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DESTAQUES
Em crise com Prefeitura, entidade que gere maternidades em Goiânia avalia “restrição de serviços” na próxima semana
Mãe de bebê que tem ‘meio coração’ pede ajuda para filho fazer cirurgia: ‘Ele não consegue esperar’
Mortalidade por câncer em adultos abaixo dos 50 anos aumentou 27,7%
A pediatria em conflito de interesses
Farmacêuticas vão questionar regras da ANS para incluir cobertura de terapias avançadas em planos de saúde
População médica no Brasil cresce, mas distribuição concentra profissionais nos grandes centros
UFMG: calculadora é capaz de estimar probabilidade de óbito para pacientes com febre amarela
As perspectivas do mercado de oncologia no Brasil
Artigo – Custos dos planos de saúde e Unimed Cuiabá
JORNAL OPÇÃO
Em crise com Prefeitura, entidade que gere maternidades em Goiânia avalia “restrição de serviços” na próxima semana
Fundahc cobra da SMS uma dívida de R$ 43 milhões por serviços prestados nas unidades de saúde
A Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (Fundahc/UFG) revelou nesta quarta-feira, 13, em entrevista coletiva, que poderá haver “restrição de serviços” nas maternidades de Goiânia a partir da próxima semana pela apontada dívida de R$ 43 milhões da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Prefeitura de Goiânia.
A instituição é responsável pela gestão do Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI), da Maternidade Nascer Cidadão (MNC) e do Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara (HMMCC). De acordo com a Fundahc/UFG, o valor devido é referente aos serviços prestados nas unidades nos últimos três meses.
Pela manhã, colaboradores da Maternidade Dona Iris fizeram protesto em frente ao local para cobrar o pagamento de salários, benefícios e férias. Nesta quarta, a Fundahc informou que a SMS fez o repasse de R$ 5 milhões, mas o montante foi suficiente apenas para pagar salário e outras despesas trabalhistas em atraso dos funcionários CLTs.
“Precisamos comunicar os órgãos fiscalizadores para que eles também tomem medidas necessárias diante dessa situação. Então, a partir de segunda-feira, se não houver nenhum repasse pela prefeitura, há a necessidade de restrição da oferta de serviço”, disse a diretora da Fundahc, Lucilene de Sousa.
É importante destacar que a gestora garantiu que serviços de urgência e emergência não serão impactados. A restrição fica apenas para serviços eletivos, como a colocação de um DIU, por exemplo.
“A falta dos repasses devidos causa risco de suspensão de serviços importantes para usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) que buscam as três maternidades de Goiânia, além de impactar negativamente a qualidade do atendimento”, consta em nota da Fundahc.
O Jornal Opção entrou em contato com a SMS para buscar um posicionamento da pasta, mas até a publicação da reportagem não obteve retorno. O espaço segue aberto para explicações da secretaria.
Detalhe da dívida
A Fundahc cobra da prefeitura notas em aberto de 2021 e 2022, além do repasse do convênio de julho e agosto deste ano, que somam R$ 40.590.443,80.
A instituição ainda afirmou que faltam R$ 2.722,458,45 referente a maio, que deveria ser pago em junho de 2023. “A Fundahc/UFG ainda aguarda, até o momento, a validação dos valores das contas a pagar em aberto, bem como o ajuste dos termos aditivos vigentes, conforme acordado em reunião no dia 27/07, quando proposta a criação de uma comissão para deliberar sobre o tema”, afirma a Fundahc.
De acordo com a instituição, o custo mensal para funcionamento do HDMI, de acordo com planos de trabalho vigente, é de R$ 6.985.123,43, enquanto do HMMCC e da MNC são R$ 10.372.357,11 e R$ 2.937.741,38, respectivamente. A soma de todas as despesas é de R$ 20.295.221,92.
“Não é possível tratar, na situação em que se encontra, de um repasse de apenas um oitavo daquilo que é devido nos últimos dois meses, que são esses R$ 5 milhões. Então, é preciso que haja uma atitude de fato que busque ajudar a resolver o problema”, destacou o vice-reitor da UFG, Jesiel Freitas.
Um dos pontos principais da dívida, segundo o diretor técnico, Dr. Rogério Cândido, é com relação a Pessoas Jurídicas (PJ), que prestam serviço para a unidade.
“Principalmente do ramo de alimentos, como horti-frutti, carnes e a parte médica também, higienização. Todos estão com atraso no pagamento desses prestadores”, informou. De acordo com ele, o serviço de lavanderia notificou as três maternidades que não prestaria o serviço por conta da dívida.
Insumos
Na terça, colaboradores da Maternidade Dona Iris denunciaram também a falta de insumos na unidade de saúde, além da falta de pagamento. “Um dia em que eu estava de plantão, um menino teve uma parada cardiorrespiratória e não tinha luva para atender. Tivemos que improvisar para esterilizar”, contou uma técnica de enfermagem.
“O pessoal da higienização entrou de greve anteriormente, porque também não estava recebendo, e o local ficou insalubre para se trabalhar. Até mosca apareceu na unidade”, completa.
Uma outra técnica de enfermagem denunciou que falta até material como “toalhas de papel para enxugar as mãos” no banheiro.
Do mesmo modo, Lucilene de Sousa confirmou a falta de itens nas maternidades e também citou alguns produtos que as unidades necessitam.
“Desde seringa e EPIs básicos, como máscaras e luvas. Falta de alimentos para as refeições dos usuários, insumos para exames como mamografia, equipamentos sem condição de funcionamento, já que não há recurso para manutenção”, revelou.
No HMDI e HMMCC, o diretor técnico informou que faltam cateter, luva, soro e alguns medicamentos como anestésico, relaxante muscular e outros que utilizam em UTIs.
Relembre o caso
Em meados de julho, a vereadora Kátia Maria (PT) fez declarações no Plenário da Câmara Municipal ao denunciar a situação nas maternidades.
“Lá na Nascer Cidadão, eles estão com estoque para fazer esterilização para atender por apenas três dias, significa que a semana que vem também fechará o atendimento e é muito grave, nós precisamos ter um posicionamento”, cobrou a parlamentar. “Célia Câmara não tem soda. Se uma mulher precisar fazer uma cesariana, eles não têm condições de atender”.
Com isso, as unidades hospitalares estariam funcionando de maneira parcial. Após as denúncias e agravamento da situação financeira no HMDI, na MNC e no HMMCC, a Prefeitura de Goiânia criou uma força-tarefa, após reunião de emergência, para uma “transferência imediata” de R$ 10 milhões restantes de parcela em aberto à Fundach/UFG.
Além da transferência dos valores, a prefeitura também definiu o reagendamento dos procedimentos eletivos pelas maternidades e destacou que “em momento algum houve interrupção da realização de partos e atendimentos de urgência e emergência.”
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PORTAL G1
Mãe de bebê que tem ‘meio coração’ pede ajuda para filho fazer cirurgia: ‘Ele não consegue esperar’
Vicente de Paula Pires foi diagnosticado com uma síndrome genética que faz com que o lado esquerdo o coração seja pouco desenvolvido. Ele passou por um procedimento aos 2 dias de vida, está na UTI e agora precisa fazer uma nova cirurgia.
Por Gabriela Macêdo, g1 Goiás
A mãe de um bebê que tem “meio coração”, Fabiane Silveira Pires, pede ajuda para tentar fazer uma cirurgia para o tratamento de uma doença raríssima: a Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico (SHCE) (entenda abaixo sobre a doença). Vicente de Paula Pires Rezende foi diagnosticado no pré-natal e fez um procedimento com 2 dias de vida. Agora, com quase 5 meses, a mãe explica que ele precisa passar por um segundo procedimento, mas o hospital afirmou que não faz esse tipo de cirurgia.
“A gente sabe das burocracias, dos entraves, mas ele não consegue esperar. Ele está dando sinais de que precisa fazer a cirurgia logo”, explicou a mãe.
Fabiane explicou que, até esta quarta-feira (13), o filho está internado na Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) se recuperando de uma virose. Ela contou que, na terça-feira (12), teve a resposta de que a unidade hospitalar não realizaria a próxima cirurgia lá.
“Disseram que não é que foi negado, só não vai acontecer no hospital. Eu acho que o que o hospital vai querer é mandar a gente para São Paulo, isso pode demorar e a demora não pode acontecer”, disse a mãe.
“Queremos que saia a cirurgia, independente de onde for”, completou.
Com a resposta, Fabiane diz temer que o filho não consiga esperar o procedimento, uma vez que o menino completa cinco meses nesta quinta-feira (14) e que, geralmente, essa cirurgia precisa ser feita até os seis meses de vida. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) informou que Vicente foi regulado para transferência ao Hugol para procedimento em cardiopediatria pelo fluxo de regulação de urgência e que no dia 1º de setembro a equipe médica do hospital informou a necessidade de uma segunda cirurgia.
“Em atenção à solicitação, a SES está em busca da vaga, tanto na rede assistencial SUS em nosso território, como também estão sendo feitas buscas em outras unidades de referência em cardiopediatria nas demais unidades da federação”, disse a Secretaria, em nota.
A SES ainda informou que, em consulta ao sistema, foi verificado que o procedimento que Vicente necessita, que é uma correção de hipoplasia de ventrículo esquerdo, é feito no Hospital da Criança, unidade privada vinculada à Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. Por isso, a secretaria fez um pedido de vaga para Vicente junto à regulação municipal para a transferência dele.
O g1 solicitou um posicionamento para a Prefeitura de Goiânia sobre a previsão de liberação de vaga e admissão de Vicente no sistema de regulação municipal e na unidade às 14h35 desta quarta-feira (13) e aguarda retorno.
Cirurgias
Vicente nasceu no dia 14 de abril, no Hospital Estadual da Mulher (Hemu), em Goiânia, com apenas 35 semanas e 5 dias. Devido ao baixo peso, tendo nascido com 2,8 kg, o menino precisou ser submetido ao chamado ‘procedimento híbrido’, com apenas 2 dias de vida. A cirurgia foi feita pelo Hugol com urgência em abril deste ano.
De acordo com o hospital, essa primeira cirurgia manteve a circulação do recém-nascido funcionando de forma semelhante ao que acontecia do útero da mãe. No procedimento híbrido foi realizada bandagem das artérias pulmonares, com objetivo de diminuir o fluxo de sangue para o pulmão.
Em seguida foi colocado um stent no canal arterial, que serve para manter o canal arterial aberto, fazendo com que o lado direito do coração leve o sangue, não só para o pulmão, mas para o resto do corpo.
Segundo a diretora do departamento de cardiologia pediatra da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Mirna de Sousa, Vicente foi um dos primeiros bebês a passar pelo procedimento híbrido pelo pelo SUS em Goiás que ficou muito bem.
“Junto com o Vicente, mais quatro [passaram pelo procedimento], completou”
De acordo com a mãe de Vicente, assim como o diagnóstico da doença, todo o acompanhamento do menino foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde antes do nascimento.
“Fiz todo o acompanhamento pelo SUS. Descobrimos que tinha algo errado com o coraçãozinho dele quando estava com umas 20 semanas de gestação”, contou Fabiane.
Síndrome do ‘meio coração’
Ao g1, o cirurgião cardiovascular Fernando Silverio explicou que a Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico (SHCE) é uma doença raríssima e que tem origem genética, ou seja, o bebê nasce com ela. A síndrome faz com que o lado esquerdo do coração, que é responsável por bombear sangue para o corpo inteiro, seja pouco desenvolvido. Apenas o lado direito, que “joga” sangue para o pulmão, funciona normalmente.
“Essa síndrome é incompatível com a vida se não for tratada. Se não for diagnosticada, pode morrer em 3 a 5 dias”, disse Fernando.
“Essa doença é uma das mais graves que tem e é tratada em três estágios paliativos. Não existe uma possibilidade de cirurgia corretiva”, completou Mirna.
“Se eu não estou jogando sangue no corpo, não vai sangue no cérebro e o cérebro morre, o corpo para, daí a gravidade da doença”, acrescentou o médico.
Ele também explicou que essa síndrome não tem cura, mas que as cirurgias, de caráter paliativo, precisam ser feitas para que o bebê ou a criança possa sobreviver.
“As cirurgias criam uma via alternativa para [o coração] jogar sangue para o resto do corpo. As cirugias vão transformar o lado do direito [do coração] para jogar o sangue para o pulmão e para o corpo inteiro”, detalhou.
O médico explicou que o procedimento híbrido, que foi feito em Vicente assim que ele nasceu, geralmente é realizado em pacientes que nascem com baixo peso – assim como no caso dele. Com a realização dessa cirurgia, as próximas precisariam ser feitas na faixa entre 5 e 6 meses e, depois, aos dois anos. Ainda há outra cirurgia que pode ser realizada a depender da necessidade, de acordo com exames.
Segundo Fernando, as cirurgias que são feitas depois do procedimento híbrido são de alta complexidade e demandam uma equipe altamente capacitada e treinada para fazer esse tipo de procedimento específico.
“Essa doença não ataca apenas o coração, ataca o coração e outras estruturas, como o cérebro. Tem que avaliar a criança como um todo. Necessita de acompanhamento multidisciplinar”, completou.
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MEDICINA S/A
Mortalidade por câncer em adultos abaixo dos 50 anos aumentou 27,7%
O câncer continua sendo uma doença mais comum em idosos, mas é alarmante o aumento de número de casos em adultos abaixo dos 50 anos, em especial na faixa dos 40 aos 49 anos. Estudo publicado em 5 de setembro na revista científica BMJ Oncology evidencia que a incidência global de câncer de início precoce (diagnóstico de câncer em pessoas adultas abaixo de 50 anos) aumentou 79,1% entre 1990 e 2019, saltando de 1,82 milhão para 3,26 milhões. A mortalidade no mesmo período aumentou em 27,7%, ultrapassando a marca de 1 milhão de mortes anuais nesta faixa etária. Os autores também projetam que até 2030 aumente em mais 30% a incidência e haja uma carga extra de 20% de mortes por câncer.
Em 2019, os cânceres abaixo dos 50 anos com maior mortalidade e taxas de anos de vida perdidos por inatividade (DALYs) foram os de mama, pulmão, estômago e colorretal. Ainda nesta faixa etária, a mortalidade por câncer renal e câncer de ovário apresentaram as tendências de crescimento mais rápidas, enquanto câncer de fígado apresentou o declínio mais acentuado. Os principais fatores de risco são a dieta, consumo de álcool e tabagismo (cigarro, incluindo todos os derivados do tabaco e cigarro eletrônico).
“A obesidade, alto consumo de açúcar e de carne vermelha e a inatividade física, tudo isso está começando muito cedo, na infância. Então, aos 40 anos, a pessoa já tem, por exemplo, 35 anos de exposição a estes fatores de risco. E se prevê um aumento de mais 30% nos próximos sete anos, então é um problema que está acontecendo e precisamos agir”, alerta o cirurgião oncológico Héber Salvador, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e titular do Núcleo de Abdômen do A.C. Camargo Cancer Center.
Diretriz de rastreamento
A SBCO acompanha a nova diretriz da American Cancer Society, que recomenda que pessoas com risco médio para câncer colorretal façam exames de triagem a partir dos 45 anos. “É uma mudança que, também adotada no Brasil, ajudaria a detectar precocemente este tipo de tumor, ainda mais que um pólipo, para evoluir para câncer, leva cerca de dez anos. A colonoscopia nesta faixa etária reduzia exponencialmente a incidência e mortalidade por este câncer”, ressalta Héber Salvador.
No Brasil, o rastreamento populacional preconizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), do Ministério da Saúde, indica a colonoscopia para pessoas que não têm histórico de câncer colorretal a partir dos 50 anos, com repetição a cada cinco anos. Para câncer de mama, o INCA recomenda também a partir dos 50 anos, com repetição bianual. Também seguindo as diretrizes internacionais, a SBCO, assim como outras sociedades médicas representativas no Brasil, entende ser importante a realização anual de mamografia a partir dos 40 anos para as mulheres sem histórico familiar ou pessoal. Nesses casos, a antecipação, assim como exames complementares, deve ser discutida individualmente com o médico. “Fundamental que os gestores de saúde pública avaliem, embasados nos estudos de custo-efetividade disponíveis, a possibilidade de antecipação do rastreamento de câncer de mama e colorretal, assim como introduza o rastreamento para câncer de pulmão com tomografia de baixa dose para a população tabagista. Além disso, que busque medidas para ampliar o acesso e adesão de exame de Papanicolau e vacina contra HPV, ações com potencial de eliminar o câncer de colo do útero”, acrescenta Héber Salvador, presidente da SBCO.
O estudo publicado na BMJ Oncology analisou 29 tipos de câncer, com base de dados de 204 países, incluindo o Brasil. Os autores são de institutos de pesquisa da China, Estados Unidos, Suécia, Reino Unido e Grécia. Os autores concluem que os dados sugerem ser necessário realizar estudos prospectivos de coorte ao longo da vida para explorar as etiologias (causas) dos cânceres de início precoce e cabe a cada país ajustar as suas estratégias de prevenção com base nas características epidemiológicas internas. Além disso, deve ser encorajado um estilo de vida saudável para reduzir a carga de doenças cancerígenas nesta faixa etária.
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O GLOBO
A pediatria em conflito de interesses
É incompreensível e, para mim, inaceitável, que sociedades de pediatria sigam insistindo em permitir que a indústria alimentícia, um setor produtivo que se ocupa, na sua imensa maioria, em viciar o paladar infantil e provocar o adoecimento de crianças (e adultos), seja patrocinadora de eventos para pediatras. A última notícia é a Nestlé patrocinando uma live para pediatras sobre prevenção da obesidade. É espantoso. O conflitos de interesse é tão evidente quanto grave.
Quando a Nestlé e outras empresas patrocinam eventos de Pediatria, estão conquistando a simpatia desse profissional, que tem uma tremenda autoridade junto às famílias. Isso é ciência básica de marketing, e funciona bem. Investimentos como esse geram recomendações ou até prescrições de papinhas com Neston ou Mucilon, farinhas refinadas açucaradas que são veneno para bebês. Multiplica receitas médicas de compostos lácteos açucarados e até “biscoitos saudáveis” para bebês, que preparam o terreno para a chegada da montanha de veneno que vem em seguida, na forma de iogurtes adoçados, achocolatados com 60 ou 70% de açúcar, biscoitos recheados, salgadinhos e refrigerantes. Sem falar no dano terrível que faz à amamentação (tema de colunas anteriores), facilitando a prescrição de fórmulas “se você estiver cansada”, “se você tiver pouco leite”, “se ela não estiver ganhando peso” – em vez de orientar ou encaminhar a um banco de leite ou consultora de amamentação (veja detalhes na série de colunas sobre amamentação, aqui publicadas).
A linha de produtos dessa empresa mostra uma dedicação ferrenha a PRODUZIR obesidade infantil (e de adulto também), e não prevenir, inundando a vida de nossas crianças com quantidade industriais de açúcar. Além de escravizar seu paladar de modo que ela se desinteresse de alimentos naturais e fique cada vez mais dependente de ultraprocessados.
O slogan principal da companhia é “Nestlé Faz Bem”. Está nos stands de todos os congressos de pediatria, em enormes letreiros. Mas há pouco vimos a notícia mostrando que, em documentos internos, a própria empresa admite que mais de 70% dos produtos alimentícios e 96% das bebidas (a exceção é do café puro) não são saudáveis.
Apesar disso, a a empresa se permite patrocinar um evento de PREVENÇÃO DA OBESIDADE. A razão é simples: dessa forma ela vai “limpando” sua imagem junto aos médicos e à sociedade. A gente esquece os documentos vazados, e com a ajuda das sociedades pediátricas (no caso a de São Paulo), simpatiza com a gigante suíça da alimentação (receitas de mais de US$ 100 bilhões anuais) e se rende aos seus venenos, oferecendo-os para nossas crianças, e aumentando seus lucros indecentes.
Sei que eventos precisam de patrocínio. Mas a verdade precisa ser dita: essa incoerência precisa ter fim. É possível encontrar formas mais éticas de conseguir recursos para eventos.
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Farmacêuticas vão questionar regras da ANS para incluir cobertura de terapias avançadas em planos de saúde
A indústria farmacêutica estuda um caminho – podendo chegar à Justiça – para questionar as regras divulgadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para avaliação de produtos de terapias avançadas a serem incluídos na lista (rol) de coberturas obrigatórias dos planos de saúde.
Essas terapias avançadas são produtos biológicos elaborados a partir de células de tecidos humanos e ácidos nucleicos recombinantes – aqueles que trazem moléculas de DNA ou RNA manipuladas em laboratório para combinar material genético de fontes diferentes.
São, em grande parte, medicamentos utilizados para tratar condições raras e também alguns tipos de câncer. É o caso do Zolgensma, o remédio mais caro do mundo, por exemplo, produzido pela Novartis, empregado no tratamento de bebês diagnosticados com atrofia muscular espinhal (AME) do tipo 1.
A doença degenerativa e hereditária impacta os neurônios motores, responsáveis por funções como respiração, deglutição e movimento.
– A ANS não está tratando como medicamento, o que de fato são. E isso não foi debatido com a indústria ou a sociedade. Outra coisa é que terapias medicamentosas injetáveis e de uso hospitalar não passam por essa avaliação da agência. É uma barreira – argumenta Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, entidade que reúne as farmacêuticas.
Avaliação regular A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela aprovação de novos medicamentos no país, classificou esses produtos como de terapia avançada, sendo medicamentos especiais.
Com isso, por terem uma natureza “complexa e inovadora”, a ANS avaliou ser “inadequado prescindir das etapas de avaliação técnica e de participação social” (com consulta ou audiência pública) utilizadas regularmente em processos de incorporação de novas tecnologias à cobertura dos planos de saúde.
– A avaliação técnica, que verifica fatores relativos a eficácia, segurança, disponibilidade na rede de atendimento e custo, é regra. A exceção é aquilo que é aprovado pela Conitec (que avalia a incorporação de tecnologias ao SUS), que é incorporado à saúde suplementar em 60 dias. Se recorrer, o Sindusfarma vai perder – explica Maria Stella Gregori, diretora do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon) e ex-diretora da ANS.
Ela reforça que esse custo não põe em xeque a saúde financeira das operadoras de saúde. Ainda que os gastos tenham subido e as margens dessas empresas estejam mais apertadas, Maria Stella frisa que é importante que os planos de saúde evoluam em questões administrativas e adotem programas de promoção de saúde e prevenção de doenças de forma eficiente para terem controle de sua operação e despesa.
Para Cassio Ide Alves, superintendente médico da Abramge, que reúne grandes operadoras de saúde no país, a medida da agência não constitui uma barreira aos medicamentos:
– Não é barreira. A ANS tomou uma medida correta, em linha com o que fez a Anvisa ao criar uma categoria diferenciada, de produto de terapia avançada – diz ele. – Não se está combatendo a tecnologia que é espetacular. Mas ela não pode entrar só pelo viés tecnológico e comercial. Tem de ter avaliação, rede disponível e acesso.
Embate sobre preços Maria Stella afirma que a ANS não tem o papel de vigiar os preços dos medicamentos, reconhecendo que muitos custam mais caro no Brasil do que em outros países:
– A agência tem de ver se as operadoras suportam o custo. Essas empresas visam o lucro, mas o importante é garantir que o consumidor tenha acesso a um serviço (em assistência médica) de qualidade.
O preço desses medicamentos e novas tecnologias, aponta Ana Carolina Navarrete, à frente do Programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), é central nesse debate.
– A indústria não justifica seus altos preços. Preço é diferente de custo. Existe a ilusão de que o mercado se autorregula. Mas a saúde privada acaba não sendo eficiente em acessar e distribuir saúde como se espera. E ela provoca a ANS por redução de preços. Nessa briga de gigantes, o consumidor sai perdendo – diz ela, destacando haver ainda riscos e custos relativos à judicialização.
No Brasil, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), vinculada à Anvisa, publica a tabela com o preço máximo dos medicamentos registrados no país.
A saúde suplementar questiona o preço com desconto oferecido ao SUS, enquanto os planos pagam o preço cheio.
– O Zolgensma (da Novartis) sai a cerca de R$ 4,5 milhões a dose inicial para o SUS, com pagamento parcelado anual e condicionado à resultado. Na saúde suplementar, sai a R$ 10 milhões, sem condicionantes – destaca Alves, da Abramge.
Possíveis soluções Mussolini, do Sindusfarma, explica tratar-se de uma questão de mercado:
– Os preços são diferentes porque o SUS compra um número muito maior, olhando para 160 milhões de brasileiros. É uma questão de mercado. E ainda há o preço para casos de judicialização. Mas as farmacêuticas negociam. Com escala, os preços podem cair.
Ana Carolina, do Idec, reforça que o setor precisa unir esforços e voltar as atenções para o debate sobre custos de medicamentos. Ela destaca que o projeto de lei 5.591/2020, que está em discussão, propõe a criação de critérios para definir o preço de entrada de novos medicamentos no mercado e a criação de um órgão na Cmed voltado para essa regulação.
– As soluções estão na mesa. As operadoras também poderiam fazer compras conjuntas. Mas é preciso debater, entender o custo, saber se o preço é justo. Ou a discussão será infrutífera, usando o consumidor, de um lado, para justificar o preço alto e, de outro, a negativa de cobertura – diz ela.
Procurada, a ANS não respondeu até a publicação desta reportagem.
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PORTAL BRASIL 61
População médica no Brasil cresce, mas distribuição concentra profissionais nos grandes centros
Somos 203 milhões de habitantes no Brasil, segundo dados do Censo 2022. Mais de meio milhão são médicos. 545.767 profissionais de saúde espalhados – de forma heterogênea – pelo país. Uma média de 2,69 médicos por 1000 habitantes, como mostra o estudo Nova Demografia Médica, publicado pela Faculdade de Medicina da USP e a Associação Médica Brasileira.
Em números absolutos, a pesquisa revela que alcançamos uma densidade médica semelhante à de países ricos, como Estados Unidos, Japão e Canadá. Mas quando olhamos a concentração desses profissionais, as discrepâncias são imensas. Segundo o estudo, enquanto a região Sudeste tem 3,62 médicos por 1000 habitantes, no Norte esse número é de 1,65 para cada 1000 pessoas.
A maior parte dos municípios do país – quase 70% – é de pequeno porte, ou seja, tem até 20 mil habitantes. Juntas, essas cidades somam 31,9 milhões de habitantes (15,8% da população brasileira), cidades onde trabalham só 16,7 mil médicos (2,8% do total de profissionais do país). Na outra ponta, 41 cidades com população maior de 500 mil habitantes são onde vivem 29% da população e 61,5% dos médicos estão nesses grandes centros.
Há 12 anos na presidência do sindicato dos médicos do DF Gutemberg Fialho acredita que faltam políticas públicas que sejam capazes de dispersar esses profissionais dos grandes centros.
“Os profissionais vão para o mercado de trabalho onde possam progredir, possam evoluir. Se a região é carente, não dá a mínima condição de trabalho, você tende a sair de lá ou tende a nem ir para lá. Então, nós precisamos criar condições para interiorizar os profissionais de todas as áreas. Temos que ter políticas públicas que os levem para os interiores, para os rincões. Enquanto não se fizer isso, os profissionais, naturalmente, vão procurar os grandes centros.”
Na divisão por unidades da federação, o DF lidera o ranking oferecendo 6,13 médicos para cada 1000 habitantes. Por outro lado o Maranhão tem apenas 1,17 médico por 1000 habitantes.
Mas mesmo dentro da unidade da federação com mais médicos por habitante ainda há abismos. Segundo o médico Gutemberg Fialho, apesar da alta densidade médica da capital do país, pacientes atendidos pelo SUS e pela rede privada vivem realidades paradoxais.
“A deficiência de médicos aqui é no serviço público, não porque não tenham médicos na cidade, no DF, não tem médico no serviço público. Por várias razões, primeiro: o quantitativo de médicos se aposentando, o quantitativo de médicos pedindo retração de 40 para 20 horas – e não tem concurso público que atraia o médico para trabalhar na Secretaria de Saúde.”
Para o coordenador do estudo e professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Scheffer, a falta de médicos no SUS pode estar relacionada à falta de especialização dos profissionais.
“No caso dos especialistas há uma maior concentração de especialidades médicas nos serviços privados. Portanto, hoje faltam especialistas para atender não só municípios historicamente desassistidos, mas também para atender a rede pública, mesmo nos grandes centros. A falta de especialistas é um dos motivos das filas em consultas, exames e cirurgias e do longo tempo de espera no SUS para a realização desses procedimentos.”
12 anos e o dobro de médicos
Outro dado do estudo mostra que em 22 anos – de 2000 a 2022 – o número de médicos mais do que dobrou no Brasil: passou de 1,41 para 2,69 médicos por 1.000 habitantes. Enquanto isso, nos últimos 12 anos a população brasileira cresceu 6,5%, o que mostra uma desaceleração. Mas a população de médicos, nesse mesmo período, teve um aumento de 225.290 profissionais, um crescimento de 70,3% em pouco mais de uma década. O que pode ser atribuído, segundo o estudo, à oferta de vagas nas faculdades de medicina de todo o país.
” É a primeira vez que a região Nordeste tem mais de dois médicos por mil habitantes, isso é uma consequência direta da abertura de novos cursos e da ampliação de vagas de graduação de medicina. E o Brasil, com isso, contará com mais de um milhão de médicos em pouco mais de 10 anos. O grande desafio vai ser fazer com que esses profissionais sejam bem formados e que eles estejam, de fato, nos locais e nos serviços de saúde onde a população mais precisa.”
Enquanto o número de médicos é de 2,69 por 1000 habitantes o de especialistas cai para 1,58 (médico especialista por 1.000 habitantes). E o estudo ainda mostra que todas as especialidades são distribuídas de forma desigual entre as unidades da Federação.
Das 55 especialidades médicas reconhecidas, algumas das maiores demandas são por anestesistas e cirurgiões.
O DF tem seis vezes mais cirurgiões que o Pará, por exemplo. Enquanto no primeiro são 60,84 por 1000 habitantes, no estado do Norte esse número cai para 10,46. Na Atenção Primária, a especialidade de Medicina de Família e Comunidade tem 5,54 médicos para 100 mil habitantes, o que já representa um número muito abaixo da demanda, sobretudo em regiões mais carentes. E 15 estados ainda estão abaixo dessa média.
Da graduação à residência
Enquanto de um lado aumentam as ofertas de vagas nas faculdades de medicina de todo o país, o estudo mostra que as oportunidades de residência médica não acompanham esse crescimento. Segundo o último Censo da Educação Superior, divulgado em 2021, são 365 escolas médicas ativas no Brasil onde estão matriculados mais de 220 mil alunos.
Na graduação o Brasil tem 1,05 estudante por 1.000 habitantes, na residência médica, os números são bem menores: 0,21 médico residente por 1.000 habitantes.
O que preocupa o coordenador da pesquisa é o fato de que o Brasil está envelhecendo. Com isso, doenças crônicas como diabetes, hipertensão e obesidade – que são as que mais matam no mundo – vão demandar um número cada vez maior de médicos especialistas.
“Precisamos garantir a qualidade da formação da graduação e, ao mesmo tempo, expandir a capacidade de formar médicos especialistas depois de graduados. Se nada for feito, possivelmente, além da má distribuição dos médicos especialistas hoje existentes, em curto prazo poderão faltar médicos especialistas no Brasil.”
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HOJE EM DIA
UFMG: calculadora é capaz de estimar probabilidade de óbito para pacientes com febre amarela
Uma calculadora em desenvolvimento na Faculdade de Medicina da UFMG é capaz de estimar a probabilidade de óbito para pacientes com febre amarela. O aparelho utiliza um modelo matemático com as informações laboratoriais do doente. A tecnologia é essencial para definir os tratamentos mais adequados, aponta tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e Oftalmologia.
Autora do estudo, a pesquisadora Carolina Lins reforça que os cálculos auxiliam o médico na tomada de decisão. As informações do paciente, como idade e os exames ajudam a calculadora a gerar uma porcentagem, alertando o médico sobre o prognóstico. “Surgiu a necessidade de algo que determinasse a tomada de decisão, se for necessário o transplante de fígado, qual o paciente e quando será feito”, acrescenta.
O trabalho foi feito por análise dos prontuários de 273 pacientes do Hospital Eduardo de Menezes em 2017, buscando entender quais eram os fatores compartilhados pelos doentes que evoluíram mal. Os resultados da pesquisa serão publicados nas próximas semanas e fazem parte do doutorado de Carolina Lins, orientado pela professora Wanessa Trindade Clemente.
O modelo matemático será testado em outras regiões para validação, uma vez que os dados utilizados são de casos exclusivamente de Minas.
Febre amarela
A febre amarela é uma doença viral aguda, transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, atingindo principalmente o fígado e causando uma insuficiência hepática. O vírus circula no ambiente silvestre.
Há cinco anos, Minas ficou em alerta máximo contra a febre amarela. Foram mais de 80 mortes entre julho de 2017 e junho de 2018.
“A cobertura vacinal era muito baixa na época, e essa é a única forma de prevenir a doença, que a princípio não tem tratamento”, aponta a pesquisadora.
Atualmente, a vacina é produzida no Brasil, indicada em todo território brasileiro para aqueles com mais de nove meses, de forma gratuita. Segundo a doutora, em vários casos as pessoas tomavam a vacina tardiamente, isto é, muitas vezes já estavam infectadas quando buscavam a primeira dose. “Ela tem um tempo de 10 dias para se tornar imunizada após a vacinação. Após o surto de 2017 a imunização aumentou e milhares de doses foram aplicadas”, conta.
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SAÚDE BUSINESS
As perspectivas do mercado de oncologia no Brasil
Para cada ano do triênio 2023-2025, segundo a publicação Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil, produzida pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), são esperados 704 mil casos novos da doença no país, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência de casos.
No triênio 2020-2022, eram esperados 625 mil novos casos de câncer por ano no Brasil, ou seja, com a nova estimativa, a cada ano serão registrados 79 mil casos a mais. As respostas para esse aumento, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, podem estar, além de no próprio envelhecimento natural da população, nos hábitos de vida pouco saudáveis, como o consumo de tabaco e de álcool, dieta desequilibrada e sedentarismo, que são fatores de risco para a doença em todo o mundo.
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Nas leis de mercado, a alta demanda por um serviço significa ampliação de oferta e, oportunidade de receita para as empresas. Um relatório do Itaú BBA, apontou que em 2021, o ticket médio de um paciente de um tratamento oncológico era de R$ 138 mil.
Daí os altos investimentos vistos nos últimos anos no segmento. Só em 2022, a Dasa investiu R$ 420 milhões, na área que soma hospitais e oncologia. No segundo trimestre de 2023, o resultado do segmento oncológico representou um crescimento de 36% em relação ao mesmo período do ano passado na empresa.
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Na Rede D’Or, no relatório divulgado, a receita acumulada no primeiro semestre na área é de R$ 1,3 bilhão, um incremento de 21,3% em relação ao mesmo período no ano passado. A Oncoclínicas comemorou, nesse período, a expansão de 31% do faturamento orgânico da companhia.
Impacto nos custos
Paralelamente a esse aumento no número de pessoas diagnosticadas, crescem também os investimentos em novas ferramentas diagnósticas e em novos tratamentos, cada vez mais eficientes e com menos efeitos colaterais, porém, com custos cada vez maiores para a saúde pública e privada.
O estudo “Quanto custa o câncer?”, produzido em uma parceria entre o Observatório de Oncologia, o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e o Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, apontou que, nos últimos quatro anos, aumentou em 400% o custo médio dos procedimentos de tratamento da doença, como a quimioterapia, radioterapia e imunoterapia.
Para Nina Melo, coordenadora do estudo e também coordenadora sênior de pesquisa da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), esse aumento pode encontrar resposta em duas hipóteses. “A primeira é a incorporação de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS), com moléculas mais avançadas e, consequentemente, mais caras. E a segunda, a mais preocupante, é o aumento no número de diagnósticos avançados, o que eleva o custo do tratamento do câncer por exigir mais linhas de tratamento, mais intervenções e intercorrências como internação, por exemplo.”
Só em 2022, os gastos com o tratamento do câncer no SUS foram de R$ 4 bilhões, o que representou 3% dos recursos totais destinados à saúde no Brasil. Neste valor estão incluídos procedimentos ambulatoriais, internações e cirurgias, e também as terapias inovadoras incorporadas ao SUS nos últimos anos.
“No entanto, há muitas outras coisas que ainda poderiam ser incorporadas, pois para alguns tipos de câncer, o tratamento no sistema público ainda é muito diferente do tratamento do sistema suplementar, como é o caso do mieloma múltiplo, por exemplo. Por outro lado, há que se pensar na sustentabilidade do sistema como um todo. Essa é uma discussão complexa que não pode ser pautada apenas por um estudo. Os gastos com câncer vão muito além de R$ 4 bilhões, pois envolvem promoção e prevenção, cuidados paliativos e reabilitação, por isso não podemos afirmar se este valor atende à demanda atual”, explica Nina.
Segundo estimativas publicadas recentemente no Jama Oncology, a expectativa é que sejam gastos com tratamentos oncológicos mais de US$ 25 trilhões, até 2050, em 204 países. No Brasil, o Inca estima que, até 2040, o gasto do SUS com os vários tipos de câncer chegarão a quase R$ 8 bilhões. “A tendência de aumento nos gastos com a doença é global, já que a incidência por câncer vem aumentando em todo o mundo. Para que essas projeções e demanda futura não impactem o sistema, é possível que haja ações coordenadas e um plano de enfrentamento do câncer, levando em conta todas as especificidades regionais e financeiras que existem no Brasil”, avalia Nina.
Como manter a sustentabilidade do sistema de saúde
O investimento em prevenção, principalmente na secundária, na opinião de Nina, pode ajudar a gerar economia ao sistema de saúde e mais qualidade de vida ao paciente. “Investindo em prevenção, por meio do rastreamento, temos a possibilidade de aumentar os diagnósticos precoces que vão não só trazer uma economia para o sistema, mas aumentar as chances de cura e qualidade de vida do paciente, fazendo com que ele continue ativo e contribuindo economicamente para a sociedade.”
Além da prevenção, Nina aponta, de maneira direta, como manter o sistema de saúde sustentável: sendo custo-efetivo. “Se, ao se agregar o custo da incorporação de uma nova tecnologia isso leva a um desfecho clínico superior, acredito que essa opção deva ser avaliada. E quando me refiro a desfecho, estou falando de desfechos oncológicos ou não oncológicos. Se tenho à disposição uma tecnologia que reduza as taxas de complicações durante a jornada terapêutica de determinada neoplasia, e isso leva a uma menor taxa de reinternações ou necessidade de procedimentos adicionais posteriores, a estratégia pode se mostrar custo-efetiva. Acho que estamos preparados para uma discussão mais abrangente, inclusive avaliando o que já temos incorporado, para definir se, de fato, faz sentido uma nova tecnologia. Ainda existe muito desperdício na oncologia.”
Importância da prevenção
Prevenção e promoção à saúde são alguns dos pilares da SulAmérica Saúde. “A prevenção inclui desde a incorporação de hábitos saudáveis até o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) para funções que tenham contato com substâncias carcinogênicas, como é o caso do agrotóxico, por exemplo”, comenta Tereza. “Em relação a isso, a SulAmérica faz diversas campanhas para que os beneficiários procurem incluir práticas mais saudáveis no seu dia a dia. Essa também é uma recomendação médica em todas as consultas”, explica Tereza Veloso, diretora técnica de Operações e Rede Credenciada.
No que se refere a diagnóstico precoce, a operadora atua em duas frentes: na conscientização dos beneficiários e na qualificação da rede sobre a importância de realizar os exames de rastreamento como mamografia, Papanicolau, PSA, entre outros.
Na opinião de Tereza, é preciso, além de investir em prevenção e promoção à saúde, também racionalizar o uso de medicamentos para pacientes em cuidados paliativos e ampliar as campanhas que alertam sobre o uso consciente do sistema de saúde suplementar, evitando fraudes e desperdícios.
A SulAmérica também tem feito uso de tecnologias, como inteligência artificial e big data, na jornada do paciente dentro do sistema para identificar casos em que é possível atuar precocemente por meio da análise dos diagnósticos. Essa iniciativa só é possível com o consentimento do beneficiário, respeitando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Investimentos em parcerias
Diante desse quadro de aumento no número de casos da doença e dos custos cada vez mais elevados de tratamento, grandes grupos de medicina e saúde têm se unido em parcerias focadas em serviços oncológicos.
No ano passado, A BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo -, o Grupo Bradesco Seguros e o Grupo Fleury anunciaram a criação de uma companhia dedicada a esse segmento. O objetivo é ser um serviço de referência em rastreamento, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação.
A nova empresa, que deverá contar com clínicas e câncer centers em diferentes cidades do Brasil, tem como meta atuar de maneira disruptiva e fazer toda a trilha de acompanhamento do paciente, visando, além de proporcionar a melhor assistência, entregar um modelo de excelência na coordenação de cuidado em toda a jornada do paciente. Isso, espera-se, contribuirá com a sustentabilidade do sistema de saúde em virtude da melhor utilização dos recursos disponíveis, viabilizando um modelo de custos adequados.
O papel da medicina diagnóstica no futuro do tratamento oncológico
Com terapias cada vez mais personalizadas e tecnológicas, bem como a necessidade de investimentos contínuos em pesquisa e tratamentos, um dos maiores desafios da oncologia está na democratização do acesso. Encontrar maneiras de prover a melhor jornada de cuidados para o paciente com câncer é uma das principais necessidades para o setor.
“O rastreamento preventivo orientado por critérios clínicos ainda é o que temos de melhor e mais acessível para o diagnóstico de alguns tumores de elevada incidência, como mama e próstata, em sua fase inicial. Os testes genéticos também são grandes aliados para a identificação precoce do câncer, pois analisam o DNA a partir de amostras de sangue ou saliva em busca de alterações genéticas hereditárias que aumentam o risco para determinados tipos de câncer. Além do diagnóstico preditivo, exames genéticos do DNA tumoral também ajudam na identificação do melhor tratamento, dado que as novas terapias, em geral, têm alvos moleculares específicos que são identificados por esses testes”, explica Edgar Gil Rizzatti, presidente de Unidades de Negócios Médico, Técnico, de Hospitais e Novos Elos do Grupo Fleury.
Essas inovações diagnósticas podem auxiliar na estratificação de risco hereditário para determinados tipos de câncer em fases cada vez mais precoces, no estadiamento do tumor e na estratificação de risco do paciente, e no direcionamento do tratamento. Tudo isso de maneira cada vez menos invasiva.
“A biópsia líquida é um bom exemplo disso, pois se trata de um método com alta eficácia, realizado por meio uma amostra de sangue, sem necessidade de biópsia do tumor. Esse exame, totalmente não invasivo, permite a análise de diferentes genes e variantes em frações diminutas do DNA tumoral circulante, quase sempre presente.”
Outra inovação apontada por Rizzatti é o Oncofoco, um exame direcionado a pacientes oncológicos que necessitam de uma alternativa terapêutica. Por meio de algoritmos de inteligência
artificial, o Oncofoco avalia as alterações existentes em 421 genes e regiões de fusões de 50 genes, gerando, em poucos segundos, um relatório com dados de ensaios clínicos presentes na literatura médica mundial e uma lista de medicamentos ou tratamentos que podem responder às alterações genômicas encontradas no tumor sob avaliação.
Rizzatti destaca ainda que um dos maiores desafios em relação aos métodos diagnósticos mais modernos está na incorporação das novas tecnologias que estão surgindo e, paralelamente a isso, buscar a democratização do acesso.
“Em alguns casos, os novos testes de vanguarda passam por etapas de análise fora do Brasil, o que torna mais elevado tanto o custo quanto o prazo de liberação dos resultados, um aspecto crítico em oncologia. Temos buscado maneiras de reduzir custos e prazos, seja pela internalização desses testes que inicialmente são feitos fora do país, seja por meio de parcerias com diferentes entes da cadeia de saúde, com o objetivo de ampliar o acesso e beneficiar mais pacientes.”
Para o futuro, ele avalia que a medicina será cada vez mais personalizada e integrada, com foco no melhor desfecho clínico para o paciente. “A construção dessas soluções integradas passa por quatro etapas que personalizam a jornada do paciente e entregam uma experiência melhor e mais eficiente na utilização dos recursos de saúde: entender a necessidade, desenhar a solução, engajar o paciente e escalar e produtizar (elaborar soluções e facilitar a transição entre as etapas). No Grupo Fleury, olhamos para todo o processo, desde o rastreamento, passando pelo diagnóstico, estadiamento e acompanhamento”, conclui Rizzatti.
Perspectivas para o futuro da oncologia
Nina acredita ser possível equilibrar o melhor resultado ao paciente, os custos com as novas tecnologias e os custos em saúde de maneira sustentável. “Tudo faz parte de uma cadeia, na qual se precisa caminhar de forma coordenada. É muito simples: se o recurso é um só e eu prevaleço uma área ou alguns, automaticamente a outra vai ficar deficiente. Os processos de incorporação no Brasil hoje já levam em conta a questão de custo-efetividade, mas, ainda assim, nem tudo o que é de fato incorporado chega até o paciente. Em um sistema universal como o nosso é difícil gerir esse financiamento versus a demanda, por isso, todos temos responsabilidade na gestão deste recurso, que é finito. Atualmente, temos tido custos exorbitantes com judicialização, por exemplo. Por isso, executivo, legislativo e judiciário precisam caminhar juntos em um plano que vise trazer esse equilíbrio.”
O aumento progressivo e desenfreado dos custos na cadeia da assistência oncológica é um problema sério e sistêmico, na opinião do Dr. Walter Henriques da Costa, oncologista do A.C. Camargo Cancer Center. “A incorporação de novas tecnologias e medicamentos, associada à ineficácia da gestão na área da saúde, tornam o sistema injusto (já que premia os excessos e o desperdício) e insustentável do ponto de vista econômico. No A.C. Camargo Cancer Center, nos sentimos preparados para sermos protagonistas na transição de remuneração baseada em produtividade para remuneração baseada em valor. Estruturamos nosso Escritório de Valor com o intuito de, entre outros temas, gerar indicadores de custo-efetividade e de estruturação de jornadas e protocolos clínicos que possam ajudar na elaboração de bundles. Estamos seguros de que conseguimos entregar valor em oncologia associado a um custo bastante competitivo frente ao mercado.”
O que norteias as opções terapêuticas da instituição são protocolos clínicos desenhados pelo corpo de especialistas e baseados em evidência presentes em literatura médica. Ele também pontua que o desejo do paciente e família deve ser levado em consideração no momento da decisão do tratamento, desde que esteja amparado em um claro benefício clínico presente em estudos científicos e cujo custo adicionado à jornada clínica seja razoável.
Tereza, da SulAmérica, também destaca a aplicação de protocolos clínicos com fortes evidências de efetividade como fundamental para uma boa gestão financeira. Ela cita como exemplo os investimentos em um dos hospitais credenciados da rede, da Rede D’Or, que investiu recentemente R$ 80 milhões em um laboratório de patologia molecular com alguns equipamentos únicos na América Latina, em que é possível analisar o código genético do tumor dos pacientes, orientando para um tratamento mais assertivo. “Com isso, conseguimos proporcionar tratamentos mais rápidos e personalizados. A otimização e a precisão da jornada do paciente contribuem para a sustentabilidade do sistema.”
Dr. Costa, acredita que, para o futuro, o foco da terapia oncológica esteja voltado mais para a manutenção da qualidade de vida pós-tratamento e a redução das potenciais sequelas relacionadas ao tratamento. “Buscamos a resposta oncológica, sem dúvida, mas a que preço? Dentro da estrutura do nosso Escritório de Valor, temos nos dedicado a esse tema, com coletas periódicas e protocolares de questionários de qualidade de vida pós-tratamento oncológico. Estamos focando nos PROMs (do inglês, Patient Related Outcome Measures; em português, medidas de desfecho relatadas pelo paciente) para poder entender e contribuir com essa discussão de uma forma mais ampla.”
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Artigo – Custos dos planos de saúde e Unimed Cuiabá
Os clientes da Unimed de Cuiabá e região foram surpreendidos, este ano, com a notícia de que a operadora está numa situação financeira grave. Esta informação deixou profissionais cooperados da entidade, usuários do plano e, todo Os clientes da Unimed de Cuiabá e região foram surpreendidos, este ano, com a notícia de que a operadora está numa situação financeira grave. Esta informação deixou profissionais cooperados da entidade, usuários do plano e, todo “time” da empresa preocupados. A situação está no holofote da Agência Nacional de Saúde (ANS), órgão regulamentador das operadoras de planos de saúde, que decretou Direção Fiscal para acompanhar as decisões da atual gestão, mas principalmente, garantir que os usuários não sejam prejudicados.
No entanto, o cenário da operadora em questão, não está muito diferente do restante do mercado de planos de saúde que vive seu pior momento. Em 2022 houve o maior prejuízo operacional já registrado desde que o mercado de saúde privada foi implantado no Brasil. E claro, quem sente os percalços dessa situação é o consumidor.
E quem utiliza os serviços são os mais impactados por vários fatores e, ainda pagam reajustes altos. Em alguns casos, o aumento chega a 23%. Tudo isso, mais a atualização da tarifa por idade. Para muitas famílias começou a ficar difícil manter um plano de saúde razoável no orçamento.
Mas, infelizmente, um dos impactos nesse cenário tão ruim, ainda são as fraudes. De acordo com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), elas representam em torno de 19%, ou seja, cerca de R$ 27 milhões do orçamento da saúde privada está se esvaindo em fraudes.
De acordo com os dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), apenas no 1º semestre de 2021, os valores de fraudes comprovadas chegam a R$ 349,3 milhões. Em 2022, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), por sua vez, denunciou um esquema que movimentou mais de R$ 40 milhões baseado em empresas de fachada, “beneficiários-laranjas” e até falsos prestadores de serviços médicos.
Aliado a isso, inclui-se ainda novos custos assistenciais nos planos de saúde advindos de tecnologias novas e tratamentos médicos cada vez mais avançados. Isto aumenta as solicitações de procedimentos obrigatórios ou deixam margem para que sejam cumpridos, sem que a operadora tenha muito como prever frequência e custos destes procedimentos, de forma antecipada.
Mas afinal, o que você consumidor e profissional tem a ver com isso? Você que não frauda, é atingido no bolso e na experiência: planos de saúde mais caros, processos de liberação de procedimentos burocráticos, pagamentos aos prestadores de serviço e reembolsos aos usuários que se tornam cada vez mais morosos. A demora de resposta em qualquer outra demanda está cada vez maior em função do enxugamento dos custos.
Uso consciente também abre espaço para descontos no seu plano, mesmo em cenários ruins como este. Nessa hora é importante ter profissionais que te auxiliem na dinâmica da regulamentação como um todo. É importante ter a orientação para que se tenha um plano de saúde que caiba no orçamento e, também, para auxiliar no trâmite junto às operadoras.
Lovani Goreti Zerwes Silva é head de Seguros e Saúde da Ouro Seguros e Investimentos
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Assessoria de Comunicação