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O POPULAR
Saúde
Avanço da obesidade preocupa
Melhoria da renda gerou aumento de casos. Rede pública de saúde amplia leitos para cirurgias
Malu Longo
Leandro Martins de Oliveira, de 29 anos, passou a conviver com o excesso de peso desde os 15 anos. No auge da adolescência deixou de fazer coisas como jogar bola e namorar. Na vida adulta, a obesidade o impediu de trabalhar. Com 1,82 metro e pesando 199 quilos, ele sonha em ter uma vida normal e mais saudável. Dentro do grupo de 5% de obesos mórbidos em Goiás, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Leandro está na mira das autoridades de saúde preocupadas com a epidemia do excesso de peso que toma conta da população brasileira.
Quando se fala de obesidade, o cenário no Brasil é paradoxal. O incremento de programas sociais possibilitou maior renda às classes menos favorecidas. Com dinheiro no bolso, a mesa está farta, acrescida de alimentos calóricos, como pizza, bolachas recheadas e refrigerantes. Sem crise de desemprego, tem muita gente em atividades laborais sedentárias e se alimentando fora do lar. “A melhoria da renda foi um agente facilitador para o crescimento dos índices de obesidade”, diz o médico Victor Gervásio e Silva, presidente da regional goiana da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). De seu consultório em Goiânia ele acompanha a transformação. “Pelo menos 18% da população da capital está obesa”.
Se por um lado o governo ajuda o brasileiro a ter uma melhor renda, por outro tem de enfrentar um grande desafio de saúde pública. O Sistema Único de Saúde (SUS) gasta R$ 3,57 bilhões por ano para tratar a obesidade e 26 males decorrentes dela, como câncer, doenças cardiovasculares e diabetes. São várias as causas desse mal, entretanto, a principal é o desequilíbrio entre consumo e gasto de calorias. A genética, caso de Leandro, que nasceu em família de gordinhos, contribui com menos de 10% dos casos. O rapaz chegou a perder um primo ainda jovem, que pesava mais de 300 quilos, para a obesidade.
opção
Na semana passada, o Hospital Alberto Rassi (HGG) apresentou o seu novo Programa de Controle e Cirurgia da Obesidade (PCCO). Oferecido desde 2000 e com quase 2 mil pessoas inscritas, o PCCO sofreu um duro golpe em decorrência da falta de investimento. Agora, com o HGG sendo administrado pela organização social Instituto de Desenvolvimento Tecnológico e Humano (IDTECH), a expectativa é de que sejam feitas 12 cirurgias bariátricas (redução do estômago) mensais, bem diferente das 2 que eram feitas. Mais de mil dos inscritos ainda não foram localizados.
Leandro está na expectativa. Cadastrado no PCCO desde 2002, ele deve ser submetido à cirurgia bariátrica até junho e aceitou o desafio de presidir a associação de pacientes que integra o programa. “Sinto que estão dando mais atenção, com consultas e exames mais rápidos”, afirma. A associação teve como primeira presidente a professora e microempresária Geracina Ferreira Sacramento Silva, de 42 anos, que operou em 2004 e continua no PCCO.
“Nasci obesa e toda a minha a minha família é assim, mas fui a única a ter coragem de enfrentar a cirurgia”, conta Geracina, que chegou a pesar 130 quilos medindo 1,62 metro. Depois de chegar aos 62 quilos, ela teve um problema de saúde que a levou para a cama por dois anos. “Voltei a pesar 96 quilos, já perdi 10 e quero chegar aos 70”.
Assistente social do PCCO desde o seu início, Sônia Cristina Kuramoto explica que a cirurgia bariátrica é apenas uma etapa do programa. “O acompanhamento é fundamental”, defende. No PCCO, médicos, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas atuam no preparo do paciente para a cirurgia e o acompanham após o procedimento. Estima-se que 12% dos pacientes voltam a ganhar peso após a cirurgia e 10% transferem a compulsão pela comida para drogas ilícitas.
“Quando bem indicada, a cirurgia bariátrica é um instrumento muito bom, mas não é só pegar o paciente e soltar por aí”, afirma o presidente regional da SBEM, Victor Gervásio e Silva. Segundo o médico, o paciente que salta de 150 quilos para 80 quilos em poucos meses se transforma em outra pessoa, e ele precisa ser preparado para esta nova vida.
SOU OBESO?
O cálculo de índice de massa corporal (IMC) é o método mais utilizado para definir se o paciente é obeso ou não. A equação foi criada pelo astrônomo belga Lambert Adolphe Jacques Quételet (1796-1874) e corresponde ao peso (em kg) dividido pelo quadrado da altura (em metros).
Outro método popular é a medida abdominal. O excesso de gordura visceral (intra-abdominal) é considerado fator de risco maior que o excesso de peso total, pois envolve os órgãos do abdômen é está correlacionado com diabetes, pressão alta, colesterol alto, doenças cardiovasculares e síndromes metabólicas.
Medida da cintura
■ Mulheres – ideal: até 80 centímetros.
■ Homens – ideal: até 94 centímetros.
Sobrepeso
■ IMC >25,00
Obeso
■ IMC >30,0
QUADRO DOS OBESOS
■ Brasil
15,8% – Obesos
48,5% – Sobrepeso
■ Goiânia
13% – Obesos
47% – Sobrepeso
Organismos oficiais fazem alerta sobre tema
Os alertas de organismos como o Ministério da Saúde (MS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a epidemia da obesidade e o aumento de risco de mortandade provocado por ela, têm provocado reações mercadológicas. A Coca-Cola Company, a maior empresa de bebidas do mundo com mais de 500 marcas, anunciou compromissos globais para combater o excesso de peso.
A OMS estima que em 2030 as doenças crônicas – causadas pelo estilo de vida inadequado – sejam responsáveis por 70% das mortes no mundo. No Brasil, segundo o MS, cerca de 2 milhões de pessoas têm IMC 40. Esta realidade levou Estela Renner a produzir o documentário Muito Além do Peso, que revela uma geração de crianças condenadas a morrer cedo ou a ter problemas de saúde em função de maus hábitos alimentares.
Parlamentares também estão voltados para o tema. No Congresso Nacional tramita projeto do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) que determina que rótulos das embalagens de alimentos tragam selo de identificação com cores, em função da composição nutricional. Outro, de Jayme Campos (DEM-MT), determina que os rótulos das bebidas especifiquem o teor calórico e apresentem frase de advertência quanto aos riscos da obesidade infantil. Já o de Eduardo Amorim (PSC-SE), veda a promoção e a comercialização de refeição rápida acompanhada de brinde, brinquedo ou bonificação. (13/05/13)
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Hepatite C
Governo criará centros de referência
Rio -Até o fim do primeiro semestre estarão funcionando em todo o País centros de referência para tratar a hepatite C com três medicamentos, conforme determinação do Ministério da Saúde. Segundo a médica Cristiane Vilella, responsável pelo atendimento a pacientes com a doença no Hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, na zona norte, inicialmente esses centros serão responsáveis pelo tratamento de pacientes com fibrose avançada, ou seja, aqueles que têm a doença em estágio mais grave. As informações são da Agência Brasil.
“Antes, tínhamos o tratamento com terapia dupla, que ainda continua. Muitos pacientes não precisam do tratamento novo”. A médica explicou que os pacientes que têm os tipos 2 e 3 do vírus C não pode usar, já que os novos remédios se destinam exclusivamente aos portadores do vírus tipo 1. “Os outros continuam a ser tratados com a terapia dupla”.
Os novos centros funcionarão em hospitais universitários e em unidades do SUS. Segundo a médica, é possível que a curto e médio prazos outros centros sejam incluídos nesta lista, porque há muitos pacientes aguardando tratamento. “Inicialmente, como sabemos que o tratamento está associado a muitos efeitos colaterais e é novo, pacientes como, por exemplo, os (que têm) cirrose hepática que possam descompensar, precisam ser atendidos em hospitais de referência que tenham médicos capacitados”, disse.
Os dez centros no estado do Rio de Janeiro vão funcionar em hospitais universitários. Já os pacientes de São Paulo poderão tratar a doença em 24 centros de referência. Os centros terão uma equipe multidisciplinar com médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas e psicólogos, seguindo orientação do Ministério da Saúde. (13/05/13)
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Artigo – Por soluções eficazes
No processo constante de desvalorização da medicina e do médico brasileiro, o governo federal agora está criando uma nova maneira. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, integrantes do Ministério da Educação e reitores de universidades brasileiras estão discutindo possibilidade de contratar médicos estrangeiros para o trabalho na área de atenção básica à saúde para regiões do País que sofre com a carência de profissionais.
A Associação Médica de Goiás (AMG) vem a público para informar que nós médicos repudiamos esta proposta governamental por acreditar que esta medida não irá garantir um atendimento de qualidade para a população brasileira. O resultado do último Revalida, processo de revalidação dos diplomas dos médicos estrangeiros mostrou que a formação deles é questionável, já que apenas 14% dos inscritos obtiveram aprovação.
Está comprovado que a defasagem no número de profissionais para atender nas periferias das grandes cidades e em cidades do interior se deve à falta de subsídios e convênios que valorizem o trabalho médico. Não está faltando médicos, o que está faltando é salário digno e condições adequadas de trabalho. Como a maioria das prefeituras não tem condições de pagar os médicos, é preciso que o governo crie o piso salarial e plano de carreira para nossa categoria, com repasses para os municípios carentes. Só dessa forma teremos uma distribuição adequada de médicos por todo o território nacional.
A saúde do País passa por muito mais questões que têm de ser vistas ao microscópio para uma avaliação mais isenta. A saúde pública no Brasil é uma questão que necessita de mais atenção dos órgãos competentes. A realidade nos mostra um País onde as políticas públicas são incoerentes e desrespeitam a sociedade. Nós médicos nos sentimos envergonhados quando nos vemos obrigados a parar nossas atividades para reivindicar do governo melhores condições de trabalho e reajuste salarial. Estamos diante de uma situação em que nós profissionais e o povo somos as vítimas de um sistema injusto e feito para o bem estar de poucos.
Deparamo-nos cotidianamente com situações imorais envolvendo personalidades públicas e agora vemos estas mesmas pessoas querendo se aproveitar da crise econômica que assola a Europa para importar mão de obra barata e deteriorar ainda mais as condições de vida dos médicos brasileiros, o que irá, consequentemente, refletir na qualidade do já combalido serviço de saúde pública prestado à população. Convocamos os médicos e a se unirem junto à AMG em mais uma batalha, e convidamos igualmente a sociedade goiana a se manifestar nesta caminhada para garantir uma saúde pública que atenda aos anseios e necessidades de todo o povo brasileiro.
Rui Gilberto Ferreira é presidente da Associação Médica de Goiás (AMG) 11/05/13
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JORNAL OPÇÃO
Principais UTIs de Goiás recebem novos equipamentos
Itens estão prontos para serem entregues. Secretário de Saúde lembrou que a última compra foi feita em 2002
Um investimento de R$ 15,5 milhões será feito pelo Estado para renovar os equipamentos das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos principais hospitais de Goiás. Um total de 486 itens serão entregues pelo governo, dentre eles novos ventiladores, mesas cirúrgicas, monitores e oxímetros – medidores da quantidade de oxigênio no sangue – e carditocógrafo, que monitora os movimentos cardíacos de fetos.
Receberão os novos equipamentos o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), em um valor de R$ 6,5 milhões; o Hospital de Doenças Tropicais (HDT) com o valor de R$ 1 milhão e o Hospital Geral de Goiânia (HGG), para o qual serão destinados R$ 2,7 milhões. O Hospital Materno Infantil vai receber R$ 925 mil e o Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa) R$ 1,4 milhão.
Ambulâncias, Hemocentro, Hospital Estadual Ernestina Lopes Jaime, Hospital de Urgências do Sudoeste (o Hurso, de Santa Helena), a Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, Hospital de Medicina Alternativa, Hospital de São Miguel do Araguaia e Valparaíso também receberão seus equipamentos novos.
Lembrando que a última compra foi feita em 2002, o secretário da Saúde, Antônio Faleiros, destacou que os equipamentos vão substituir os aparelhos em operação. “O Governo de Goiás adquire agora novos equipamentos próprios para leitos de UTI e atendimentos de urgências que vão substituir os antigos, reequipando os hospitais da nossa rede e ambulâncias”.
Para o governador Marconi Perillo (PSDB), que esteve na manhã desta sexta-feira (10/5) no Almoxarifado da Secretaria da Saúde para conferir os equipamentos que já estão prontos para serem entregues às unidades de saúde, “é importante um planejamento estratégico de ações do governo”. O tucano ressaltou ainda o quão importante foi a criação do Fundo Estadual para a Saúde, que proporcionou recursos para a compra de equipamentos sofisticados. (11/05/13)
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Cremego não aprova vinda de médicos formados em Cuba sem devido teste de revalidação
Salomão Rodrigues avalia que estratégia do governo não resolve problemas e sim cria outros
A intenção do governo federal em autorizar a vinda de seis mil médicos formados em Cuba para exercerem a profissão no país sem a revalidação do diploma estrangeiro gerou insatisfação entre médicos, Conselho Federal de Medicina (CFM) e também das instituições regionais ligadas à área. Em entrevista ao Opção Online, nesta sexta-feira (10/5), o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Dr. Salomão Rodrigues Filho, classificou a proposta como “equivocada”. “Trazer seis mil médicos de Cuba não resolve os problemas, mas cria outros”, disse, referindo-se à qualidade do ensino do curso de medicina oferecido naquele país.
Salomão pontuou que em Cuba não há processo seletivo para o ingresso alunos na universidade, conhecido no Brasil como vestibular. Para ingressar no curso de medicina, os estudantes são indicados por partidos políticos ou por movimentos sociais de esquerda. Além disso, em Cuba o curso tem menor duração e é voltado para ações preventivas.
O médico frisou o fato de na Bolívia também não ter vestibular. Para dar entrada no curso, o aluno precisa apenas pagá-lo. “É por isso que quem não consegue passar no vestibular aqui [Brasil], vai estudar na Bolívia”, frisou.
Sobre a justificativa do governo federal de que o objetivo é minimizar o déficit desses profissionais em regiões carentes, Salomão é categórico ao afirmar que o problema não é a falta de médicos e sim a má distribuição destes profissionais pelo país. Segundo ele, para sanar o problema seriam necessárias políticas públicas voltadas à valorização da categoria. “Médicos precisam de estrutura física, de enfermeiros, de laboratórios, de equipamentos, de medicamentos, e sobretudo, de estimulo para trabalhar em cidades do interior porque nesses locais não há estabilidade e progressão de carreira”, destacou.
O presidente da Cremego esclareceu que a posição da instituição não é contrária aos médicos estrangeiros ou de brasileiros que tenham estudado no exterior, mas que não concorda com a regulamentação destes profissionais sem a revalidação do diploma.
Conforme informações do Cremego, em Goiás atuam 299 médicos que portam diplomas emitidos em países estrangeiros. Desses, 146 são da Bolívia, 37 de Cuba e 28 da Argentina. Todos passaram pelo processo de revalidação de diploma. Neste ano, até o mês de maio, 10 médicos se inscreveram no exame.
Em 2012, dos 182 profissionais inscritos à revalidação de diplomas, apenas 20 foram aprovados, o que equivale a aproximadamente 1%. Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP).
Em nota ao governo federal, o CFM afirmou que vai tomar as medidas jurídicas cabíveis e que condena de forma veemente "qualquer iniciativa que proporcione a entrada irresponsável de médicos estrangeiros e de brasileiros com diplomas de medicina obtidos no exterior sem sua respectiva revalidação". A instituição também classificou a intenção do governo como "agressão à nação", uma vez que estaria atendendo a "interesses específicos e eleitorais", sem se preocupar de fato com a saúde da população brasileira. (11/05/13)
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O HOJE
Vacinação contra gripe é prorrogada em Goiás
Mais de 50 mil ainda devem se vacinar em todo o Estado. A Goiânia ainda não atingiu a meta de imunizar 80% dos grupos de risco
ANGÉLICA QUEIROZ
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) anunciou a prorrogação da campanha de vacinação contra a gripe, que deveria ter terminado ontem. O Estado já ultrapassou a meta de vacinar 80% da população eletiva, com mais de 700 mil doses aplicadas. Goiânia, no entanto, ainda não atingiu a meta estipulada pelo Ministério da Saúde (MS) e, até ontem, apenas 75% da população que deveria ter se vacinado havia procurado os mais de 80 pontos de vacinação instalados na capital. As crianças com menos de 2 anos e as gestantes são o grupo com menor cobertura até agora – 68%. A vacinação deve acontecer até sexta-feira, dia 17.
Este ano, uma morte por Influenza já foi confirmada na capital. Em 2012, foram notificados oito casos e três pessoas morreram por causa do doença. Segundo o secretário municipal de Saúde, Fernando Machado, a rede esta preparada para dar assistência nos casos de confirmação de tipos graves da doença. “Nós temos a medicação para disponibilizar para a população que venha a se contaminar, mas o que a pessoa tem para se preparar contra a contaminação é a vacina. Então é importante que a população se vacine,” destaca. (11/05/13)
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DIÁRIO DA MANHÃ
Ataque conjunto contra o câncer
Equipes integradas por especialistas de diversas áreas e novas drogas que impedem o crescimento dos tumores elevam as chances de cura a um patamar nunca antes alcançado. E isso só foi possível quando se descobriu que a doença é muito mais complexa do que
DIÁRIO DA MANHÃ
MÔNICA TARANTINO E MONIQUE OLIVEIRA
Um dos mais formidáveis progressos registrados pela medicina nos últimos anos se deu no entendimento do que é o câncer, doença que acometerá 27 milhões de pessoas no mundo na próxima década e cerca de 619 mil brasileiros em 2025, conforme estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O conceito mais atual a seu respeito dá conta de que ela é muito mais complexa do que se pensava e que não pode ser considerada uma só enfermidade. “São várias doenças que têm, em comum, o fato de serem um agrupamento de células similares com alterações no seu código genético”, explica o oncologista Paulo Hoff, diretor clínico do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) e do Hospital Sírio-Libanês, ambos em São Paulo. “Cada tumor é diferente do outro”, enfatiza o médico.
Essa constatação – uma das mais importantes na história da luta da ciência contra a doença – está imprimindo uma revolução na maneira de combatê-la. Nos hospitais, por exemplo, as equipes responsáveis pelo atendimento ao paciente estão abrindo espaço para profissionais como biólogos moleculares, capacitados a identificar com mais precisão a natureza do tumor. Nos centros de pesquisa, integram os mesmos estudos patologistas e bioengenheiros, matemáticos e geneticistas. Nos laboratórios das indústrias farmacêuticas, a busca agora não é mais por um remédio único que, com uma cartada só, ataque vários tumores ao mesmo tempo. Procura-se hoje o contrário: drogas com o poder de atingir substâncias únicas, associadas a tumores específicos, e também medicações para agir sobre engrenagens envolvidas na proliferação das células doentes, como seu metabolismo e os tecidos ao seu redor. É assim que está se criando a nova forma de curar o câncer.
O ponto de partida para as transformações em andamento foi a descoberta do peso da genética no surgimento e desenvolvimento da doença. Sabia-se que os genes tinham influência, mas só depois da divulgação dos resultados do genoma humano, em 2003, ficou claro que eles são mais decisivos do que se supunha. Por vários motivos. O primeiro: há uma quantidade impressionante de genes sendo associados a diferentes tumores. Essas informações estão permitindo, por exemplo, o estabelecimento de programas de prevenção mais focados e eficazes. No Brasil, há um ótimo exemplo disso. A oncogeneticista Maria Isabel Achatz, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, monitora 102 pacientes portadores de uma mutação no gene TP53. É o maior grupo do mundo em acompanhamento em um único centro médico. A alteração deixa os indivíduos mais predispostos a ter alguns tipos de tumores ao longo da vida. “São pessoas que precisam de acompanhamento para que a doença seja detectada no início”, diz a especialista. Desse modo, podem ser tratadas de forma menos agressiva e com maiores chances de cura.
O maior conhecimento genético está levando também à criação de exames reveladores. Na Alemanha, o teste BreastNextTM avalia 14 genes relacionados aos cânceres de mama e ovário. Outros investigam uma gama maior de genes para tumor colorretal e há opções com o poder de ler em média 35 mil genes, indicando alterações associadas à enfermidade e outras com interpretação ainda desconhecida para a medicina.
