter perdido temporariamente a visão após usar uma pomada no cabelo. “Meu olho não conseguia mais abrir direito”, disse a jovem.
Com 361 mil seguidores no Instagram e mais de 125 mil no TikTok, a influencer contou que passou a pomada para fazer a técnica baby hair, deixa os fios próximos da testa arrumadinhos, para ir a um evento. No entanto, o produto, que não teve a marca revelada, escorreu para os olhos depois dela acabar se molhando com a chuva.
Em seguida, ela começou a ter reação e a perda imediata da visão. “Lembro de estar com a minha amiga Mirela, falei pra ela: ‘Amiga, eu não estou enxergando nada, meu olho tá doendo, pode ter sido a maquiagem’. Fomos ao banheiro, lavei os olhos em abundância, a visão não voltou, mas a dor voltou”, relatou ela em vídeos publicados em seu perfil no Instagram.
Bielle Elizabeth contou que, com medo, foi imediatamente até um pronto-atendimento para entender o que estava acontecendo. “Meu olho não conseguia mais abrir direito. É uma sensação de como se tivesse entrado um montante de areia, quando venta e estava arranhando muito. E eu não conseguia nem mexer a pálpebra dos olhos”.
“Haviam de 143 a 150 casos que somente ela [médica] teria atendido, em plena segunda-feira, que foi quando choveu. E que em um dos casos, a menina ficou completamente cega e não conseguiu recuperar a visão depois de usar a pomada modeladora”, continuou.
A carioca ainda segue em tratamento médico para que a visão retorne. “Já consigo começar a ver as coisas com um pouquinho mais de nitidez. Eu sigo no tratamento, ainda não posso ficar com os olhos abertos e não posso ficar tão exposta à luz porque meus olhos estão com sensibilidade. Muito obrigada a todos e continuem mandando energias positivas”, disse.
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PORTAL G1
Após cirurgia com duração de mais de 10 horas, siamesas Valentina e Heloá são separadas em Goiânia
Valentina e Heloá Prado, de 3 anos, passam por tratamento há cerca de dois anos. Elas estavam unidas por parte do tórax, abdômen, bacia, fígado, genitálias, intestinos delgado e grosso.
Por Thauany Melo, g1 Goiás
Após mais de 10 horas de cirurgia, as siamesas Valentina e Heloá Prado, de 3 anos, foram separadas, no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), em Goiânia. Veja o vídeo de quando elas saem do centro cirúrgico (assista acima).
A cirurgia aconteceu na quarta-feira (12). Segundo o médico responsável pelo procedimento, Zacharias Calil, as crianças estavam unidas por parte do tórax, abdômen, bacia, fígado, genitálias, intestinos delgado e grosso. Ao g1, ele explicou que a separação foi um caso complexo, mas que ele está com o sentimento de “missão cumprida”.
“É uma cirurgia muito complexa, com longo tempo de anestesia e cirurgia.”, disse Zacharias Calil.
O corpo das gêmeas foram separados por volta das 20h. Valentina deixou o centro cirúrgico por volta das 23h e Heloá foi liberada em seguida, por volta da meia noite. A separação das duas contou com cerca de 50 profissionais. Segundo Zacharias Calil, elas devem retornar ao centro cirúrgico em três semanas.
Tivemos que dividir o fígado, o intestino delgado e o intestino grosso. Tivemos que modificar o sistema urinário delas porque elas apresentavam alterações que não tinham sido diagnosticadas. No mais, separamos o osso, a bacia”, explicou Zacharias Calil.
Valentina e Heloá são naturais de Guararema, cidade do interior de São Paulo e estão em tratamento em Goiânia há cerca de dois anos. Após o início do acompanhamento médico, os pais das crianças decidiram se mudar para Morrinhos, no interior de Goiás.
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O GLOBO
ONU lamenta morte “intolerável” de cinco milhões de crianças em 2021
MUNDO ONU lamenta morte “intolerável” de cinco milhões de crianças em 2021 Maioria dos casos pode ser evitado com melhores cuidados de saúde, vacinação e nutrição, acena organização
Estima-se que cinco milhões de crianças menores de cinco anos morreram em 2021, disseram as Nações Unidas nesta terça-feira (10), pedindo investimentos em saúde em comunidades carentes em todo o mundo para evitar essa “imensa, intolerável e principalmente evitável perda de vida”.
“Todos os dias, muitos pais enfrentam o trauma de perder seus filhos, às vezes antes mesmo de sua primeira respiração”, disse Vidhya Ganesh, especialista da agência infantil da ONU, UNICEF. “Essa tragédia generalizada e evitável nunca deve ser aceita como inevitável. O progresso é possível com uma vontade política mais forte e investimento direcionado no acesso equitativo aos cuidados primários de saúde para todas as mulheres e crianças.”
Cerca de 2,3 milhões de mortes em 2021 ocorreram no primeiro mês de vida das crianças, a maioria por prematuridade ou por complicações relacionadas ao parto. Após o primeiro mês de vida de uma criança, as doenças infecciosas, como pneumonia, diarreia e malária, tornam-se as maiores ameaças.
A maioria das mortes, no entanto, pode ser evitada com melhores cuidados de saúde, vacinação, nutrição, bem como programas de água e saneamento, disse o relatório.
Segundo a entidade, porém, há também sinais de otimismo. A taxa global de mortalidade de menores de cinco anos caiu 50% desde 2000, enquanto as taxas de mortalidade em crianças mais velhas e jovens caíram 36% e a taxa de natimortos diminuiu 35%. O relatório destacou imensas desigualdades em todo o mundo.
As crianças na África subsaariana enfrentam o maior risco de morrer antes do quinto aniversário, com 56% das mortes de menores de cinco anos em 2021 ocorrendo nessa região.
“Por trás desses números, estão milhões de crianças e famílias que não têm direito básico à saúde”, disse Juan Pablo Uribe, Diretor Global de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial. “Precisamos de vontade política e liderança para o financiamento sustentado da atenção primária à saúde, que é um dos melhores investimentos que os países e parceiros de desenvolvimento podem fazer.”
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FOLHA DE S.PAULO
Sobreviventes de Covid grave têm mais estresse pós-traumático e dificuldade de voltar ao trabalho
São Paulo
Um ano depois da alta hospitalar, sobreviventes da forma grave da Covid-19, que precisaram de ventilação mecânica, têm o dobro de prevalência de sintomas de estresse pós-traumático, mais dificuldades para retornar ao trabalho e outras incapacidades do que aqueles que tiveram formas menos graves da doença.
Os resultados são de um estudo publicado na semana passada em uma revista científica de medicina intensiva, realizado entre março de 2020 e março de 2022 em 84 hospitais ligados à Coalizão Covid-19, uma aliança para a condução de pesquisas que envolve várias instituições de ponta como Albert Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa (em São Paulo) e Moinhos de Vento (em Porto Alegre).
Os pacientes foram comparados de acordo com a gravidade da doença: desde aqueles internados que não precisaram de oxigênio até os que necessitaram de intubação (ventilação mecânica).
Entre os 1.508 inscritos no estudo, 36 morreram antes de completar um ano de acompanhamento. A taxa de mortalidade por todas as causas entre os que foram intubados foi de 7,9%. A de pessoas que tiveram a forma menos grave de Covid foi de 1,2%.
O estudo mostrou que 1 em cada 4 pessoas intubadas precisou ser internada novamente ao longo dos 12 meses subsequentes (24% contra 19,6%). O índice de eventos cardiovasculares, como o infarto, também foi mais do que o dobro em relação àquelas não precisaram de ventilação mecânica (5,6% contra 2,3%).
“Os resultados servem de alerta não só para os pacientes que tiveram Covid grave e seus familiares como também para os gestores de saúde. [O uso de ventilação mecânica] pode ser um marcador de fácil reconhecimento para a identificação de pacientes com maior risco e para ajudar a traçar metas de reabilitação”, diz o médico intensivista Regis Goulart Rosa, pesquisador do Hospital Moinhos de Vento e autor principal do estudo.
Segundo a pesquisa, é alto o percentual de pacientes que relataram novas incapacidades, como dificuldade de se locomover, um ano após a internação (40,4% contra 23,5%). Eles também têm menor taxa de retorno ao trabalho (88,1% contra 97,5%) e aos estudos (88,9% contra 96,9%).
“O acompanhamento e os cuidados mais personalizados desses pacientes também podem significar uma boa relação de custo e efetividade para os sistemas de saúde. Se a pessoa reinterna menos, consegue retornar mais rapidamente à sociedade, ao seu trabalho, aos estudos, todos ganham com isso.”
O estudo revela ainda que pacientes que passaram por intubação sofrem grande impacto na saúde mental. A prevalência do transtorno do estresse pós-traumático entre eles foi o dobro em relação ao grupo com menos gravidade (14% contra 7%). Um em cada quatro apresentou sintomas de ansiedade (24,7% contra 17,5%).
A idade média dos participantes do estudo foi de 53 anos; 60,8% eram homens. Hipertensão (45%), obesidade (30%) e diabetes (24%) estão entre as comorbidades mais prevalentes. A duração média da ventilação mecânica durante a internação foi de dez dias.
Outros estudos já apontaram que pacientes com Covid-19 que precisaram de ventilação mecânica têm maior probabilidade de apresentar marcadores inflamatórios elevados, envolvimento pulmonar mais extenso, disfunção de múltiplos órgãos e maior mortalidade hospitalar. “A ventilação mecânica é um tratamento muito eficaz, salva vidas, mas não é isento de efeitos adversos”, afirma Regis Rosa.
A literatura científica mostra que fatores como sedação profunda, medicamentos (agentes bloqueadores neuromusculares e corticosteroides), imobilização e pneumonia estão associados a piores resultados a longo prazo, com fraqueza adquirida na UTI, estresse pós-traumático, mortalidade pós-alta e qualidade de vida reduzida.
Os autores do estudo apontam ainda que a superlotação das UTIs causada pela pandemia de Covid-19 também pode ter sido associada a uma menor adesão a intervenções destinadas a prevenir incapacidades de longo prazo entre pacientes ventilados mecanicamente. Entre elas estão minimizar a sedação e o uso de agentes bloqueadores neuromusculares, controle da dor, mobilização precoce e presença da família.
O Brasil já registrou, desde o início da pandemia, mais de 36 milhões de casos de Covid e cerca de 695 mil mortes. “Temos milhares de pessoas sofrendo de algum grau de acometimento da Covid. E já sabemos por outros estudos que não são apenas os casos graves os afetados [pela Covid longa]. Precisamos de mais pesquisa para entender essa nova condição, os fatores de risco, além de reconhecer e oferecer reabilitação a esses pacientes”, afirma Regis Rosa.
Na opinião da médica intensivista Suzana Lobo, que esteve à frente da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) no período crítico da pandemia, o impacto a longo prazo dos casos mais graves de Covid já era uma tragédia anunciada.
“Por inúmeras vezes, nós, das sociedades científicas e cientistas, alertamos para os riscos de complicações de longo prazo e o impacto na qualidade de vida. Conhecemos isso muito bem há décadas por causa da sepse bacteriana com a qual convivemos diariamente nas nossas UTIs. E a Covid-19 nada mais é que uma sepse viral”, explica.
Lobo lembra que em uma reunião em abril de 2021 com o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, a Amib alertou sobre a necessidade de preparo e de investimentos em reabilitação para os próximos cinco anos, em que haveria milhares de sequelados da Covid-19.
A pesquisa também alerta para a necessidade de rastreamento dos pacientes pós-alta, pois muitos morrem em decorrência de complicações da doença, mas constam nos levantamentos como recuperados. Outra medida importante é preparar os profissionais para atuarem precocemente na reabilitação.
A relação entre a gravidade da Covid-19 e a maior ocorrência de eventos cardiovasculares é um outro achado que preocupa os pesquisadores. “Essa associação não é nova e existe em outros quadros, como de sepse grave, que causam disfunção orgânica. Há um risco maior de acometimento do [músculo] miocárdio, de arritmias. É grande a preocupação com o aumento da incidência desses eventos nesses anos seguintes à pandemia”, diz Rosa.
O estudo tem algumas limitações, como o fato de que a Covid-19 pode ter efeitos diferentes nos resultados de longo prazo em contextos distintos, por exemplo, pacientes com acesso precoce a serviços de reabilitação no pós-alta.
Também não foram avaliadas variáveis que poderiam, em tese, modificar a associação entre a gravidade aguda da Covid-19 e desfechos de longo prazo, como vacinação, infecção por diferentes variantes de Sars-CoV-2 e tratamentos específicos.
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O ESTADO DE S.PAULO
Governo Lula veta nomeação de especialista em vacinação por postagem pró-Lava Jato
Casa Civil barra pediatra no comando do Departamento de Imunizações por ‘restrição partidária’; profissionais criticam
JULIA AFFONSO
Uma das maiores referências em vacinação do País, a pediatra Ana Goretti Kalume Maranhão foi barrada pelo Palácio do Planalto para chefiar o recémcriado Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde. O veto foi feito pela Casa Civil, pasta que dá a última palavra sobre escolhas para cargos comissionados. O ministério alegou que ela fez postagens com críticas ao PT e em defesa da Operação Lava Jato.
Isso configuraria uma “restrição partidária”.
O Estadão ouviu profissionais da área de imunização que classificaram o veto como grave.
A bióloga Natalia Pasternak, doutora em Microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), disse que soube do fato por meio de colegas. Segundo ela, a sensação é “de grande surpresa”, pois a nomeação havia sido “muito celebrada”.
Pasternak lembrou que as antigas rixas do PT com os hoje ministros Geraldo Alckmin, Simone Tebet e Marina Silva foram resolvidas. “É só no primeiro escalão? Na parte técnica vai ter picuinha política? Não pode ser”, declarou. “Espero realmente que eles reconsiderem.
O PNI (Programa Nacional de Imunizações) precisa de uma pessoa forte, comprometida e que conhece bem a estrutura. Essa pessoa é a Ana, a gente não tem dúvidas.” Quando adversários, Alckmin chegou a chamar Lula de “chefe da quadrilha”.
Durante a transição, Pasternak se reuniu com a equipe do governo Luiz Inácio Lula da Silva e foi uma das defensoras da criação de um Departamento de Imunizações no Ministério da Saúde. A presidente do IQC afirmou que o veto “não tem absolutamente cabimento dentro do governo que o presidente Lula se propôs a fazer, com tantos aliados que no passado criticaram fortemente o PT”.
‘IDIOTA’. A médica compartilhou, em 2016, uma notícia a respeito do bloqueio que o então juiz Sérgio Moro havia determinado sobre a aposentadoria de Lula. Em outra postagem que citava o então presidente do PT, Rui Falcão, a médica disse: “Perfeito idiota”.
Ana Goretti está no Ministério da Saúde desde 1985, segundo o Portal da Transparência, e já foi coordenadora-geral substituta do PNI.
O nome da pediatra Ana Goretti para ocupar o novo cargo tinha o apoio de profissionais do setor de saúde, incluindo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Anteontem, a entidade afirmou que se tratava de “uma das profissionais mais engajadas na luta pela vacinação no Brasil”.
“A SBIm construiu ao longo de muitos anos laços de amizade, parceria e admiração pelo trabalho de Ana Goretti Kalume Maranhão, consolidados com a participação em inúmeros eventos da sociedade. Desejamos sucesso e reiteramos que estamos à disposição, como sempre, para colaborar com o que for possível na nova empreitada”, afirmou a sociedade de imunizações.
Em uma rede social, a infectologista Luana Araújo disse que a nomeação de Ana Goretti era “um gol de placa” do governo.
Luana trabalhou no combate à covid e foi demitida por Jair Bolsonaro. Ela ganhou notoriedade na CPI que apurou a atuação do governo na pandemia da covid.
O Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, em São Paulo, também havia comemorado a nomeação de Ana Goretti.
Em nota, a entidade manifestou “alegria” e afirmou que a pediatra trabalharia para “ampliar as coberturas vacinais em todo o País”.
‘QUESTÃO POLÍTICA’. Procurada, Ana Goretti não se manifestou.
Após o veto, o escolhido foi Eder Gatti, infectologista do Emílio Ribas.
A assessoria da ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse ao Estadão que todos os nomes do terceiro escalão estão sendo reavaliados e vão passar “por um olhar mais apurado”.
“A ideia é que os cargos sejam preenchidos por pessoas competentes, técnicas, mas também é uma questão política”, admitiu Nísia.
A Casa Civil, comandada por Rui Costa, disse que “não realiza avaliação política de nomeações para cargos no Executivo”, uma atribuição da Secretaria de Relações Institucionais, de Alexandre Padilha. Os dois ministros são filiados ao PT.
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Número de cesáreas volta a subir no Brasil e bate recorde durante a pandemia
Por Fabiana Cambricoli Taxa de nascimentos via cesariana ultrapassa pela primeira vez os 57% no País; porcentual considerado adequado pela OMS é de até 15% Por Fabiana Cambricoli
Após curto período em queda, o índice de cesáreas voltou a crescer no País e bateu recorde em 2020, quando 57,2% dos nascimentos ocorreram por esse tipo de parto – a maior taxa da história, segundo análise feita pelo Estadão com base nos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde. O recorde anterior havia sido registrado em 2014, quando a taxa foi de 57%.
No ano seguinte, com o crescente movimento pelo parto humanizado, o País apresentou pela primeira vez em décadas um aumento do índice de partos normais. Com isso, o porcentual de cesáreas caiu para 55,5% em 2015. Em 2016, manteve-se o cenário de queda, mas, em 2017, a tendência mudou novamente e o índice de cesáreas voltou a crescer ano após ano, culminando no recorde de 2020 e na manutenção da taxa na casa dos 57% em 2021, último dado disponível (veja gráfico). Os dados preliminares de 2022, atualizados em outubro, mostram taxa de 57,6%, o que pode levar a novo recorde se o índice se confirmar.
Embora a cesariana seja uma técnica importante para salvar a gestante e o feto em algumas circunstâncias, seu uso indiscriminado e sem indicação clínica é considerado um problema de saúde pública por aumentar os riscos de complicações para a mulher e o bebê. “Há maior risco de hemorragia e infecção, além de complicações relacionadas à placenta”, diz a obstetra Adriana Gomes Luz, secretária da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e professora assistente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As cesáreas feitas sem indicação também aumentam o risco de o bebê nascer antes de completar seu desenvolvimento dentro do útero da mãe.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a taxa adequada de nascimentos via cesariana seja de 10% a 15%. De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (Opas), o Brasil é um dos cinco países do mundo nos quais o índice de cesarianas supera o de partos vaginais – estão nessa situação também Egito, Chipre, Turquia e República Dominicana. Com a taxa recorde registrada em 2020, o Brasil se aproxima dos 58,1% alcançados pelo país caribenho, o líder mundial de cesáreas. Pandemia impactou assistência à gestante, dizem especialistas
Para os especialistas, os reflexos da pandemia em todo o sistema de saúde justificam, em partes, o índice recorde de cesarianas no Brasil, mas a falta de ações e de campanhas mais incisivas também ajudou a frear o avanço que começava a ser observado em 2015 na valorização do parto vaginal. “Durante a pandemia, muitas maternidades restringiram o acesso de acompanhantes, que são importantes no momento do trabalho de parto. Isso gerou uma insegurança entre as gestantes, elas queriam sair daquele ambiente o mais rápido possível. A gente viu aumentar o número de pedidos por cesárea”, diz Adriana.
Ela afirma que a própria situação de emergência sanitária, com direcionamento de esforços para o atendimento de pacientes com coronavírus, também impactou os serviços de saúde materno-infantis. “Houve uma desorganização do sistema de saúde como um todo porque era preciso desviar o foco para a covid-19. Algumas salas de parto normal foram transformadas em áreas covid”, afirma ela.
Para Rômulo Negrini, coordenador médico da maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, o impacto da pandemia foi sentido desde o pré-natal, o que também pesa na escolha do parto. “Muitas mulheres perderam consultas de pré-natal por causa da pandemia. E é nessa caminhada que o parto vai sendo discutido entre a equipe e a gestante”, afirma. Ele diz ainda que, como algumas gestantes foram infectadas pelo coronavírus e tiveram complicações, pode ter havido um aumento da necessidade de cesarianas.
Alguns projetos específicos para a valorização e capacitação do parto normal também tiveram que ser suspensos por causa da covid-19. “No projeto Parto Adequado (iniciativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar em parceria com o Einstein para dar orientação para hospitais e operadoras do País sobre parto), havia sessões presenciais de aprendizado para profissionais de saúde e elas tiveram que ser suspensas. Pessoas que trabalhavam ativamente em ações do parto normal foram deslocadas para ajudar no combate à pandemia”, diz Negrini.
Além dos impactos da pandemia, Adriana acredita que o tema precisa ser alvo de mais políticas e campanhas para que a redução de cesáreas desnecessárias seja consistente. “Quando a gente coloca esse assunto para discussão e consegue, de forma adequada, mostrar os prós e contras de uma cesariana, com pessoas famosas e influenciadores abraçando a causa, a população olha e reflete”, diz a obstetra.
Para ela, uma das ações mais importantes é o letramento da paciente sobre os tipos de parto e seus direitos. “Temos que empoderar a mulher para ela não aceitar passivamente a cesárea quando não há uma indicação clara. E também desfazer mitos, como a questão da dor no parto normal. Hoje temos técnicas farmacológicas e não farmacológicas para aliviar o desconforto”, diz a médica.
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SAÚDE BUSINESS
Artigo – Novo olhar sobre o prontuário eletrônico do paciente
Foi em 27 de dezembro de 2018, há apenas quatro anos, que foi regulamentado o prontuário eletrônico do paciente (PEP), por meio da lei que ficou conhecida como Lei do Prontuário Digital (nº 13.787/2018). No entanto, vale salientar que os esforços para estabelecer este, que podemos considerar como o cerne da saúde digital, foram morosos – e me atrevo a dizer – tanto quanto o é a própria digitalização da saúde.
Devemos lembrar que foi graças ao empenho em modernizar o trabalho das unidades de saúde e facilitar o acesso às informações de pacientes que surgiu o conceito de prontuário eletrônico, cujo modelo de documento foi delimitado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2002 – veja, há exatos 20 anos. Não quero, de forma alguma, desmerecer todo o trabalho que foi feito até agora – aliás, longe disso. Minha relação com a MV começou há cinco bons anos, mas o meu relacionamento com hospitais e com o cuidado com o paciente teve início em 1977. Tenho, portanto, propriedade em dizer que, do ponto de vista de prontuário do paciente, evoluímos enormemente. Assim, antes de podermos discutir o futuro do PEP em território nacional, queria relembrar alguns eventos importantes desta linha do tempo, que eu costumo dividir em quatro fases. A primeira delas, claro, tem a ver com a adoção do PEP por instituições Brasil afora.
Tive a oportunidade e o privilégio de acompanhar o surgimento desta tecnologia, em substituição ao que antes era feito de maneira completamente manual – da prescrição às questões processuais, como movimentações na farmácia e demais áreas que acompanham o paciente desde o momento da entrada no hospital até a alta.
O ponto fundamental que o PEP endereçou com louvor neste contexto foi o fator “risco”. Com todos os processos manuais, dá para imaginar a insegurança que isso refletia no cuidado assistencial: da ilegibilidade de registros e perda de informações, ao risco de exames serem feitos com atrasos, de medicação aplicada fora da exatidão necessária em tempo para o cuidado com o paciente e, até mesmo, o risco especialmente crítico de uma prescrição inadequada de medicamentos que eventualmente pode levar a óbito.
Estes últimos pontos, aliás, são desafios críticos no dia a dia da assistência médica e que persistem ainda hoje, como aponta um recente estudo liderado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), publicado em agosto deste ano no periódico PLOS ONE. De acordo com o levantamento, em média, 10% dos pacientes internados em hospitais sofrem com eventos adversos relacionados a erros de medicação.
Além do impacto econômico global causado por erros de medicação que chega a consideráveis US$ 42 bilhões anuais (ou 0,7% do gasto total mundial em saúde), o ponto mais importante da análise é: metade desses erros são evitáveis.
Dos hospitais da América Latina pesquisados, um montante entre 2,5% e 18,4% das internações hospitalares estavam associadas a eventos adversos; destas, 84% eram evitáveis e outros 30% resultaram em óbito – número elevado e inadmissível, sobretudo se considerarmos que tais ecossistemas poderia facilmente ser controlados por meio do uso do PEP.
Mais adiante, a prescrição eletrônica ganha espaço e maturidade – um marco para a segurança assistencial e que crava a segunda fase da implementação do prontuário eletrônico. Hoje, ninguém faz faturamento sem prescrição eletrônica e ela passou a ser vista como base fundamental em termos de segurança e qualidade assistencial.
Do ponto de vista administrativo, consigo estabelecer uma série de controles e sub controles que passam a adentrar esse novo mundo e permitir a mensuração de importantes indicadores como: horário do medicamento, verificação de informações com relação aos pedidos médicos, ou seja, se tudo o que foi solicitado foi de fato executado, etc. Tenho, hoje, em minhas mãos informações precisas sobre questões assistenciais – e isso é de uma riqueza ímpar no apoio médico, no suporte à saúde e à segurança do paciente. Apesar disso, ainda não ultrapassamos esta segunda fase por completo, apesar de já iniciada a terceira fase, que envolve duas questões nevrálgicas: escalabilidade e interoperabilidade. Avançamos muito, mas ainda não de forma satisfatória em nenhuma das duas frentes.
Essa terceira etapa envolve, principalmente, lideranças da área da saúde – em especial uma atuação mais afiada do Ministério da Saúde. Já deveríamos ter o PEP estabelecido no Brasil há tempos e uma das minhas crenças pessoais é de que isso não aconteceu por questões técnicas: sempre que alguém assume a pasta, acontece algo que a impede de avançar.
Não ultrapassar essa fase significa, na prática, onerar enormemente o sistema de saúde, encarecendo, inclusive, o contexto privado, que passa a seguir os mesmos passos lentos e insuficientes do setor público.
A liderança aqui, no caso representada pelo Ministério, é fundamental e precisa agir com determinação, institucionalizando obrigatoriedades que abrangem a todos, entre elas posso citar que todo cidadão brasileiro deve ter o prontuário eletrônico, e todo sistema de saúde deve ser desenvolvido já considerando a interoperabilidade.
Podemos, enfim, falar sobre a quarta e última fase, que é adicionar mais inteligência e tecnologia aos processos, tornando-os ainda mais automatizados de forma a auxiliar médicos e profissionais da saúde em eficiência e assertividade. Por exemplo: já existe hoje uma tecnologia que permite ao usuário falar com um assistente virtual e este, por sua vez, realiza uma tarefa. Mas essa mesma tecnologia não pode ser usada pelo médico para prescrever medicamentos sob o risco de prescrição incorreta.
A tecnologia de voz poderia ir além e ser usada em cirurgias, por exemplo, onde o cirurgião poderia narrar o andamento de todo o processo por completo, para que ele seja prontamente adicionado ao PEP do paciente. Assim, quando finalizado o procedimento, depois de horas de cirurgia, o médico responsável não precisaria, então, perder outros tantos minutos preciosos de seu tempo fazendo o relatório cirúrgico, citando justamente tudo o que acabou de realizar, porque tal documento já estaria pronto.
Bastaria apenas assinar e está feito. Não seria maravilhoso? Eu digo que sim e duvido que alguém discordaria disso. As possibilidades são vastas, mas o fato é: todos falam das maravilhas da tecnologia, mas esquecem de que não temos o básico bem-feito, sem fragmentação, sem entraves.
Corrigir isso é importantíssimo para estabelecermos uma base sólida e continuarmos a caminhada. A quarta fase sequer iniciamos e está longe de ser concretizada. Fora a liderança engajada, também é preciso ter um propósito que abrace o coletivo e dê direcionamento. A meu ver, hospitais e demais instituições e players que compõem esse ecossistema devem abraçar essas questões primordiais que citei acima e ainda precisam ser alimentadas. Iniciativas como o Projeto de Lei 3814/20, em discussão no Congresso Nacional e cujo objetivo é levar a uma integração de dados na saúde e ao prontuário eletrônico único, é apenas uma das ferramentas que podemos considerar quando se trata de elaborar caminhos para o PEP ganhar ainda mais robustez e escala.
Parabenizo os envolvidos, que de toda e qualquer forma, participaram das primeiras fases desta transformação digital. Agora, acredito que o foco deva ser em olhar para o futuro, fomentando as próximas duas décadas em prol de articulações que possam, enfim, fazer jus à revolução que o PEP trouxe e ainda pode fazer pela saúde como um todo.
*Alceu Alves é vice-presidente da MV.
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Assessoria de Comunicação