Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

CLIPPING SINDHOESG 26 a 28/01/13 – Parte 2/FINAL

continuação

 

O POPULAR
Saúde
Hospitais desrespeitam direito de gestantes

Pesquisa realizada em todo o País mostra que unidades não garantema presença de acompanhante antes, durante e depois do parto

São Paulo – Hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o País estão descumprindo a lei federal que garante às gestantes o direito de ter um acompanhante antes, durante e depois do parto. Dados coletados pela ouvidoria da Rede Cegonha entre maio e outubro de 2012 mostram que 64% das 54 mil mulheres entrevistadas relataram que não tiveram direito ao acompanhante. A pesquisa demonstrou ainda que 56,7% delas (19.931) afirmam que o acesso ao acompanhante foi proibido pelo serviço de saúde e só 15,3% (5.378) relataram não conhecer esse direito.
Os dados demonstram que, apesar de estar em vigor desde 2005, a Lei nº 11.108 é descumprida por decisões das próprias unidades de saúde e muito pouco por desconhecimento da gestante. O problema é que a resolução que regulamentou a lei não prevê nenhuma penalidade para o hospital que não cumpri-la, deixando as mulheres sem um mecanismo oficial para reclamar.
ESPAÇO FÍSICO
As principais razões apresentadas pelos hospitais para não autorizarem o acompanhante são a falta de espaço físico adequado para garantir a privacidade das gestantes (em geral, o pré-parto acontece em uma sala com várias mulheres) e também o risco de o acompanhante atrapalhar o processo.
João Steibel, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), diz que a superlotação das maternidades também é um problema. “Quando o movimento está normal, tudo bem. Mas quando está lotado, o acompanhante só atrapalha. Muitas vezes sou agredido verbalmente, mas não posso abrir mão da segurança do atendimento”, diz. Ele diz que, para cumprir a lei, seria necessário investir na infraestrutura dos hospitais. “O ministério (da Saúde) diz que há verbas para o parto humanizado, mas nunca vi chegar.”
Para tentar reduzir o problema, está tramitando no Senado um projeto de lei que obriga os hospitais a afixar em local visível um aviso sobre o direito da gestante de ter acompanhante. A proposta já foi aprovada na Câmara dos Deputados.
O Ministério da Saúde informou que conhece o problema e que os principais hospitais passarão por uma auditoria. A decisão de fiscalizar essas unidades, diz o ministério, foi tomada assim que o órgão teve acesso aos resultados da pesquisa da Rede Cegonha – programa do governo federal que tem o objetivo de garantir assistência e humanização do parto na rede pública. Ainda segundo o ministério, os hospitais onde ficar constatado que não há cumprimento da lei podem deixar de receber verbas e até serem descredenciados do SUS. (28/01/13)
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Epidemia de dengue
Mosquito para todos os lados
Deire Assis

   A guerra travada contra a epidemia de dengue pelas autoridades de saúde não poderá ser vencida sem o envolvimento da população. A conta é simples: cerca de 90% dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, está dentro de casa. São calhas entupidas e sujas a reter água; caixas d’água sem tampa – ou com tampas danificadas -; piscinas sem o devido tratamento; vasos de plantas – e plantas – a acumular água; tambores, latas e latões sem proteção; objetos diversos, capazes de juntar água; deixados no quintal; entre outras práticas que elevam o risco de proliferação do mosquito.Nas ruas não é diferente. A conduta inadequada do cidadão que joga a sacola plástica, a lata de refrigerante ou o copo descartável pela janela do carro; o descarte de lixo em lugar impróprio, como lotes baldios; restos de construção abandonados; pneus jogados em via pública; sacos de lixo mal acondicionados são pratos cheios – de água – capazes de fazer com que a larva do mosquito cresça e a infestação do Aedes aegypti, também. É importante todos os moradores da cidade permanecerem atentos a toda e qualquer situação que possa se transformar em potencial foco da dengue, como troncos de árvore, folhas de árvore e plantas ornamentais. A equipe do POPULAR circulou por Goiânia e fez o registro de vários pontos que podem se tornar criadouros do mosquito. A prevenção da doença, que já pode ter feito oito vítimas em Goiás – óbitos suspeitos ocorridos em 2013 e que estão sob investigação – e que levou Goiânia ao segundo lugar no ranking das capitais com a maior quantidade de notificações, é tarefa de todos. (28/01/13)
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Cartas dos Leitores – Médico generalista

Você tem o curso superior mais longo e no final sua habilitação universitária é de generalista, nome que estão dando ao médico sem especialidade. Seu curso não é de meio período nem noturno, é de tempo integral. A especialização, por outro lado, é uma jornada de quatro anos, também em tempo integral e plantões, ainda assim de difícil acesso, dada a grande concorrência. São ao todo dez anos de estudos.
Os generalistas, que são a maioria dos médicos, não conseguem credenciamento junto aos convênios, restando-lhes o serviço público de saúde que paga uma miséria. Os especialistas credenciados em convênios, por sua vez, ganham em torno de 50 reais por consulta. Além do desgastante trabalho de dia e de noite, o médico ainda é alvo do desprezo oficial consignado na miséria do salário mensal.
Sofre insulto de pessoas frustradas, que acham digno governos submeterem o médico a regime de escravidão até cumprir o dobro do tempo de estudo na faculdade. E outros, movidos pelo pendor da mediocridade, ocupam espaços em jornais para relatar corte no ponto de médicos. Só mesmo o sentimento altruístico e a glória de curar doenças e aliviar sofrimentos fazem do médico um profissional dedicado.

GÉRSON A. VELOSO – Setor Bueno – Goiânia (27/01/13)b
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Epidemia de dengue
Oito pessoas já podem ter morrido por causa da doença

Óbitos ocorridos em 2013 estão sob investigação laboratorial. Avanço do vírus tipo 4, que já predomina em Goiânia, é apontado como responsável pelo agravamento da epidemia
Deire Assis

A Secretaria de Estado da Saúde (SES) investiga oito mortes suspeitas de terem sido provocadas por infecção pelo vírus da dengue em janeiro deste ano. Os óbitos suspeitos ocorreram em Goiânia, Rialma, Ceres, Senador Canedo, Anápolis, Piracanjuba, Petrolina de Goiás e Anicuns – um óbito em cada um dos municípios. A introdução e o aumento da circulação do sorotipo 4 da dengue no Estado são apontados como os principais responsáveis pelo avanço e pelo agravamento da epidemia na capital e no interior.
Não há, entretanto, até agora, qualquer caso confirmado de morte por dengue em Goiás. No ano passado foram confirmadas 36 mortes pela doença no Estado – 25 em Goiânia. Outros 29 óbitos suspeitos ocorridos em 2012 ainda aguardam confirmação laboratorial. Dos 36 confirmados, a Saúde conseguiu isolar o sorotipo 4 em 2 amostras.
As vísceras dos pacientes que foram a óbito neste ano e que tiveram a sintomatologia associada à dengue foram colhidas e enviadas ao Laboratório Oswaldo Cruz, no Pará, unidade responsável por estas análises, informa o coordenador de Controle de Dengue e Febre Amarela da SES de Goiás, Murilo do Carmo Silva. Além dos óbitos, estão sob investigação 50 casos graves da doença.
DENV 4
O sorotipo 4 da dengue foi isolado em Goiás pela primeira vez em novembro de 2011, em Aparecida de Goiânia e, logo depois, em Goiânia. Ao longo de 2012, o DENV 4 avançou enormemente, respondendo pela maioria das infecções, atualmente. Em Goiânia, os exames para identificação do sorotipo circulante mostraram que 71% das amostras coletadas são do tipo 4 e 29% do tipo 1. Quando considerado o Estado todo, esse tipo do vírus mostra-se em circulação em municípios localizados em regiões distantes. “Isto comprova que o tipo 4 está disseminado em todo o Estado de Goiás”, alerta o coordenador da SES.
Os dados epidemiológicos estaduais ainda não apontaram predomínio do DENV 4, que tem respondido por 49% das infecções onde houve isolamento do vírus. Os outros 51% foram provocados pelo DENV 1. Os dados são preocupantes. Em fevereiro saberemos se já há predomínio do DENV 4”, cita.
VULNERABILIDADE
Murilo explica que a teoria mais aceita atualmente é a de que a infecção recorrente por mais de um tipo de vírus da dengue ao longo da vida – cada pessoa pode ser infectada apenas uma vez por cada tipo de vírus – provoca uma hiperreação imune do paciente. Em síntese, o organismo reage de forma muito intensa buscando eliminar a ação do vírus, provocando sintomas que desfavorecem a recuperação do doente. Desse modo, ele libera substâncias e sofre com uma vasodilatação intensa que tornam mais vulnerável à doença, aumentando o risco de agravamento do quadro e de morte.
Há, no entanto, uma incógnita, ainda, sobre como o sorotipo 4 da dengue agirá nos pacientes, agora, suscetíveis a ele. Murilo lembra que quando a predominância era a infecção pelo sorotipo 3, houve muitas complicações hepáticas. Já o sorotipo 2 atingiu mais crianças. “Não sabemos como o tipo 4 vai se comportar”, afirma. Entre as pessoas que morreram com suspeita de dengue neste ano, estão idosos e adultos jovens. Nas unidades de saúde, conforme o coordenador, constatou-se menor presença de crianças com menos de 6 anos em busca de atendimento para casos suspeitos de dengue.
ALTO RISCO
Goiás apresenta neste momento 31 municípios com alto risco de epidemia de dengue. Os dez municípios onde a situação é mais grave são Barro Alto, Cachoeira Dourada, Edealina, Porangatu, Baliza, Cezarina, Uirapuru, Aparecida de Goiânia, Goiânia e Nova Iguaçu de Goiás. Nestas localidades, a incidência da doença ultrapassa 100 casos por 100 mil habitantes. Em Goiânia, chegou a 758,59 casos por 100 mil.
Dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) na semana passada apontam para um agravamento acelerado da situação na capital. Nas três primeiras semanas de janeiro, foram registrados 5.844 casos – 2.350 casos só na terceira semana do mês. Os números colocam Goiânia em segundo lugar no ranking das capitais brasileiras com os maiores números absolutos da doença, ficando atrás apenas de Campo Grande (MS), onde já foram registrados mais de 11 mil casos de dengue em 2013. O cenário levou o Ministério da Saúde a repassar mais R$ 2 milhões para o Estado – R$ 1,5 milhão para a capital – para o enfrentamento da epidemia. (27/01/13)
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Dependência química
À espera de socorro
Luciene Feitosa é mais uma mãe que sofre na fila, aguardando a internação do filho, viciado em crack. Rede de atendimento debilitada castiga dependentes químicos e suas famílias em todo o Estado
Cleomar Almeida

Ela recebe ansiosa a reportagem do POPULAR, no portão, acompanhada das duas filhas mais novas, ainda crianças. “Não repara muito, não! Aqui a gente não tem muita coisa!” No fogão, só quatro panelas; é tudo o que sobrou para fazer comida na casa da diarista Luciene Lopes Feitosa, de 33 anos, que entrou há três numa luta dolorosa para não ver o filho ser mais uma vítima da epidemia do crack. “Já até acorrentei meu menino, mas não adiantou. Ele vendeu tudo o que a gente tinha para ter a pedra!” Seu desespero aumentou ainda mais, desde a última vez que foi, no ano passado, ao Pronto Socorro Psiquiátrico Wassily Chuc – porta de entrada para o tratamento de dependentes químicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiânia – e não conseguiu leito para o jovem de 19 anos. O déficit ainda aflige mais famílias. Só a unidade tem 157 dependentes de crack na lista de espera por internação, todos com recomendação médica, sem contar as outras drogas, informa o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego).
Com olhar abatido, Luciene se entrega a um choro sufocante ao lembrar que o segundo de seus cinco filhos passou a usar drogas aos 16 anos. O jovem não vai mais em casa, há quase três meses, quando foi levado para a Casa de Prisão Provisória (CPP), em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital. “Ele está preso e se envolveu com o crime por causa do crack”, conta. “Mas dentro da cadeia vai piorar”, desabafa, sentada na sala da casa, no Bairro Floresta, Região Noroeste de Goiânia. O rapaz já aceitou tratamento, outras vezes, mas, saiu, logo em seguida. Não suportou a abstinência. Agora, a mãe suplica uma internação compulsória ao filho. Essa medida retomou uma polêmica no País, desde a semana passada, quando começou a funcionar, em São Paulo, o serviço que possibilita de imediato esse tipo de tratamento (veja quadro nesta página).
O governador do Estado, Marconi Perillo, e o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, assim como os secretários de Saúde, discordam da internação compulsória, mas fazem ressalvas (leia frases ao lado). Parte dos especialistas só aceita essa medida como último recurso para o viciado, enquanto outros profissionais, sobretudo os médicos psiquiatras, a defende, ressaltando que muitos drogados perdem o poder de decisão. Mas, na prática, toda a rede está debilitada. Goiás tem cerca de 60 mil dependentes químicos e, apesar de nem todos necessitarem de um leito, conta somente com 1.278 vagas para internação. No Estado, onde deveria ter 260 leitos em hospitais públicos para pacientes com esse perfil, há apenas 38, confirma a Gerência de Saúde Mental da Secretaria Estadual de Saúde (SES). O titular da pasta, Antônio Faleiros, alega, entretanto, que não há necessidade de fazer distinção entre as redes pública e particular. Mas reconhece: “Mesmo com a rede instalada hoje, estamos vendo que não é suficiente, porque senão não estaria aumentando o número de dependentes químicos.”

MUITA DEMANDA, POUCA OFERTA
O Hospital Psiquiátrico Eurípedes Barsanulfo é um dos que realizam tratamento com viciados, em Goiânia, em convênio com o SUS, e exemplifica bem o hiato entre a oferta de leitos e a crescente demanda por internação, cujo controle é feito pelo Wassily Chuc. Fica no Setor Rio Formoso, na Região Sudoeste da capital, e tem 64 vagas para tratamento de dependentes químicos (56 para homens e 8 para mulheres). “Todas estão ocupadas”, diz o diretor-clínico do hospital, Dhin Ally Untar. “A fila de espera é grande”, observa a coordenadora de atendimento, Maria Suely da Silva. “O SUS tem demanda maior que o número de vagas. Uma política de saúde mental tem de ser feita, ou no aumento do número de vagas para internação ou em atividades de prevenção”, diz.

O SENHOR É A FAVOR DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA?

“Em tese, não. O governo de Goiás foca na prevenção do problema, no combate às drogas e na recuperação dos dependentes. Se a internação compulsória revelar-se como o caminho melhor para a condução do problema, não hesitaremos em discuti-la e, se for o caso, adotá-la.”
Marconi Perillo, governador de Goiás

“Sou contra porque, como cidadão, defendo as liberdades individuais. Portanto, todos nós temos o direito a qualquer tratamento, isso se for do nosso desejo. Se houver risco de morte do usuário ou de terceiro, caracteriza-se a excepcionalidade.”
Paulo Garcia, prefeito de Goiânia

“Um dependente químico, quanto mais grave a dependência, não tem discernimento, para saber o que é melhor para ele. Há, em casos extremos, a necessidade de internação compulsória.”
Antônio Faleiros, secretário estadual de Saúde de Goiás

“A internação compulsória é o último refúgio terapêutico. Reconhecemos que os recursos anteriores à internação são deficitários, mas estamos em contínua ascendência.”
Fernando Machado, secretário municipal de Saúde de Goiânia

“Quero meu menino comigo. Não vou desistir dessa luta”

A rede de atenção à saúde mental, responsável por atuar inclusive preventivamente, também padece em meio às falhas. Goiânia precisa de pelo menos sete Centros de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Capsad), recomenda o Ministério da Saúde (MS), mas conta com apenas dois. E funcionam com equipe incompleta. “Temos de descentralizar o atendimento e colocar unidades nas várias regiões de Goiânia”, admite o secretário municipal de Saúde, Fernando Machado. “Com a chegada de médicos do último concurso, esperamos aumentar o número de psiquiatras para atender a demanda”, acrescenta o coordenador de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Humberto Monção.
Mas essa deficiência não se restringe à capital. Em todo o Estado, só existem oito Capsad. Apenas um funciona 24 horas, em Aparecida de Goiânia. A capital e a cidade de Anápolis também deveriam ter uma com esse perfil, cada, de acordo com o MS.
Com uma foto do filho na mão, a diarista Luciene Lopes Feitosa, de 33 anos, lembra bem o que é gritar por socorro e não conseguir. “A gente busca ajuda não é de agora. Hoje meu filho até delira, por causa da droga”, relata, pontuando cada esforço que faz na via-crúcis para salvar o filho. “Meu menino já não consegue mais responder por si.”
Durante a conversa, uma chuva forte toma a casa de Luciene com goteiras. “Não repara, não!”, repete. Descontrolado pelo vício, o jovem saía sem hora para voltar, e, por isso, ela trancava a residência para diminuir a insegurança. “Várias vezes ele entrou pelo telhado. Tirava as telhas, descia, abria a porta por dentro e levava o que tinha, durante a madrugada. Já dormi perto da porta, para evitar isso”, conta, lembrando que não encontra mais saída diante da força devastadora do crack. “Muita gente me diz que seria melhor se meu filho morresse, mas quero meu menino comigo, fora da droga. Não vou desistir dessa luta.”

Dependência química
A internação, segundo o paciente
Deire Assis

Doze anos separam Ricardo, de1 9 anos, e Fernando, de 31 (os nomes são fictícios para preservar a identidade dos entrevistados), cujas histórias se cruzaram num caminho tortuoso. Dependentes químicos, eles se conheceram recentemente por força do vício, ao serem internados para tratamento numa das principais instituições de Goiás destinadas a esta finalidade, o Hospital Psiquiátrico Eurípedes Barsanulfo. Na quarta-feira, Fernando teve alta. Ricardo ficará alguns dias a mais. O primeiro, que buscou ajuda da família e dos amigos para se tratar, defende a internação compulsória como necessária, em muitas situações. O segundo, levado pelas mãos pelo pai, pesando 42 quilos, queria estar bem longe dali. Veja trechos das entrevistas concedidas por ambos ao POPULAR na última semana.

Entrevista | Ricardo, de 19 anos
“Basta a gente querer, que para”

Como você se aproximou das drogas?
Com 16 anos, cheirando thinner. Com 17, já tinha o crack. Eu vigiava carro na rua para comprar as pedras. Fumava uns 20 reais por dia, umas três pedras. Mas não era só eu não. Tinha muitos lá na rua.

E como você veio parar na clínica?
Meu pai me trouxe. Vim porque ele queria, para ver se eu me recupero. Mas acho que eu não precisava ter vindo prá cá. Basta a gente querer, que para de fumar.

E essa é a primeira vez que você é internado?
Não. Há dois anos, meu pai também me trouxe. Eu fiquei um mês aqui – na Casa de Eurípedes – e fui embora. Fiquei uns cinco meses sem droga nenhuma, mas aí voltei pra rua e comecei de novo.

Entrevista | Fernando, 31 anos
“É uma doença. A pessoa não dá conta de si”

Quantos anos você tinha quando se drogou pela primeira vez?
De 15 para 16 anos. Comecei bebendo. Depois veio a maconha e o crack. Com o tempo, se eu bebia, eu queria usar o crack. Se eu usava, queria beber.

E você nunca buscou tratamento?
Esta foi a primeira vez que me internei. E será a última, se Deus quiser. Pedi ajuda a meus pais e aos meus primos. Já não conseguia mais trabalhar e todo dinheiro que eu ganhava gastava no mesmo dia com droga e bebida.

A família e o Estado devem buscar internação involuntária do paciente?
É uma doença. Em algumas situações, a pessoa não dá conta de si. Ou ela aceita a internação ou não vai conseguir buscar ajuda. Eu ainda tive condições de pedir à minha família. Mas muitos não terão tempo para isso.

Enfim, começam obras do Credeq
Cleomar Almeida

Um ano e 96 dias depois de apresentar a maquete do prédio onde funcionará o primeiro Centro de Referência e Excelência em Dependência Química (Credeq), em Goiás, e de adiar por três vezes a licitação, a Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas (Agetop) emitiu a ordem de serviço à empresa Sobrado Construção, que executa a obra ao custo de R$ 19,864 milhões. Definida pelo secretário estadual de Saúde, Antônio Faleiros, como aposta de “tratamento mais agressivo para desintoxicação e ressocialização de dependentes químicos”, a unidade será construída na Avenida Copacabana, em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital, na área da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal (AGSEP), a cerca de quatro quilômetros da Penitenciária Odenir Guimarães (POG). A previsão é de que a obra seja concluída em 15 meses, ou seja, em abril de 2014.
A ordem de serviço saiu na segunda-feira passada, enquanto o projeto foi apresentado, inicialmente, em solenidade no Palácio das Esmeraldas em 18 de outubro de 2011. O governador Marconi Perillo informou, na época, que seriam construídas cinco unidades até o fim de seu mandato, em 2014; três seriam entregues até o ano passado. Apesar de não ter cumprido essa promessa, reforçou-a: “Estamos cuidando da construção dos Credeqs e temos ações nas áreas de saúde, de educação e na repressão ao tráfico.”
O Credeq terá uma estrutura dividida em três núcleos de atendimento separados por faixa etária (infantil, adolescente e adulto). Além disso, também haverá um centro de atenção psicossocial e casas de desintoxicação com sala de reanimação e de acolhimento transitório, com cultivo de hortas e outras atividades ocupacionais. Ambas terão 12 leitos. O centro terá capacidade para atender 96 dependentes químicos. “Muitas vezes o viciado quer se internar para fugir de homicídio, sobretudo a população de rua, que é o principal alvo da criminalidade”, comenta o médico Airton Ferreira dos Santos Filho, coordenador-técnico do projeto.
A Coordenação de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por sua vez, promete inaugurar o primeiro Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Capsad), na Região Noroeste da capital, ainda no primeiro trimestre deste ano. Será o terceiro com esse perfil, na cidade. Outros dois, que já funcionam, atendem, em média, 1.020 dependentes de drogas, por mês, conforme divulgado. São 773 adultos e 247 adolescentes e suas famílias que recebem assistência, no período.
Mas o médico Humberto Monção, coordenador de Saúde Mental da SMS, diz que a Prefeitura de Goiânia vai ter de realizar outro concurso público para contratação de psiquiatras. “Acho que os 22 especialistas aprovados no último concurso não serão suficientes para compensar a demanda”, alerta. Cada Caps deve ter pelo menos um médico dessa especialidade na equipe.
DRAMAS QUE SE CRUZAM
Todas essas deficiências castigam famílias como a da doméstica Nilza da Silva Santos, de 43 anos. Assim como a diarista Luciene Lopes Feitosa (leia reportagem na página 3), ela já não tem mais o filho, Welton, em casa. Perdeu para as drogas. Apesar de já ter sido internado três vezes, ele não conseguiu vencer a abstinência. “Fiquei feliz porque vi que lá em São Paulo começou um serviço de internação compulsória. Quero isso para o meu filho porque só quem vive esse drama sabe o tanto que é doloroso”, assevera.
Nilza mantém contato com o filho, de 19 anos, esporadicamente, quando o encontra nas ruas após sair do trabalho. “Essa é minha rotina!” Às vezes a doméstica o vê porque sabe a região onde ele fica, geralmente. No início do mês, O POPULAR conversou com Welton, enquanto ele buscava um lugar para dormir na cidade. “Já fui internado, mas saí! Se me derem a chance de novo, vou na hora!”, disse, na ocasião. “O ruim é que o povo fica excluindo a gente!”
Integrante do Fórum Goiano de Saúde Mental, o psiquiatra Lourival Belém Júnior argumenta que “quase todos esses jovens já eram excluídos socialmente e não tinham a visibilidade que têm hoje. Não se tornaram excluídos pelo crack, foram excluídos pela sociedade capitalista e encontraram na droga uma forma de lidar com a violência a que estão submetidos.”

OAB-GO defende discussão técnica
(C.A.)
A discussão sobre o modelo de tratamento de dependentes químicos é bastante contaminada por interesses meramente políticos, e não necessariamente pela definição das melhores estratégias para resgatar o viciado e lhe garantir a reinserção social. A avaliação é do presidente da Comissão de Direitos Humanos da seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO), Alexandre Prudente Marques. “A discussão dos métodos aplicados para combate ao uso de drogas deve ser aprofundada e se afastar do cunho político”, frisa o advogado, integrante do Fórum Goiano de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas.
Na avaliação de Alexandre, o problema da dependência química é agravado pelas mazelas sociais. “Faltam educação e programas de assistência às crianças e aos adolescentes, por exemplo”, destaca o presidente da Comissão de Direitos Humanos, para fazer duras críticas à internação compulsória. “Há uma velha discussão no Brasil de que as coisas vão se resolver pela lei, como se a legislação resolvesse tudo”, ressalta, reforçando que até a decisão judicial para esse tipo de tratamento precisa de um laudo médico. Para o advogado, os profissionais de saúde devem se unir para buscar uma estratégia, em vez de cada segmento ficar defendendo apenas o interesse da sua área de atuação.

MP critica falta de assistência básica
(C.A.)
A falta de assistência básica leva muitas famílias a solicitarem, na Justiça, a internação compulsória de um dependente químico, segundo a promotora de Justiça Liana Antunes Vieira Tormin, coordenadora do Centro de Apoio Operacional (CAO) da Infância e Juventude do Ministério Público de Goiás (MP-GO). “Esse tipo de pedido é recorrente, porque o poder público não oferece o tratamento adequado”, observa ela. “O Estado tem perdido cada vez mais o controle da situação.”
Ela lembra que, em setembro de 2011, o promotor de Justiça Alexandre Mendes Vieira propôs uma ação civil pública para que a Prefeitura de Goiânia fosse obrigada a implantar mais Centros de Atendimento Psicossocial (Caps), o que ainda não ocorreu totalmente. “A estrutura oferecida pelo município está aquém do necessário para atender a demanda. Enquanto isso, o problema só tende a se multiplicar”, pontua Liana.
De acordo com a promotora, o ideal é que fossem implementadas ações preventivas, já que, considera, na maioria das vezes, o vício é decorrente de uma série de problemas dentro da própria casa e um de seus primeiros sintomas “é o abandono da escola.” (27/01/12)
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Coluna Giro – QUEREM MÉDICOS
No encontro com a presidente Dilma, segunda-feira em Brasília, os prefeitos vão pedir flexibilização nas regras para reconhecer os diplomas de Medicina emitidos por faculdades no exterior.

IMPORTAR
Os prefeitos esperam que o governo anuncie medidas para ajudá-los. Entre elas, a de contratar médicos no exterior. Principalmente da Europa, em crise econômica.
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Editorial – O cerco da dengue

Já caracterizada como uma verdadeira epidemia, o cerco da dengue em Goiânia chegou a um nível assustador, com incrível multiplicação de casos neste mês. Foram registrados na primeira semana 1,5 mil casos e até a última quinta-feira o total de registros, desde o início do ano, já chegava a nada menos do que 5.795 casos.
A tantas outras precariedades da saúde pública se soma, no caso da dengue, a falta de cooperação de grande parte dos moradores. Muitos deles sequer admitem a presença de agentes de saúde em suas residências na campanha de combate à disseminação de focos do mosquito transmissor da doença. Outros depositam inadequadamente os detritos, contribuindo para o surgimento do Aedes aegypti.
Como as chuvas chegaram para valer neste janeiro, cresce o risco de acúmulo da água, favorecendo a proliferação de focos do mosquito. Há necessidade de mais agentes de saúde, pois os em atuação no momento estão sobrecarregados e em número insuficiente, considerando o preconizado pelo Ministério da Saúde.
Goiânia é no momento a segunda capital com maior número de casos notificados de dengue, o que mostra a dimensão do avanço da doença. É preciso que se mobilizem todos os organismos e todos os meios possíveis para o enfrentamento dessa epidemia, cuja extensão coloca em risco milhares de pessoas.
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Epidemia de dengue
Ministério libera R$ 2 milhões
Recursos serão utilizados para incrementar o trabalho de vigilância ambiental e de assistência
Deire Assis

Casa abandonada com objetos em piscina vazia: possível foco de criadouro do mosquito

Em visita a Goiás, representantes do Ministério da Saúde (MS) anunciaram o repasse de mais cerca de R$ 2 milhões que serão distribuídos entre a capital, Goiânia, e os municípios com médio e alto potencial para a dengue. Os recursos serão utilizados nas ações de combate ao mosquito Aedes aegypti e de assistência aos pacientes.
O coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue do MS, Giovanini Coelho, e o representante da Secretaria de Atenção à Saúde do ministério, Rodrigo Said, passaram o dia de ontem em mais uma reunião com os gestores das Secretarias de Saúde de Estado, de Goiânia e de municípios com mais casos da doença, além de técnicos que atuam no combate à dengue.
Ao POPULAR, Giovanini Coelho confirmou o reforço no repasse de recursos para Estado e capital, além de insumos para serem utilizados tanto nas ações de vigilância ambiental quanto nas ações de saúde e assistência aos doentes (veja material que será repassado às secretarias em quadro desta página). Outros R$ 5,5 milhões já estavam disponíveis para colocar em prática o plano de combate à dengue em Goiás.
Com o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde ficou acertada, também, a criação de uma sala permanente de monitoramento e vigilância, que funcionará na Secretaria de Estado da Saúde. Lá, as equipes se reunirão semanalmente para avaliação e planejamento das ações.
GOIÂNIA
O trabalho em curso em Goiânia, de acordo com o coordenador, passará por uma análise particular, tendo em vista a epidemia vivida pela capital esse ano – nas três primeiras semanas de janeiro foram notificados 5.844 casos, em média 50% do total de casos registrados durante todo o ano passado. “Já está certa a necessidade de se ampliar o número de leitos”, destacou.
Em relação a este tema, está agendada para a próxima semana uma reunião entre os gestores das secretarias de Saúde de Goiânia, Aparecida e do Estado com gestores dos hospitais-gerais e conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS) para discutir a ampliação do número de leitos em mais 120 unidades. O objetivo é garantir maior suporte para os casos complicados de dengue, que necessitam de internação.

Imóvel fechado em área nobre tira sossego dos vizinhos
(D.A.)
Fechado há vários anos, imóvel composto por cerca de sete terrenos no Setor Oeste, nas imediações da Praça do Sol, tem tirado o sossego dos vizinhos. O local, que há alguns anos abrigou uma unidade escolar, está desocupado e tem servido de abrigo, agora, para o Aedes aegypti.
Um comerciante vizinho ao local, que preferiu não se identificar, conta que, no restaurante que comanda, pelo menos três pessoas já adoeceram. “Dá para ver que o mato está alto e que há até material de campanha política jogado na piscina que tem no local.”
A última vez que parte do imóvel foi ocupado, serviu de comitê para uma candidato a prefeito de Goiânia, em 2012. Restos da campanha eleitoral, segundo o vizinho, continuam no local, juntando água e favorecendo a proliferação do mosquito transmissor da dengue.
Segundo o comerciante, a situação já foi levada ao conhecimento da Prefeitura. “Mas dizem que é preciso esperar providências que já teriam sido tomadas, porque o imóvel está fechado. ”

Maioria dos autuados é por problemas em casa

A Prefeitura de Goiânia estima que, em média, 90% dos autos de infração aplicados na capital por problemas com a manutenção de criadouros de dengue são direcionados a moradores que não fazem a lição dentro de casa. No ano passado, o Departamento de Vigilância e Saúde da Secretaria Municipal de Saúde aplicou 1,2 mil autos a infratores por esta razão.
Segundo o diretor do departamento, Luiz Elias Camargo, apenas uma pequena parte dos notificados – 88, no total – foram efetivamente multados por não terem atendido à notificação da prefeitura. “Estas pessoas ganham um prazo para sanar o problema. Se não o fazem, ai então são multados”, cita. As autuações, de acordo com o diretor, são baseadas nos Códigos de Saúde e de Postura. A multa aplicada é no valor de R$ 355.
De dentro de casa para a rua, os maiores problemas envolvem o setor de construção civil, segundo informa o diretor. “Raramente eles conseguem resolver o problema. Tem de tudo: conteineres em desconformidade com a lei, latas com água, restos de construção”, cita. Oficinas mecânicas, borracharias e empresas de material reciclável também ocupam o ranking dos mais irregulares.
A partir da próxima terça-feira, a Prefeitura de Goiânia inicia um trabalho voltado especialmente para o recolhimento de pneus jogados nas ruas. De acordo com Luiz Elias, conteineres serão colocados em pontos estratégicos entre Aparecida e Goiânia. Quem tiver pneu para ser recolhido em casa pode agendar pelo telefone 156. (26/01/13)
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação