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DESTAQUES
Grupo é indiciado por receber propina para pacientes furarem fila de cirurgias plásticas na rede pública; áudios comprovam esquema
Katiuscia Freitas: “Há uma corrente do bem por trás de cada transplante”
Governo de Goiás une tecnologia e humanização no atendimento a gestantes
Vacinação é um ganho civilizatório, afirma Nísia Trindade
92% das pessoas voltam a engordar após bariátrica, aponta estudo da USP
PORTAL G1
Grupo é indiciado por receber propina para pacientes furarem fila de cirurgias plásticas na rede pública; áudios comprovam esquema
Uma única pessoa inseriu quase 2 mil pessoas no sistema em apenas 6 meses. Vereador e ex-prefeito estão entre indiciados.
Por Thauany Melo, g1 Goiás
A Polícia Civil de Goiás indiciou 10 pessoas suspeitas de participar de esquema que cobrava propina de pacientes para serem inseridos e furar a fila de cirurgias plásticas e eletivas feitas pela rede pública de Goiás. Áudios divulgados pela TV Anhanguera com exclusividade mostram quando um dos suspeitos garante a realização de uma cirurgia em até 6 dias em troca de dinheiro.
“Eu arranjei uma mulher que está saindo a cirurgia assim. Claro que tem que pagar um pouco para ela. Mas vesícula, hérnia, Araújo Jorge, ortopedia, tudo. Se você tiver algum aí, passa pra mim que nós ganharemos um trocado. Pode passar sem medo de errar. É 5, 6 dias e está operando”, disse o suspeito.
Entre os indiciados estão vereador de São Miguel do Araguaia Joubert Tolentino Meira (Cidadania) e o ex-Prefeito de Teresina de Goiás, Odete Teixeira Magalhães.
O g1 não conseguiu localizar a defesa do ex-prefeito para um posicionamento. O g1 entrou em contato com a Câmara Municipal de São Miguel do Araguaia, com o partido Cidadania e com o vereador Joubert Meira, mas não houve retorno até a última atualização da reportagem.
O delegado responsável pelo caso, Danilo Victor Nunes, afirmou que entre os indiciados estão outros agentes públicos. Segundo ele, diversas pessoas pagaram propina para intermediários e operadores do sistema de regulação médica, para que pudessem realizar cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Somente um dos envolvidos teria sido responsável por realizar quase 2 mil inserções no sistema, só nos últimos seis meses do ano de 2022.
O grupo foi indiciado por associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influência, inserção de dados falsos em sistema de informação e posse de apetrechos para falsificação.
Como funcionava
Segundo a polícia, as irregularidades aconteciam principalmente para cirurgias plásticas, como abdominoplastia e mamoplastia. Porém, outras cirurgias eletivas, consultas médicas, exames e internações também eram fraudados.
Segundo a Polícia Civil, o grupo atuava em Goiânia e em diversos municípios de Goiás, com a captação de pacientes e inserção de dados falsos no sistema de regulação médica, com o objetivo de priorizá-los na realização de cirurgias, a maioria estéticas. Essas pessoas estavam fora dos critérios exigidos para a realização do procedimento.
Foi verificado que o grupo criminoso atuava não somente no âmbito do sistema de regulação, mas também mediante acesso a outros sistemas de outras unidades de saúde, inclusive havendo casos de compras de senhas para acesso indevido.
A polícia informou que as fraudes aconteciam pelo menos desde 2020. Segundo o delegado Danilo Victor Nunes os políticos investigados atuavam como intermediadores no esquema. “Geralmente o paciente pagava para eles e aí essa pessoa providenciava, junto a um operador do sistema, para que inserisse as pessoas”, disse.
“Na maioria eram procedimentos estéticos por meio de uma justificativa médica falsa. Por exemplo, uma pessoa que quer fazer uma mamoplastia conseguia que o operador do sistema alterasse essa justificativa, fraudasse isso, e inserisse com um fundamento plausível para a cirurgia, sendo que a pessoa não sofreu nenhum tipo de câncer ou doença”, disse.
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JORNAL OPÇÃO
Katiuscia Freitas: “Há uma corrente do bem por trás de cada transplante”
Gerente de transplantes afirma que deixar clara a intenção de doar órgãos é essencial para salvar vidas
Italo Wolff e Edson Leite Jr
Katiuscia Christiane Freitas é gerente de transplantes da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (Ses-GO) desde 2019. A enfermeira foi gerente de enfermagem no Hospital Geral de Goiânia (HGG), coordenadora da Divisão de Coleta do Hemocentro de Goiás, e tem experiência em todas as etapas do processo de captação de órgãos e tecidos. Já trabalhou com os profissionais da UTI, acompanhou diagnósticos, fez entrevistas com as famílias dos doadores e receptores de órgãos e esteve no centro cirúrgico.
Hoje, além de gerenciar os transplantes no estado, Katiuscia Freitas ministra palestras para sensibilizar potenciais doadores de órgãos. Nesta entrevista ao Jornal Opção, a gestora de sistemas de saúde faz um panorama dos transplantes no estado, além de explicar o funcionamento do cadastro de doadores e receptores e desmistificar a doação de órgãos.
Italo Wolff – Como está o momento para os transplantes em Goiás?
Goiás apenas não realiza os transplantes de coração e de pulmão, mas captamos e encaminhamos esses órgãos para pacientes de outros estados. Temos no Hospital Alberto Rassi (HGG) um centro de referência em nível nacional. Em 2020, Goiás foi o quinto estado que mais realizou transplantes de rins no Brasil.
Atravessamos um momento difícil na pandemia. Agora, em todo o país, passamos por um processo de retomada. Ainda não alcançamos os números de 2019, tanto no critério das doações quanto no da captação de órgãos e tecidos, mas tivemos um aumento considerável. No começo de 2023, o aumento foi de 59%.
Hoje, nossa maior fila é para as córneas, que foi a categoria mais prejudicada durante a pandemia. Já aumentamos esses procedimentos consideravelmente, de forma que até em agosto o número de transplantes de córneas foi maior do que em todo ano de 2022.
Edson Leite Júnior – O que falta para Goiás fazer transplantes de coração e pulmão?
Já existem conversas na Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) para ampliar os procedimentos. A questão é que o transplante é uma intervenção de alta complexidade, que exige equipes experientes e uma estrutura complexa. O Estado tem se preparado para isso e equipes médicas demonstraram interesse, mas o processo é burocrático, com necessidade de adequar estruturas, se submeter a credenciamentos e apresentar a capacidade de realizar os procedimentos.
O que existem são médicos interessados, que já têm experiência fazendo transplantes em outros estados e que demonstram interesse em expandir os procedimentos para coração em Goiás. A sinalização vem da unidade mista, do sistema de saúde privado e público, que estão em processo de selecionar documentos e estudar como implantar esse serviço.
Edson Leite Júnior – Todo o transplante é feito 100% pelo Sistema Único de Saúde (Sus)?
A cirurgia de transplante pode ser feita também na rede privada; mas a inserção no cadastro de doadores e receptores é feita pelo SUS. Todos são inseridos no mesmo Sistema Nacional de Transplantes, uma listagem gerida pelo Ministério da Saúde. Por isso, todos dependem do SUS.
Esse cadastro técnico único, que é do SUS, seleciona doadores e receptores independentemente de sua condição social. Não importa se o paciente está pagando pelo hospital onde ficará internada, o órgão a ser transplantado e sua seleção na lista de espera é automática, independe de pagamento.
Não é uma pessoa que escolhe os receptores, é um sistema que leva em consideração os dados inseridos de forma técnica. Por exemplo: ontem, participamos de uma doação de múltiplos órgãos em Itumbiara. Inserimos os dados do doador e o sistema selecionou receptores a partir da compatibilidade, do tempo de espera, da gravidade dos pacientes. Os órgão foram para diferentes estados, sem nossa intervenção.
Edson Leite Júnior – Esse processo demora?
Pedimos para a família um prazo de 24 horas para finalizar o processo. Dependemos dos exames de sorologia, de histocompatibilidade e outros, que levam cerca de seis horas para ficarem prontos. Depois desses resultados, começamos a etapa de distribuição, em que o sistema seleciona os possíveis receptores e organizamos a logística para encaminhar a doação.
Após a retirada do corpo, cada órgão tem um tempo de viabilidade, que chamamos de tempo de isquemia. Por isso, o primeiro órgão a ser retirado é o coração, que tem um tempo de isquemia de quatro horas. Posteriormente, o pulmão, que tem um tempo de quatro a seis horas. Depois do pulmão, o fígado, cujo tempo de viabilidade é de seis a oito horas. O pâncreas dura cerca de 12 horas e os rins até 36 horas fora do corpo. Os rins podem ser enviados em voos comerciais, dentro da cabine do piloto. Os demais órgãos são frequentemente enviados por aviões da Força Aérea Brasileira (FAB).
Tentamos agir o mais rápido possível, porque existem famílias que negam a doação pela demora no processo. Conseguimos fazer rins e córneas mais rapidamente em Goiás, porque as equipes já estão aqui. Então, iniciamos o processo rapidamente.
Italo Wolff – Com um tempo de isquemia de apenas quatro horas, como Goiás consegue enviar corações para outros estados?
As cirurgias são simultâneas. Quando a equipe aqui decide que o coração está apto para doação, começa uma corrida contra o tempo. A equipe médica que cuida do paciente que vai receber o órgão é alertada e a pessoa já vai para o centro cirúrgico, ser submetida a anestesia, para que quando o coração chegue lá, já encontre o paciente pronto para ser transplantado.
Até por essa dificuldade, Goiás envia corações principalmente para Distrito Federal e São Paulo. Tanto pela proximidade, quanto pela logística. Para enviar, o transporte pode envolver bombeiros, o Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo (Graer), a FAB. No destino, as equipes têm também suas logísticas. Existe toda uma rede de apoio.
Temos uma parceria com o aeroporto de Goiânia, de forma que todos os órgãos e equipes são avisados com antecedência e o acesso é facilitado pela entrada restrita. Recentemente, o aeroporto conseguiu que um avião da Azul ficasse mais de 30 minutos em solo para que não perdêssemos um órgão vindo de Uruaçu. Com esse contato, mobilizamos e sensibilizamos os passageiros, para que eles esperassem, porque não teríamos outro voo.
É um esforço coletivo. Em outra ocasião, conseguimos que outro aeroporto, fechado para operações aéreas, abrisse espaço para transportarmos os órgãos. Existe uma corrente do bem por trás de cada operação. Quando uma família diz “sim”, começa a cooperação. Já nos ajudaram Samu, Polícia, Sistema de Trânsito, todos acreditando que podemos salvar uma vida.
É um trabalho extremamente gratificante e difícil. Trabalhamos com dois lados: a morte e a vida. Quando comemoramos uma doação, não estamos comemorando a morte; estamos comemorando a solidariedade. O fato de que, naquele momento de tanta dor, uma família se dispôs a salvar outras vidas. Temos vários exemplos de como esse processo sensibiliza e emociona.
Italo Wolff – Como funciona o cadastro?
No caso do Fausto Silva, se comentou que ele foi priorizado. Isso provocou a dúvida: “Será que ele foi passado na frente da fila porque é milionário?” Não. Ele foi priorizado porque atendia os critérios de gravidade. Foi comprovado que tinha um choque cardiogênico, que ele estava usando a medicação exigida. Como aconteceu com Fausto Silva, ocorre com vários outros.
O cadastro segue critérios de compatibilidade em que até o peso e altura dos envolvidos importa – não adianta se pegar um coração de um adulto e tentar transplantar em uma criança. O tempo que um paciente pode esperar pelo órgão é muito variável; depende até de seu quadro clínico.
Um receptor pode recusar o órgão. Nesses casos, a equipe médica do paciente preenche um formulário para justificar a recusa. Talvez o receptor esteja gripado, talvez seus exames indiquem que aquele momento não é o melhor para realizar a cirurgia. Ou talvez a equipe considere que aquele rim é ainda o ideal e que há condições de esperar.
Edson Leite Junior – O caso Faustão trouxe muita visibilidade para o tema dos transplantes, mas também trouxe certa desconfiança e muita fake news. Considera que tudo isso ajudou ou atrapalhou seu trabalho?
Olha, eu vou dizer que atrapalhou em partes, mas ajudou muito. Neste mês de agosto, o número de doações era o mais baixo do ano – tínhamos apenas três doações – até o caso do Faustão. Apenas na última semana, já foram três novas doações. Um aumento de 100% em poucos dias; e fechamos o mês com seis doações. Ainda estamos abaixo da média, mas já foi uma melhora.
Acredito que a oportunidade de explicar o sistema de doações na imprensa realmente faz diferença. Não foi apenas em Goiás – o coordenador de transplantes de São Paulo também cedeu entrevista afirmando que registrou um forte aumento de doações no mesmo período. Em minha opinião, mesmo com as fake news, a oportunidade de fazer esclarecimentos é proveitosa.
Edson Leite Junior – Ainda faltam informações para as famílias?
Sim. No Brasil, são as famílias que dão a palavra final, autorizando as doações. Em minha experiência, o que determina o “sim” das famílias é que elas já tenham ouvido esse desejo do doador em vida, dentro de casa. Esse não é um assunto sobre o qual as famílias costumam conversar com facilidade. É comum que, quando alguém toca no assunto, um ou outro parente diga “Não fale sobre isso”, ou “Credo, que história é essa?”.
Quando trabalhava como coordenadora do hemocentro, não encontrava resistência das pessoas em conversar sobre doação de sangue. Mas, como a doação de órgãos acontece quando há morte encefálica do doador, há o estigma. As pessoas não falam sobre a morte, mas é isso que determina a doação na maioria dos casos.
Deixar claro o desejo de doar órgãos fez toda a diferença, porque a família raramente contraria a vontade do doador. O problema é que a maioria desconhece a vontade de seus familiares.
Edson Leite Junior – E esses fatores de resistência são culturais? Religiosos? A que se deve a resistência de conversar sobre o tema no Brasil?
Quando recebemos uma negativa, a justificativa mais frequente é: “Ele não era doador em vida”. As pessoas presumem que o parente não gostaria de ter seus órgãos doados porque nunca falou sobre o assunto. Outra justificativa comum é o desejo de que o corpo fique íntegro. Ainda é comum a crença (falsa) de que a doação vai deformar o corpo, de forma que ele não poderá ser velado.
São mitos. Outra ideia errada é a de que os médicos vão retirar os órgãos do paciente enquanto ele ainda está vivo. Esse foi um receio surgido em 1997, quando a lei que regulamenta os transplantes foi aprovada e se falava sobre escrever na carteira de identidade o desejo de ser um doador. Criou-se a lenda urbana de que haveria um estímulo para matar os doadores de órgãos para fazer transplantes.
Na realidade, o processo é muito seguro. O Brasil tem uma das legislações mais rigorosas do mundo para chegar ao diagnóstico de morte encefálica. Pela lei, a família pode até trazer um médico independente, de fora da equipe do hospital, para acompanhar o processo. Hoje, alguns hospitais deixam a família acompanhar o procedimento, assistir os exames. Tudo para que os parentes do doador compreendam que morte encefálica é morte.
Por isso, nosso foco não é apenas conscientizar a população sobre a importância de doar. Hoje, também nos preocupamos muito com o treinamento dos profissionais da saúde, para que eles saibam como conversar com as famílias. Esses profissionais precisam entender como explicar o diagnóstico da morte encefálica e também como abordar a questão da doação de órgãos. Isso faz toda a diferença.
Italo Wolff – Em geral, como acontece essa abordagem? A equipe médica sugere a possibilidade de doação de órgãos aos familiares de quem teve morte encefálica?
O hospital avisa a nossa equipe quando abre o protocolo de morte encefálica. Hoje, temos unidades de procura de órgãos dentro dos três maiores hospitais do estado, que são o Hugo, Hugol e Heana. Esses hospitais cuidam de uma região de abrangência, acompanhando suas cidades e também os municípios do interior.
Nossa equipe acompanha o processo, validando os procedimentos e certificando que tudo está acontecendo conforme as regras. Para chegar ao diagnóstico de morte encefálica, há uma série de exames comprobatórios e, caso tudo esteja dentro dos parâmetros, a equipe médica pode conversar com os familiares sobre o diagnóstico, mas jamais sobre doação.
Não se fala com família sobre doação antes de conclusão do diagnóstico de morte encefálica. Geralmente há alguém da nossa equipe junto com o médico que dá a notícia do óbito, e às vezes há membros de comissões intra-hospitalares. Neste momento, a equipe aborda a doação de órgãos. O ideal é que haja um treinamento para tratar do assunto, porque é uma conversa difícil, que acontece em um momento em que a família não está em condições de ouvir.
Edson Leite Júnior – Teve algum caso que te marcou?
Vários. Em um deles, eu estava no Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) com a equipe que fez a captação de um coração para um transplante que ocorreria em São Paulo. O doador daquele coração era um pastor que faleceu aos 52 anos.
Nós íamos entregar o coração em uma caixa a um helicóptero dos bombeiros no pátio, que levaria o órgão até o aeroporto. Eu estava preocupada com a possibilidade de membros da família do doador estarem no pátio. Eu queria proteger a família, porque pensei que talvez não fosse bom para eles olhar aquela caixa passando com o coração dentro. Mas não tivemos tempo de verificar se havia alguém no pátio.
Quando saímos do hospital, havia cerca de dez pessoas da família no pátio. Eles assistiram toda a cena, da caixa passando. Em vez de acharem ruim, eles começaram a aplaudir, e aplaudiram até o helicóptero partir. Aquele momento foi emocionante e me marcou muito. Eles agradeceram e disseram “ame mais, abrace mais, faça o que você puder em vida”.
São muitos casos emocionantes. Saímos do extremo da dor para o extremo do amor. Essas famílias têm muito a ensinar sobre altruísmo, superar a sua dor naquele momento difícil para ceder algo, doar algo de um ente querido para salvar outras vidas.
Italo Wolff – A família do doador sabe quem foi o paciente que recebeu o órgão? É comum que exista esse contato?
Não. Pela legislação, nós da central de transplantes não podemos facilitar esse contato nem fornecer informações sensíveis. Podemos apenas dar algumas informações, como a idade, sexo e estado do paciente transplantado. Algumas famílias descobrem quem foi o receptor por notícias na imprensa, mas isso não é incentivado pelas centrais e nem pela legislação.
Existem várias razões para manter essa distância. Primeiro, porque uma das partes pode não querer estabelecer esse vínculo. Segundo, é possível que a família do doador queira receber algo por ter feito a doação. Além disso, é possível que essa relação não seja harmoniosa. As pessoas acham que vai ser um encontro lindo, mas é preciso respeitar os limites da outra parte. A família do doador sofreu uma perda, está abalada. Buscamos resguardar as privacidades.
Italo Wolff – Por que a pandemia aumentou a fila de transplantes? Por que ainda não recuperamos taxas de doações pré-pandemia?
A pandemia de Covid-19 suspendeu os transplantes por seis meses. Os surtos dentro das unidades de saúde, a circulação de pacientes contaminados, a imunossupressão dos receptores, tudo isso influenciou. Foi uma época em que a doação de órgãos era uma preocupação secundária da imprensa, pois todos os olhos estavam voltados para o novo vírus.
A retomada pós-pandemia envolve um trabalho de sensibilização. Agora, entramos em setembro e vamos mobilizar as equipes para o setembro verde, com ações de conscientização.
Hoje, os efeitos são menores, mas ficou o impacto. A fila de espera tem 2 mil pessoas em Goiás, são 65 mil em todo o Brasil. A maioria no estado (1,5 mil) esperam córneas, cerca de 400 esperam rins.
Italo Wolff – O maior obstáculo continua sendo a recusa das pessoas de doar?
Sim. Temos demanda e pessoas para realizar o transplante, mas o gargalo são os doadores. Se você se questionar qual a maior probabilidade, de entrar na fila para receber um transplante ou de se tornar um doador de órgãos, vai concluir que é bem mais provável precisar de um órgão. Apenas quem tem morte encefálica pode doar, e apenas 3% das pessoas no país chegam a este diagnóstico.
Só vamos conseguir reduzir as listas se conseguirmos aumentar as doações. Para isso, temos de diminuir a recusa. Estados como Santa Catarina têm 28% de recusa; em Goiás, 63% das famílias que podem dizer “sim” acabam recusando.
Italo Wolff – Onde a central de transplantes realiza esse trabalho de conscientização?
Em todos os locais onde somos solicitados. Vamos a escolas, igrejas, empresas, onde quer que possamos sensibilizar as pessoas para essa causa.
Edson Leite Junior – As igrejas são receptivas?
Sim. As pessoas acham que a igreja vai ser contra, mas não são. A maior dificuldade associada com as religiões é a ideia de milagre; da interpretação de que o familiar com morte encefálica pode passar por um milagre e ser curado. Na realidade, a morte encefálica é a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro.
É uma parada permanente, mas, pelo fato de que o coração continua batendo, as pessoas têm esperança. O que eu sempre levo para essas ocasiões é o que uma mãe de paciente com morte encefálica me disse no Hugol. O filho dela tinha 16 anos. Quando foi oferecido para ela a possibilidade da doação, ela me disse: “Eu vim até aqui rezando por um milagre. Eu não sabia que o milagre seria o meu filho na vida de outras pessoas.”
Esse, para mim, é o milagre da doação de órgãos. É a oportunidade de salvar outras vidas, mesmo depois da morte.
Italo Wolff – Qual a perspectiva para o futuro da área em Goiás? Há investimentos para ampliação do programa?
Estou na central de transplantes desde uma época que não tínhamos sede, nosso número de funcionários era muito reduzido, nossa estrutura era bem menor. Hoje temos sede, três unidades dentro dos maiores hospitais de urgência do estado, mais de 130 funcionários, cada vez mais profissionais treinados e habilitados para transplantar. Então, a tendência é evoluir.
O HGG é hoje o nosso maior centro transplantador, com 85% dos procedimentos do estado. Todos feitos pelo SUS, com uma estrutura que é melhor do que a da maioria dos hospitais privados. Em breve, começaremos a fazer transplantes de medula e pâncreas no HGG.
Já foi investido muito e os investimentos estão cada vez maiores. A atual gestão da SES abraçou a causa dos transplantes. Temos acesso ao secretário de saúde e podemos resolver problemas de forma rápida. A coordenação nacional já esteve em Goiás e ficou surpresa com o apoio e eficiência.
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O HOJE
Governo de Goiás une tecnologia e humanização no atendimento a gestantes
Projetos desenvolvidos e aprimorados pela Secretaria de Estado de Saúde promovem partos naturais sem dor e definem protocolos personalizados de acompanhamento do bebê
O cuidado durante a gestação e a humanização do parto é foco de projeto do Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES). As policlínicas de Luziânia, Formosa, Jataí e Uruaçu ganharam novos centros obstétricos e os profissionais serão capacitados para realização de procedimentos que usam a tecnologia em favor da gestante e seu bebê. O objetivo é levar para todas as regiões do estado práticas como o Parto Adequado (natural, mas sem dor), já adotado no Hospital Estadual do Centro Norte Goiano (HCN), em Uruaçu.
A metodologia do Parto Adequado foi aprimorada por anestesiologistas do HCN para permitir a realização de partos naturais com anestesia peridural walking, que ameniza a dor sem tirar a força muscular da parturiente. “Conhecida também como walking epidural ou peri walking, a técnica é uma abordagem inovadora que proporciona alívio da dor de forma eficaz, permitindo às pacientes manterem a mobilidade e, assim, participarem do processo do parto natural, só que sem dor”, explica o secretário da Saúde, Sérgio Vencio.
Ao contrário da anestesia geral, que induz à inconsciência, a peri walking aplica anestésicos na medula espinhal, reduzindo a sensação de dor, mas mantendo a sensibilidade e, na maioria dos casos, a quase totalidade da força motora nas pernas, abdome e períneo. A paciente permanece ativa, caminhando e ajustando sua posição conforme necessário, pois a movimentação auxilia no progresso do parto. “É fundamental que essa técnica seja administrada por anestesiologista experiente, pois o equilíbrio entre alívio da dor, mobilidade e força muscular precisa ser cuidadosamente ajustado para cada paciente e situação”, explica o anestesiologista e diretor técnico do HCN, Luciano Dias.
Ainda segundo o médico, o Parto Adequado acolhe e cuida das pacientes ao longo de toda a gestação, oferecendo um atendimento ainda mais seguro e confortável para mãe e bebê. As pacientes podem ter um parto natural sem dor, acompanhadas pela enfermeira obstetra, médico, doula, além do acompanhante. Para ampliar o conforto, no HCN, o centro obstétrico conta com quartos com música relaxante, cromoterapia e aromaterapia apropriados para assistência humanizada, em ambiente lúdico. O método exige avaliação individual e tem sido opção muito utilizada na unidade com alto índice de recomendação entre as próprias pacientes.
Inteligência Artificial
No HCN também está em teste um projeto piloto de Inteligência Artificial, desenvolvido pela Superintendência de Tecnologia e Inovação da SES. A Caren, como foi chamada, organiza as informações da gestação e os dados do recém-nascido, inseridas pela equipe assistencial. Após análises, a IA repassa a indicação do grau de cuidado que se deve ter com a criança ao nascer e os protocolos a serem seguidos, na primeira etapa. Em uma segunda etapa, as mães recebem um guia personalizado dos principais cuidados que devem manter em casa com o recém-nascido.
“O objetivo dessa inovação, premiada em agosto pela Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia de Comunicação e Informação, é diagnosticar e interferir no cuidado, especialmente de prematuros e outras condições, reduzindo a mortalidade neonatal”, define Sérgio Vencio. Ele lembra que essa IA está em fase de testes e modelagem no HCN e que, após as análises, deverá ser estendida às outras unidades da rede estadual, incluindo o Hospital Estadual da Mulher (Hemu), referência estadual para alto risco gestacional que, assim como o HCN, se consolidando na assistência humanizada a gestantes, mamães e bebês.
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AGÊNCIA BRASIL
Vacinação é um ganho civilizatório, afirma Nísia Trindade
Reconstruir a confiança da população nas vacinas é um desafio que se impôs ao Brasil nos últimos anos. Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, a ministra Nísia Trindade afirmou que retomar as altas coberturas vacinais é uma missão de toda a sociedade e que o governo trabalha para retomar seu papel como autoridade sanitária e como referência mundial em vacinação.
“A recuperação [da confiança da população] é um desafio que estamos vencendo”, avalia a ministra, destacando, entre outras iniciativas, a retomada das campanhas de multivacinação.
“Começamos [as campanhas de vacinação] por estados da Região Norte e fronteiriços justamente para reduzir o risco de reentrada de doenças como a poliomielite, após terem sido identificados casos no Peru. O Brasil está na lista de países sob esse risco, de acordo com a OMS”, explicou Nísia.
Para a ministra, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completa 50 anos em 2023, é uma conquista histórica dos brasileiros.
“O PNI e o Sistema Único de Saúde [SUS] são reconhecidos em todo o mundo e nos permitem enfrentar mais de 20 tipos de doenças. Erradicamos a varíola, eliminamos a poliomielite, a rubéola, a síndrome da rubéola congênita e o sarampo. Imaginem se todas essas doenças voltassem a se alastrar? Com a queda nas coberturas vacinais nos últimos anos, infelizmente, o sarampo retornou, e temos de fazer de tudo para evitar o retorno da poliomielite.”
Ela alerta que a falta de imunização coloca vidas em risco e destaca que o crescimento da expectativa e da qualidade de vida dos brasileiros está intimamente ligado à vacinação.
“A vacinação é um dos grandes ganhos civilizacionais, permitindo controlar e erradicar inúmeras doenças. Seu impacto positivo para a saúde é comparado pela Organização Mundial da Saúde ao do acesso à água potável. Ambas nos permitiram muito mais qualidade de vida e estão na base do aumento significativo da expectativa de vida ao longo do último século no país, que saltou de 45,5 anos na década de 1940 para 77 anos hoje.”
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:
Agência Brasil: Qual é o balanço parcial desses primeiros meses do Movimento Nacional pela Vacinação? Há novos passos sendo preparados?
Nísia Trindade: A vacinação voltou a ser tema prioritário do governo federal. Nesse sentido, a nossa primeira ação foi restabelecer a autoridade sanitária do Ministério da Saúde. As pessoas voltaram a ter uma referência unificada na busca de orientações. Por mais que a desinformação ainda tente promover o negacionismo, o combate a essas ações criminosas contra a saúde pública é prioridade. Considero que já avançamos, portanto, na reconstrução da confiança da população nas vacinas, isso é resultado de um trabalho amplo de todo o Governo Federal, da retomada da ciência, do diálogo e parceria com entidades, sociedade civil, instituições de pesquisa e universidades. Retomar as altas coberturas vacinais é uma missão de toda a sociedade. Isso permite resgatar a relação histórica de confiança entre governo e sociedade, que já fez o Brasil ser referência mundial em vacinação e eliminar doenças como o sarampo, que infelizmente retornou, e a poliomielite.
Outra frente de atuação tem sido a retomada de campanhas importantes no âmbito do Movimento Nacional pela Vacinação, como para a vacina bivalente contra a covid-19 e suas variantes e para a multivacinação nos estados. Neste último caso, adotamos uma estratégia inovadora, o microplanejamento, que permite adaptar as ações à realidade local, de acordo com as próprias referências e manifestações culturais, mobilizando a população e comunicadores locais. Oficinas do Ministério da Saúde com estados e municípios têm sido realizadas para pensarmos conjuntamente sua implantação. A multivacinação já chegou em alguns estados, como Amapá, Acre, Pará, Maranhão e Rio de Janeiro, e terá passado por todo o país até o final do ano.
Começamos por estados da Região Norte e fronteiriços justamente para reduzir o risco de reentrada de doenças como a poliomielite, após terem sido identificados casos no Peru. O Brasil está na lista de países sob esse risco, de acordo com a OMS. O desmonte nas políticas de vacinação que aconteceu nos últimos anos deixou impactos profundos nas coberturas vacinais. A recuperação é um desafio que estamos vencendo, mas não se dará de forma imediata. Como já disse o presidente Lula, a destruição é rápida, a reconstrução leva tempo.
Agência Brasil: Há uma expectativa grande em relação à incorporação da vacina contra a dengue ao PNI. Pode falar sobre como está esse processo?
Nísia Trindade: O processo de incorporação da vacina contra a dengue está seguindo todos os critérios necessários. A biofarmacêutica Takeda, que tem a propriedade da vacina Qdenga, entrou com o pedido na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS [Conitec] no início de agosto, com informações sobre o produto para a análise. É o primeiro passo. É fundamental essa análise técnico-científica para garantir à população acesso a vacinas efetivas. Temos o aval da Anvisa, precisamos agora avaliar os demais critérios, como a segurança, eficácia, custo-efetividade e impacto orçamentário. Os preços devem considerar a abrangência do SUS e refletir o compromisso das empresas que atuam no campo da saúde pública. É importante deixar claro que o Ministério da Saúde não irá, em nenhuma hipótese, deixar de incorporar uma tecnologia ou uma vacina no SUS, se todos os critérios forem cumpridos – seja essa tecnologia fabricada no exterior ou no Brasil.
Também devemos lembrar que a vacina é um meio importante de enfrentar problemas de saúde, mas não o único. Na frente do controle do vetor da doença, temos iniciativas como o projeto Wolbachia. Ele mobiliza um método de liberação de mosquitos com a bactéria Wolbachia, que impede o desenvolvimento e transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya pelo vetor. Já há casos bem-sucedidos e buscamos dar escala a essa experiência e outras inovações que se mostrem eficazes no combate a essas doenças.
Agência Brasil: Já há uma definição de em que lugar do calendário vacinal a imunização contra a covid-19 vai entrar? Será uma vacina infantil?
Nísia Trindade: Essa é uma decisão que ainda está em debate pelo Programa Nacional de Imunizações [PNI], com assessoramento da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), à luz das pesquisas e das contribuições científicas para a decisão. Mais urgente, e nossa prioridade no momento, é que todos os públicos tenham o esquema vacinal atualizado. Faço então um apelo a todas e todos para que não deixem de tomar as doses recomendadas para cada faixa etária, e não deixem de tomar a dose de reforço com a vacina bivalente. As vacinas estão disponíveis em todas as unidades de saúde.
Agência Brasil: É possível fazer um exercício de imaginar o Brasil e o SUS sem o PNI? Qual seria o impacto nos vários aspectos da vida do brasileiro: saúde, educação, trabalho, renda, lazer…
Nísia Trindade: A vacinação é um dos grandes ganhos civilizacionais, permitindo controlar e erradicar inúmeras doenças. Seu impacto positivo para a saúde é comparado pela Organização Mundial da Saúde ao do acesso à água potável. Ambas nos permitiram muito mais qualidade de vida, e estão na base do aumento significativo da expectativa de vida ao longo do último século no país, que saltou de 45,5 anos na década de 1940 para 77 anos hoje. O PNI e o Sistema Único de Saúde [SUS] são reconhecidos em todo o mundo e nos permitem enfrentar mais de 20 tipos de doenças. Erradicamos a varíola, eliminamos a poliomielite, a rubéola, a síndrome da rubéola congênita e o sarampo. Imaginem se todas essas doenças voltassem a se alastrar? Com a queda nas coberturas vacinais nos últimos anos, infelizmente, o sarampo retornou, e temos de fazer de tudo para evitar o retorno da poliomielite. O PNI faz 50 anos esse ano e foi uma conquista histórica de todos os brasileiros, garantindo que as vacinas sejam direito de todos os brasileiros. O PNI transformou o Brasil em referência de vacinação e é isso que vamos retomar no nosso governo.
Agência Brasil: Qual é o custo das baixas coberturas para o SUS nos últimos anos? Tem sido necessário aumentar investimentos em vigilância e tratamento de doenças preveníveis? Como esse impacto está sendo percebido?
Nísia Trindade: O custo é colocar vidas em risco pela falta de vacinação, com possibilidade de retorno da poliomielite e outras doenças que já haviam sido eliminadas. Nosso esforço agora é para evitar que isso aconteça, evitar que o Brasil retroceda ainda mais. Estamos trabalhando no fortalecimento da vigilância, isso entrou inclusive no PAC, com investimentos nos 47 laboratórios de Saúde Pública e avanço na inteligência genômica, por exemplo – são R$ 272 milhões de investimentos nessa área. Isso impacta diretamente na preparação do país para futuras emergências, o que tem sido pauta prioritária inclusive da nossa agenda internacional, e a vigilância é parte fundamental desse processo.
Agência Brasil: O PNI é frequentemente citado como modelo internacional para a imunização na saúde pública. O Brasil coopera de que forma exportando esse modelo?
Nísia Trindade: Quando começamos a avançar com maior expressão, a partir de fins da década de 1980, o mundo ficou impressionado com nossa capacidade de engajar a população, de estabelecer essa relação de confiança com a vacinação. A experiência bem-sucedida e a proteção contra diversas doenças, perceptíveis nos dados de redução e eliminação dessas doenças, reforçaram essa confiança que precisamos hoje recuperar. Reconquistar as altas coberturas vacinais, portanto, em um segundo momento, pode voltar a nos colocar em uma posição de referência que nos faça contribuir mais no enfrentamento ao negacionismo e à hesitação vacinal. Nosso objetivo é voltar a ser exemplo para o mundo. Retomar essa posição de referência internacional e mobilizá-la na nossa cooperação com outros países, incluindo a vacinação, é nossa prioridade.
Agência Brasil: Qual é a expectativa em relação aos cronogramas de investimento no Complexo Industrial da Saúde? Quando o país poderá começar a se beneficiar desses investimentos e por que isso é essencial?
Nísia Trindade: A recriação do Grupo Executivo do Complexo Econômico e Industrial de Saúde foi uma das primeiras ações dessa gestão, dada a importância desse tema para o nosso governo. Nosso plano de trabalho é fazer com quem, em dez anos, mais de 70% dos bens de saúde sejam produzidos no país, entre vacinas, medicamentos e insumos. Vimos como isso é essencial durante a pandemia da covid-19, quando tivemos de importar ingrediente farmacêutico ativo para as vacinas e tantos outros insumos essenciais, como máscaras e luvas, por exemplo. A maior autonomia do Brasil no setor com o desenvolvimento da indústria local reduz a vulnerabilidade do SUS e assegura o acesso universal à saúde, além da geração de emprego e renda. Essa área terá um investimento robusto previsto no PAC, de mais de R$ 8,9 bilhões. Serão R$ 6 bilhões para o fortalecimento da cadeia de produção de vacinas, medicamentos e equipamentos. E mais R$ 2 bilhões para construção e pré-operação das fábricas do campus Santa Cruz da Fiocruz, que será o maior centro de produção de produtos biológicos da América Latina. Com a evolução da indústria farmacêutica e das tecnologias empregadas na produção de medicamentos, o segmento de biológicos tende a crescer no mundo. Também serão investidos R$ 895 milhões no parque fabril da Hemobrás e na qualificação da hemorrede no país, o que vai impactar diretamente os pacientes com hemofilia, facilitando o acesso ao tratamento com hemoderivados.
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ISTOÉ
92% das pessoas voltam a engordar após bariátrica, aponta estudo da USP
Um novo estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) identificou que aproximadamente 92% dos pacientes bariátricos começam a reganhar peso, ou seja, readquirem pelo menos 20% do peso perdido com o procedimento, após dois anos da cirurgia.
A pesquisa identificou que esse reganho coincide com o momento em que os pacientes deixam de frequentar as consultas com o psicólogo.
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– A maioria faz o acompanhamento por até dois anos. E é nessa hora que costumam ter algum reganho de peso. Até dois anos de bariátrica é a lua de mel, quando o paciente vai perdendo quilos, sendo reconhecido pela sociedade e pela família. Depois, percebe que muitas daquelas frustrações não foram resolvidas e começa o ciclo do reganho – afirmou Jogilmira Macêdo, autora do estudo da USP, que foi realizado com pacientes de um hospital em João Pessoa, na Paraíba.
O resultado da análise ainda apontou que cerca de 22% dos voluntários tinham algum grau de compulsão alimentar, grave ou leve – figurando como o transtorno mais associado ao reganho de peso.
Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), aproximadamente 60% das pessoas com obesidade sofrem de algum distúrbio psiquiátrico. Além da compulsão alimentar, a depressão também é muito comum entre elas.
No ano passado, foram realizadas 74.738 cirurgias do tipo no país pelo SUS e planos de saúde, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Considerando o percentual apontado pelo estudo da USP, o número de pacientes que não conseguem manter o peso conquistado pode chegar a mais de 69 mil.
De acordo com os últimos dados divulgados pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), o percentual de obesidade entre brasileiros acima de 18 anos chegou a 22%, em 2022.
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Assessoria de Comunicação