A detecção de indivíduos com maior risco promove a disseminação do aconselhamento genético. Nos principais centros de tratamento do mundo, já existem serviços destinados a orientar pacientes sobre suas chances de realmente desenvolver a enfermidade por causa de genes mutados. Por aqui, há opções em universidades e hospitais de referência. Para expandir esse alcance, oncogeneticistas criaram a Rede Nacional de Câncer Familial (hereditário). A entidade está avaliando os custos da aplicação na rede pública de testes genéticos para rastrear a predisposição a 12 tipos. “Queremos capacitar hospitais e serviços para ter geneticistas que atendam pacientes com história familiar de câncer”, diz Marisa Breitenbach, coordenadora de pesquisa do Inca.
Decifrar qual gene está vinculado a que tumor também abriu a porta para que a ciência começasse a identificar as consequências dessas associações. Que proteínas são fabricadas – ou deixam de ser liberadas – por causa da influência genética? Cada resposta obtida torna mais fácil arquitetar remédios capazes de solucionar os problemas criados pelos genes. Um dos mais novos dessa categoria é o crizotinibe (Pfizer), indicado para combater um tipo raro de tumor de pulmão (não pequenas células – NSCLC) porque corrige um desequilíbrio causado por alterações provocadas pela mistura de genes batizada de EML4-ALK, associada ao tumor. O medicamento está em uso na Europa e nos Estados Unidos e no Brasil aguarda liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na mesma linha há o pertuzumabe e o trastuzumabe-entansina (Roche), para tratar o câncer de mama metastático em mulheres que apresentam mutação no gene HER2 (também esperam liberação pela Anvisa), e o olaparibe (AstraZeneca), em fase final de pesquisa contra o tumor de ovário.
Outro resultado igualmente importante do aprofundamento das informações sobre câncer e DNA é a constatação de que o perfil genético do tumor é determinante para o tratamento. Hoje, tão fundamental quanto saber o órgão atingido é conhecer as mutações genéticas às quais ele está vinculado. Além disso, contam as características de DNA de cada paciente e como elas influenciam a resposta à terapia. Um remédio pode funcionar para um, e não para outro, mesmo que os dois apresentem tumores iguais. “Quanto mais específica a droga, mais específico é o paciente que irá recebê-la”, diz Luiz Fernando Reis, diretor de pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. Cientes do desafio, os pesquisadores investem no desenvolvimento de testes para distinguir quem realmente irá se beneficiar da droga em questão. Atualmente, há exames do gênero para medicações contra tumor de mama, pulmão, melanoma, rins, colorretal e certos tumores do sistema nervoso central. Fora do Brasil há maior variedade relacionada a remédios ainda não aprovados aqui.
O enfrentamento mais abrangente do câncer foi fortalecido ainda após a identificação de novos fatores relacionados ao crescimento das células doentes. O chamado microambiente tumoral é um deles. Trata-se da avaliação das características do tecido ao redor do tumor para saber em que medida ele estimula sua evolução. “A estratégia é modificar o contexto no qual as células tumorais estão inseridas”, afirmou à ISTOÉ Mina Bissell, chefe da divisão de ciência do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, dos Estados Unidos, uma das mais renomadas pesquisadoras de câncer de mama do mundo. Um dos primeiros remédios a agir no microambiente tumoral foi o regorafenibe (Bayer). Nos EUA, foi autorizado para o tratamento do câncer de cólon.
Uma condição que também facilita a proliferação das células doentes é seu metabolismo diferenciado. Para se multiplicar sem freio, elas acabam se valendo de um estoque fenomenal de glicose, o combustível usado normalmente por toda célula para funcionar. E também recorrem a substâncias das quais extraem energia como o aminoácido glutamina. Grupos de pesquisadores estão trabalhando para encontrar meios de impedir a utilização das duas substâncias – glicose e glutamina – pelas células tumorais.
Exploram-se ainda os aspectos ligados à imunidade. A proposta é fazer com que mecanismos normais do sistema imunológico aprendam a reconhecer a célula doente, o que não ocorre normalmente no câncer. Um dos medicamentos em uso no País, o ipilimumabe (Bristol-Myers Squibb), combate o melanoma, o mais agressivo dos cânceres de pele, por essa via. “A tendência é dar remédios que curem, sem a necessidade de cirurgias e mutilações”, afirma Antonio Carlos Buzaid, chefe do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José, em São Paulo.
Uma das linhas mais recentes em pesquisa investiga o que os pesquisadores chamam de “assinatura” do tumor. Descobriu-se que as células tumorais despejam na corrente sanguínea fragmentos de seu próprio material genético (o DNA tumoral). Esse material, acreditam os cientistas, pode servir como indicativo de várias situações. Uma delas é apontar se o tratamento está fazendo efeito. Outra seria auxiliar no diagnóstico extremamente precoce da doença, em um estágio que até hoje a medicina não foi capaz de atingir.
Toda essa complexidade que caracteriza a doença está desencadeando o surgimento de um esquema de trabalho interdisciplinar no qual os oncologistas e cirurgiões trabalham cada vez mais integrados a equipes compostas também por oncogeneticistas, patologistas e bioquímicos. O grupo maneja informações fundamentais para determinar qual será o roteiro da terapia de cada paciente. O papel de cada membro do timetambém ganha contornos mais atuais. “Antes fazíamos o diagnóstico para conhecer as características do tumor e seu estágio. Agora, procuramos genes que ajudam a definir os medicamentos que serão dados”, diz Isabela Cunha, responsável pelo Departamento de Patologia Molecular aplicada ao diagnóstico do Hospital A. C. Camargo.
E cresce a aproximação entre os médicos e os cientistas que estão no laboratório. “A troca de informações e sua aplicação no tratamento são cada vez mais essenciais”, diz o biólogo e bioquímico Emmanuel Dias-Netto, do Centro Internacional de Pesquisa do hospital paulista. No cotidiano, Dias-Netto, que participou dos principais estudos internacionais do genoma, é peça-chave na discussão de casos intrincados de cânceres hereditários. Em seu laboratório, há máquinas que sequenciam o genoma inteiro de um tumor ou do paciente em um dia. Mas é um recurso ainda usado em caráter experimental e reservado a raros casos.
A nova dinâmica já se reflete em mudanças na estrutura física dos principais hospitais. No Hospital do Câncer de Barretos, no interior de São Paulo, foram abolidos os consultórios individuais para ver pacientes. No dia destinado ao atendimento dos doentes com tumores de cabeça e pescoço, por exemplo, os especialistas dessa área ficam em uma sala coletiva onde se consultam mutuamente sobre os casos. Lá estão oncologistas clínicos, cirurgiões, radioterapeutas, especialistas em quimioterapia. Na hora de examinar alguém, vão a um consultório onde são aguardados pelos pacientes e por seus prontuários. Para o mesmo andar destinado a esse ambulatório também foi remanejado o serviço de odontologia. “Isso agiliza o atendimento e permite que ele seja mais completo”, diz Vinícius Vasquez, diretor clínico do Hospital de Barretos. O modelo foi adaptado do hospital MD Anderson, nos EUA.
Ver-se diante do fato de que o câncer não pode ser tratado com uma só receita também obrigou a medicina a tornar mais maleável a sua definição de cura da doença. Segundo o conceito clássico, podia se dizer curada a pessoa que estivesse cinco anos sem a enfermidade. Hoje, com o conhecimento a respeito das peculiaridades de cada tumor, isso não é mais aplicável a todos os casos. “Em cânceres de estômago e pulmão, que são muito agressivos, é possível falar em cura quando a doença não se manifesta depois de cinco anos após o tratamento. Mas para alguns tipos de câncer de mama esse prazo é maior”, diz Rafael Kalics, diretor do Instituto Oncoguia, entidade de apoio aos pacientes.
Apesar das diferenças, é incontestável que a medicina alcançou um patamar histórico de vitória. Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos EUA, há 38 anos, naquele país, metade das pessoas com câncer era curada. Hoje, são 68%. Entre as crianças, a taxa média de cura era de 62%. Atualmente, está em 81%. Nos casos de tumor de tireoide flagrados no começo, as estatísticas americanas mostram que, após cinco anos, 99,9% dos pacientes estão livres da doença.
É sabido também que dificilmente haverá uma única fórmula que cure todos os gêneros de tumor. “O caminho será o da personalização do tratamento”, diz o oncologista Stephen Stefani, do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. Tudo isso graças ao avanço na compreensão da enfermidade. “E quanto mais estudarmos de que forma as células envelhecem, mais saberemos sobre a doença”, garantiu à ISTOÉ Phillip Sharp, prêmio Nobel de Medicina em 1993 e hoje diretor do Laboratório de Estudos do Câncer do Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. (13/05/13)
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação