Continuação
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Dividida, Câmara de Goiânia cria CEI para investigar UTIs privadas
Sob acusação de que proposta busca 'holofotes', requerimento foi apresentado pelo vereador Paulo Daher (PMN); MDB não vai participar
Em clima de divisão interna, a Câmara de Goiânia criou na manhã de ontem uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar a oferta e a ocupação de leitos de enfermaria e de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais particulares da capital para o tratamento de pacientes com coronavírus.
Em acordo do grupo favorável à CEI, do qual faz parte o presidente Romário Policarpo (Patriota), o requerimento foi apresentado pelo vereador Paulo Daher (PMN), que é médico, com mais 11 assinaturas. À tarde, o MDB, maior bancada da Casa e sigla do prefeito Iris Rezende, decidiu que não vai participar da comissão.
Durante a sessão de ontem, quatro vereadores se manifestaram contra a instalação da CEI, alegando que a proposta busca holofotes e que não há necessidade de se criar uma investigação dessa proporção na Casa. Nos bastidores, outros quatro também fizeram críticas afirmando não ser momento de criar "tumultos".
O requerimento da CEI ocorreu no dia seguinte ao envio de ofícios por parte da presidência da Câmara para que a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) e outros órgãos forneçam informações sobre a quantidade de leitos. Questionado se não seria melhor aguardar as respostas das instituições, Paulo Daher disse que uma CEI tem "maior poder" para exigir respostas mais rápidas e aprofundadas e abre possibilidade de convocações.
"Talvez seria suficiente (o conteúdo das respostas aos ofícios), mas é uma questão de extrema emergência, então precisamos de algo mais resolutivo. Acho que o momento pede uma CEI", afirma o vereador.
O líder do prefeito na Casa, Welington Peixoto (DEM), que assinou o requerimento, afirmou que sua participação ocorre de forma pessoal e não como representante do prefeito. "A minha assinatura e meu apoio não têm a ver com a liderança. Acho que devemos averiguar as denúncias que chegaram a esta Casa. Não estou falando em nome do prefeito", disse na sessão.
À reportagem, Welington disse que estranhou a decisão do MDB porque a reunião de segunda-feira, na presidência, em que foi decidida a instalação da CEI teve a participação de dois vereadores do partido. "Recebemos denúncias de que alguns hospitais tiraram vagas para tratamento de coronavírus e depois falaram de lotação. Precisamos saber a real quantidade de vagas e ouvir os dois lados", afirma o vereador.
Policarpo já havia decidido enviar os ofícios, quando foi divulgada a informação por parte da Ahpaceg de que a taxa de ocupação dos leitos para Covid-19 nos hospitais credenciados à rede municipal é de 85%, com risco de colapso. Como a manifestação ocorreu logo após a publicação de decreto de Iris flexibilizando atividades comerciais na capital, na sexta-feira (19), os vereadores favoráveis à retomada da economia consideram que é estratégia para barrar o plano de reabertura ou forçar cobranças mais altas. Além do ofício à Ahpaceg, também foram feitos pedidos à Secretaria Municipal de Saúde, Instituto Municipal de Assistência à Saúde (Imas), Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) e Unimed.
Questionado sobre se não seria mais adequado aguardar as respostas das entidades, Welington disse que pode até haver recuo na CEI. "Se chegarem as respostas e forem satisfatórias, esclarecedoras, a CEI pode até ser retirada. Mas parece que há certa resistência. Precisamos ter respostas o mais rápido possível. Não será uma comissão sensacionalista, para acusar, mas apenas para esclarecer de forma rápida e objetiva", diz.
Instalação
Com a criação da CEI, os partidos devem indicar integrantes conforme a proporcionalidade. Como o MDB não vai participar, o Patriota, como segunda maior bancada, ficará com mais membros. Paulo Daher manifestou intenção de presidir a comissão, mas ainda não há definição.
O plano da presidência é ter os nomes até amanhã para que a instalação ocorra nesta quinta-feira (25). Pelo requerimento, a CEI trabalhará no prazo de 30 dias, prorrogáveis por igual período. Segundo o documento, também será investigado o valor cobrado dos entes estatais e das administradoras de planos de saúde pela utilização do leito.
Welington afirma que não pretende compor a comissão porque não quer misturar com a função de líder do prefeito.
A alta ocupação dos leitos da capital foi usada pela promotora de Justiça Marlene Nunes Freitas Bueno como argumento no pedido para que a Justiça suspendesse a flexibilização das atividades.
Em nota, a Ahpaceg informou que prepara o envio de informações à Câmara e disse ver com bons olhos a iniciativa de levantar os dados sobre leitos.
Três vereadores de Goiânia testam positivo para coronavírus
Pelo menos três vereadores de Goiânia testaram positivo para o coronavírus. Cabo Senna e Milton Mercêz (ambos do Patriota) confirmaram o diagnóstico, mas o terceiro nome não revelou publicamente e a direção da Câmara não informa, alegando que a publicidade deve ser de iniciativa pessoal.
A Casa iniciou testes com todos os servidores e vereadores no dia 8 de junho. No dia 12, foram detectados 95 casos ativos ou inativos (53 com a carga viral e possibilidade de transmissão e 42 já curados).
Cabo Senna afirma que o teste da Câmara deu negativo, mas que começou a sentir sintomas no dia seguinte e fez o exame em laboratório. O resultado saiu nesta segunda-feira (22). O vereador, que também preside uma entidade de policiais militares, diz que se sentiu muito mal, com febre, dores no corpo, perda de olfato e paladar e dor de cabeça. "É uma loucura. Os sintomas chegam muito rápido. Eu não tinha nem forças para levantar os braços. Perdi quase quatro quilos", diz. A mulher e o irmão do vereador também tiveram o vírus. Segundo Senna, o irmão chegou a ser internado em UTI mas já saiu. O vereador postou nas redes sociais que estava em isolamento por conta dos sintomas.
O teste que Milton Mercêz fez na Câmara deu positivo, assim como de uma servidora de seu gabinete, mas ele afirma que ambos não sentiram nenhum sintoma. Uma semana depois, ele diz que fez exame na rede particular (PCR) e não foi detectada a doença. "Não tive nem dor no dedo. Fiquei de castigo, isolado de todo mundo, mas estou em dúvida se tive mesmo. Se eu tive, já foi", afirma. Um dos filhos, que é da PM, foi contaminado, mas já se curou. Na segunda-feira, o vereador afirma que fará novo teste.
A Casa realizou hoje sessão presencial, mas com a possibilidade de vereadores participarem remotamente. A direção afirmou que a parte administrativa não está em funcionamento de forma presencial.
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Aumentam surtos de Covid em empresas
Locais de trabalho de pelo menos seis cidades goianas, no último mês, já tiveram de realizar testes em massa depois do alto número de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus
Em pelo menos seis cidades de Goiás grandes empresas foram confirmadas como focos da pandemia do novo coronavírus , que causa a Covid-19. Após um alto número de contaminados em estabelecimentos do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia) e em um frigorífico localizado no município de Rio Verde, já estão registrados casos de surto em locais de trabalho em Quirinópolis, São Simão, Mineiros e Ceres (veja quadro).
Nesta semana, um frigorífico foi parcialmente interditado em Mineiros, no Sudoeste goiano, mesma região em que um estabelecimento da mesma atividade teve de ser paralisado no começo do mês em Rio Verde. Em todos os casos, as autoridades têm feito a interdição dos locais e exigido a aplicação de exames para o novo coronavírus em todos os funcionários. Com isso, a quantidade de casos do frigorífico de Rio Verde chegou a ser 80% do total da cidade, de acordo com a prefeitura.
No caso do frigorífico da Marfrig em Mineiros, o registro de 43 casos representa cerca de 16% do total da cidade. A prefeitura chegou a fazer um decreto interditando totalmente as atividades no local até que fossem realizados os testes em todos os funcionários. Mas nesta terça-feira (23) o prefeito Agenor Rezende (MDB) assinou nova determinação permitindo que a empresa realizasse o abate de animais em currais ou em trânsito nesta quarta-feira (24) e as atividades fim a indústria até às 18 horas desta quinta-feira (25). A explicação é de que os animais já aos cuidados da indústria poderiam sofrer maus-tratos por ficarem sem destinação definida e também porque a empresa já havia iniciado as medidas de contingência.
Estas ações estão sendo feitas em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) e contemplam um trabalho de conscientização junto aos servidores e a testagem em massa, com o exame sorológico. Diretora da unidade integrada Sesi/Senai em Mineiros, Tays Almeida de Souza explica que os 1.178 servidores da Marfrig serão testados e que este serviço já estava programado para ocorrer nesta quinta-feira (25), mas, em razão dos decretos municipais, tiveram de ser adiantados. "Antes era produção em segurança e isolamento dos contaminados, estava bem tranquilo. O primeiro caso lá surgiu depois que a cidade já tinha dezenas e eles logo se manifestaram. Só que tivemos de antecipar em razão do surto, o trabalho de conscientização ficou para depois." A Marfrig não quis se pronunciar.
Em Quirinópolis, a decisão da prefeitura de notificar a empresa responsável pela construção do trecho da Ferrovia Norte-Sul na cidade a realizar a testagem nos servidores encontrou mais 140 confirmações. Isso se deu depois que 12 de 27 profissionais estavam com a doença e, então, os outros 200 passaram pela testagem. Os testes foram feitos pela secretaria municipal. A mesma obra foi suspensa pela Justiça após ação conjunta do Ministério Público do Estado de Goiás e do Ministério Público do Trabalho em São Simão.
A ação se deu depois que 32 servidores da construtora que opera no trecho foram confirmados como pacientes para Covid-19 e 4 foram internados. Outros 106 funcionários estavam à espera dos resultados. Em Ceres, uma fábrica de sorvetes realizou testes em massa nos servidores depois que 3 tiveram diagnóstico positivo, um deles veio a óbito pela doença.
Método preocupa
O método utilizado pela maioria das empresas goianas para a realização da testagem em massa não é o mais adequado, segundo a epidemiologista e professora da Universidade Federal de Goiás, Erika da Silveira. De acordo com ela, o ideal era que as empresas realizassem o teste RT-PCR que verifica a presença do novo coronavírus em todos os funcionários.
Este teste é o correto para fazer o diagnóstico da doença, ou seja, ele é mais confiável para estabelecer se a pessoa está ou não infectada. Já o teste sorológico, que apresenta resultados em um menor tempo e é mais barato, só verifica a presença de anticorpos e, por isso, é necessário que o vírus esteja no corpo da pessoa por pelo menos oito dias, que é o período para que o ser humano produza os anticorpos. "Não pode afirmar que todos ali não têm o vírus, pois o teste rápido tem alta incidência de falso negativo", diz. Neste caso, a pessoa está infectada, mas o exame ainda não é capaz de detectar o coronavírus.
A opção seria o RT-PCR em todos os servidores sintomáticos, realizando antes o trabalho de conscientizar sobre quais são os sintomas e, então, isolar aqueles funcionários positivos neste exame. Erika também conta que, no caso de só ser possível fazer o teste rápido, é necessário repeti-lo a cada dez dias. "Entendo a necessidade, mas estamos abrindo as empresas no pior momento, pois pode chegar ao ponto de piorar a curva e ter de fechar tudo de novo", diz.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação