ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
É preciso preparar o mundo para a próxima pandemia
Opinião – Gustavo Ribeiro: É preciso racionalizar o debate sobre planos de saúde
Em Goiânia, Congresso Nacional de Telemedicina e Telessaúde destaca inovações tecnológicas
Goiás atinge a marca de 110 mortes por dengue em 2024
Uma radiografia da saúde pública no Brasil
O GLOBO
É preciso preparar o mundo para a próxima pandemia
Reunião da OMS em Genebra apresentará agenda para evitar repetir erros do combate à Covid-19
A Organização Mundial da Saúde (OMS) deverá se reunir no mês que vem em Genebra com o objetivo de formular um pacto global para que, na próxima pandemia, não se repitam os erros cometidos na última. O balanço da experiência mundial no enfrentamento da Covid-19 é negativo: falta de medicamentos e vacinas para todos, descoordenação entre países e atrasos contumazes, com um saldo oficial de 7 milhões de mortos (embora se saiba que o impacto do coronavírus tenha resultado em mais de 25 milhões de vidas perdidas).
Para fundamentar as discussões, a mobilizou um grupo que, durante oito meses, auditou o comportamento dos países e da própria organização. Um resumo desse trabalho, publicado pelo jornal The Washington Post, registra que, apesar de anos de alerta sobre a ameaça inevitável de uma pandemia, não foram tomadas as medidas de precaução necessárias. O mundo não entrou em prontidão como deveria. “A preparação foi inconsistente e sem base. O sistema de alerta foi muito lento”, afirma o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
: As clínicas em Wuhan, cidade onde surgiram os primeiros casos da doença, foram rápidas em identificar uma pneumonia de origem desconhecida no final de dezembro de 2019. Mas, depois disso, a notificação formal demorou. Perdeu-se um tempo precioso. Se tivessem sido adotadas desde o início, medidas de isolamento poderiam ter evitado que a nova cepa de coronavírus se espalhasse.
Entre as propostas levadas a Genebra está a criação, pela OMS, de um novo sistema global de vigilância, usando modernas ferramentas digitais. A reunião também deverá deliberar sobre uma autorização para aivulgar informações sobre riscos de pandemias sem aprovação prévia dos governos.
Um ponto central é o acesso rápido de cientistas ao material recolhido de pacientes e aos locais onde são apontados os primeiros casos de uma nova doença em qualquer país. Pretende propor um acordo internacional para garantir que não se perca tempo em burocracias. “Doenças não respeitam fronteiras”, diz o Post. “Reter informações põe todo o mundo em risco.”
Quanto aos recursos, a ideia é criar um fundo global contra pandemias, constituído por doações proporcionais ao nível de desenvolvimento dos países. Esperam-se contribuições entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões por ano, de modo que, quando necessário, o fundo tenha recursos para desembolsar de US$ 50 bilhões a US$ 100 bilhões em apoio às emergências.
No campo do aprendizado positivo, é preciso registrar que as vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde. Mas faltou distribuí-las de forma mais equânime. Daí a proposta de que a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a tratem com produtores de imunizantes e seus países a cessão voluntária da tecnologia. Se não houver acordo num prazo de três meses, a proposta é abrir exceção com base na legislação sobre direito a propriedade intelectual, como no caso da quebra de patentes das drogas no combate ao HIV.
Os críticos afirmam que ela quer ser uma “polícia global da saúde pública”. Mas a pandemia de Covid-19 foi uma prova irrefutável da necessidade de coordenação global no combate às novas doenças. Ideologia e política não deveriam prejudicar o entendimento entre países para combaterem juntos ameaças à espécie humana.
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FOLHA DE S.PAULO
Opinião – Gustavo Ribeiro: É preciso racionalizar o debate sobre planos de saúde
Conclamamos a sociedade para um diálogo a favor do beneficiário e do sistema
Europa, início do século 17. O regime absolutista regia a vida dos indivíduos, alicerçado na base de dogmas e de imposições. O diálogo entre os grupos sociais era silenciado. As “convicções” barravam o progresso. O Velho Continente estaria fadado ao obscurantismo, não fosse a ciência e um novo contrato social.
Foi no auge do Iluminismo, no século 18, que Jean-Jacques Rousseau trouxe para a teoria a importância da articulação política entre os homens para a fundação de um ente para proteger a coletividade. Assim, cidadãos renunciaram a parte de seus direitos individuais e consentiram em favor desse novo ente resultante de um novo pacto social: o Estado, cuja finalidade é a busca do bem comum. Passados três séculos, resgatar os princípios do Iluminismo será crucial para que o sistema de saúde suplementar continue a operar de forma sustentável no Brasil.
O advogado Gustavo Ribeiro, novo presidente da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde)
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Fortalecer a articulação do setor com os demais agentes sociais em torno de uma agenda propositiva e baseada na ciência é um dos grandes desafios da gestão que assume a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) pelos próximos dois anos. Ao propor um novo pacto, nosso objetivo é o ampliar o acesso à saúde, desafogando e desonerando o SUS e garantindo a sustentabilidade do setor, que hoje responde por cerca de 6% do PIB.
Nos próximos dois anos, será preciso dar mais transparência a pontos nevrálgicos que regem a relação entre os operadores da saúde e a sociedade. Esclarecer que as mensalidades não são determinadas por suposta avidez de lucro, como acredita quem desconhece o negócio. A saúde suplementar não é elitista. Muito ao contrário, aumentar o acesso da população aos planos de saúde é uma das bandeiras do setor.
Mas há uma série de fatores que impactam os custos e que se traduzem em reajustes que visam reequilibrar o sistema. Entre os mais significativos, as fraudes e a judicialização indevida.
Essas questões precisam ser mais bem compreendida pelos beneficiários, pelos representantes eleitos e pelos julgadores. A falta de observância de pontos fundamentais dos contratos e da regulação acabam gerando efeito inverso ao pretendido, qual seja, a exclusão de grande número de pessoas do sistema privado e a consequente sobrecarga do sistema público.
Incorporar novas tecnologias no rol de procedimentos dos planos de saúde, por exemplo, tem custos e riscos. Decisões judiciais que determinem a inclusão da cobertura, sem análise do seu impacto e sua efetividade, afeta a todos os beneficiários. Isso acontece porque os planos funcionam na base de financiamento coletivo. O usuário não paga por aquilo que usa, mas pela segurança do sistema, que administra o montante de recursos de modo a atender a quem precisa.
Para lidar com esses desafios, temos de discutir a criação de um modelo de sanções e incentivos capaz de estimular o uso consciente do sistema. O benefício será coletivo; afinal, o Brasil de hoje é inimaginável sem a atuação desse setor, que, ao desafogar o sistema público, contribui para a sustentabilidade dele também.
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DIÁRIO DA MANHÃ
Em Goiânia, Congresso Nacional de Telemedicina e Telessaúde destaca inovações tecnológicas
Evento em Goiânia reúne especialistas para discutir o futuro da medicina digital
Na última sexta-feira (12/4), teve início o XI Congresso Nacional de Telemedicina e Telessaúde, no Centro de Convenções de Goiânia. O evento, que se estenderá até o dia 14 de abril, tem como foco principal a apresentação das mais recentes tecnologias aplicadas aos serviços de saúde. Uma exposição inovadora sobre o Césio-137 faz parte da programação diversificada do congresso.
Durante o evento, mais de 60 produtos de Inteligência de Negócios (IN) e Ciência de Dados estão sendo apresentados, destacando-se iniciativas como o Boletim do Paciente no Expresso Goiás, Arbo e Imuniza Goiás. Essas ferramentas têm como objetivo melhorar a administração e o atendimento na área da saúde, proporcionando agilidade nas ações, economia e controle de recursos aplicados, conforme explicou o secretário de Estado da Saúde de Goiás, Rasível Santos.
O presidente do congresso, Dr. Alexandre Chater Taleb, destacou a importância das novas tecnologias apresentadas, afirmando que representam um novo modo de cuidar que veio para ficar. Com avanços significativos na Telemedicina, especialmente após a pandemia, os participantes do congresso poderão conhecer soluções que permitem realizar exames de fundo de olho, ultrassom e análises dermatológicas remotamente, reduzindo custos e agilizando o atendimento.
Além das exposições e palestras, o evento marca o lançamento da versão bilíngue da fotorreportagem “A história do acidente radioativo em Goiânia – 37 anos”, que conta com depoimentos de fotógrafos que cobriram o evento.
A I Mostra de Saúde Digital, iniciada nesta sexta-feira às 9h, trouxe palestras de especialistas nacionais e internacionais, incluindo destaque para o “hackathon”, uma competição desafiadora organizada pela Hub Goiás, que estimula grupos multidisciplinares a desenvolverem soluções inovadoras para questões de saúde.
Durante o congresso, os participantes terão acesso a totens interativos para consultar o site “Inovação Saúde”, desenvolvido pela Superintendência de Tecnologia, Inovação e Saúde Digital da SES-GO. Além disso, uma sala de talk show abrigará discussões sobre temas relevantes da saúde digital, incluindo a experiência da Estônia apresentada por Tanel Tera, convidado internacional.
Durante o evento, mais de 60 produtos de Inteligência de Negócios (IN) e Ciência de Dados estão sendo apresentados, destacando-se iniciativas como o Boletim do Paciente no Expresso Goiás, Arbo e Imuniza Goiás. Essas ferramentas têm como objetivo melhorar a administração e o atendimento na área da saúde, proporcionando agilidade nas ações, economia e controle de recursos aplicados, conforme explicou o secretário de Estado da Saúde de Goiás, Rasivel Santos.
O presidente do congresso, Dr. Alexandre Chater Taleb, destacou a importância das novas tecnologias apresentadas, afirmando que representam um novo modo de cuidar que veio para ficar. Com avanços significativos na Telemedicina, especialmente após a pandemia, os participantes do congresso poderão conhecer soluções que permitem realizar exames de fundo de olho, ultrassom e análises dermatológicas remotamente, reduzindo custos e agilizando o atendimento.
Além das exposições e palestras, o evento marca o lançamento da versão bilíngue da fotorreportagem “A história do acidente radioativo em Goiânia – 37 anos”, que conta com depoimentos de fotógrafos que cobriram o evento.
A I Mostra de Saúde Digital, iniciada nesta sexta-feira às 9h, trouxe palestras de especialistas nacionais e internacionais, incluindo destaque para o “hackathon”, uma competição desafiadora organizada pela Hub Goiás, que estimula grupos multidisciplinares a desenvolverem soluções inovadoras para questões de saúde.Durante o congresso, os participantes terão acesso a totems interativos para consultar o site “Inovação Saúde”, desenvolvido pela Superintendência de Tecnologia, Inovação e Saúde Digital da SES-GO. Além disso, uma sala de talk show abrigará discussões sobre temas relevantes da saúde digital, incluindo a experiência da Estônia apresentada por Tanel Tera, convidado internacional.
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A REDAÇÃO
Goiás atinge a marca de 110 mortes por dengue em 2024
A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) confirmou o registro de 110 mortes por dengue neste ano no estado até o momento. As vítimas eram de diferentes faixas etárias e moravam em 42 municípios goianos. Conforme dados da SES, outros 142 óbitos suspeitos estão em investigação. Os municípios que registraram maior número de mortes pela doença são Anápolis (21), Luziânia (10), Valparaíso de Goiás (7) e Goiânia (6).
A superintendente de Vigilância em Saúde da SES, Flúvia Amorim, ressalta que o momento ainda é de preocupação. Só neste ano foram notificados 205.965 casos de dengue. No ano de 2023 houve 124.503 notificações da doença. As amostras analisadas no Laboratório Estadual Central de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen) indicam que 46,4% dos casos são pelo sorotipo 2, considerado o mais agressivo, e 52,8%, pelo sorotipo 1, menos grave.
A superintendente informa que os casos de dengue estão avançando, mas em ritmo menor, com tendência de desaceleração. Ela pondera que essa situação não significa despreocupação. “A população deve continuar eliminando de suas casas todo e qualquer material, utensílio ou dispositivo que acumula a água parada e que se transforma em criadouro do mosquito Aedes aegypti” enfatiza.
Vacinação
Flúvia Amorim alerta a população a vacinar crianças e adolescentes de 10 a 14 anos contra a dengue. O imunizante, que protege contra os quatro sorotipos da doença, está disponível em centros de saúde de todos os municípios goianos. A aplicação é feita em duas doses, no intervalo de três meses uma da outra. Goiás recebeu do Ministério da Saúde 158.505 doses, das quais 52% foram aplicadas. A superintendente relata que o Ministério da Saúde deve enviar novas remessas a serem usadas como segunda dose.
Até agora, a SES coordenou a instalação de 223 Gabinetes de Combate à Dengue nas secretarias municipais de saúde, nos hospitais e em unidades básicas de saúde. Essas estruturas são responsáveis por reunir informações sobre os casos da doença e dar o suporte necessário de insumos, soro e medicamentos para o tratamento célere dos pacientes.
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ESTADO DE MINAS
Uma radiografia da saúde pública no Brasil
Em “SUS: Uma biografia”, o médico Luiz Antonio Santini e o historiador Clóvis Bulcão se unem para dissecar o DNA do megassistema que universalizou o atendimento
Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi declarada pela Organização Mundial da Saúde uma pandemia. Em janeiro de 2021, a enfermeira Mônica Calazans seria a primeira pessoa vacinada no Brasil contra o novo coronavírus, no que se tornaria uma campanha de imunização em massa que, apesar dos percalços, estancou a mortalidade pela doença no país. Este ano, a proteção contra a dengue também começa a chegar em nível nacional aos primeiros grupos. A aplicação gratuita dessas e de outras vacinas só é possível graças à capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS), com ramificações em 5.570 municípios brasileiros.
Com o objetivo de apresentar as bases que fundaram essa megaestrutura, baseada na Constituição Federal de 1988, o médico e professor aposentado da Universidade Federal Fluminense Luiz Antonio Santini e o jornalista e historiador Clóvis Bulcão se uniram para registrar o histórico da saúde em “SUS: Uma Biografia – Lutas e Conquistas da Sociedade Brasileira”.
“Ao longo da história do Brasil, a saúde sempre foi um problema, excluindo boa parte da sociedade. Pela primeira vez, pessoas de diferentes extratos ideológicos começaram a colocar um tijolinho. (…) (O SUS) É um avanço civilizatório do qual eu acho que brasileiro moderno não tem consciência, por conta dos problemas de financiamento”, afirma Bulcão, sobre o que inspirou a empreitada.
Após a Segunda Guerra Mundial a saúde passou a ser considerada “direito universal”, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamada pela Organização das Nações Unidas, em 1948, aponta o livro, que prossegue relatando o cenário que antecedeu a ideia que deu origem ao SUS.
Antes da Revolução Cubana, em 1959, foram criadas organizações com o objetivo de melhorar a questão de saúde nas s, como a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 1902, com o apoio de fundações americanas.
Após a Revolução Cubana, o governo dos EUA buscou financiar desenvolvimento social, criando anos depois “a formulação de políticas públicas de saúde” para países membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). Um projeto tocado com recursos provenientes de grandes empresas americanas, como a Kellogg’s, Ford, Rockfeller e outras, segundo a obra.
Pajés e curandeiros
Antes e durante boa parte da colonização portuguesa, apontam os autores, os grandes encarregados de tratamentos de saúde no Brasil eram pajés e curandeiros que faziam uso da flora local e do conhecimento empírico acumulado pelos povos originários ao longo do tempo. Apesar deste ser o tipo de tratamento mais comum à época, o sistema Santa Casa de Misericórdia surgiu em 1543, a partir de Santos, chegando depois a outras cidades, como Salvador (1549), Rio de Janeiro (1567) e Porto Alegre (1803).
O ensino da medicina começa em 1808 na capital baiana, sendo seguido pela capital fluminense em data muito próxima, por ordem de dom João VI, que chegou ao Brasil com a corte portuguesa para escapar do avanço das tropas de Napoleão Bonaparte sobre as terras lusitanas. Contudo, o avanço dos estudos médicos no Brasil eram lentos: apenas em 1938 foram abertas 12 faculdades de medicina no país. No período, se formou o médico Oswaldo Cruz, responsável pela vacinação que acabou culminando na Revolta da Vacina, mas que ajudou no avanço sanitário do país, lembram os autores.
Com o passar do tempo, diante de guerras, pandemia de gripe espanhola e convivência com diversas doenças, a saúde passou a ser o centro das discussões no Brasil. Foi neste cenário que alguns médicos que viriam a contribuir com surgimento do SUS – como Sérgio Arouca, Hésio Cordeiro, José Saraiva Felipe, José Temporão, José Carvalho de Noronha, José Luís Fiori, Reinaldo Guimarães e o próprio autor do livro, Luiz Antonio Santini – começaram buscar soluções para os problemas sanitários que afetavam a população.
Os militares e a saúde
Em 1964, com o golpe de Estado que derrubou João Goulart e levou os militares ao poder, o Brasil enfrentava uma escalada de mortes por doenças transmissíveis, alta taxa de mortalidade infantil e tinha 18 milhões com males como varíola, malária, mal de chagas e esquistossomose, em uma população de 82 milhões de pessoas.
“A questão das doenças transmissíveis não estava restrita aos rincões mais isolados ou mais pobres do país. Acossava as grandes metrópoles. Em fevereiro de 1969, foram instalados em Belo Horizonte nove pontos de vacinação contra o sarampo (…). Na entrada da década de 1970, o Brasil era o único país da do Sul que continuava convivendo com surtos de varíola”, afirma Bulcão. Quando as enfermidades passaram a afetar a saúde de pessoas da alta sociedade, os militares passaram a encampar a questão sanitária como fundamental e, em 1973, por determinação do Ministério da Saúde foi criado o Programa de Imunização (PNI), visando combater varíola, rubéola e poliomielite.
Os comunistas e o Centrão
Três anos depois, médicos brasileiros, muitos deles ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), construíram o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). Como inspiração, afirma a obra, tinham figuras como o médico, sociólogo e historiador argentino Juan César García; o médico e sanitarista italiano Giovanni Berlinguer e seu irmão Enrico, que foram políticos pelo Partido Comunista Italiano (PCI); o psiquiatra Franco Basaglia; e até mesmo o filósofo francês Michel Foucalt.
Revolução e desigualdade
Essa corrente buscava a aplicação de um sistema de saúde universal. Anos depois, com a redemocratização e a Assembleia Constituinte, em 1988, entre derrotas e vitórias, foi aprovada a criação do SUS. Um dos poucos parlamentares a se posicionarem contrários à proposta foi o ex-deputado federal Roberto Jefferson, preso recentemente por ter atirado contra policiais federais.
“O Centrão, na constituinte, comprou a ideia de se fazer o SUS. Figuras como Roberto Jefferson são contra, por achar que a saúde não tem nada a ver com o Estado, é uma questão privada”, relatou o historiador Clóvis Bulcão.
Na época, o deputado constituinte Eduardo Jorge afirmou que “a luta maior era pelo direito universal da saúde no Brasil, garantido por uma estrutura pública. Essa estrutura pública não significa ser estatal, mas combinando com os setores filantrópicos, de medicina lucrativa e pública. O fundamental era o universal, para todas e todos, para 100% dos brasileiros. Uma revolução no país mais desigual do mundo”
Na entrevista a seguir, os autores de “SUS: Uma Biografia” dão detalhes sobre essa revolução. Confira os principais trechos.
Como era o panorama da saúde antes do SUS e qual é a importância desse sistema no Brasil?
Luiz Antonio Santini: O Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), em Niterói, recebia uma demanda muito forte do interior do estado do Rio de Janeiro e muitas vezes atendia com dificuldade, precariedade. Isso me despertou. Eu era uma pessoa politicamente participativa, tinha participado de movimento estudantil, do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Isso me aproximou de movimentos que nos anos 1970 estavam se articulando na busca da melhoria de uma saúde pública no Brasil. Minha aproximação veio pelas dificuldades que, como médico do hospital universitário, encontrava no atendimento a população. (O objetivo do livro) foi contar a história de como o processo da medicina e da saúde pública no Brasil se desenvolveu.
Clóvis Bulcão: Antes do SUS, havia 40 milhões de brasileiros que, quando caíam doentes, não tinham acesso a nada.(…) Hoje, quando se anda pelas cidades brasileiras, é possível ver pessoas em situação de rua com próteses, grades de quem operou o fêmur, morador de rua que foi atendido numa UPA… Antes da Constituinte, essas pessoas chegariam ao pronto-socorro e não seriam atendidas.
O SUS é responsável pela aplicação de uma série de vacinas nas cidades brasileiras. Como foi a construção da ideia de imunização da população e como essa queda das taxas de imunização é vista hoje?
Bulcão: Quem criou o Plano de Imunizações (PNI), que agora está vacinando contra a dengue e vai retomar a vacina contra a gripe para idosos, foram os militares. Eles tinham consciência de que isso era importante. Foi um legado do governo militar. Quem tentou destruí-lo foi um governo em que se falava “meu exército”. (…) O PNI foi um orgulho do governo militar, que agora ficam questionando. Esses números (de vacinação) já vinham em queda, porque começaram a circular informações, e nós importamos essa ideia da Europa e dos Estados Unidos, de que a vacina do sarampo causa autismo. Brasileiro sempre gostou de se vacinar, tanto que se tem a expressão “vacina até na testa”.
Santini: Quando surgiram as vacinas para doenças preveníveis por imunização, o Brasil foi um país de sucesso nessa área. Foi um dos primeiros países a ter um programa nacional de imunização, conseguimos acabar com a poliomielite, sarampo, varíola, e isso foram programas desenvolvidos por muitos anos. (…) O risco disso é a interrupção. O risco de se reativar uma doença como essas, sobretudo nas populações mais novas. (…) As pessoas que não foram vacinadas são vulneráveis, e a doença pode se alastrar outra vez, como ocorria antes de haver vacinação.
O Brasil ainda tem uma grande concentração de médicos em grandes metrópoles. Qual a razão disso?
Bulcão: O Brasil sempre teve uma quantidade pequena de universidades de medicina, formava poucos médicos. Agora, o que a gente vê é um salto, você tem muito mais pessoas formadas. Mas quem está pagando R$ 12 mil ou R$ 13 mil numa faculdade privada não está interessado no programa Mais Médicos, quer ficar nos grandes centros atrás de recuperar o dinheiro que foi investido. Recentemente, tanto no Brasil, quanto em Minas , os governantes se posicionaram contrários à vacinação obrigatória. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) repetiu reiteradas vezes que não iria se vacinar. Já o governador Romeu Zema (Novo) se mostrou favorável à desobrigação do cartão vacinal de crianças e adolescentes que se matriculem no ensino estadual esteja atualizado. Quais são os efeitos disso na população?
Santini: O governador de Minas está alinhado a um movimento internacional antivacina, que faz isso em nome da liberdade de escolha. A vacina é uma conquista da humanidade e, havendo evidências científicas de que produz resultados, e, neste caso, há, sobretudo na infância, como no caso da pandemia da COVID-19, que evitou a morte de muitas crianças, (esse movimento) é um absurdo, não faz o menor sentido. O pensamento anticientífico tem produzido verdadeiras catástrofes desnecessárias. A possibilidade do retorno de uma epidemia, de uma doença imunoprevenível, é uma atitude anticientífica, antidemocrática e é um risco social epidemiológico. Uma atitude dessas significa você reacender uma doença que já foi eliminada. No caso de Minas , que tem uma população muito grande, faz fronteiras com muitos estados, é passagem de brasileiros e é ponto de visitação, (essa postura) tem a possibilidade de contribuir negativamente para disseminação de uma epidemia. Estou falando de uma decisão política e tecnicamente equivocada
Bulcão: O Ministério Público deveria abrir queixa-crime contra todo gestor público que age a favor de patógenos serem espalhados. É fundamental combater essas pessoas com a lei. Além de seguir e incrementar as campanhas de vacinação.
Esse discurso antivacina pode ter impacto a longo prazo?
Santini: A cobertura da vacina para dengue já tem sido muito menor. Apesar de o Brasil não ter o número de vacinas necessárias para atender a toda população-alvo, que são as crianças, hoje em dia, o número das que têm sido vacinadas é menor que a quantidade de doses disponíveis. Essa campanha de desinformação que foi encampada até pelo Ministério da Saúde do governo Bolsonaro trouxe prejuízos que terão repercussões a longo prazo, justamente porque transforma uma questão científica de saúde pública em uma discussão ideológica. O governo Bolsonaro foi na contramão de tudo o que o Brasil conquistou historicamente. O maior alinhamento que o Bolsonaro tinha com a ditadura militar é na questão da repressão política, tortura.
Quais são os desafios e o futuro do SUS no Brasil?
Santini: O futuro (do SUS) é uma nova pactuação da sociedade brasileira com relação aos compromissos com a saúde pública. No Brasil, foi retomado o conceito da saúde como direito, e disso ninguém abre mão. A pandemia de COVID-19 ajudou a compreender isso. As pessoas entenderam que o problema de saúde pública, se não for tratado e articulado pelo poder público, há um risco muito grande. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que tem um sistema público de saúde universal. Isso é uma grande conquista, mas temos que avançar mais. Primeiro, um dos grandes desafios do sistema brasileiro é o subfinanciamento. Se comparado com outros países de mesmo nível de desenvolvimento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o país investe menos da metade. Segundo, é preciso melhorar o processo organizativo, incluir na discussão as parcerias público-privadas. Terceiro, é necessário avançar nas pesquisas e na produção de insumos nacionais. Aumentar a capacidade de produzir o que o Brasil necessita, ao menos para as contingências, as crises da saúde pública e alimentares. Quarto, é a questão ambiental, que está associada a comportamentos, por exemplo o nível de obesidade da população brasileira que é muito grande e cresceu muito rapidamente.
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Assessoria de Comunicação