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DESTAQUES
Relatório alerta para pressão e riscos enfrentados por profissionais de saúde
‘Idoso nunca foi e nunca será o problema dos planos’, diz presidente da Abramge
‘Os sistemas de saúde não estão preparados para lidar com o impacto das mudanças climáticas no organismo’, diz presidente do Einstein
Turismo médico em alta no Brasil
Enfermeiros sentem na pele como longas jornadas geram acidentes de trabalho
MEDICINA S/A
Relatório alerta para pressão e riscos enfrentados por profissionais de saúde
Com a sobrecarga crescente de profissionais de saúde no Brasil, o Synergos Brasil — organização internacional que fomenta o conhecimento entre lideranças para enfrentar desafios sociais — em parceria com a FGVsaúde, lançou a 2ª edição do relatório do projeto “Diálogo sobre Políticas para Resiliência e Bem-Estar dos Profissionais de Saúde”, que traz uma análise aprofundada dos desafios e soluções para fortalecer a resiliência e bem-estar dos trabalhadores de saúde, especialmente daqueles que atuam na linha de frente.
O lançamento, que aconteceu Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, reuniu representantes de instituições, do Ministério da Saúde e de secretarias de diversos estados, do CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), além de lideranças da área para debater os impactos que atingem os profissionais.
O documento, que tem apoio da J&J Foundation, identifica as pressões enfrentadas por enfermeiros, médicos e equipes de apoio, envolvendo questões como assédio, falta de diversidade e os impactos das mudanças climáticas, destacando a importância de uma ação coordenada entre os setores público e privado, academia, sociedade civil e filantropia para promover um ambiente mais saudável e inclusivo.
“Queremos dialogar em torno desses problemas com diferentes instituições que compõem esse sistema para trazer soluções e elevar a qualidade da discussão, de forma que consiga exercer influência para que esses temas estejam efetivamente na agenda das organizações”, falou a diretora para a América Latina do Synergos, Silvia Morais.
A Profª. Ana Maria Malik, da FGV-Saúde, pontuou que, ao não cuidar da saúde dos trabalhadores da área, quem sofre é o paciente. “Trabalhar com a saúde mental dos trabalhadores em todos os níveis, do gestor ao segurança da porta, afeta diretamente a segurança dos pacientes”, afirmou.
O relatório, que contou com contribuições de 21 organizações representativas do setor, aborda seis pilares essenciais para a melhoria das condições de trabalho e da qualidade do atendimento à população. Um deles trata sobre a violência, como assédio e discriminação, que tem impacto direto na saúde e no ambiente de trabalho, gerando danos psicológicos profundos e prejuízos institucionais, como alta rotatividade e queda de desempenho. O conteúdo enfatiza a necessidade de uma política clara de combate ao assédio, com protocolos de denúncia seguros e campanhas de conscientização frequentes para promover uma cultura de respeito e apoio mútuo.
Outro ponto destacado refere-se aos impactos das mudanças climáticas no setor de saúde, ao impor novos desafios aos trabalhadores, que enfrentam demandas associadas a eventos climáticos extremos, surtos de doenças e desastres naturais. As recomendações ressaltam a necessidade de adaptar o sistema de saúde a essas mudanças, com políticas preventivas e protocolos de resposta rápida, além de uma preparação constante dos profissionais para atuar nesses cenários emergenciais. “A sustentabilidade e adaptação ao clima não são apenas questões ambientais; são essenciais para a resiliência do sistema e a segurança de seus profissionais”, alerta o documento.
Diversidade, equidade e inclusão são mais alguns aspectos abordados no relatório. A carência de políticas de diversidade nas instituições de saúde limita a integração das equipes e afeta a representatividade junto aos pacientes. O relatório alerta que equipes mais diversificadas e capacitadas para lidar com a pluralidade cultural favorecem um ambiente mais justo e coeso, impactando positivamente a saúde dos profissionais e a percepção dos pacientes. “A criação de políticas autênticas de diversidade, equidade e inclusão deve ir além do discurso e ser uma prioridade das lideranças”, recomendam os autores.
“É preciso construir mecanismo que possam representar a valorização dos trabalhadores e enfrentar questões que são estruturantes da sociedade. Estamos falando de saúde como bem social”, disse a coordenadora-geral de Gestão e Valorização do Trabalho na Saúde, do Ministério da Saúde, Érica Bowes.
Gestão de pessoas e escuta de qualidade
Na discussão acerca das temáticas trazidas no relatório, os debatedores frisaram que a gestão eficaz de pessoas, com suporte emocional e valorização, emerge como um dos principais fatores para a resiliência e retenção dos trabalhadores, especialmente os que lidam diretamente com o atendimento a pacientes, na linha de frente.
“Precisamos ter um olhar, principalmente aos gerentes de unidade de saúde. Muitos deles precisam ser capacitados, com curso de humanização e de relações interpessoais. Pois o profissional, quando está na linha de frente, ele quer proporcionar o melhor cuidado, mas ele também quer ser bem acolhido e, para isso, é necessário comunicação e ter uma equipe que possa ouvi-lo”, salientou a diretora do CONACS (Confederação Nacional dos Agentes Comunitário de Saúde), Zilar Portela.
“Cuidar da linha de frente é cuidar da imagem da própria democracia e de como a sociedade é cuidada e tratada. Que a gente priorize o olhar para os profissionais da linha de frente quando pensar em políticas de gestão de trabalho”, frisou a professora de administração pública da FGV-SP, Gabriela Lotta.
Participaram ainda das discussões Ariana Frances, da Ouvidora-Geral da União; Priscila Surita, superintendente de ESG do Hospital Israelita Albert Einstein; Haroldo Pontes, assessor técnico do CONASS (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde) e Marcelo Kimati, médico psiquiatra e assessor da presidência da Fundacentro.
A 2ª edição do relatório do projeto “Diálogo sobre Políticas para Resiliência e Bem-Estar dos Profissionais de Saúde” está disponível aqui e as discussões podem ser conferidas no canal do Youtube do Synergos.
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JOTA INFO
‘Idoso nunca foi e nunca será o problema dos planos’, diz presidente da Abramge
Gustavo Ribeiro fala ao JOTA sobre as discussões na ANS e o clima no Congresso para alterar regras do setor
O presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde ( Abramge ), Gustavo Ribeiro, considerou bem-vinda a iniciativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar ( ANS ) de colocar em discussão temas sensíveis para o mercado, como a regulamentação dos cartões de desconto e a possibilidade da revisão técnica (reajuste excepcional, realizado para corrigir distorções pontuais).
Na entrevista, concedida dias depois de a Abramge contribuir com a tomada de subsídios da ANS no processo de revisão, Ribeiro disse ser favorável à criação de uma nova modalidade de planos, restrita a consultas e exames. A alternativa, completa, seria essencial para trazer opções mais baratas de contratos e, com isso, a expansão do mercado.
Ribeiro, contudo, admite ser preciso criar estratégias que impeçam uma eventual migração dos planos tradicionais para este novo formato, como ocorreu no período da entrada em vigor da Lei de Planos de Saúde.
Para o executivo, é preciso encontrar formas para dar segurança ao mercado que, em sua avaliação, foi perdida depois da Lei do Rol e do conceito de lista exemplificativa de procedimentos e tratamentos. “Criança com TEA nunca foi e nunca será o problema dos planos. Idoso nunca foi e nunca será o problema dos planos. Se a pessoa compra o produto e faz o uso correto, não tem problema. O produto já foi precificado. O problema é quando você subverte a lógica: eu comprei um plano ambulatorial e quero fazer uma cirurgia. O que quebra o setor é a insegurança, a falta de previsibilidade”.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Você defende a mudança nas regras de planos de adesão?
Não. Não é preciso mudar nada. O que precisamos é abrir o leque. O setor é muito sensível. É a natureza deste mercado. Então, se há uma proposta de se alterar o plano individual, a reação é de que isso representa uma tentativa de se retirar um direito. Se sugerimos mexer no plano por adesão, que com os anos tornou-se um produto pesado e caro, a reação é de que vamos mexer numa carteira formada há 20 anos. Quando você sugere mexer, a reação é sempre de que é tudo ruim. O que eu defendo? O mundo que existe, já existe. Com mecânicas boas ou ruins, ele está aqui. Temos o diagnóstico de problemas: o plano é caro, o reajuste é alto, o acesso é dificultado. A proposta da Abramge é criar um desenho de planos mais simples.
Ninguém será obrigado a contratar. Será uma opção.
Um plano ambulatorial sem internação de emergência.
Não vamos falar em plano ambulatorial. A nomenclatura tem de ser clara, para o consumidor não falar que foi enganado. É um plano de consultas e exames em âmbito laboratorial. Não é possível que alguém compre um produto desse, com esse nome, e diga que tem direito a fazer uma cirurgia bariátrica no Hospital Albert Einstein. A ideia é tirar da equação toda a fraude, toda a picaretagem profissional. Tem muito consumidor que de fato não entende o que está sendo comprado.
Um plano neste novo formato não ameaça os planos atuais? Que mecanismos existem para evitar o fim de planos de maior cobertura? Já assistimos fenômeno semelhante com contratos individuais.
É preciso criar regras para evitar que isso ocorra. Em 1998, não estava nem na faculdade. São mundos completamente diferentes. Tudo passa por um amadurecimento. O setor começou com medicinas de grupo, consolidou-se com empresas com dono, depois vieram as multinacionais. O setor foi se ajustando. Mas regras são necessárias. O argumento de que o mercado se regula, no caso de saúde, vale até um certo ponto. Não dá para brincar, porque há hipossuficiência. Mas você tem também laboratórios médicos que fomentam judicialização de medicamentos que estão em fase de testes no exterior, que você nem sabe se funciona. Você tem grupos de interesses de todas as ordens. Então, precisa, sim, de regulação. E é preciso também empoderamento do consumidor. Sua observação está certa, é preciso mecanismos para evitar o êxodo. E isso virá com sistemas de freios e contrapesos. Como a questão da revisão técnica: a ideia é que haja contrapartidas.
A ideia de se exigir a oferta de planos individuais, por exemplo? Mas esta condição será mantida pela ANS?
Não acredito que haja uma liberação total. Permissão de revisão técnica sem condições. Conhecendo um pouco o ambiente político, o Congresso não aceitaria uma liberação como essa. Haveria uma reação. Depois de 2022, com a discussão sobre a extensão do rol de procedimentos, parlamentares entenderam a sensibilidade do setor. Para o bem e para o mal.
O que é o bem e o que é o mal?
Por exemplo, um ambiente para produtos mais acessíveis. O Congresso hoje sabe que isso precisa ser muito bem feito. Parlamentares têm consciência de que se fizerem algo inconsistente dá confusão. Eles aprenderam. Com a discussão sobre o Transtorno de Espectro Autista, os parlamentares viram toda a movimentação. Neste ano, quando houve a reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira, depois do cancelamento de contratos, ficou clara a familiaridade que ele tem sobre o tema. Então, acredito que hoje há um ambiente para se discutir com maturidade, envolvendo todos. Os órgãos de defesa do consumidor não são demônios. O setor não é um demônio, o legislador não é, o regulador não é. O que é preciso é achar uma composição.
A ministra Nísia Trindade criticou o modelo de planos de menor cobertura. A percepção é de que esse sistema não é resolutivo e apenas ampliará a pressão sobre o SUS.
Tenho respeito enorme pela ministra da Saúde. Mas o gigantismo dos desafios interna corporis do ministério não permite, às vezes, ver o cenário como um todo. Ninguém está inventando nada. Esse fenômeno já existe. Temos hoje um mercado de 40 milhões de pessoas com cartões de desconto. Não é algo que vai acontecer.
Já aconteceu. O que defendo é que possamos ter esse plano de consultas. Algo regulado. Porque se esse paciente se agravar, mais tarde, eu poderei ser cobrado.
Mas nada impede que as operadoras tenham também seu cartão de desconto. Por que não ofertam?
Não haveria segurança jurídica. Há outro ponto. Há uma regulação pesada para o setor de planos. E o setor de cartões atua com muita liberdade. É uma questão de equidade. Já falei isso para a ministra Nísia Trindade, para o secretário de Atenção Especializada Alexandre Massuda, para o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Vocês apresentam um plano, mas não dão sugestões sobre como fazer a regulação, não apontam caminhos.
Não podemos ver a minúcia. A legislação tem de ser feita pelo Congresso. É preciso regulação, regras do Ministério da Saúde. Mas essa é uma discussão longa. Para dois anos. Eu gostaria que agora, passado o período eleitoral, o debate tivesse início.
No Congresso da Abramge, a discussão central será sobre integração entre setor público e privado.
As ações de prevenção de saúde que as operadoras podem fazer dependem, em determinado grau, do prontuário eletrônico. Há rotatividade dos clientes. Para garantir que a informação não se perca, a possibilidade de acesso é fundamental. Isso passa também pela integração entre público e privado. Um precisa do outro. E é preciso ter regras claras para uma simbiose.
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O GLOBO
‘Os sistemas de saúde não estão preparados para lidar com o impacto das mudanças climáticas no organismo’, diz presidente do Einstein
Ao GLOBO, Sidney Klajner, que esteve na COP 29, afirmou que embora haja discussão sobre o impacto do clima na saúde, isso ainda precisa ganhar destaque porque “tudo impacta na saúde”
Ondas de calor extremo, epidemia de dengue, enchentes, queimadas cuja fumaça escurece o céu de metade do país. Tudo isso é efeito das mudanças climáticas e impacta a nossa saúde. Entretanto, esse efeito ainda é pouco discutido em eventos sobre mudanças climáticas, como a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, cuja última edição, a COP29, foi realizada em Baku, no Azerbaijão.
É de lá que o médico Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, falou ao GLOBO, em entrevista por telefone. Segundo Klajner, “mesmo quando tudo impacta na saúde, o tema “vem ficando para trás nas discussões da COP”. Mas ele espera que essa tendência mude e o tema ganhe mais tração na próxima edição do evento, que será realizada no próximo, em Belém, no Pará. O médico também explicou os efeitos diretos e indiretos das mudanças climáticas na saúde e acredita que os sistemas de saúde não estão preparados para lidar com isso. Confira na entrevista abaixo.
De que forma as mudanças climáticas mais impactam a saúde?
Se as mudanças climáticas não são ainda uma das maiores ameaças à saúde, vou dizer que é uma grande preocupação. O impacto é muito grande e isso não afeta apenas a população vulnerável. As alterações climáticas contribuem para o aumento da transmissão de doenças infecciosas, piora da qualidade dos alimentos, diminuição da quantidade da produção de alimentos, migração da população, além de outros efeitos diretos, como onda de calor, poluição e catástrofes, como o que aconteceu no Rio Grande do Sul. Se considerarmos apenas onda de calor e poluição, isso já é capaz de aumentar demais o fluxo de pacientes com problemas respiratórios nos pronto-atendimentos, por exemplo. Uma publicação na revista Lancet aponta para um aumento de mortalidade por questões relacionadas à poluição de 9 milhões de pessoas por ano, levando em conta problemas respiratórios, cardiovasculares, aumento do risco de desenvolvimento de câncer, etc. Em outra publicação, só a onda de calor de 2022 na Europa aumentou em 70 mil o número de mortes no ano. No Rio Grande do Sul, vimos aumento no número de casos de doenças como hepatite e leptospirose. Durante as queimadas, além das pessoas não poderem ir até a unidade de saúde devido ao risco da inalação de partículas, muitas unidades de saúde fecharam, o que também impacta no atendimento. Novas pandemias também irão surgir porque a transmissão fica muito mais fácil devido à alteração climática e aproximação do homem do habitat natural de animais, o que ocorre até mesmo por migração da população. É o que acontece quando temos uma gripe aviária, uma gripe suína ou a própria Covid-19, que vem de outros animais.
A saúde mental também é impactada?
Saúde mental é algo que está na pauta e que só tende a piorar. Imagina a do profissional de saúde? Uma das grandes questões do Rio Grande do Sul hoje é lidar com problemas de saúde mental depois da perda material e de pessoas nas enchentes e isso não é algo exclusivo do Brasil. Aconteceu a mesma coisa na Espanha há pouco tempo.
O sistema de saúde está preparado para lidar com esses efeitos?
Os sistemas de saúde não tão preparados para tudo isso. Por exemplo, diante de catástrofes, as doenças crônicas deixam de ser acompanhadas porque as unidades de atenção primária fecham. Os hospitais não estão preparados com materiais que resistem ao fogo, ao calor nem com diques para impedir a entrada de água. Eu costumo sempre lembrar que grande parte dos geradores de hospitais estão no subsolo dos hospitais, que então a infraestrutura também é muito importante. Na região norte, por exemplo, durante o surto de dengue, chegou a acabar o soro para hidratar pessoas. É uma coisa básica. Mas tinha um número tão grande de doentes que o soro acabou.
Como o sistema de saúde pode se preparar?
Tem que haver uma liderança para que essa discussão venha à pauta. Aliás, tem uma lei que foi aprovada em junho que determina que todos os municípios deveriam ter um plano de adaptação do sistema de saúde diante de extremos climáticos, mas pouquíssimos municípios hoje têm isso. Essa discussão tem que vir à tona para que secretários municipais, secretarias estaduais possam ter em mente um plano de catástrofe. O primeiro ponto é ter foco na população. A população precisa ser informada. Por exemplo, quem tem doença crônica, está tratando uma doença oncológica, precisa saber onde vai continuar sendo atendido quando a sua unidade de saúde de referência é fechada por motivo de catástrofe climática. Se está previsto uma onda de calor, como a que tivemos no meio do ano, alguns grupos, como pessoas com doenças pré-existentes, idosos ou em algum tipo de tratamento, tem que ser avisados de que forma eles vão se proteger. Quando as queimadas cobriram metade do país, algumas pessoas não precisariam comparecer num quadro de urgência no pronto-socorro se tivessem sido orientadas sobre uma prevenção, como uso de máscara. Em segundo lugar, é preciso preparar a infraestrutura e o terceiro ponto é a própria capacitação dos profissionais de saúde. O profissional tem que estar preparado para saber como estabelecer fluxos adequados durante uma catástrofe. Esse treinamento tem que incluir enfermeiros, fisioterapeutas, médicos, especialistas ou não. O país tem de ter mais pesquisas para entender como os sistemas podem se preparar melhor. Tem pouco resultado hoje que nos permite ter o domínio da situação, mas a discussão tem que ser feita. Atualmente, o Einstein tem o privilégio de gerir hospitais públicos, dois no Município de São Paulo, um em Aparecida de Goiânia, outro em Goiânia e outro na Bahia e vemos que diferentemente de um hospital privado que talvez possa remanejar seus pacientes e ampliar a capacidade do pronto-atendimento, no Sistema Único de Saúde não tão simples ampliar a capacidade de atender. Por exemplo, não é simples aumentar o número de pneumologistas, respiradores ou vagas de UTI para tratar infecções respiratórias e isso é algo importante para lidar com um cenário de queimadas, por exemplo. Também temos uma iniciativa, em parceria com o Ministério da Saúde, para tentar mapear populações mais vulneráveis porque já tem menos acesso à saúde, como formadas por quilombolas ou por indígenas, tentando associar a condição de saúde atual com o mapeamento, por satélite ou internet, da alteração climática a qual elas estão submetidas. Isso vai se prolongar durante alguns anos e permitir que o Ministério tenha informação para entender como dirigir melhor o investimento.
Como está a discussão dos efeitos das mudanças climáticas na saúde na COP deste ano?
Dentre as discussões que a gente viu na COP 29, deu para perceber que a saúde vem ficando para trás nessa discussão, se compararmos com o número de plenárias e apresentações relacionadas à energia, transição energética e pegada de carbono, por exemplo. Mesmo quando tudo impacta na saúde. Por exemplo, sabemos que até 2030, os dispêndios a mais com problemas de saúde por causa de alterações climáticas variam de 2 a 4 bilhões de dólares por ano, a mais do que já se gasta hoje. Além disso, de todo o investimento multilateral que está sendo feito, nas negociações na COP, por todos os países, um valor de 2% está sendo dedicado à saúde.
Diante de tudo o que está acontecendo no mundo, há expectativa para que essa discussão ganhe mais importância?
Estivemos na COP 29 para tentar trazer essa discussão de forma mais forte durante a COP 30, que será realizada no Brasil. Parte do nosso trabalho lá foi sensibilizar pessoas que estão fazendo parte da organização da COP 30 para que isso seja uma discussão muito presente no Brasil. Lembrando que faz apenas três anos que a saúde passou a ser tema de discussão na COP.
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Turismo médico em alta no Brasil
David Uip
O país conta com profissionais altamente qualificados, além de diversos hospitais e clínicas de ponta
Após a pandemia, as viagens internacionais voltaram a ganhar força e, nos últimos tempos, temos notado um expressivo crescimento do “turismo médico”, ou seja, de pessoas que se deslocam entre países em busca de tratamentos de saúde em diferentes especialidades.
Os números recentes impressionam. Os valores movimentados pelo turismo médico no mundo têm crescido entre 15% a 25% por ano. Em 2022, a estimativa era de que este mercado estava avaliado em US$ 7 bilhões somente na América Latina. E a previsão é que supere os US$ 17 bilhões até 2027, segundo dados apresentados pela empresa alemã Statista.
O turismo médico inclui uma série de atendimentos em saúde, considerando tanto os eletivos, como procedimentos estéticos, odontológicos ou cosméticos, como também consultas e exames de especialidades médicas como cardiologia, oncologia, neurologia e ortopedia – e até mesmo modalidades de cirurgias de alta complexidade.
O Brasil, principalmente o eixo Rio-São Paulo – mas não só ele – tem se destacado como uma das referências nesse mercado na América Latina, por alguns fatores. O primeiro é que o país conta com profissionais altamente qualificados, além de diversos hospitais e clínicas de ponta, que oferecem atendimento de excelência tanto para os brasileiros em trânsito quanto para os estrangeiros.
Na esteira dessa tendência, foram criados serviços especializados em cuidar do paciente que vem a São Paulo para se tratar, e que oferecem soluções de “home” e “hotel care”, transporte, nutrição, acompanhante, agendamento de exames ambulatoriais ou hospitalares, reservas em restaurantes e até de tradutor para estrangeiros que não falam português.
O segundo motivo apontado para o destaque do Brasil no turismo médico está atrelado aos custos. Os preços de atendimentos de saúde no país são considerados baixos por turistas que vêm de países como os EUA, onde não há sistema público de saúde para todos, ou de viajantes de lugares como o Canadá e a Europa, que preferem fazer esses procedimentos aqui, uma vez que os valores cobrados são mais baixos.
Há outros centros fortes de turismo médico onde os preços também são baixos. É o caso de países como Singapura, México, Costa Rica, Turquia, Tailândia, Malásia e Índia. Alguns desses países contam com investimento massivo dos respectivos governos na captação e recepção dos turistas para impulsionar o mercado, reconhecendo o impulso que viajantes podem trazer para a economia local. O Brasil ainda não conta com esse tipo de incentivo governamental, e por isso foca na qualidade dos atendimentos, na excelência de suas instituições de saúde e na tecnologia avançada para exames de imagem e cirurgias.
O Brasil foi o primeiro, depois dos EUA, a receber o credenciamento da Joint Commission International (JCI) para seus centros médicos, garantindo altos padrões internacionais de segurança e qualidade nos cuidados. Existem mais de 50 centros médicos no Brasil que conquistaram este selo, o que atrai os estrangeiros.
Hoje os maiores polos de turismo médico no Brasil estão em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba. Cerca de 14% desses procedimentos no país são solicitados por pacientes estrangeiros, segundo a International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS).
Esses números mostram que o Brasil tem um imenso potencial neste mercado, mas é necessária articulação com hospitais, planos de saúde e entidades de turismo, além de serviços especializados em cuidar da estada do paciente em todas as suas necessidades. Buscar a captação de clientes e mostrar que temos equipes qualificadas tanto para o atendimento em saúde como para o acolhimento em vários idiomas, além de oferecer comodidade e suporte. Com isso, o turismo médico avançará ainda mais no país, contribuindo para movimentar a economia e auxiliar quem mora no exterior e precisa de atendimento em saúde a preços que cabem no bolso.
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PORTAL UOL
Enfermeiros sentem na pele como longas jornadas geram acidentes de trabalho
Em setembro de 1915, em plena Primeira Guerra Mundial, o governo da Inglaterra montou uma comissão para calcular a jornada de trabalho “ideal” nas fábricas de munição. Com a escalada do conflito, não era incomum que operários acumulassem 100 horas semanais nas linhas de produção, incluindo os domingos.
Depois de muita observação, as autoridades britânicas concluíram que, para homens, a carga deveria ser de no máximo 65 horas. Já no caso de mulheres e crianças (sim, elas também pegavam firme no batente!), a jornada não poderia superar 60 horas por semana.
A recomendação de reduzir o tempo de labuta tinha uma lógica: após um certo limite, o trabalhador trava, a produtividade desaba e o número de acidentes, claro, explode.
Narrada em um interessante artigo do economista John Pencavel, da Universidade de Stanford, essa história com cara de anedota cai como uma luva para ilustrar o cotidiano de enfermeiros, técnicos e assistentes de enfermagem no Brasil.
Juntas, essas três categorias lideram o ranking de acidentes de trabalho no país, com mais de 50 mil ocorrências no ano de 2022, segundo dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) compilados pela plataforma SmartLab. Uma assustadora média de 138 registros por dia.
Num momento em que o debate sobre o fim do regime 6×1 e sobre os excessos de jornada dominam o noticiário e os feeds das redes sociais, a relação direta entre longas jornadas e acidentes de trabalho não têm recebido a devida atenção.
Por aqui, os defensores da proposta têm se focado no impacto sobre a qualidade de vida das milhões de pessoas privadas de um fim de semana completo. Já os críticos batem na tecla de que a redução da jornada, sem diminuição dos salários, causaria aumento no custo do trabalho e redundaria, no fim das contas, em inflação.
Categorias que mais trabalham são as que mais se acidentamUm didático levantamento da Repórter Brasil, republicado pelo UOL, mostra que, das 20 ocupações com mais notificações de acidentes em 2022, 12 também aparecem na lista das 20 categorias com o maior número de contratos de 41 horas ou mais.
Na ponta do lápis, técnicos de enfermagem sofreram 36.532 acidentes naquele ano – campeões absolutos desse nada glorioso ranking. Já enfermeiros responderam por 8.687 registros e assistentes totalizaram 5.488.
O leitor pode argumentar que o trabalho nessa área é, por natureza, de alto risco. O contato permanente com instrumentos cortantes e material biológico infectante expõe profissionais a uma série de lesões e doenças. Por isso, é essencial investir em treinamento e garantir Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados.
Tudo isso é verdade. Mas também é preciso levar em conta que profissionais da área da saúde estão submetidos a jornadas intensas.
A escala 12×36 – em que as pessoas trabalham doze horas seguidas e (supostamente) descansam por um dia e meio – é bastante comum nesse meio. Sem falar nos plantões de 24 horas.
Como mostram as pesquisas de John Pencavel e de diversos outros especialistas em saúde e segurança do trabalho, cansaço e perda de atenção potencializam acidentes.
Piso salarial de enfermeiro é R$ 4.750; Técnicos e assistentes ganham menos. Existe ainda um agravante: o salário. Quem se lembra do imbróglio sobre o piso salarial dessas categorias, que se arrastou por anos no Congresso e no STF (Supremo Tribunal Federal)?
Depois de muitas idas e vindas, a Lei Federal 14.434/2022 entrou em vigor, estabelecendo R$ 4.750 como piso para enfermeiros. Técnicos não podem receber menos de 70% desse montante. Já auxiliares têm metade desse valor como remuneração mínima mensal.
Ainda que o piso seja uma inegável vitória, é difícil imaginar que, com essa faixa salarial, profissionais desse segmento realmente se deem ao luxo de realmente descansar por 36 horas, após uma jornada de 12.
Na vida real, eles acumulam turno atrás de turno e ultrapassam tranquilamente a duração “normal” preconizada pela Constituição, de 44 horas semanais.
Como os ingleses descobriram na já distante Primeira Guerra Mundial, longas jornadas são um prato cheio para acidentes. Os brasileiros da enfermagem que o digam.
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Assessoria de Comunicação