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DESTAQUES
Covid-19 no Brasil: mortes somam mais de 247 mil e casos, quase 10,2 milhões
Doze estados brasileiros mais o DF estão com taxa de ocupação de UTIs acima de 80%
Presidente da Ahpaceg fala sobre lotação em hospitais particulares de Goiás
Faltam leitos de UTI em Goiás
Mulher do jogador Marco Goiano se cura da Covid-19 e se emociona ao deixar hospital
Rede particular segue drama da lotação máxima dos leitos destinados a pacientes com a covid-19
MPF cobra de comandos de Exército e Aeronáutica explicações sobre cloroquina
Falta de valorização da ciência prejudicou combate à pandemia, diz presidente do Einstein
O que salva pacientes é a assistência precoce, não o uso de ‘kit Covid’
Caiado sobre a covid em Goiás: “Março será o pior mês que vamos enfrentar”
Campus da Faculdade da Polícia Militar é inaugurado em Goiânia
Novo decreto proíbe casamentos e outros eventos privados em Goiânia
Covid-19: Goiás registra 1,6 mil novos casos e 15 mortes em um dia
Saúde diz que não vai haver suspensão da vacinação contra Covid-19 em Goiânia
Novas doses de CoronaVac chegam em Goiás até quarta-feira, 24
AGÊNCIA BRASIL
Covid-19 no Brasil: mortes somam mais de 247 mil e casos, quase 10,2 milhões
Brasília – O número de pessoas que não resistiram à covid-19 no Brasil subiu para 247.143. Em 24 horas, foram registradas 639 mortes. Há ainda 2.833 óbitos em investigação no país.
Já o total de pessoas infectadas pelo coronavírus desde o início da pandemia chegou a 10.195.160. Em 24 horas, foram confirmados pelas autoridades sanitárias 26.986 novos casos.
Os dados estão na atualização diária do Ministério da Saúde, divulgada na noite desta segunda-feira (22/2). O balanço é produzido a partir de informações fornecidas pelas secretarias estaduais de saúde.
Há, ao todo, 808.802 pessoas com casos ativos da doença em acompanhamento por profissionais de saúde e 9.139.215 pacientes já se recuperaram.
Estados
Na lista de estados com mais mortes estão São Paulo (57.842), Rio de Janeiro (32.256), Minas Gerais (17.733) e Rio Grande do Sul (11.820). As unidades da Federação com menos óbitos são Acre (968), Roraima (1.037), Amapá (1.125), Tocantins (1.485) e Rondônia (2.940).
Em número de casos, São Paulo também lidera (1.978.477), seguido por Minas Gerais (842.377), Bahia (655.481), Santa Catarina (641.840) e Paraná (617.165).
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O GLOBO
Doze estados brasileiros mais o DF estão com taxa de ocupação de UTIs acima de 80%
RIO Ao menos 12 estados brasileiros e o Distrito Federal estão com taxas de internação por Covid-19 acima de 80%, nível considerado crítico. São eles: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Paraná, Pernambuco, Piauí , Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia e Santa Catarina. E as internações por Covid-19 na rede pública do Brasil cresceram 8,7% em dez dias, segundo levantamento realizado pelo GLOBO, a partir de informações das secretarias estaduais de saúde. São cerca de 28,8 mil pessoas internadas pela doença em leitos de enfermaria e UTI do Sistema Único de Saúde. No dia 12 de fevereiro, eram aproximadamente 26,5 mil internados.
No Pará, a ocupação é de 78,8%, e em outros três estados o índice está acima de 70%. São Paulo, Amapá e Minas Gerais não informaram a taxa específica dos leitos de Covid-19 da rede pública.
Lígia Bahia, especialista em Saúde Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colunista do GLOBO, explica que a elevada ocupação dos leitos de UTI é como a ponta de um grande iceberg, que nesse caso, representa uma taxa de transmissão do vírus muito alta e seu espalhamento geográfico pelo Brasil.
É o que estamos falando desde o início, há uma ausência de bloqueio da transmissão. As novas variantes podem ser mais transmissíveis e potencializar o aumento de casos, mas não explicam esse cenário, que é caracterizado pela abertura de atividades não essenciais de maneira caótica. O repique decorre do aumento da circulação e aglomeração, em transportes coletivos lotados, bares, restaurantes, festas, além do uso eventual e incorreto de máscaras avalia.
Guilherme Werneck, epidemiologista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), também destaca a transmissão do coronavírus, que “claramente não está controlada”, e tem sido estimulada pelo contato entre as pessoas.
Nesse período, que vem desde as eleições municipais do ano passado, depois o final do ano com Natal, ano novo e agora esse período de janeiro em que as pessoas ainda estão tendo muito contato, certamente é um grande fator de estímulo à transmissão. Associado ao relaxamento das políticas locais, com governos e municípios buscando liberar atividades sociais e econômicas no início do ano, isso estimula o contato, e, quando ele se dá com maior frequência, principalmente em ambientes fechados, aumenta a transmissão. Do meu ponto de vista, nesse período estamos colhendo os frutos dessas ações de relaxamento afirma o epidemiologista.
Ele explica que o impacto desses fatores pode não ser sentido imediatamente, porque quem costuma sair mais são os adultos jovens, que na maioria das vezes não precisam ser internados, mas podem transmitir a doença para pessoas mais velhas ou com comorbidades, que mais tarde podem precisar ser hospitalizadas.
Werneck afirma que um segundo fator que contribuiu para o cenário atual foi a desativação de leitos:
Acaba tendo uma ocupação alta porque não tem tantos leitos disponíveis. Houve um esforço em alguns locais para aumentar, mas a velocidade não corresponde à necessidade, porque precisa não só de equipamentos, mas também de pessoas: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, profissionais especializados, e que também foram afetados pela pandemia explica o epidemiologista, que também menciona as novas variantes do coronavírus, mas afirma que ainda não se sabe qual seria o papel delas nesse processo.
Medidas para conter avanço
Com a alta nos casos de Covid-19, alguns estados adotam medidas para tentar conter o avanço da doença. A Bahia decretou nesta segunda-feira novas determinações para o toque de recolher, medida que também foi implementada no Ceará.
Araraquara, em São Paulo, que ficou com UTIs lotadas devido a uma escalada de casos da doença, implementou uma quarentena de 60 horas no domingo. O estado de São Paulo, que bateu nesta segunda-feira o recorde de internações por Covid-19 desde o início da pandemia, deve adotar novas medidas de endurecimento da quarentena.
Para Ligia Bahia, as medidas de toque de recolher são válidas, mas também é importante ter medidas de controle durante o dia.
Seria o caso de restringir de fato e exigir o uso de máscaras. Ambas não são medidas fáceis, requerem muito diálogo, muita divulgação de informação científica e total apoio da área econômica para que as empresas e os trabalhadores possam se adequar às restrições durante a pandemia afirma.
A especialista em saúde pública explica que a vacinação sozinha não será capaz de conter a transmissão, mesmo que o Brasil conseguisse vacinar rápido os grupos prioritários, o que não é provável em função da escassez de vacinas. Por isso, ressalta ser imprescindível manter medidas de isolamento social.
Werneck também afirma que, não havendo vacinação suficiente para causar algum impacto, é necessário investir nas medidas não farmacológicas, como uso de máscaras, priorizar máscaras de boa qualidade, evitar aglomerações e, principalmente, não frequentar lugares fechados, como restaurantes e boates.
Na política pública eu vejo como inevitável a estratégia de reduzir a abertura ou o tempo de abertura dos locais que agregam muitas pessoas. Eu vejo que está na hora, ou já passou, de medidas mais firmes. E precisa de uma estratégia de comunicação forte para a população, para que as pessoas que entendessem a gravidade e aderissem mais fortemente às medidas de prevenção, enquanto a vacinação não consegue atingir parcelas maiores da população avalia.
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TV ANHANGUERA
Presidente da Ahpaceg fala sobre lotação em hospitais particulares de Goiás
https://globoplay.globo.com/v/9288969/
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Faltam leitos de UTI em Goiás
globoplay.globo.com/v/9291728/
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Mulher do jogador Marco Goiano se cura da Covid-19 e se emociona ao deixar hospital
globoplay.globo.com/v/9290139/
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RÁDIO CBN
Rede particular segue drama da lotação máxima dos leitos destinados a pacientes com a covid-19
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FOLHA ONLINE
MPF cobra de comandos de Exército e Aeronáutica explicações sobre cloroquina
Prazo para resposta é de 15 dias; CFM também deve explicitar, em dez, posição sobre medicamento sem eficácia contra Covid
Vinicius Sassine
O MPF (Ministério Público Federal) deu 15 dias para os comandos do Exército e da Aeronáutica detalharem as estruturas mobilizadas, o total de dinheiro público gasto e a origem orçamentária dos recursos usados na produção e na distribuição de cloroquina, que não tem eficácia para a Covid-19.
Os comandantes das duas Forças devem ser oficiados por meio do procurador-geral da República, Augusto Aras.
As explicações serão dadas no curso de um inquérito civil público instaurado pela Procuradoria da República no Distrito Federal, que investiga ilegalidades no uso de dinheiro público para difundir medicamentos sem eficácia para tratar ou prevenir a infecção pelo novo coronavírus.
Em procedimentos na esfera cível, é praxe que os procuradores remetam ofícios inicialmente à PGR (Prouradoria-Geral da República), para que o procurador-geral encaminhe os pedidos de explicação a autoridades com foro privilegiado, como é o caso dos comandantes das três Forças Armadas.
A decisão de oficiar os comandos de Exército e Aeronáutica foi adotada pela procuradora da República Luciana Loureiro, no mesmo despacho em que converteu um procedimento preparatório em inquérito para investigar ilegalidades na difusão da cloroquina. O despacho foi assinado na sexta-feira (19).
O general Edson Leal Pujol comanda o Exército. A Aeronáutica é comandada pelo tenente-brigadeiro Antonio Carlos Bermudez.
A instrução do inquérito contará com outras diligências, determinadas no mesmo despacho.
Já o CFM (Conselho Federal de Medicina) tem dez dias para manifestar sua posição sobre um aplicativo lançado pelo Ministério da Saúde e programado para indicar cloroquina em qualquer circunstância. A plataforma foi retirada do ar.
O MPF quer saber se o CFM concorda com o “tratamento precoce” e qual a posição do conselho sobre o aplicativo do ponto de vista da “violação da ética, da responsabilidade e autonomia médicas”.
O CFM não recomenda a cloroquina, mas reconhece a autonomia do médico para prescrever o medicamento para Covid-19.
Serão ouvidos, por videoconferência, os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Os dois foram demitidos depois de divergências com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), especialmente em relação à cloroquina.
Efetivado no cargo de ministro, o general da ativa Eduardo Pazuello concordou com o desejo do presidente e com a orientação para uso de drogas sem eficácia contra o novo coronavírus.
O Ministério da Saúde tem de explicar ao MPF quais evidências científicas usou para embasar a orientação de uso de cloroquina, por que colocou no ar o aplicativo que recomendava a droga e quanto gastou com “tratamento precoce”, financiamento de leitos de UTI, ações de testagem e campanhas de esclarecimento da população.
O inquérito investiga, originalmente, atos de improbidade administrativa de Pazuello. O procedimento apura a ilegalidade de uso de dinheiro público para “aquisição de medicamentos cuja eficácia, para o tratamento da Covid-19, tem sido reiteradamente contestada pela comunidade científica”.
Este inquérito é um dos dez procedimentos formalmente abertos pelo MPF para investigar atos de Pazuello no combate à pandemia, como a Folha mostrou neste domingo (21).
No mesmo procedimento, ainda são investigadas a baixa execução orçamentária de recursos federais no combate à pandemia, a insuficiência de insumos ao SUS e omissões do Ministério da Saúde na aquisição de vacinas contra a Covid-19.
As investigações poderão ser ampliadas para apurar a conduta de outras autoridades e gestores na difusão da cloroquina, o carro-chefe de Bolsonaro para o combate à pandemia. Se isto ocorrer, essas novas frentes devem ser tratadas em procedimentos distintos.
Ao decidir cobrar explicações dos comandantes de Exército e Aeronáutica, o MPF se baseou em reportagem publicada pela Folha no dia 6 de fevereiro.
A reportagem mostrou que o governo Bolsonaro mobilizou Exército, Aeronáutica, cinco ministérios, uma estatal e dois conselhos da área econômica para fazer a cloroquina chegar aos quatro cantos do país.
Novas reportagens, publicadas nos dias 10 e 11, revelaram que o Ministério da Saúde usou também a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para a produção de 4 milhões de comprimidos.
Documentos enviados ao MPF registram que o dinheiro usado partiu de uma MP (medida provisória) destinada a ações de combate à pandemia.
Além disso, segundo esses documentos, o Ministério da Saúde desviou a finalidade do programa nacional de controle da malária, usando a cloroquina produzida pela Fiocruz -que tem essa finalidade original, de combate à malária- para “tratamento precoce” de Covid-19.
Os comandos do Exército e da Aeronáutica devem explicar suas respectivas participações na difusão da cloroquina em 2020 e em 2021, “esclarecendo o que mais lhes convier acerca dos fatos narrados na reportagem publicada pela Folha de S.Paulo”, como consta no despacho do MPF.
O Exército produziu 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina a partir de solicitações dos Ministérios da Defesa e da Saúde, segundo informou à Folha na reportagem publicada no dia 6. O gasto com a produção foi de R$ 1,16 milhão, conforme a Força.
O Laboratório Químico Farmacêutico do Exército fez pelo menos nove dispensas de licitação para adquirir insumos e o princípio ativo da droga.
Em outubro do ano passado, uma auditoria do TCU constatou que a produção do laboratório do Exército não levava em conta demanda e planejamento por parte do Departamento de Logística do Ministério da Saúde.
A falha tem “potencial de gerar dano ao erário, pois a produção pode exceder à necessidade do SUS e gerar acúmulo e vencimento de medicamentos”, apontou a auditoria.
O Exército, em nota, negou essa possibilidade. Segundo a instituição, havia 328 mil comprimidos de cloroquina em estoque, com vencimento em 2022.
No texto, o Exército deu a entender que não haverá uso do medicamento para Covid-19: “Será empregado para atender ao uso terapêutico preconizado do medicamento”.
Caixas de cloroquina foram transportadas em diferentes ocasiões pela Aeronáutica, especialmente para regiões mais isoladas, como comunidades indígenas na fronteira com a Colômbia e a Venezuela.
Segundo a Força Aérea, quem fez o planejamento foi o Ministério da Saúde, que o repassou ao Ministério da Defesa. “A Força Aérea apenas cumpre a missão”, disse a assessoria de imprensa na ocasião.
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O ESTADO DE S.PAULO
Falta de valorização da ciência prejudicou combate à pandemia, diz presidente do Einstein
Um ano após registro do primeiro caso de covid no País, detectado no hospital, Sidney Klajner critica a postura de médicos, do CFM e de governantes que negaram evidências científicas no combate à doença
SÃO PAULO – Há pouco menos de um ano, em 25 de fevereiro de 2020, o Brasil registrava seu primeiro caso de covid-19. O paciente, vindo da Itália, teve o diagnóstico confirmado no Hospital Israelita Albert Einstein, que viu o número de internados explodir nos dois meses seguintes, chegando a 135 em abril. Passado quase um ano do início da pandemia no País, o hospital registrou, em janeiro, um pico ainda maior de hospitalizações pela doença (155) e sua ocupação alcançou os 102%. O País, por sua vez, já acumula mais de 10 milhões de casos e 246 mil mortos, e vive uma segunda onda, com a propagação de novas cepas e um ritmo de vacinação aquém do desejado.
Presidente do hospital, o cirurgião Sidney Klajner conta que não esperava que o País perderia totalmente o controle da pandemia e se tornaria um dos campeões em casos e óbitos pela doença. Em entrevista exclusiva ao Estadão, ele diz que a falta de valorização da ciência e de atitudes pautadas em evidências científicas foram os principais fatores que levaram o País à situação atual. Ele criticou também a postura do Conselho Federal de Medicina (CFM) em autorizar a prescrição de tratamentos ineficazes, como a hidroxicloroquina, e disse acreditar que ainda viveremos as restrições impostas pela pandemia por um longo período.
Covid-19
Covid-19 no Brasil
Consórcio de Veículos de Imprensa
“A gente vai ter uma presença endêmica do coronavírus por um tempo extremamente longo. A gente pode até controlar essas infecções endêmicas em determinados países ou regiões onde a gente tem um poder maior de imunização, mas sempre vai ter o risco de ela ser trazida por alguém que vem de fora dessas comunidades. Eu não vejo muito próximo o retorno a uma vida normal”, opinou.
Em um ano de pandemia, 3.045 pessoas foram internadas com covid no Einstein, das quais 149 morreram. Considerando só a mortalidade entre os pacientes que passaram pela UTI, o índice foi de 16,6%, muito inferior a índices de mais de 50% registradas em redes hospitalares do Brasil e do exterior.
Para Klajner, a fórmula para reduzir a mortalidade passa por investir em UTIs com boa estrutura, equipamentos adequados e profissionais capacitados. As condições prévias de saúde da população e a facilidade de acesso à assistência também têm impacto, diz ele.
O principal aprendizado destes 12 meses de pandemia , diz o presidente do Einstein, é a necessidade de pautar as estratégias de enfrentamento à doença no conhecimento científico, e não em ideologias. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Em fevereiro do ano passado, quando o Einstein diagnosticou o primeiro caso, qual era a sua expectativa para duração e evolução da pandemia?
A minha expectativa naquele momento era a de que a gente teria um controle das pessoas que viessem a adquirir o vírus, um controle do isolamento desses pacientes e, por conta disso, a gente atingiria só uma pequena parcela da população. E que tomando os devidos cuidados, como higienizar as mãos, não espirrando nas mãos, evitando locais fechados, a gente teria um controle total da pandemia. Eu costumo ter uma visão mais otimista do que pessimista, então eu lembro que. naquele momento, a gente falava do clima tropical, da diferença do perfil epidemiológico do idoso da Itália, que é diferente do nosso País. Então, a minha visão de otimismo era que a gente teria uma coisa mais controlada.
Na sua opinião, quando as coisas desandaram no País para uma falta de controle completa? Quanto disso pode ser atribuído à falta de conhecimento que tínhamos sobre o vírus no início da pandemia e quanto é responsabilidade da falta de comando dos gestores e autoridades políticas?
Primeiro, a gente está diante de uma infecção por um vírus que ainda carece de muita informação sobre seu comportamento, então a primeira coisa é que a gente aprendeu muito com a doença no ano passado. Aprendeu maneiras de lidar com ela, da necessidade da abordagem multidisciplinar, ainda não aprendemos totalmente quem vai ficar ruim e quem não vai e o porquê. A gente aprendeu que os grupos de risco não são necessariamente só aqueles de faixa etária mais avançada, mas algo que não entendemos é um possível respaldo genético que faz com que algumas pessoas mais jovens também evoluam para insuficiências mais graves. Toda essa falta de conhecimento no início contribuiu, de fato, para a gente ter opiniões divergentes e uma das grandes causas que levaram à falta de um comando pautado por ciência foi a presença de opiniões de pessoas que não detêm conhecimento e passaram a colocar suas posições muito focadas em ideologias. Isso, em um mundo que a gente vive de disseminação muito fácil por mídias sociais, acabou virando verdade e atraindo uma legião de seguidores. A gente via médicos falando que isso não ia passar de uma gripe e que o calor daqui não ia deixar que fosse igual à Europa. A gente viu governantes preocupados com aspectos econômicos, estimulando o não-lockdown. Aqui no Einstein, lá no final de março, a gente já tinha uma projeção de que, caso não fosse feito algo como foi feito na quarentena, a gente teria o estouro da capacidade de leitos na cidade de São Paulo no dia 15 de abril. Então não dá para atribuir um só culpado, mas a falta do conhecimento, talvez a falta da valorização da ciência como o ponto norteador das atitudes e da adoção dessas medidas. E aí, obviamente, entram as nossas lideranças que preferiram acreditar neste ou naquele ponto, fizeram com que o comportamento da população brasileira em como enfrentar a pandemia e os investimentos e planejamento fossem bastante prejudicados desde o início. Toda essa situação colocou o holofote e uma lente maior nas deficiências do sistema de saúde em relação à gestão, ao seu investimento na saúde e na ciência, que é carente no País.
Mas, além dos problemas históricos de gestão e investimentos, teve a postura do governo federal de às vezes ir contra a ciência?
Então, além disso, você deixar de ver o que aconteceu no resto do mundo e colocar soluções salvadoras, se apoiar numa medicação porque aqui é o Brasil, é óbvio que não seria assim. Esse tipo de dúvida, de você atuar na economia independente do resultado da saúde, isso aconteceu no mundo inteiro. A Inglaterra é um país que, no começo, adotou a postura de imunidade de rebanho e, depois de milhares de pessoas indo para as UTIs, eles abandonaram essa estratégia e voltaram para o modelo de controle através de quarentena e lockdown. Então, a gente teria que, primeiro, ter uma liderança. E não necessariamente ia ser o presidente, poderia ser o secretário, o ministro da saúde. No momento que surgiram divergências, o ministro foi trocado. Tivemos duas trocas onde sequer o plano do primeiro ministro foi colocado adiante. Isso abriu espaço para os governos assumirem a autonomia de organizarem o enfrentamento em seus Estados. Então vira uma colcha de retalhos.
O Einstein foi um dos hospitais que lideraram estudos que mostraram que remédios como a hidroxicloroquina são ineficazes contra a covid. Na sua opinião, por que, mesmo com todas as evidências, médicos continuam prescrevendo?
Tudo isso é fruto da importância de como você coloca a ciência como pano de fundo para tudo que a gente faz em saúde. Na medida que esse mundo científico sofre intervenção de ideologias políticas, as mídias sociais se tornaram um palco onde as pessoas podem falar o que querem. Sem falar na própria consequência da última eleição, que praticamente dividiu o País, de pessoas que são partidárias de um tipo de postura, e não é só esquerda ou direita, mas também seguidores fiéis do nosso presidente ou de governantes de Estados, que acabaram, em vez de usar a ciência para se manifestarem, usando esses palcos para autopromoção, para promoção de ideologias. Não existe ciência com ideologia. Mesmo porque isso é um reflexo das brechas que a gente tem da própria formação científica que os médicos têm e de outros profissionais da área de ciências biológicas. Nesse sentido, esse palco deu espaço para as pessoas se manifestarem da forma que elas acham que é, o que mostra que falta essa formação médica para entender que a ciência não é feita com um trabalho com 20 pessoas no hospital na França. A ciência exige que você tenha evidências suficientes para dizer se um medicamento funciona ou não. Ciência e crença não combinam. Só que no nosso código de ética médica, ele coloca que o tratamento fútil é previsto como uma cláusula de má atividade médica. Quando você usa um medicamento que não vai trazer bem ao paciente, pelo contrário, pode causar evento adverso, a responsabilidade é de ambos (), mas o médico influencia muito. Concordo que a autonomia do médico faz parte da relação médico-paciente, da relação de confiança, mas existem também os guidelines, diretrizes e evidências que mostram como deve ser feito.
A gente viu essa questão da autonomia do médico ser usada como justificativa para aqueles que seguem prescrevendo hidroxicloroquina e pelo Conselho Federal de Medicina para manter a resolução que autoriza a prescrição. Mas o conselho já teve posturas contrárias a outras questões que poderiam estar relacionadas com a autonomia, como a telemedicina. Não dá a impressão que são dois pesos e duas medidas?
É isso mesmo que eu acho. Dois pesos e duas medidas, não tenho dúvida. Enquanto o nosso conselho coloca essa questão da autonomia do médico, o conselho da França faz um processo afastando o médico () por ter feito os estudos () de forma inadequada. Realmente, é passível de crítica, inclusive porque a formação do médico vai seguir os preceitos que o conselho federal coloca, e não é o modo como eu vejo. Aí começam a aparecer casos de hepatite fulminante por ivermectina ou falta de evidências da melhoria dos pacientes.
A gente viu médicos de renome, como Nise Yamaguchi e Anthony Wong, defendendo terapias sem evidências científicas. O que você acha que leva a esse tipo de comportamento?
Aqueles colegas que insistiram no uso de tratamentos que não são pautados por uma boa evidência científica talvez tenham sido influenciados por outros fatores que não o seu paciente como o centro do cuidado pautados pela evidência científica. Ou eles não têm a compreensão, por falta de formação, do que é um artigo científico e quais são as críticas que a gente deve fazer. Te dou um exemplo: recentemente, faz um mês, houve a publicação de um artigo colocando a ivermectina como opção de tratamento precoce e esse artigo foi repercutido pelo próprio ministério, por uma série de médicos, mostrando que agora já teríamos evidências de uma revista renomada. A revista, por ter um nome bacana, foi colocada como se fosse de altíssimo impacto. Essa revista está na posição 984 no impacto dos jornais de medicina dos Estados Unidos. O artigo coloca uma revisão daquilo que já existe. Quem lê aquilo e não está preparado corretamente para interpretar um artigo científico vai ser enganado. O trabalho era praticamente uma impressão pessoal do autor, não havia ciência nesse trabalho. O artigo era uma porcaria, mas, com uma revista com nome bacana e com figurinha de algoritmo, acabou sendo uma chancela. Por que se faz isso? Porque há pessoas que querem ocupar uma posição de destaque que nunca tiveram e aí está a oportunidade. Ou pessoas que não têm a formação para poder compreender o que é um artigo sério. Outra questão é a falta de humildade de voltar atrás. Quando a pandemia começou, ninguém falava em usar máscara. A Organização Mundial da Saúde (OMS) falava que deveria usar máscara quem estivesse tratando de gente com covid. Depois, a gente teve que fazer um mea culpa por não termos usado a máscara antes. Foi um equívoco que o mundo teve que voltar atrás. Esse tipo de postura de soluções salvadoras aconteceu a pandemia inteira. Soluções salvadoras de alguém que tem um único interesse que é o interesse financeiro. Isso é oportunismo. E no meio médico acontece oportunismo da mesma forma.
Vocês tiveram um primeiro pico de internações em abril, com 135 pacientes. E agora, em janeiro, tiveram um novo pico, com 155 hospitalizados. Vocês esperavam que viveriam um pico pior do que o primeiro um ano depois do surgimento do vírus?
Esperar eu não esperava. Na verdade, eu tinha medo por causa do que vimos na Europa. O verão levou todo mundo para as ruas, para a praia, para as festas e eles passaram a experimentar uma segunda onda. Na verdade, eu esperava que não acontecesse, mas existia uma chance considerando o comportamento das pessoas aqui no Brasil como se a gente já tivesse vencido a pandemia. Tivemos aqui no Einstein uma estabilidade de quatro ou cinco meses de 50 pacientes internados no máximo. Depois do feriado de Finados, a gente começou a ver um incremento. A gente já vislumbrava as comemorações de fim de ano, Natal. Eu vi com muita preocupação quando a procura por passagem aérea estava só 15% abaixo da de 2019. Não é possível que as pessoas estejam viajando dessa forma. Ao mesmo tempo, a gente via festas, raves. A contaminação foi brutal e a gente teve que se mexer em meses que geralmente o movimento no hospital cai, que é dezembro e janeiro. A gente chegou a ter no mês de janeiro 102% de ocupação. Por que isso acontece? Teve essa hipótese das novas cepas. Hoje a situação aqui do hospital é de estabilidade. Houve uma diminuição no número de leitos dedicados à covid para 126. A preocupação é manter esses cuidados ainda, evitar aglomeração, até a gente ter uma quantidade de pessoas vacinadas para dizermos que a pandemia está controlada. Vai demorar um tempo grande até a gente ter uma quantidade da população já vacinada e isso que vai fazer ter controle. Se eu fico imunizado e deixo de respeitar essas medidas de precaução, talvez eu não adquira nenhuma forma grave, mas eu posso adquirir uma forma leve e continuar sendo transmissor. Enquanto o controle não é feito e eu estou comemorando a minha imunização, o vírus pode estar mutando até o ponto que a vacina deixa de ser eficaz.
Vimos a tragédia de Manaus, mas países ricos e hospitais melhor estruturados em outros locais do mundo também viveram colapso. Você acha possível que redes mais estruturadas colapsem diante da ameaça das novas variantes? O quanto isso te assusta?
Assusta menos do que assustou no começo da pandemia por conta da expertise em transformar alas não covid em covid e vice-versa. Ele assusta mais no sentido de termos que interromper tratamentos de doenças não covid.
Os dados do Einstein mostram que vocês tiveram uma mortalidade por covid-19 de 16,6% entre os pacientes que foram para a UTI. Outros hospitais têm índices muito maiores, que ultrapassam 50%. Como foi possível ter um baixo índice? Tem a ver com os recursos, mas está associado também ao estado que o paciente chega?
O que importa no tratamento dessa doença é o suporte à vida, o tratamento multidisciplinar e não um tratamento específico. Isso tem a ver com a qualidade de UTI, da disponibilidade dos recursos. Por exemplo, 40% dos pacientes precisaram de diálise. A maior causa de mortalidade em Nova York foi a falta de diálise. Houve UTIs em Nova York com mortalidade de 88% no momento do pico. E obviamente influencia nessa mortalidade as condições da população. A população carente de cuidados médicos terá uma taxa de mortalidade muito maior. Talvez um hospital como o nosso a gente tem uma população que tem um controle melhor das suas doenças. Isso é mais uma demonstração de que não existe tratamento específico. Tem até um estudo americano que mostra que a mortalidade nas UTIs americanas passou a diminuir à medida que deixaram de ficar testando tratamento e passaram a dar importância naquilo que é expertise de uma UTI: tratamento correto da insuficiência respiratória, prevenção de infecção secundária, uso da diálise.
Quando você acha que voltaremos a uma situação próxima da normalidade?
Eu estava lendo um artigo da publicado recentemente e o título é ‘The coronavirus is here to stay’ (). Eles entrevistaram uma centena de cientistas do mundo inteiro. E a opinião da maioria é de que a gente vai ter uma presença endêmica do coronavírus por um tempo extremamente longo. A gente pode até controlar essas infecções endêmicas em determinados países ou regiões onde temos um poder maior de imunização, mas sempre vai ter o risco de ela ser trazida por alguém que vem de fora dessas comunidades. Eu não vejo muito próximo o retorno a uma vida normal. Vamos ter que ter precauções quando frequentarmos lugares aglomerados. A gente vai ter que ter preocupação com fronteiras. Eu deposito a esperança do controle na vacinação. Fazendo um comparativo: H1N1 não foi embora. Na época do frio, a gente tem que proteger nossos velhinhos porque senão eles morrem. Então acho que não vai ser nada diferente.
Qual é o maior aprendizado que fica desse um ano de pandemia?
São vários aprendizados, mas talvez o principal é que quando a gente fala de saúde, isso é uma parte do conhecimento que diz respeito à ciência científica. Nada numa questão de saúde pode ser dirigida, liderada ou idealizada sem a participação de conhecimento científico. Nesse raciocínio, eu imagino que a gestão da saúde obriga que a gente tenha lideranças com conhecimento científico suficiente que vão dirigir o enfrentamento de qualquer situação de saúde. A liderança não pode ser feita por políticos. Ela pode ter políticos, mas ela tem que respeitar o conhecimento científico. Esse é um grande aprendizado que falta para o nosso País. Se você olhar para o resto do mundo, os países que melhor souberam lidar com isso foi quem tinha à frente um time de pessoas com conhecimento científico suficiente para opinar e dirigir as ações, e não uma liderança que tenha como norteador ideologias políticas.
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O que salva pacientes é a assistência precoce, não o uso de ‘kit Covid’
ENTREVISTA
Dhiego Maia
Fernando Gatti, 44, olha para 2020 e só vê pânico, choro e muito desgaste. Na linha de frente contra a Covid-19, o infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em Sào Paulo, foi o responsável por diagnosticar e tratar o primeiro brasileiro infectado pelo coronavírus.
Depois desse paciente, que no dia 24 de fevereiro deu entrada no hospital com sintomas característicos de Covid 19 após viagem para a Itália, Gatti não descansou mais, teve burnout e não viu o único filho, de três anos, crescer no último ano.
Essa é a realidade da maioria dos profissionais da saúde que batalham para conter o avanço da doença que já ceifou quase 250 mil vidas no Brasil
À Folha o infectologista diz que o coronavírus sempre estará entre nós com suas variantes e que, para contê-lo, será preciso antes minar as fake news que estimulam, por exemplo, o uso do chamado “kit Covid”, com medicamentos sem eficácia para a doença, como cloroquina e ivermectina.
Para Gatti, o que salva não é o “tratamento precoce”, mas, sim, a assistência precoce. “No momento da suspeita di agnóstica, o paciente precisa procurar o quanto antes assistência médica de referência ou especialista relacionado à infecção do Sars-CoV-2, que basicamente acomete o pulmão. A partir daí, o médico estabelece junto com o paciente a melhor forma de
Já vacinado contra a Covid-19, o médico faz um exercício de futurologia sobre o Brasil e diz ter esperança de que a vacina, apesar dos problemas de gestão na imunização, fará com que a vida como um dia conhecemos volte – nem que seja aos poucos.
Como foi diagnosticar o primeiro caso de Covid-19 no Brasil? Nodia24defeverei ro [de 2020], o paciente [um homem de 61 anos] deu entrada no hospital. Ele tinha acabado de chegar da Itália e estava com sintomas respiratórios. Um colega entrou em contato comigo para saber se deveria colher ou não o PCR dele, uma vez que pessoas vindas da Itália ainda não estavam no grupo obrigatório para o teste. A gente decidiu por fazer o exame e, na quela noite mesmo, o resultado deu positivo. No dia seguinte, a amostra foi encaminhada para o Instituto Adolfo Lutz para confirmação.
O paciente foi internado após o resultado positivo? Ele apresentava sintomas como resfriado, uma tosse discreta com nariz escorrendo, mas sem febre, boa pressão arterial e saturação de oxigênio normal. Com isso, ele não foi internado de imediato. O critério de internação é sempre clínico. E, sob esse aspecto, ele estava bem.
Aglomeração é a pior coisa que a gente pode imaginar numa pandemia de vírus respiratório. O que eu quero dizer é que eu até entendo que as pessoas tenham liberado geral porque não aguentam mais tanto tempo por desespero, mas a gente vai pagar um preço por isso
Como ele recebeu o diagnóstico? A reação inicial dele foi de espanto, mas ele achava que podería acontecer porque na cidade italiana onde ele passou havia casos. Ele chegou ao pronto-atendimento com sintomas respiratórios e até nos ajudou ao pedir ele mesmo o teste para Covid-19.
Se ele não foi internado, como funcionou o atendimento na quela ocasião, quando havia pouca informação sobre o coronavírus? Eu falava com ele três vezes ao dia por telefone para explicar o que deveria ser Feito. E ele estava muito abalado porque via as reportagens na TV e as pessoa s diziam que era para ele estar internado. As orientações de isolamento foram passadas. Ele ficou muito chateado com algumas reportagens que fizeram sensacionalismo do caso dele. Eu dizia: ‘Fique tranquilo porque você é o primeiro caso no Brasil, vai ficar famoso’. Eu brincava muito com ele.
Como ele está hoje após um ano do teste positivo para a Covid 19? Ele está bem e sem sequelas. Ele teve um acometimento de via aérea e depois evoluiu para uma pneumonia bacteriana, o que é uma complicação que ocorre em ao menos 30% dos pacientes que tiveram a infecção por Covid-19. Daí, por causa disso, ele precisou se internar.
Quanto tempo durou a internação? Ele se internou em 2 de março [de 2020] e ficou seis dias no Einstein para tratar dessa pneumonia bacteriana. Eu montei um esquema no hospital, comuniquei o pronto-atendimento e usamos uma ambulância própria para trazê-lo até o hospital para ele não se expor.
Naquela ocasião, o Einstein já estava preparado para receber pacientes com Covid-19? Desde fevereiro [de 2020] já tínhamos estabelecido um protocolo para os profissionais que fossem atender os pacientes com suspeita de Sars-CoV-2 a usarem máscara N95, avental e luva. Tanto que quando a gente fez a notificação do caso positivo, no dia 25, um dia depois a vigilância veio nos visitar para saber se agente estava seguindo as normas de prevenção, e o que eles falara m é que estávamos agindo acima do recomendado.
A sua carga de trabalho aumentou na pandemia? Eu trabalhava 60 horas semanais. A pandemia elevou a minha jornada para 80 horas nos sete dias da semana. Eu estava conseguindo reduzir a carga para 70 horas, mas, por causa dessa segunda onda de casos, o ritmo de trabalho voltou a aumentar.
E qual foi o resultado dessa jornada exaustiva de trabalho? Em março [de 2020] eu tive burnout e fiquei de licença por dez dias. Passei por um psiquiatra, tomei antidepressivo e só não fiz terapia por falta de tempo. Eu chorei em vários momentos porque a quantidade de trabalho era tanta que eu tinha dúvida sobre se seria capaz de dar conta. Foi quando eu passei a dizer não para pacientes, amigos e conhecidos que vinham pedir ajuda. Simplesmente porque eu estava muito esgotado. Foi bem difícil e ainda é.
E como ficou a sua vida pessoai nesta época? Eu sou casado também com uma médica. Ela é cardiologista e trabalhou por três meses na UTI Covid uo Hospital das Clínicas da USE Com essa grande quantidade de trabalho, tudo se desorganizou na nossa vida. É muita energia que a gente cede para cuidar do paciente e de seus familiares. A Covid é uma doença que se expande pela família, e isso desgasta. Chegávamos em casa e não tínhamos força para brincar com o nosso filho, de três anos. Mas felizmente nenhum de nós foi infectado até aqui.
Foi um ano, então, que você não viu seu filho crescer? Basicamente isso. Eu tentei me esforçar para ficar o máximo que eu pude com ele, mas realmente eu queria ter dado mais, ter ficado mais com ele.
Você perdeu algum paciente para a Covid 19? Infelizmente foram dois óbitos. Fiquei frustrado e pensando no que eu deveria ter feito a mais, se faltou alguma coisa porque uma doença nova dessa com tantas informações inadequadas circulando e tanta insegurança deixa uma dúvida: será que eu fiz tudo o que era possível?
As fake news sobro a pande mia têm dificultado o seu trabalho? As fake news e qualquer tipo de divulgação de tratamento sem comprovação científica acabam atrapalhando, porque muitas vezes a pessoa demora para buscar o atendimento, fica satisfeita com aquilo que acha que é certo e aí a gente não tem como fazer uma avaliação da progressão da doença. Muitas vezes, as pessoas tomam medicamentos sem saber dos efeitos colaterais. É perigoso fazer isso sem acompanhamento.
Seus pacientes são pessoas da classe A e B e com acesso vas to à informação. Eles acreditam, por exemplo, na eficácia do ‘kit Covid’? Já aconteceu de eu fazer a consulta e explicar a falta de evidên cia do ‘kit Covid’ [que inclui remédios como azitromicina, ivermectina e hidroxicloroquina], e o paciente continuar tomando independentemente do que eu explicava. Alguns pacientes insistem em usar, talvez porque acreditam que funciona como uma fórmula mágica.
Já receitou cloroquina aos seus pacientes? Não.
Para os seus pacientes, quem é o responsável pelas mortes por Covid-19 no Brasil? Os pacientes que tiveram uma evolução mais grave de internação em terapia intensiva têm raiva da China. Eu não ouvi nada até agora relacionado ao governo Bolsonaro [sem partido]. Para eles, a China destruiu vidas no mundo todo.
Você recebeu um grande fluxo de pacientes contamina dos pelo coronavírus após as festas de fim de ano? Sim. Eu trabalhei nos dias 31 e 1º de janeiro atendendo familiares de pacientes por causa do Natal e do Ano-Novo. Atendi, por exemplo, três famílias na virada do ano desesperadas com o diagnóstico positivo depois de aglomerarem nas confraternizações.
Como você vê as aglomerações de pessoas nas praias e em festas clandestinas apesar do repique de casos de Covid 19 pelo país? Eu vejo os dois lados: primeiro é uma pandemia que está durando muito tempo. As pessoas realmente estão esgotadas das recomendações de não fazer aglomeração. Eu entendo esse lado. A questão é que é uma doença que a gente tem pouco recurso de tratamento e, além disso, falta hospital para atender. Aglomeração é a pior coisa que a gente pode imaginar numa pandemia de vírus respiratório. O que eu quero dizer é que eu até entendo que as pessoas tenham liberado geral porque não aguentam mais tanto tempo por desespero, mas a gente vai pagar um preço por isso.
O que tem gerado essa negação da realidade em parte da sociedade? Tudo é reflexo da insegurança de uma doença nova, de varias opiniões e de você ter inicialmente algumas publicações científicas dizendo uma coisa que acaba não sendo comprovada num estudo seguinte. Essa insegurança acabou criando esse ‘flaflu’ de pessoas que defendem umas terapias e outras não. O que as pessoas precisam é ter por perto um especialista pa ra medir a gravidade do quadro de Covid-19 e evitar a automedicação. Quem salva não é o tratamento precoce, mas a assistência precoce.
O que seria a assistência pro coce? No momento da suspeita diagnostica, o paciente precisa procurar o quanto antes assistência médica de referência ou especialista relacionado à infecção do SarsC0V-2, que basicamente acomete o pulmão. A partir daí, o médico estabelece junto com o paciente a melhor forma de acompanhamento.
Qual tratamento tem funcionado até agora? O que a gente tem de comprovação é o uso de corticoide para pacientes que desenvolvem uma alteração da saturação de oxigênio. O medicamento controla a inflamação do organismo. Para pacientes que evoluem para uma alteração de alguns exames laboratoriais que sugerem um aumento de trombose, agente administra uma profilaxia específica. E se há algumas imagens tomográficas em que você encontra sinais de uma infecção secundária bacteriana é possível ad ministrar medicamento antimicrobiano.
A recomendação é monitorar a saturação e acompanhar o quadro com exames laboratoriais a cada cinco dias, além de realizar uma tomografia de tórax se houver sintoma respiratório, como tosse e falta de ar. Também é importante medir a porcentagem de acometimento do vírus no pulmão.
Em um exercício de futurologia, como você vê a pandemia de Covid 19 no Brasil nos próximos anos? Eu acho que a infecção por esse vírus veio para ficar assim como a influenza. O Sars-CoV-2 vai fazer parte do nosso calendário de vacinação. A gente vai ter que rever todo ano um esquema de vacina por causa das variantes do vírus que sofreram mutação, e a gente vai ter que preparar vacinas diferentes para poder combater isso. Não vai ter a mesma quantidade de pessoas infectadas como agora porque a gente terá outro nível de população exposta e já vacinada.
Um ano depois do burnout, o pânico ainda ronda seu horizonte? Eu não estou mais na fase do pânico. Isso foi lá no começo. Acho que a gente aprendeu muito com essa doença e estamos aprendendo. É um momento de esperança pela chegada da vacina e o resultado que ela vai causar. A gente vê o desempenho de Israel, e o que eu tenho nutrido é esse sentimento de esperança, apesar de todos os nossos problemas.
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A REDAÇÃO
Caiado sobre a covid em Goiás: “Março será o pior mês que vamos enfrentar”
Adriana Marinelli
Goiânia – “O mês de março será o pior mês que nós vamos enfrentar da covid-19”. O alerta é do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que destaca que a transmissibilidade das novas variantes do novo coronavírus é mais preocupante. A declaração do governador foi dada durante entrevista na inauguração do novo câmpus da Faculdade da Polícia Militar, em Goiânia, na tarde desta segunda-feira (22/2).
Na ocasião, Caiado destacou a abertura de novos leitos de UTI para casos de covid-19 em Goiás. “Nesta semana serão mais 50 leitos até dia 1º. Estamos tomando já medidas no sentido de ampliar ainda mais os leitos. Sabendo que, se não tivermos a contrapartida da população, fica difícil”, afirmou ao mencionar que as equipes de saúde estão sobrecarregadas.
Caiado fez um apelo para que o povo goiano não ignore o uso da máscara e evite aglomeração. “Eu peço que mantenham distanciamento. A demanda agora está muito maior do que na primeira onda”, pontuou.
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Campus da Faculdade da Polícia Militar é inaugurado em Goiânia
Goiânia – A nova sede da Faculdade da Polícia Militar (FPM), campus São Nicolau, que fica na Rua 10, no Setor Oeste, em Goiânia, foi inaugurada nesta segunda-feira (22/2). Antes a instituição funcionava no Colégio Estadual da Polícia Militar Vasco dos Reis,na Avenida Mutirão. A instituição oferece cursos como de Biomedicina, Enfermagem e Educação Física.
“É uma inauguração importante não só para a Polícia Militar do Estado de Goiás, como para toda a sociedade goiana”, disse o governador Ronaldo Caiado, que reforçou o diferencial do ensino militar. “Tem característica não só de impor a ordem e disciplina, mas o fundamental: o conteúdo, que é orgulho para os goianos nos colégios militares. Disputam sempre as melhores notas”.
A nova estrutura da FPM conta com 10 salas de aulas, laboratório de informática, biblioteca e auditório. Algumas atividades práticas continuarão no Hospital da Polícia Militar (Cidade Jardim) e no Colégio Militar Vasco dos Reis. Os cursos oferecidos, atualmente, pela FPM são: Biomedicina, Enfermagem e Educação Física, que variam de quatro a cinco anos de duração. A Faculdade da PM é inspirada no modelo de ensino do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), do Instituto Militar de Engenharia (IME) e dos 61 Colégios Militares de Goiás.
Caiado destacou que as forças de segurança contribuem na transformação do Estado e não vai ser diferente com a faculdade. “Tenho certeza o quanto isso [novo prédio] vai ampliar sua capacidade, para que em breve possa ter outros cursos”, projetou. O governador ainda lembrou que o objetivo da instituição não é o lucro. “Aquilo que é pago, é retornado em forma de investimento para melhorar as condições de pesquisa, laboratórios, o quadro de professores. O que mostra a responsabilidade e o respeito com que a PM tem pelo ensino superior no nosso Estado de Goiás”, sublinhou.
A FPM é uma entidade privada de ensino superior e foi instituída em uma parceria entre a Fundação Tiradentes, sua mantenedora e entidade assistencial da corporação, com a Polícia Militar. O público-alvo é toda sociedade goiana. Para os alunos egressos de colégios militares estaduais há descontos na mensalidade, bem como para policiais militares e seus dependentes.
A instituição coloca Goiás em destaque nacional, sendo a primeira do país que segue os moldes militares. “Vão observar aqui uma estrutura espartana, sem luxo e pompa, mas impregnada de propósito, disciplina e ordem a fim de bem servir a sociedade com futuros profissionais éticos, bem formados e exemplares no seu conjunto de valores como bem nos ensina e nos molda a PM de Goiás”, destacou o diretor da FPM, tenente-coronel Cleber Aparecido Santos.
A instituição tem o corpo docente formado por professores que são profissionais de destaque em suas áreas civis e militares. Do quadro, 52% dos docentes são doutores e 36% mestres. O que exemplifica a qualidade do ensino que é oferecido. A faculdade tem metodologia focada na formação do estudante para o mercado de trabalho. Tanto é que 20% dos estudantes da FPM já estão alocados em estágios remunerados.
Ao parabenizar a PM, o vice-governador Lincoln Tejota, lembrou que a excelência do trabalho da corporação não seria diferente na área de educação e exaltou o trabalho realizado nos colégios militares. “Temos já vasta experiência e excelentes resultados. Estamos vendo como a população aprova, aplaude e, principalmente, como nossos alunos saem bem formados, educados e com os princípios bem fundamentados, prontos para disputar as principais universidades do Brasil e do mundo”, pontuou.
Participaram do evento o secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda; o comandante geral da Polícia Militar, coronel Renato Brum dos Santos; o secretário de Estado da Casa Militar, coronel Luiz Carlos de Alencar; o conselheiro curador da Fundação Tiradentes, Jônathas Silva; o coordenador geral acadêmico, o tenente-coronel Sérgio Henrique Nascente Costa; o comandante de Ensino da PMGO, André Willian de Paula Sousa; o comandante do Policiamento da Capital da PMGO, coronel Clives Pereira Sanches; coordenadores, professores e alunos da instituição, além de servidores da SSP-GO.
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Novo decreto proíbe casamentos e outros eventos privados em Goiânia
José Abrão
Especial para o jornal A Redação
Goiânia – Para tentar conter a aceleração de contágio pela pandemia de covid-19 em Goiânia, a prefeitura decidiu aumentar algumas restrições. A partir desta quinta quinta-feira (25/2), estão proibidos eventos privados como festas, batizados e casamentos, inclusive em salões de festas de condomínios na capital goiana.
O secretário de governo da prefeitura de Goiânia, Andrey Azeredo, divulgou, em coletiva de imprensa realizada no final da tarde de segunda-feira (22/2), algumas das medidas para conter a propagação da covid-19 que estarão no novo decreto, que deve ser publicado pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) ainda nesta segunda (22).
Além de proibir a aglomeração em eventos particulares, que antes podiam ser realizado com a até 150 pessoas, as maiores mudanças se aplicam à região da Rua 44, e ao funcionalismo municipal.
Os servidores públicos do município vão alternar entre trabalho presencial e home office: 50% em cada modalidade, alternando a cada 14 dias.
O comércio na 44 teve os seus dias e horários de funcionamento restringidos: a região só deve funcionar de quarta a sábado e das 7h às 15h.
Nada muda, porém, no transporte coletivo e nas escolas, que seguem funcionando com 30% da capacidade.
Azeredo salientou que tais medidas foram tomadas porque “parte da população ainda não se conscientizou” e chamou atenção para as 62 autuações feitas pelos fiscais da prefeitura durante o final de semana. “Esperamos o engajamento dos demais setores na esfera privada e pública. Temos que evitar a propagação da doença”, alertou, sinalizando que, caso o número de casos permaneça acelerado, “infelizmente novas medidas mais restritivas podem ser tomadas”.
Porém, tais medidas mais drásticas, como um toque de recolher, ainda sequer foram cogitadas, afirma. Confira abaixo as demais medidas anunciadas:
Shopping center com 50% da capacidade, horário de funcionamento limitado até 22h.
Bares e restaurantes com 50% da capacidade, proibida qualquer modalidade de sonorização, horário de funcionamento até às 22h.
Salões, barbearias e similares, até 30% da capacidade.
Templos religiosos, até 30% da capacidade.
Academias, até 30% da capacidade. Em condomínios, apenas para moradores e até 30% da capacidade.
Velórios, permitidas 10 pessoas de forma simultânea. Em caso de falecimento por covid-19, sem velório em hipótese alguma.
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Covid-19: Goiás registra 1,6 mil novos casos e 15 mortes em um dia
Goiânia – Goiás registrou 1.667 novos casos da covid-19 e 15 mortes pela doença nas últimas 24 horas, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) divulgado na tarde desta segunda-feira (22/2). Com as atualizações, o Estado chega a 381.899 casos e 8.301 óbitos confirmados.
Há o registro de 367.180 pessoas recuperadas e 325.499 casos suspeitos em investigação. Já foram descartados 227.082 casos.
Além dos 8.301 óbitos confirmados de covid-19 em Goiás até o momento, o que significa uma taxa de letalidade de 2,17%, há 188 óbitos suspeitos que estão em investigação.
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JORNAL OPÇÃO
Saúde diz que não vai haver suspensão da vacinação contra Covid-19 em Goiânia
Por Isabel Oliveira
Com 24.359 doses em estoque, Secretaria aguarda nova remessa para ampliar grupo
A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia informou que tem em estoque 24.359 doses de vacina contra à Covid-19. Além disso, diz que não existe possibilidade de haver suspensão da vacinação por falta do imunizante, como está acontecendo em outros municípios pelo Brasil.
A continuidade da vacinação tem preocupado, principalmente, após anúncio de adiamento da chegada de novas doses da Coronavac. O governo de Goiás espera que seja enviado no máximo até quarta-feira, 24, para que seja feito o repasse do imunizante aos municípios.
Em Goiânia, a prefeitura informou que aquelas pessoas que já receberam a primeira dose, tem a segunda garantida. Além disso, não há intenção de suspender a vacinação já que ainda tem mais de 20 mil doses em estoque.
A capital segue na expectativa de receber novas doses do imunizante contra Covid-19, para realizar a ampliação da vacinação de idosos menores de 84 anos.
A Secretaria recebeu 99.322 mil doses de vacinas contra a Covid-19, sendo 76.320 da CoronaVac e 23.002 mil da AstraZeneca. Até esta segunda-feira, 22, haviam sido vacinadas 66.082 pessoas com a primeira dose. Deste total, 50.325 trabalhadores de saúde, 771 idosos institucionalizados, 2.692 idosos acamados e 12.344 idosos acima de 84 anos.
Já com a segunda dose, foram imunizadas 7.711 pessoas, entre eles estão idosos institucionalizados e trabalhadores da saúde. O total de doses aplicadas no município foi de 73.793.
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Novas doses de CoronaVac chegam em Goiás até quarta-feira, 24
Por Mayara Carvalho
Ao contrário do que foi garantido pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, imunizantes não chegarão nesta segunda-feira, 22. Quantidade de doses prevista inicialmente para 160 mil também não foi confirmada
Goiás segue na expectativa de receber novas doses do imunizante contra Covid-19 e avançar na vacinação de idosos menores de 84 anos. No entanto, ao contrário do que foi garantido pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao governador Ronaldo Caiado (DEM) na semana passada, as doses de CoronaVac não chegarão em solo goiano nesta segunda-feira, 22.
A expectativa é de que o imunizante seja enviado no máximo até quarta-feira, 24. Mas não se sabe ainda a quantidade de doses que será disponibilizada para Goiás. O montante anunciado anteriormente, 160 mil doses, ainda não foi confirmado pelo Ministério da Saúde.
No encontro com governadores, o ministro Eduardo Pazuello havia anunciado a entrega de 9,3 milhões de doses ainda em fevereiro. O total, porém, estava acima do que havia sido anunciado horas antes pelo Butantan. O instituto prevê entregar 426 mil doses por dia a partir do dia 23, o que corresponderia a 2,6 milhões de doses.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação