DIÁRIO DA MANHÃ
O preço da eficiência
Diretor-geral do Hugo discute superlotação da unidade e falta de estrutura no interior do Estado
PIETRO BOTTURA
Não é segredo que Goiás carece de mais postos de atendimento de saúde e de médicos, mas quando se olha para as estatísticas, o caso parece mais chamativo: apesar de haver 9.615 médicos em exercício profissional no Estado, totalizando a taxa de 1,5 médicos por habitante, ainda existem 54 cidades sem médicos residentes. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado, aproximadamente 42% dos atendimentos realizados na Capital são provenientes de outras cidades ou Estados, o que evidencia sobrecarga por falta de planejamento.
Em entrevista ao DM, o diretor geral do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), Ciro Ricardo Pires, 68 anos, trouxe a público que “faltam macas, equipamentos… Muitas vezes precisamos colocar os pacientes nos corredores. Há extrema dificuldade em manter o fluxo no centro cirúrgico, para onde muitas vezes são encaminhados pacientes recém-operados, já que há superlotação das UTIs. É criado um colapso quando não se consegue ‘girar’ o paciente”, explica, mostrando que o excesso de pessoas à espera de atendimento advém de um conjunto de problemas, e não apenas de uma fonte específica. Apesar disso, dados mostram que grande parte do problema poderia ser evitado se houvessem centros de atendimento médico em cidades pequenas, evitando a centralização que acontece em Goiânia – e aí entram as mais de 50 cidades que não têm médicos em Goiás. “O excesso de demanda gera um déficit operacional, mas do ponto de vista ético, realmente é muito difícil definir com certeza qual paciente deve ou não ser atendido e avaliado; não podemos nos negar a prestar ajudar a alguém que precisa dela”, justifica Pires, notando que a maioria dos atendidos ali está em situação de risco.
ESTATÍSTICAS
Em números, 2012 registrou 27.012 atendimentos de pacientes de outras cidades e 32.558 de habitantes locais, número esse que pode não condizer necessariamente com a realidade pelo fato do Hugo não pedir comprovante de endereço para prestar atendimento, o que faz com que muitos dos pacientes do interior se identifiquem como moradores da Capital. Apesar disso, é possível ver que a diferença entre os dois número é pequena, o que comprova que a unidade utiliza em torno de metade de seu potencial para atendimento de casos que deveriam ter tido diagnóstico ou tratamento em outro local, algo negativo tanto para os pacientes quanto para o Hugo. “Os corredores enchem durante a noite e não é possível discernir se os pacientes são de Goiânia ou não; há uma resistência nos Cais, e por isso as pessoas acabam nos procurando”, explica o diretor-geral do hospital.
“O compromisso ético que temos, a razão de ser do hospital e da profissão é o paciente. Não importa qual é a origem dele ou o que seja, se é um malfeitor, um cidadão correto, seja qual for sua raça, credo, idade ou etnia, do ponto de vista ético e legal, temos a obrigação de atender todos com igualdade”, afirma. “Há um nível de reclamação e desconforto pela superlotação e espera por um procedimento, mas ainda é muito melhor fazer uma pessoa esperar deitada numa maca do que deixá-la sem atendimento, nas ruas”, acredita. “O nosso foco é em Traumatologia, uma especialização da Ortopedia, sendo que 90% dos nossos atendimentos são nessa área, a maioria acidentes de moto ou casos de violência”, ilustra.
eficiência
O Hugo é um ponto de referência para pacientes de emergência, não apenas em Goiás, mas no Centro-Oeste. “Recebemos invariavelmente pacientes vindos de todas as regiões, justamente por sermos um dos poucos hospitais com estrutura para atender pacientes via SUS, e isso é o que acontece. Criou-se essa cultura de que se há um problema de trauma, o Hugo é a melhor opção. Mas dentro de um sistema que não está estruturado, o Hugo paga o preço por sua eficiência, assumindo casos fora de sua área – como atendimento terciário e quaternário de traumas e emergências, além de emergências clínicas, coisas que poderiam ser realizadas num pronto-socorro (PS) comum”, enfatiza Pires.
“Mas dada a baixa resolutividade dos outros municípios com o SUS, pacientes com pequenas fraturas e cortes nos procuram, até num certo oportunismo, por saber que aqui não os rejeitaremos”, crê o diretor, que explica que essa procura “desnecessária” gera um fluxo maior do que o atendimento consegue lidar, em especial nos finais de semana, mas que se sente satisfeito em ao menos ter condição de dar atendimento à essas pessoas.
Houve uma grande reforma, tanto física quanto ideológica, na administração do Hugo, que busca se desvencilhar da imagem de “açougão” que tinha, como define um assessor do hospital. Investimento em programas como a “Dona Gentileza”, que objetiva integrar às funções dos enfermeiros a simpatia e o acompanhamento psicológico dos que sofreram traumas, mostram o intuito de dar atendimento de qualidade para os que procuram a unidade, que está sendo revitalizada aos poucos, tentando conciliar atendimento humanitário de qualidade e problemas operacionais, como a superlotação, a falta de investimentos e o abandono do Estado.
SOLUÇÃO
Para Pires, se houvesse administração política correta, tais problemas poderiam ser erradicados da realidade goiana: “Espera-se que os gestores criem a cultura de esgotar seus investimentos para suprir as necessidades de seus eleitores, e não com outras coisas. Até em cidades pequenas, as pessoas que têm planos de assistência médica particular têm à disposição todo tipo de especialistas, mas no SUS continuam sem atendimento. É preciso descentralizar o atendimento e fazê-lo acessível, e não é apenas com médicos que se faz isso, já que se não houver estrutura, há pouco que um profissional possa fazer. É preciso que haja uma mudança nesse perfil de funcionamento, criando possibilidades para que o profissional possa agir.” Ainda exemplifica: “Por exemplo em São Miguel do Araguaia, uma cidade relativamente grande, que tem várias cidades menores a menos de 20 km de si: por que não se faz lá um centro de tratamento que sirva aos municípios próximos?”, questiona. (09/09/13)
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Artigo – Dignidade médica
MARCIAL CARLOS RIBEIRO
Preciso escrever. Sou um médico de 72 anos, formado em 1965. Exerci a minha profissão com honra e dignidade. Posso dizer que venci a travessia, embora em todo o tempo a navegação de ondas agitadas tenha sido difícil, espinhosa, com a sensação, por vezes, de que os vencedores seriam os outros. Hoje, estou envergonhado pelos caminhos que estamos sendo obrigados a trilhar, sujeitos ao descrédito de nossa população.
O que estão fazendo com nossa profissão não tem adjetivos. Procuram nos culpar por todos os desleixos de governos que deram pouca ou nenhuma atenção à saúde. Agora estamos em perigo, ainda mais se não conseguirmos dosar as nossas atitudes. Precisamos nos concentrar em nossos direitos para buscar de forma racional as soluções para reconquistar nossa dignidade e, principalmente, o respeito da população. Não será exercendo o direito de greve ou realizando protestos isolados que vamos readquirir a credibilidade pública. Sob os aspectos de legalidade, deixemos a palavra para os órgãos competentes, entre eles o Tribunal de Contas e o Ministério Público do Trabalho.
Não podemos aceitar que essas imposições sejam definitivas. Não será agora, com decretos presidenciais e com referendos dos parlamentares, que nos intimidarão a desistir de querer a nossa profissão como a enunciada por Hipócrates: em defesa do ser humano e nos constituindo como uma das mais nobres profissões.
Além disso, não será com agressões de qualquer natureza aos médicos de outros países que seremos respeitados e valorizados. Que culpa eles têm? Nenhuma! Se estão preparados ou não, e se estão sendo admitidos sem respeitar provas como o Revalida, não lhes cabe culpa. É imposição governamental. Nossas entidades representativas tentaram evitar essas discrepâncias, se faltou empenho, vamos exigi-los para atitudes que nos unam.
Dizer que não haveria falta de profissionais e que a saúde chegaria aos mais distintos rincões se lá houvesse estrutura para atendimento decente, com segurança, é uma afirmação de conhecimento nacional. Os médicos brasileiros não podem ficar imóveis e precisam propor soluções amplas e profundas, que vão muito além da falta de estrutura para o atendimento. Precisamos pensar urgentemente na criação efetiva da carreira de estado para a Medicina.
Ela pode seguir os mesmos moldes adotados para juízes e promotores. Médicos em início de carreira seriam encaminhados para regiões mais distantes e na medida em que forem evoluindo profissionalmente, se aproximariam dos centros maiores. Tenho certeza que os jovens médicos ficariam encantados com a possibilidade de promoção pelo mérito e pela experiência adquirida. Isso faria, também, com que eles buscassem constantemente o aprimoramento técnico.
Ou seja, não existiria outra possibilidade para o crescimento profissional que não seja a conquista do direito de exercemos a nossa vocação. Cabe a nós médicos o dever de escutar fielmente os pacientes, dando a eles o tempo necessário para nos induzir ao diagnóstico e prescrever os exames inerentes para cumprir o tal objetivo. Nós temos que respeitar as conquistas tecnológicas, utilizando elas para o bem do paciente. Nós prescrevemos medicamentos baseados em evidências científicas. Nós acompanhamos, também, os pacientes nas horas de tristeza, dificuldades e sofrimentos. Infelizmente, em alguns casos temos que conceder à família o atestado de óbito.
Sobre esses aspectos reais e fundamentais da medicina não vi muitos comentários nos últimos dias. Os médicos não podem ser substituídos, pois a medicina é uma vocação que não se impõe e que não se modifica por leis e medidas provisórias. Cumprindo o nosso papel social, somos insubstituíveis. Todo esse barulho precisa servir como um estímulo para que os médicos brasileiros exerçam a profissão com qualidade e determinação.
(Marcial Carlos Ribeiro é instituidor da Fundação de Estudos das Doenças do Fígado, comendador da Ordem do Mérito Médico Nacional pela Presidência da República e diretor Superintendente dos Hospitais São Vicente – FUNEF – Curitiba) 09/09/13
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Artigo – Considerações sobre o Mais Médicos
Estamos assistindo, como um verdadeiro espetáculo midiático, a repercussão do Programa Mais Médicos, lançado pelo governo federal.
Os nossos indicadores de saúde colocam-nos, em comparação com os demais países, em posições não compatíveis com o atual estágio de crescimento econômico brasileiro. A incompatibilidade desses indicadores, saúde versos economia, é mais uma demonstração de que o crescimento, como conceito quantitativo, não significa, necessariamente, desenvolvimento, como qualidade de vida que todos almejamos para a nossa população.
Indiscutivelmente, não se fala em desigualdade no Brasil sem que seja referenciada a problemática da saúde. A ausência de médicos nas regiões periféricas dos grandes centros urbanos e nos rincões do nosso País é, pois, uma problemática a ser atacada com todo o vigor que se possa imprimir em termos de políticas públicas.
Exatamente por tratar-se de um problema tão grave, que penaliza tanto a nossa população, é que a saúde não pode ser tratada com medidas paliativas, imediatistas, sem levar em consideração um projeto de País e de políticas públicas de saúde que, por serem justas e solidárias, devem trazer a marca da equidade, da justiça e da ética. Afinal, quando se fala em saúde, está-se tratando do bem estar do ser humano e, por extensão, de toda a sociedade.
Como parlamentar sinto uma obrigação inarredável de analisar o Programa Mais Médicos em todas as suas facetas. Se analisarmos os dados da demografia médica brasileira, que nos chegam tanto através do IBGE, quanto por meio do relatório Demografia Médica Brasileira, publicado pelo Conselho Federal de Medicina, em fevereiro de 2013, existem, de fato, 400 mil médicos no Brasil, mas, também, uma enorme desigualdade na distribuição dos profissionais.
Nos últimos 42 anos, de 1970 a 2012, o Brasil passou de 59 mil médicos para cerca de 400 mil. Um aumento de 558%, contra um crescimento populacional de 102%. Em média, o País tem 2 profissionais por 100 mil habitantes, o que é um índice aceitável pela Organização Mundial de Saúde. Entretanto, as Regiões Norte, com 1 profissional, e Nordeste, com 1,2 médicos por mil habitantes, estão abaixo da média nacional. A Região Sudeste tem uma relação médico por habitante duas vezes maior que a do Nordeste.
Existe, sim, um problema de distribuição de médicos no Brasil: há um desequilíbrio na repartição geográfica e uma concentração de profissionais que favorece o setor privado de saúde. Isso quer dizer que convivemos tanto com carências, quanto com altas densidades de médicos.
A análise que fazemos do Programa Mais Médicos é, em primeiro lugar, se ele se constitui numa política pública de saúde de efeitos duradouros ou se é simplesmente uma medida para atender a um momento pré-eleitoral do país. Será que é possível fazer uma política pública baseada somente no número de médicos em determinadas regiões? Acredito que a “falta de médicos” não pode ser o único foco.
Por outro lado, que adianta autorizar novos cursos e novas vagas em cursos de Medicina, sem a mínima qualidade na graduação, sem dizer da ausência de vagas na residência médica?
Entendo, também, que a importação de médicos, seja de qual país for, deveria passar por uma discussão no Conselho Nacional de Saúde, com as entidades representativas dos profissionais de saúde do País e com o Congresso Nacional. Mais uma vez nos vemos na contingência de “aprovarmos” a toque de caixa uma política de tão grande alcance para a sociedade brasileira.
No caso dos médicos cubanos, especificamente, enquanto eles não tiverem no Brasil as condições de trabalho iguais a todos os outros médicos, estaremos compactuando com uma verdadeira forma de servidão, que mais do que desdouro para o servidor médico, é uma vergonha para o Brasil como empregador. Afinal somos ou não somos uma democracia, em todas as nossas relações? Ainda mais, como aceitar que eles, os cubanos, não possam trazer suas famílias e recebam menos do que os outros?
E o sistema de pagamento em forma de bolsa e não de salário? É uma forma de fugirmos aos encargos trabalhistas, prejudicando a todos os médicos que vão enfrentar situações difíceis pelo interior do Brasil?
Por fim, se essa política, aplicada numa verdadeira correria, focar apenas no número de médicos, estamos nos esquecendo da ausência de condições dos hospitais e postos de saúde pelo País: falta de aparelhos para exames básicos, macas, condições higiênicas e, até, papel para prontuários.
Chamo a atenção, portanto, para uma discussão séria sobre o Mais Médicos. Não se trata de rejeitar, simplesmente, mas de considerá-lo à luz das reais condições do País e não esperarmos que a simples multiplicação numérica de médicos vá resolver os problemas da saúde brasileira.
Pela proposta orçamentária, encaminhada ao Congresso na semana passada, pouco se previu de aumento de recursos para a saúde. Mais precisamente 5,98% de aumento. E de onde virá o dinheiro para cobrir o Mais Médicos, que deverá custar R$ 2,8 bilhões? Das emendas parlamentares ou de cortes de outros programas?
Para maior transparência, o governo federal deve responder a todas essas perguntas.
Por Lúcia Vânia, senadora (PSDB) e jornalista (08/09/13)
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Menos cigarro, mais vida
Grupo de fumantes diminuiu 20% no País, em seis anos. 16,2% dos goianienses ainda dependiam do tabaco em 2004
NAYARA REIS
Cerca de 20% da população brasileira que fumava deixou o vício entre 2006 e 2012. Os dados são da pesquisa feita pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, foram pesquisadas apenas pessoas à cima dos 18 anos. A meta do governo é que, até 2022, o País reduza o número de fumantes para apenas 9%. Em Goiânia, no ano de 1999 a prevalência de fumantes era de 22,8%, no último levantamento feito em 2004 esse número reduziu para 16,2% da população.
Sozinho o uso de tabaco, representa uma em cada seis mortes decorrentes das doenças não transmissíveis no mundo. De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás (SES-GO), a cada dia, mais de um bilhão de pessoas fumam ou mascam tabaco devido à sua dependência à nicotina, sendo que destes cerca de 15 mil morrem por doenças associadas ao tabaco. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 700 milhões, ou quase metade das crianças do mundo são fumantes passivas em suas próprias casas. Em média, 100 mil adolescentes por dia se tornam fumantes, 15 mil destes residem em países com renda alta, 84 mil em países de renda baixa.
A mesma pesquisa (Vigitel), feita em Goiânia, no ano de 2010, constatou que o percentual de homens fumantes chegava a 19,7%, enquanto o das mulheres era de 10,1%. A frequência de fumantes entre os homens é maior e relativamente estável dos 18 aos 64 anos de idade, declinando intensamente para aqueles com 65 ou mais anos de idade. Quanto às mulheres, a prevalência de fumantes mostra tendência a aumentar com a idade até os 54 anos e a declinar nas faixas etárias subsequentes. A frequência do hábito de fumar foi particularmente alta entre ambos os sexos com até oito anos de escolaridade sendo quase duas vezes maior do que a frequência em indivíduos com 12 anos ou mais de estudo.
Estímulos
A fisioterapeuta Fernanda Barbosa, 31 anos, não entra na pesquisa como ex-fumante por ter parado de fumar a cerca de sete meses, mas para ela ter conseguido largar o vício foi uma vitória. Ela fumava uma média de 15 cigarros por dia. “Parei de fumar pela gravidez, já tinha tentado duas vezes, mas sem êxito.
De início meu filho foi o único motivo para conseguir largar de vez o cigarro. Hoje, não penso em voltar a fumar depois que meu bebê nascer, mas assim que parei pensava em voltar sim. Decidi não fumar mais porque melhorou muito a minha saúde depois que parei, eu tinha bronquite e nessa época do ano ela sempre atacava, como agora não estou fumando não atacou, tenho gastrite, mas depois que parei com o cigarro também não tive mais dores. O problema é que apesar de saber que o cigarro faz mal, a sensação de fumar é boa! E a gente acaba associando o cigarro a tudo. Se está feliz fuma para comemorar, se está nervosa fuma para desestressar. A dependência a nicotina é algo difícil de se livrar. O único momento do dia em que eu não fumava era quando eu estava trabalhando, decidi parar assim que descobri a gravidez. Foi muito difícil, principalmente quando ficava nervosa e depois de comer. Eu tentava pensar no bebê, acho que se não estivesse grávida não teria conseguido porque de fato a crise de abstinência é terrível, tive dor de cabeça, tremedeira, fiquei extremamente nervosa”, ressalta Fernanda.
A OMS considera o tabagismo a principal causa de morte evitável em todo o mundo, representando um dos mais graves problemas de saúde pública. Os diversos inquéritos realizados em Goiás, sobre a prevalência de fatores de risco para doenças não transmissíveis apontam uma redução na prevalência do tabagismo.
Outro dado relevante da pesquisa é o número de adultos ex-fumantes que é de 19,8%. Dentre os homens o valor encontrado foi de 24%, e dentre as mulheres de 16%. O percentual de adultos que fumam 20 ou mais cigarros por dia chegou a 5%. Os adultos fumantes passivos em domicílio, 13,4%; em homens de 10% e mulheres, 16%. Já os fumantes passivos no local de trabalho aumentaram para 12,4%, sendo homens 18%, e mulheres, 7%.
A pesquisa Vigitel aponta ainda a redução na frequência de fumantes passivos em casa, que passou de 12% para 10% em 2012. Igualmente houve diminuição de fumantes passivos no local de trabalho. O índice passou de 12% para 10%. Outro dado em queda é o de homens que fumam 20 ou mais cigarros por dia – diminuiu de 6% para 5% nos seis anos que a pesquisa abrange.
Pare de fumar
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a OMS considera o tabagismo como uma doença: trata-se de uma dependência à droga nicotina, presente em qualquer derivado do tabaco, seja cigarro, cigarrilha, charuto, cachimbo, cigarro de palha, fumo de rolo ou narguilé.
Depois de ser absorvida, a nicotina atinge o cérebro entre 7 e 19 segundos, liberando substâncias químicas para a corrente sanguínea que levam a uma sensação de prazer e bem-estar. Essa sensação faz com que os fumantes utilizem o cigarro várias vezes ao dia. Por sentir prazer, o fumante busca o cigarro em situações de estresse, para “relaxar”.
Essas razões tornam a dependência da nicotina muito complexa e seu tratamento requer um autoconhecimento das razões que fazem o indivíduo fumar, orientações de como parar de fumar, resistir à vontade e, principalmente, como viver sem cigarro. Como a fisioterapeuta Fernanda, citou em entrevista, é possível que o ex-fumante, sinta alguns sintomas desagradáveis, como irritabilidade, agressividade, tonteira, dor de cabeça e o forte desejo de fumar. Esses sintomas fazem parte da síndrome de abstinência da nicotina e podem ser amenizados com o uso de medicamento.
O principal a se fazer quando tomada da decisão de para de fumar, é procurar tratamento para a dependência da nicotina. O Sistema Único de Saúde no Brasil oferece tratamento para tabagismo e, conta com fissionais de saúde capacitados, materiais de apoio e medicamentos gratuitos.
Apesar de ter fumado por apenas dois anos o cabeleireiro Max Oliver, 24 anos, sentiu muito a falta do cigarro, e relutou até conseguir se livrar totalmente do vício da nicotina. “Eu fumava mais ou menos meia carteira de cigarros por dia, uns dez cigarros. Parei há cinco anos, normalmente a vontade era maior quando estava em festas bebendo, e como isso era rotineiro na minha vida, acabei pegando o vicio de fumar. Percebi que estava me fazendo mal quando comecei a me cansar muito, sempre que nadava ou jogava futebol ficava com falta de ar e a disposição não era a mesma de antes, quando eu ainda não fumava. Precisei parar de beber por um tempo para conseguir parar com o cigarro, porque sempre que ingeria o álcool me dava vontade de fumar. Acho que quando você toma uma decisão e tem uma opinião formada sobre aquilo, fica mais fácil. Minha família não sabia que eu fumava, acho que os fumantes de certa forma são malvistos pelas pessoas que não fumam”, conta.
Para quem conhece a nicotina ainda quando criança, a vontade de parar de fumar é ainda maior, saber como é o cotidiano sem o cigarro, sentido o cheiro e gosto de tudo sem nada que possa interferir, infelizmente, nem sempre só a vontade resolve quando se trata de acabar com um vício.
Gilce Carneiro de Bastos, 51 anos, fumava desde os 13 anos de idade, segundo ela tudo começou como uma brincadeira de pré-adolescente, fumando escondido na escola. “Comecei a fumar muito novinha, mas nesse tempo não era nada sério, fumar mesmo iniciei no ano de 1993, fui conseguir parar recentemente, em 2011 no dia 1º de dezembro, no aniversário do meu pai. Eu já havia tentado parar de fumar outras vezes, mas não conseguia. Minha mãe também fumava e quando a via fumando não conseguia resistir. Ela e meu pai faleceram e eu tive três netas, e elas com certeza foram o motivo mais forte para que eu conseguisse parar, como não tinha mais minha mãe e meu genro não gostava que as meninas me vissem fumando, eu consegui vencer esse vício. Outra coisa importante também era a quantidade de dinheiro que eu gastava com cigarro, era R$ 6 por carteira, e eu fumava quase uma inteira por dia. Parei de um dia para o outro, não foi aos poucos, e nem senti falta, acho que até gosto do cheiro hoje. Depois que parei de fumar, engordei 10 kg, por conta da ansiedade, mas como sou alta, então não fiquei muito gorda, não me considero atraente, fisicamente, mas não estou mal comigo mesma. Senti em pouco tempo os benefícios, de não estar mais fumando cigarro, minha respiração melhorou, meu paladar, meu olfato, hoje vejo o quanto isso só me fazia mal, não tem absolutamente nenhum benefício”, relata.
Poluição Tabagística Ambiental (PTA)
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo passivo pode ser definido como a inalação da fumaça de derivados do tabaco (cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo e outros produtores de fumaça) por indivíduos não-fumantes, que convivem com fumantes em ambientes fechados. A fumaça dos derivados do tabaco em ambientes fechados é denominada como Poluição Tabagística Ambiental (PTA). Segundo dados do Inca o tabagismo passivo é a 3ª maior causa de morte evitável no mundo, perdendo apenas para o tabagismo ativo e ao consumo excessivo de álcool.
O ar que o fumante passivo inala, possui cerca de três vezes mais nicotina, a mesma quantia de monóxido de carbono, e pode chegar a ter cinquenta vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que entra pela boca do fumante depois de passar pelo filtro do cigarro. (07/09/13)
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O HOJE
Programa Mais Médicos pode desafogar urgência
Secretário Fernando Machado assegura que pode repor falta de profissionais, em caso de desistência. Expectativa é ampliar a atenção básica
Myla Alves
Encontro oficial na manhã de ontem reuniu os profissionais selecionados no programa Mais Médicos e o secretário Municipal de Saúde, Fernando Machado, que negou que o programa possa causar carência no serviço de emergência pelo deslocamento dos médicos. Ao todo, 24 médicos devem fazer atendimento nas unidades do Programa Saúde da Família (PSF) da capital. A expectativa da Secretaria de Saúde é de que, com o aumento de profissionais atuando nessa área inicial, a demanda diminua nos serviços de urgência e emergência dos Cais. O encontro foi sugerido pelo prefeito de Goiânia, Paulo Garcia.
“A maior parte das pessoas que são atendidas nos serviços de urgência é de pequena urgência, que agora passam a ser atendidas nas unidades de atenção básica”, diz Machado. Para ele, a necessidade de profissionais na emergência vai diminuir. Ele explica que não vai deslocar ninguém neste momento da urgência para outra atividade da Prefeitura, mas, “à medida que a urgência começar a ficar ociosa ou tiver seu problema saneado, podemos recompor nossa rede”.
Na capital, são 63 Centros de Saúde da Família. Desses, 19 foram beneficiados com a chegada dos profissionais. “Se algum deles desistir, vamos buscar a reposição. Mas, a partir de hoje, todas as equipes estão completas para atender a população.”, diz o secretário.
No total, 40 profissionais se inscreveram para as vagas de Goiânia. Além dos profissionais do programa Mais Médicos, a capital também recebeu quatro médicos do Programa de Valorização dos Profissionais na Atenção Básica (Provab), do Ministério da Saúde. “O Ministério da Saúde só aceitou a inscrição desde que o médico não estivesse atuando em nenhuma área do município”, atesta o secretário.
A clínica geral Renata Oliveira veio de Recife (PE) e começou a trabalhar em Goiânia na unidade do Setor Vera Cruz 1. Ela afirma que concorda com as diretrizes do programa e que aliou isso à vontade de trabalhar em uma unidade de saúde. “Queria trabalhar em uma capital mais tranquila. O modo de trabalho é bem diferente, como a questão do horário, já que aqui trabalhamos em sábados alternados. Fui muito bem recebida pelos funcionários do posto e pela comunidade”, ressalta.
Em meio a um maior número de médicos formados de 2010 a 2013, destaca-se o ginecologista e obstetra Mário Jorge Bechepeche, 74 anos, formado na Universidade Federal de Goiás em 1971 e aposentado há oito anos. Ele conta que se inscreveu no programa para poder voltar a trabalhar. O médico diz que, em razão da idade, já não se arriscava nas funções que exercia antes, que exigiam um esforço maior. “Na ginecologia e obstetrícia, os procedimentos demandavam outra energia. Mas, para fazer a clínica geral, ainda tenho disponibilidade para trabalhar.” Ele mora em Goiânia e, antes de se aposentar, trabalhava na rede municipal.
Alocado na unidade do Bairro Luana Park, Bechepeche se diz satisfeito. “Prestar um trabalho, colaborar e exercer a medicina me satisfazem bastante. A equipe é maravilhosa, a demanda é grande, mas até o momento pude resolver na consulta todos os casos, sem encaminhamento.” Sobre as críticas da classe médica à estrutura do sistema público de saúde, ele rebate. “Mesmo com o mínimo, o médico pode utilizar sua capacidade pessoal e essa estrutura para prestar o serviço.” A equipe conta com Wilson Geraldo Sugai, formado na Universidade de Brasília (UNB) em 1974.
Bônus também para enfermeiros e dentistas
Na reunião de ontem com os profissionais de saúde, o prefeito Paulo Garcia apresentou a Lei de Incentivo Especial de Desempenho (IED), que começou a vigorar no início da semana. A medida vale não só para médicos, mas também para enfermeiros e cirurgiões-dentistas. A ação prevê o pagamento de um bônus de até R$ 1.980 para quem atingir as metas estabelecidas pela Prefeitura. O investimento total deve ser de R$ 800 mil para o IED e de R$ 200 mil na compra de consultas privadas, previstas para desafogar o atendimento
Com isso, a Prefeitura espera atingir 85% de resolutividade nos atendimentos de saúde. A adesão dos profissionais não é obrigatória. Atualmente, a resolutividade em Goiânia é de 50%. O IED faz parte do programa Mais Trabalho, Mais Saúde, lançado pelo prefeito no dia 10 de agosto. A meta é realizar 90 mil consultas por mês, 40 mil a mais do que o feito atualmente.
Para Garcia, o benefício é válido porque as metas propõem aos profissionais cumprirem tarefas além das que já são obrigatórias. “É um acréscimo de atividades, com metas suplementares às atividades contratadas. Esperamos resolver as demandas do município de Goiânia, atenuar os problemas e levar dignidade aos pacientes”. (MA) 07/09/13
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SAÚDE BUSINESS WEB
Mais de 40% dos resíduos de saúde tem destinação inadequada
Segundo Abrelpe, País produziu mais de 244 mil toneladas deste tipo de lixo em 2012; entidade aponta deficiências na fiscalização
A ausência de uma gestão apropriada e eficiente dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) vem aumentando o risco à saúde pública e ao equilíbrio do meio ambiente. É o que alerta a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que constatou que mais de 40% do RSS coletado teve destinação inadequada em 2012.
Os dados fazem parte da última edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, estudo publicado anualmente pela entidade. Carlos Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe, diz que a discrepância demonstra que uma grande parcela de RSS ainda é gerenciada de forma irregular, o que exige atuação imediata dos órgãos competentes.
Silva observa que a situação ocorre em todo o País, mas é mais grave nos grandes centros urbanos pelo volume de RSS gerados. O estudo aponta que foram coletadas em 2012 mais de 244 mil toneladas de RSS no Brasil. Desse total, 37,4% seguem para incineração; 21,7% são enviados a aterros sanitários; 13,3% vão parar em lixões; 16,6% são tratados em autoclaves e 5,2%, em micro-ondas; e 5,8% acabam dispostos em valas sépticas.
O diretor executivo da Abrelpe diz que a falta de comprometimento das unidades de saúde, que não fazem planos e não contratam empresas adequadas, somada à omissão dos órgãos de vigilância sanitária, contribui para a piora da situação. (07/09/13)
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação