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O POPULAR
Saúde
Lotado, Hugo fica sem macas
Na manhã de ontem, oito ambulâncias tiveram de “emprestar” equipamento para hospital
Cleomar Almeida
A superlotação no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), o maior da rede pública na capital, fez oito ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ficarem presas, na manhã de ontem, no pátio da unidade, impedidas de prestar outros socorros. As macas, usadas para o transporte de pacientes, estavam ocupadas por outros doentes, nos corredores do hospital, castigado pela falta de leitos suficientes para atender à demanda.
Uma das macas só foi liberada após um paciente, com fratura na perna, ser removido para a mesa do centro cirúrgico. Houve casos em que equipes do Samu ficaram travadas por mais de cinco horas, já que o hospital não tinha macas para receber todos os doentes que necessitavam delas. O diretor técnico do Samu, Nicola Bertolini, admitiu que o problema no Hugo afetou outros socorros. “Afeta porque reduz o número de unidades móveis para atendimento. A ambulância não pode sair do hospital sem a maca”, pontuou ele. Em seguida, no entanto, acentuou que não faltaram ambulâncias para atender a pacientes considerados de emergência.
Somente na capital, de acordo com Nicola, o Samu tem uma equipe de 74 médicos e 17 ambulâncias – 13 de suporte básico e 4 de suporte avançado. Conforme ele destacou, essa estrutura segue uma recomendação do Ministério da Saúde (MS) e tem capacidade para atender a toda demanda.
CAPACIDADE AFOGADA
Coordenador do departamento médico do Hugo, Antônio Guise Marques afirmou que também não faltam máquinas na unidade de saúde. “O problema não é maca. Macas, nós temos”, asseverou, para emendar: “O problema é superlotação. Hoje, o Hugo atua com 30% acima de sua capacidade, infelizmente.”
O hospital tem 276 leitos, porém, no início do mês, por exemplo, registrou 366 pacientes internados, muitos em macas, divulgou o Instituto Gerir, organização social (OS) que administra o Hugo. Ao criticar a centralização do atendimento na capital, informou, ainda, que, no primeiro semestre deste ano, recebeu 5.436 doentes de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital.
Assim como Antônio Guise, o secretário estadual de Saúde, Antônio Faleiros, atribuiu o afogamento do Hugo a um problema na Central de Regulação, sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). “Se está com maca no corredor, alguém mandou paciente para lá, irregularmente. A regulação não pode mandar paciente acima da nossa capacidade. Não tem como colocar beliche no Hugo”, criticou Faleiros.
MENOS ATENDIMENTO
Apesar de o médico Antônio Guise classificar como “pontual” a histórica superlotação no Hugo e cobrar da Central de Regulação mais critérios para encaminhar pacientes ao hospital, o diretor do Controle e Avaliação do Município de Goiânia, Cláudio Tavares Silveira Sousa, rebateu as críticas. Segundo ele, a unidade reduziu o atendimento nos últimos anos. “O Hugo passou de 900 atendimentos por dia, em 2009, para cerca de 200, hoje”, apontou o médico. O Gerir reagiu, alegando houve um aumento de 17,57% na quantidade de pacientes atendidos, com base no primeiro semestre doste ano e de 2012.
A situação deste final de semana, emendou ele, se agravou após um problema no setor de anestesia (leia reportagem nesta página)
Uma das promessas para desafogar o atendimento médico no Hugo, o Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa) “deve começar a funcionar efetivamente esta semana”, de acordo com o secretário estadual de Saúde. “O Huapa vai desafogar bastante a situação do Hugo, ma não totalmente”, reconheceu ele. O Huapa 2, em construção na Região Noroeste de Goiânia, será inaugurado somente em maio do próximo ano, lembrou Faleiros.
Impasse com anestesistas agravou superlotação
A situação deste final de semana no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) se agravou por causa de um problema no setor de anestesia da unidade de saúde, há duas semanas. Anestesistas tiveram um impasse com a cooperativa, que emite documento necessário para pagamento.
Segundo o diretor de Controle e Avaliação do Município de Goiânia, Cláudio Tavares Silveira Sousa, cirurgias ortopédicas tiveram de ser suspensas, na ocasião, e, portanto, acumulou procedimentos médicos que deveriam ser realizados até esta semana.
O Instituto Gerir, organização social (OS) que administra o hospital, informou que o problema já foi resolvido.
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Cais fica sem 5 de 6 médicos em plantão
Patrícia Drummond
Cinco médicos, dos seis escalados para o plantão de ontem – segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) – no Centro de Atendimento Integral à Saúde (Cais) do Jardim Novo Mundo, em Goiânia, faltaram ao trabalho. Durante a manhã, pacientes que buscaram atendimento na unidade e não foram diagnosticados como casos graves foram encaminhados a outros postos de saúde da capital, enquanto que, para suprir a ausência dos profissionais, a SMS buscou outros dois médicos.
A falta dos médicos, em pleno domingo, gerou indignação nos usuários do sistema, que, por meio de redes sociais na internet, não deixaram de demonstrar a insatisfação. “Quem sabe médicos de fora não faltem, assim, à toa, ao serviço?”, provocou uma paciente ouvida pela reportagem, que preferiu não se identificar.
À tarde, a prestação do serviço de saúde no Cais Novo Mundo já havia se normalizado. De acordo com a assessoria de comunicação da SMS, ainda hoje o órgão deverá apurar o motivo da falta dos cinco plantonistas escalados e irá tomar as providências necessárias, caso não haja justificativa considerada plausível.
O POPULAR tentou ouvir o Sindicato dos Médicos em Goiás (Simego) sobre o assunto, mas não obteve retorno. (15/07/13)
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Cartas dos Leitores – Medicina
Até hoje gozei do privilégio de não depender da medicina pública. Tenho plano de saúde e, em regra, faço minhas consultas com médicos particulares, não porque tenho que aguardar, em média, 30 dias para ser atendido, mas para fugir aos atendimentos de cinco a oitos minutos, porque esses planos ou seguros pagam mal. Procuro atendimento particular porque a conduta desses médicos, às vezes, não é ética e menos ainda profissional.
Não tenho procuração dos médicos para defender seus interesses e nem competência para acusá-los, mas tenho a soberana procuração da cidadania para defender uma medicina de qualidade para todos, em especial para os usuários dos SUS. Medicina de qualidade não se faz com importação de médicos. Quero dizer que esses médicos, se qualificados fossem, não se prestariam a trabalhar em postos de saúde, clínicas e hospitais sucateados em que falta do esparadrapo à UTI.
Se a intenção do governo fosse importar médicos de inquestionáveis conhecimentos, aptos a exercerem a medicina em sua plenitude, não criaria barreiras ao exame de revalidação de seus diplomas. Se a intenção do governo fosse fornecer ao povo um serviço médico de padrão aceitável, por certo a presidente da república não vetaria os dispositivos da chamada Lei do Ato Médico para, assim, autorizar os profissionais de enfermaria a diagnosticar doenças, receitar remédios e praticarem outros procedimentos que eram da competência exclusiva dos médicos.
Por desconhecer os currículos das escolas de enfermagem indago. Será que nesses currículos há disciplinas e práticas que habilitam os profissionais que formam a praticar tais atos?
A duração do curso é a mesma do curso de medicina? São eles obrigados a fazer residência médica? Indago mais. Será que a presidente se submeteria a uma consulta e aceitaria o diagnóstico e tomaria do remédio receitado pelos médicos importados ou pelos profissionais de enfermaria? Se ela tivesse submetido sua saúde a esses profissionais teria se curado da grave doença de que foi acometida?
Ao que parece, nesses dois casos não há nada além de improviso, de ímpeto, de encenação, de incompetência e de desrespeito aos usuários dos serviços médicos públicos, como se esses serviços não fossem mantidos com os altíssimos impostos que esses usuários pagam ao comerem o seu feijão com arroz do dia a dia, ao comprarem suas roupas, ao usarem o precário transporte coletivo.
O governo tem de entender que não está fazendo favor algum ao povo e que é dever prestar-lhe serviços de qualidade, não com a importação de médicos ou com a imposição aos estagiários de medicina ou aos médicos recém-formados de prestarem serviços gratuitos, porque eles, ainda que formados ou formandos por escolas públicas pagaram ou pagam pelos estudos, porque pagam impostos.
E como assim é, não podem perder dois anos de suas vidas trabalhando para SUS quando deveriam estar estagiando ou fazendo residência médica em hospitais de alto nível, supervisionados por brilhantes professores, tudo no interesse do Brasil. Mas, quem se interessa pelo Brasil?
Se os governos (federal, estaduais e municipais) estivessem interessados em a fornecer – aos que por ela pagaram e pagam – uma saúde pública de qualidade, sem sombra de dúvidas daria condições de trabalho dignas aos médicos e demais profissionais da saúde, aí incluídas condições físicas, materiais, tecnológicas e lhes garantiria o direito constitucional de serem admitidos ao serviço público por meio de concurso público e lhes conferiria lei garantindo-lhes planos de carreira condignos que permitisse exigir-lhes uma contraprestação de igual nível, tirando-os das garras dos interesses de prefeitos de cidades do interior.
Edmar Lázaro Borges – Goiânia – GO (15/07/13)
Ato Médico
A presidente Dilma Rousseff e o ministro Alexandre Padilha em um lance de rara genialidade resolveram com uma canetada só o problema da saúde no Brasil, ao decretar que qualquer profissional da saúde pode ser apto ao diagnóstico e tratamento das doenças.
Isto é excelente, porque resolve toda a polêmica sobre médicos estrangeiros, pois agora basta enviarmos os profissionais não médicos para o interior. Sofreu um derrame, mande chamar o psicólogo para resolver. Enfartou, convoque o biomédico. Quebrou a coluna, convide o fisioterapeuta para resolver o problema.
O mais curioso de toda esta história e que não está sendo ventilado pelos jornais, é que o atestado de óbito ficou na referida lei como privativo do médico. Ou seja, todos podem fazer o que quiserem, mas só o médico pode ser penalmente responsabilizado. Assim fica realmente muito fácil ser médico sem fazer Medicina.
Solimar Moises de Sousa – Setor Aeroporto – Goiânia (13/07/13)
■ A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostra-se formalmente contrária à decisão do governo federal de importar médicos para atuarem nos municípios do interior do País, sem a devida revalidação do diploma. A decisão partiu do Conselho Diretor da Faculdade, que se manifestou também totalmente contrário à portaria interministerial que estabelece o aumento de mais dois anos no tempo de formação dos novos médicos, passando a duração do curso de Medicina de seis para oito anos.
A importação de médicos estrangeiros sem submetê-los às normas e exigências técnicas do Revalida como foi proposto pelo governo fere preceitos das instituições acadêmicas responsáveis pela formação de médicos brasileiros. A solução dos problemas de saúde do País não depende do número ou qualidade dos médicos, mas sim da falta de infraestrutura do sistema de saúde e da falta de uma carreira efetiva para o médico, com salários dignos. Desta maneira haverá um real estímulo ao trabalho em qualquer região do Brasil e o profissional de medicina deixará de ser objeto para uso político.
Com relação à portaria interministerial divulgada pelo governo federal que trata do aumento de dois anos, passando dos atuais seis para oito anos na formação acadêmica dos novos médicos, o Conselho Diretor da FM/UFG repudia a medida tomada, sem qualquer discussão com a comunidade acadêmica da área de educação, que é quem tem competência para estabelecer mudanças no âmbito do ensino.
Os nossos alunos já cumprem o Internato do 5º e 6º anos no SUS em unidades básicas de atendimento e nos hospitais públicos de referência em Goiânia e no interior do Estado, em especial no Internato instalado nas cidades de Morrinhos, Jataí, Firminópolis e São Luiz de Montes Belos.
Portanto entende o Conselho Diretor da Faculdade de Medicina da UFG, que os dois anos propostos na portaria interministerial representam uma repetição do que já ocorre, o que, na prática, não acrescentará nada ao aluno e nem trará qualquer benefício prático à população. Além disso, a medida irá apenas se caracterizar como a oficialização do serviço civil obrigatório, à semelhança do serviço militar já existente.
Vardeli Alves de Moraes – Diretor da Faculdade de Medicina da UFG (13/07/13)
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Mais médicos
Caiado diz que vai ao STF contra programa
Brasília – O líder do DEM na Câmara, deputado goiano Ronaldo Caiado, anunciou que vai tentar derrubar a medida provisória (MP) do programa “Mais Médicos” de duas formas: usando as normas internas do próprio Congresso e recorrendo ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, a medida não respeita os princípios da urgência e fere o direito do exercício de liberdade do exercício profissional. Caiado é médico e líder de um partido de oposição.
A MP do programa foi publicada terça-feira no Diário Oficial Entre as medidas mais polêmicas do programa está a obrigatoriedade de os estudantes de medicina que começarem o curso a partir de 2015 terem de trabalhar dois anos no SUS para conseguir o diploma. Outro ponto de discórdia é a possibilidade de trazer médicos formados no exterior , desde que eles aceitem trabalhar em regiões onde há carência desses profissionais.
A Constituição diz que medidas provisórias — que começam a valer no momento da sua edição, antes mesmo da aprovação do Congresso — só podem ser adotadas em casos de relevância e urgência. Caiado destaca que, no caso dos dois anos extra no SUS, não há urgência para a edição de uma MP, já que as medidas só valerão para quem começar o curso a partir de 2015. (13/07/13)
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JORNAL OPÇÃO
Em vez de médicos do exterior, carreira de Estado
Entidades da classe não veem outra solução para a demanda de cidades longe dos grandes centros a não ser com um vínculo profissional forte e estável
Elder Dias
Pode perguntar para qualquer médico. A resposta será invariável se a questão posta for a solução para a falta de médicos nas cidades do interior do País: carreira de Estado. Assim pensa o presidente da Associação Médica de Goiás (AMG), Rui Gilberto Ferreira: “Só vejo possibilidade de resolver essa questão com a carreira de Estado.” Da mesma forma Salomão Rodrigues Filho, do Conselho Regional de Medicina (Cremego): “Uma carreira de Estado para o médico, com tempo integral e dedicação exclusiva, com certeza faria ocupar os rincões”, afirma.
Assim é a opinião dos líderes classistas, assim é a opinião dos profissionais. Na história do Brasil talvez nunca tenha havido um momento com tamanha reação contra uma medida no setor da saúde como a que está em curso contra a decisão de importar médicos, tomada pelo governo da presidente Dilma Rousseff. Exceção talvez seja a Revolta da Vacina, no início do século passado, quando a população reagiu à campanha de vacinação obrigatória. Mas o fato é que nunca se viu tanto médico em passeatas como nas últimas semanas, no embalo das manifestações.
O fato é que a questão é muito grave para servir de disputa entre interesses corporativos ou politiqueiros: como interiorizar o serviço médico em um território de dimensões continentais, onde não há alguém formado em Medicina em mais de 700 municípios? A segunda questão versa, a partir da primeira, sobre com “quem” interiorizar: médicos formados no Brasil ou no exterior?
De um lado, principalmente no senso comum da população, há quem ache que os médicos simplesmente não querem abrir mão do conforto de uma cidade grande, com facilidade de acesso e opções culturais e de lazer diversas, entre tantos outros atrativos. Talvez pelo status da profissão, são tachados por muitos de gente “mimada”, “filhinhos de papai” que não querem nada com a dureza.
Não é bem assim. Ou melhor, não é nada assim, segundo Rui Gilberto Ferreira. “No interior, os contratos são muito frágeis. Muitas vezes não há férias nem 13º salário. O médico não tem nenhuma segurança trabalhista, já que depende de quem está no poder. Há também, pelo mesmo motivo, muita tentativa de intervenção técnica e ingerência política em seu trabalho: “faz essa ligadura nessa trompa, “atenda isso, não atenda aquilo”. E por fim, geralmente o profissional é atraído com salários razoáveis, mas, com o tempo, sofrem também financeiramente.”
Por isso, entende Ferreira, o compromisso teria de ser com a implementação de uma carreira de Estado. “A medicina é um serviço essencial, assim como é o do promotor e o do juiz. Imagine o que seria se tanto um como o outro fossem para o interior com contratos frágeis”, raciocina. Com 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a saúde — pleito semelhante ao que se quer para a educação —, seriam, nas contas do presidente da AMG, mais de R$ 100 bilhões por ano, um montante mais do que suficiente para um plano de carreira como quer a categoria: R$ 10,4 mil por 20 horas de trabalho mais ajuda de custo. “É perfeitamente possível.”
O presidente do Cremego concorda e vai além: “Se o Brasil resolvesse hoje votar a implantação da carreira de Estado para médico (há dois projetos sobre o tema no Congresso), em seis meses esses profissionais poderiam estar a serviço da população”, diz Salomão Rodrigues. Mas um concurso desse nível cobriria todo o País, mesmo nas localidades mais longínquas? Ele acha que sim. “O Brasil tem 400 mil médicos. Suponhamos que abram 50 mil vagas. Com certeza teríamos um contingente suficiente disposto a suprir essa demanda.
“Quando vai para o interior contratado por uma prefeitura, o médico é atraído falsamente por um salário bom, mas não encontra estrutura, não há hospital nem as condições mínimas de trabalho. Ele acaba por se ver impotente diante das situações impostas.” O certo? Levar o profissional, mas, junto com ele, também a infraestrutura.
A carreira de Estado serviria também para fortalecer o vínculo do profissional com o setor público, com uma remuneração adequada. Salomão Filho cita a fragilidade para a permanência já a partir do salário proposto: nos últimos concursos de Goiânia e de Aparecida de Goiânia, o edital fixava, respectivamente, R$ 2,2 mil e R$ 1,2 mil de salário inicial para 20 horas semanais de trabalho. Some-se à baixa remuneração a falta de condições adequadas de trabalho e percebe-se a imensa distância que há entre a imagem real e a realidade imaginada para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Médicos estrangeiros
Nada contra cubanos, espanhóis ou portugueses que viessem para o Brasil exercer a medicina. Isso não precisaria ir de encontro ao pleito dos médicos por uma carreira mais segura. Porém, ressalva Salomão, desde que tivessem a revalidação de seu diploma. “Fora disso [do filtro do Revalida] se expõe a população brasileira.” O presidente do Cremego diz que há 30 mil cubanos exercendo a medicina na Venezuela e que o Colégio Venezuelano de Médicos — um equivalente ao Conselho Federal de Medicina (CFM) — teria descoberto que cerca de 50% deles não eram sequer médicos, já que não havia necessidade de um certificado como o Revalida. “A república bolivariana impôs uma missão de doutrinação. A mesma coisa está acontecendo na Bolívia. Há pouquíssimo de medicina e muito de ideologia política.”
Salomão Rodrigues Filho diz que os cubanos têm grande dificuldade de obter o Revalida, pela forma com que a medicina é ensinada na ilha de Fidel Castro. Rui Gilberto Ferreira completa. “Se eu quiser exercer medicina no exterior, tenho de revalidar de acordo com as leis do país. Isso vale para qualquer lugar. Por que não deveria valer aqui para o Brasil?”
Por fim, ambos os líderes de entidade também veem muito a medida abrupta de acrescer dois anos ao curso de Medicina a partir de 2015 como algo estapafúrdio. “É uma loucura do governo do PT em relação à proposta de melhoria do setor da saúde, algo que teria de ser discutido com as faculdades de medicina do País e com a classe médica. Aumentar um curso em um terço é uma medida totalmente autoritária”, diz Rui Gilberto Ferreira.
A falta que a estrutura faz
Marcia Alves é ginecologista e obstetra há cerca de dez anos. Desde que terminou a residência médica, escolheu trabalhar no interior, em uma cidade de médio porte: Morrinhos, município do Sul goiano com população em torno de 40 mil habitantes. “Optei por isso por ter vi¬venciado a rotina da vida na cidade grande durante o tempo de faculdade e especialização, em que fazia vários plantões. Achava que o tempo perdido no trânsito, os inúmeros assaltos sofridos e o custo de vida ja¬mais poderiam ser atrativos. No interior encontrei qualidade de vida e um pouco mais de segurança”, conta.
Ela gasta de dois a três minutos para chegar ao hospital onde atende suas pacientes. Mas ela sabe que a realidade de Mor¬ri¬nhos, uma cidade razoavelmente bem equipada com hospitais e cen¬tros de saúde, é bem diferente de outros municípios do interior. “Já me ofereceram salário de até R$ 19 mil para trabalhar em ou¬tra cidade, e isso por volta de 2005. Mas aí você chega ao lugar e não encontra nada, estrutura ze¬ro e uma equipe 100% despreparada. Aí é você e você, ninguém mais. Se ocorrer qualquer coisa, a responsabilidade é só minha, sou eu quem vai ter de se entender com o conselho [de medicina].”
Com a autoridade de quem já foi presidente da Federação Bra¬si¬leira de Gastroenterologia, da So¬ciedade Brasileira de Hepato¬logia (SBH) e diretor da Faculdade de Medicina, o hoje professor emérito da Universidade Federal de Goiás (UFG) Heitor Rosa corrobora o testemunho de Marcia Al¬ves. E faz um desafio: “Quem for convidar médicos da Espanha ou de Portugal para vir trabalhar no Brasil vai passar vergonha.” Por quê? “Os médicos de lá querem saber como são as condições de trabalho por aqui. Os espanhóis, por exemplo, afirmam que, apesar de estarem em uma fase ruim no país, preferem trabalhar em outros países da Europa a encarar uma situação precária”, completa.
Por trabalhar com a responsabilidade sobre a vida humana de forma tão direta, mais do que a média dos demais profissionais, o médico preza bastante as condições de trabalho em relação ao salário — como comprova a própria personagem do início deste texto. “É muito bom ter tudo o que precisa para atender os pacientes com dignidade. O médico trabalha satisfeito e a produção melhora”, atesta Hei¬tor Rosa, que também considera um “jogo eleitoreiro, forçado pelas manifestações populares”, o aumento de seis para oito anos do tempo do curso de Medicina.
Governo quer dedicação em tempo integral
O Jornal Opção procurou o Ministério da Saúde para buscar esclarecer a polêmica lançada pelo próprio governo e que teve, como reação, a pressão dos médicos pela introdução da carreira de Estado. Um dos questionamentos da reportagem foi exatamente este: “É possível pensar em carreira de Estado para os médicos? Se sim, em quanto tempo? Se não, qual a alternativa?”
Com a ressalva de que o ministério estaria “sem porta-vozes disponíveis nesse momento para entrevistas”, já que o ministro [Alexandre Padilha] e o secretário estariam viajando, a assessoria respondeu com a seguinte nota:
“O Ministério da Saúde é favorável a haver carreiras de Estado — federal, estadual e municipal —, mas o médico tem de estar 40 horas por semana, presente todos os dias numa unidade de saúde. E não pode ter consultório privado.
Uma das regras propostas pelo Ministério da Saúde é que o médico que ingressar na carreira de Estado não possa exercer qualquer outra atividade ligada à Medicina nem em cargo público — como estabelece o texto original — nem em consultório particular — exceto o magistério.
Além disso, o Ministério da Saúde propõe que seja proibido ao profissional receber qualquer auxílio ou contribuição financeira de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas durante o exercício do cargo.
De qualquer forma, algumas medidas vêm sendo tomadas pelo Ministério da Saúde para estimular a adoção de Planos de Carreiras, Cargos e Salários (PCCS), de forma a promover a estabilidade dos vínculos funcionais e a valorização dos médicos, com a possibilidade de progressão na carreira e de incremento gradativo dos salários.
Mesa de Negociação Per¬manente do SUS: fórum de negociação entre gestores e trabalhadores sobre as relações de trabalho no SUS, possui um protocolo que estabelece diretrizes nacionais para a implantação de planos de carreira, cargos e salários no SUS.
Desprecarizando: ano passado o Ministério lançou uma portaria que está financiando projetos estaduais que visem construir novas iniciativas de Planos de Carreiras, Cargos e Salários e de desprecarização de vínculos trabalhistas no SUS. O Ministério está investindo R$ 29 milhões em 13 projetos selecionados. Todos estão contando com apoio técnico e acompanhamento do Minis¬tério da Saúde para a execução das medidas. Aqui novamente podemos ajudá-la a buscar uma fonte para explicar a experiência.
InovaSUS: no ano de 2012 foi realizada a segunda edição do Premio, com foco em experiências exitosas de carreira. Partici¬param 39 experiências e 12 receberam a premiação que ao todo soma R$ 200 mil. As experiências estão em processo de sistematização para divulgação, e o Minis¬tério vai disponibilizar um banco de experiências de carreira para ser¬vir de modelo para outros municípios.”
Diretamente sobre a questão dos médicos vindos do exterior e a não obrigatoriedade do Re¬valida, a resposta foi a seguinte: “No caso dos médicos estrangeiros, como a atuação desses médicos com registro provisório será direcionada pelo governo federal às áreas carentes e vulneráveis, ele estará dispensado do Reva¬lida. A aprovação no exame e consequente validação do diploma autoriza o profissional a trabalhar em qualquer região do país, concorrendo livremente no mercado de trabalho. Dessa forma, se o exame fosse realizado não seria possível determinar onde esse médico trabalhará, o que não resolveria o problema de falta de médicos no país concentrada no interior.” (14/07/13)
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O HOJE
Plástica encanta adolescentes
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica revela que, em 2012, foram feitos 91 mil procedimentos. Alto índice entre pessoas de até 18 anos
Orelha de abano, nariz grande, torto ou fora do padrão podem ser motivo de traumas e muita brincadeira na escola. Como solução, muitos adolescentes recorrem ao bisturi ainda cedo. Em razão disso, o número de intervenções na faixa etária entre 14 e 18 anos cresceu mais que o dobro, em quatro anos.
Foram registrados 37,74 mil procedimentos em 2008, enquanto 2012 teve um salto para 91,1 mil cirurgias em adolescentes, revelam dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). No mesmo período, o total de plásticas em adultos foi de 591,26 mil para 819,9 mil cirurgias (aumento de 38,6%). Ou seja, as cirurgias realizadas no público de até 18 anos aumentaram pelo menos três vezes.
Em Goiás, só no primeiro semestre deste ano, foram 12 mil cirurgias plásticas. Entre elas, 10% em adolescentes. A participação dos jovens no total de cirurgias registradas pela SBCP também foi considerável, já que era de 6% em 2008 e foi para 10% em 2012. O presidente da SBCP, regional Goiás, Nelson Fernandes de Moraes, afirma que os procedimentos têm aumentado nessa idade, sobretudo a otoplastia (orelha) e rinoplastia (nariz), por causa da atenção dedicada pelos pais. “Se o problema atrapalha o desenvolvimento do adolescente e o pai percebe, ele procura a ajuda de uma cirurgia para ajudar.”
Foi o caso de Jordana Venâncio, 20 anos, que, apesar de nunca ter dito o quanto a orelha de abano incomodava, recebeu a otoplastia de presente de 15 anos. “Eu sofri muito na escola, usava uma faixa para esconder e não usava o cabelo preso.”
A estudante de Relações Públicas conta que a cirurgia foi um marco na sua vida. “Mudei muito. Passei a prender meu cabelo e ser mais espontânea, porque não preciso mais me preocupar em esconder nada.”
Jordana diz que, mesmo escondendo o problema, sofria com as piadinhas dos colegas e se isolava como muitas crianças e adolescentes que também têm algum complexo, ficam com autoestima muito baixa e se escondem o quanto podem do bullyng, com atitudes confundidas com timidez ou agressividade.
Por isso, o presidente da SBCP Goiás aconselha aos pais observarem o comportamento dos filhos, conversarem e analisarem se há algum trauma que pode ser tratado. “Quando o convívio social é muito prejudicado, estimulamos que a cirurgia plástica seja um recurso, até mesmo quando se trata de cirurgia das mamas, quando há inclusive problema de coluna, que é recomendada a partir dos 18 anos.”
É o que também diz o cirurgião plástico Pedro Torminn Borges. Ele conta que, fisiologicamente, a formação das mamas é completada somente aos 18 anos. Mas há casos que devem ser tratados com urgência. “Já tive paciente com apenas 15 anos que não saía de casa. Depois da cirurgia de prótese mamária, mudou de vida.”
“Tem muita menina que é recatada, reclusa, faz uma cirurgia para corrigir um trauma e muda de vida. Passa a ser feliz”, afirma o cirurgião, que também recomenda cautela ao indicar o procedimento quando o médico notar algum desvio de comportamento. “Há pacientes bipolares, esquizofrênicos, que sempre acham que um procedimento pode mudar a vida e nunca se contentam com uma mudança. Sempre querem mais.”
Seja por sofrer com piadinhas ou mesmo por desconforto pessoal, a cirurgia plástica pode ser uma libertação de problemas que prejudicam a saúde ou mesmo estéticos, que se tornam um empecilho. Como a estudante de Educação Física Mellyna Petra, que recebeu convites para ser modelo, quando adolescente, e recusou por acreditar que o nariz era feio. “Eu tinha o dorso elevado, asas nasais abertas e um pequeno desvio de septo. A mentoplastia (queixo) foi recomendada pelo médico.”
Mesmo com tantos detalhes a respeito do que considerava defeitos, Mellyna afirma que não sofria com piadas e nem comentários. “Ninguém nunca falou nada, mas eu sempre achava que estavam me olhando por causa do nariz e me sentia muito incomodada, inclusive para tirar fotos.”
Quando tinha 14 anos, conta ela, “comecei um estágio em academia, conheci uma assistente do cirurgião que me operou, conversei com ela e animei. Depois, foi só conseguir o dinheiro para melhorar minha aparência, que é tão importante no meio que quero trabalhar”, conta Mellyna, que criou um blog para contar sobre a experiência (http://mellynapetra.wordpress.com/tag/mellyna-petra/).
A alegria da estudante é tanta que, mesmo após somente um mês da cirurgia plástica, já se sente mais confiante e satisfeita. “Mesmo o cirurgião dizendo que tem até um ano para ficar perfeito, se ficasse assim já estava ótimo.”
Maturidade
Conforme destaca Moraes, é importante, sobretudo aos pais, observar e respeitar o nível de maturidade do adolescente interessado na intervenção. Para o especialista, muitas vezes os jovens revelam maturidade de personalidade. Mas, por outro lado, não têm maturidade corporal o suficiente para o procedimento ou vice-versa. “Quando não tem cabeça, nem corpo, é preciso ter muito cuidado. Boa parte dos procedimentos é irreversível. Ou seja, não têm volta”, avisa. (14/07/13)
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CONTINUA