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DESTAQUES DE HOJE
• Saúde – Rapaz morre após peregrinação
• Família denuncia negligência no Hugo longines replica watches
O POPULAR
Saúde
Rapaz morre após peregrinação
Foto de Bruno Henrique, morto no Hugo, estampou capa do POPULAR em reportagem sobre falta de raios X
Gabriela Lima
Apesar do acidente de motocicleta, na segunda-feira, o entregador Bruno Henrique Mendonça Viana estava, de 17 anos (à reportagem ele havia afirmado ter 19 anos), estava bem quando a reportagem do POPULAR o encontrou no corredor do Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Campinas, durante uma reportagem sobre falta de raios X na rede municipal. Bem humorado, fez brincadeiras durante a entrevista, arrancando risadas da mãe, a comerciante Cléia Carneiro de Mendonça, de 55, sentada na cadeira ao lado da maca onde o filho estava. “Não preocupa não. Isso foi coisa à toa. Moto tem esses contratempos mesmo”, dizia o rapaz. Ao posar para a fotografia que estampou a capa do jornal no dia seguinte, ele fez um pedido: “Não quero sair feio, viu. Por favor, me deixe bonito na foto”.
A notícia da morte de Bruno Henrique, ocorrida no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), deixou a equipe de reportagem chocada. Como podia aquele rapaz forte, otimista e brincalhão, ter morrido por conta da fratura na perna?
No segundo encontro com Bruno Henrique, na tarde de ontem, ele era velado no Cemitério Parque Memorial. Como no Cais, Cléia estava sentada em uma cadeira ao lado do filho, mas só chorava. Quando se aproximou das 17 horas, momento do enterro, a mãe se relutou em fechar o caixão. Abraçada à urna onde estava o caçula de cinco filhos, ela dizia: “Te amo tanto meu filho, vou sentir muito a sua falta”.
Além da tristeza natural da perda de um ente querido, o sentimento entre os parentes de Bruno era de revolta. “É difícil para a gente aceitar, porque foi um acidente banal. Se fizessem os procedimentos rapidamente, talvez ele ainda estivesse vivo”, disse a irmã, Flávia Mendonça Alves, de 27.
Para a mãe, a morte de Bruno não foi uma fatalidade, mas o resultado de uma sequência de omissão e desrespeito. “Ficamos com o menino para lá e para cá até chegar ao Hugo. O pessoal fala que lá é hospital de referência, só se for referência de morte. Ficamos lá mais de 24 horas e nenhum médico foi ver meu filho. Apenas enfermeiras”, reclama.
ENTREGADOR
Bruno sofreu um acidente enquanto trabalhava de entregador de farmácia, por volta das 12 horas de segunda-feira, no Parque Atheneu. Com suspeita de fratura na coxa direita, ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Cais Campinas, onde deveria conseguir um exame de raios X. Mas nesse dia, radiologistas da empresa que presta o serviço de diagnóstico por imagem haviam feito uma paralisação, e o rapaz precisou aguardar por horas até que chegasse outra ambulância, às 18h30, para transferi-lo ao Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof).
No Crof, a radiografia confirmou a fratura no fêmur direito. Segundo o coordenador-geral da unidade, Eduardo Abrão da Silva, a fratura no fêmur necessitava de tratamento cirúrgico. Por isso, o sistema de regulação foi acionado e Bruno acabou transferido para o Hugo. “O paciente foi medicado com analgésico e saiu daqui normal, lúcido e sem dor”, disse o coordenador.
Levado para o Hugo por volta das 22 horas, o rapaz esperou cerca de duas horas em uma maca no corredor, até conseguir um leito na enfermaria. A mãe conta que deixou o rapaz dormindo, durante a madrugada, e a irmã, Flávia, chegou para acompanhá-lo na manhã seguinte. A principal reclamação da família é com a ausência de médicos. “As enfermeiras apareceram lá, por duas vezes, para dar uma medicação dizendo que havia sido prescrita por um médico. Mas que médico é esse que nem foi vê-lo?”, questiona Flávia.
Segundo a família, a primeira medicação foi dada por volta das 13 horas. Até o fim da tarde de terça-feira, o rapaz estava bem, mas começou a reclamar de secura na boca e sentia muita sede. Após receber um segundo medicamento, por volta das 19 horas, o jovem apresentou uma piora brusca no quadro de saúde. De acordo com a irmã, por volta das 20 horas ele começou a vomitar “sangue vivo”.
A mãe reclama que, mesmo com o filho escarrando sangue, as enfermeiras do Hugo demoraram a atendê-lo. “Ele ficou agonizando por 40 minutos e eu chamando a enfermeira”, diz. Quando as enfermeiras chegaram, segundo Cléia, levaram Bruno para a sala de reanimação e disseram que fariam exames. Logo depois, uma funcionária do hospital pediu que ela tirasse as coisas do rapaz da enfermaria e aguardasse na recepção.
“Passei a noite inteira na recepção e ninguém dava informação sobre o meu filho”, relata Cléia. Por volta das 6h40, a família foi avisada da morte do rapaz. “O médico disse que ele teve duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.”
Entenda
Embolia pulmonar é um entupimento de vasos sanguíneos por gordura, ar, coágulo de sangue e até fragmento de ossos.
É como se fosse um “infarto do pulmão” após o entupimento de um vaso sanguíneo.
Em fraturas, como a de um fêmur, são comuns casos de embolia. Por isso o mais correto é entrar com o anticoagulante de imediato. Ela é grave, mas nem sempre fatal.
Esmagamento ou fraturas múltiplas são casos mais graves, em que pode ocorrer a embolia.
Sintomas
Falta de ar
Sangramento exterioriza a embolia
Fonte: pneumologista Ricardo Ozório Dourado
Diretor do Hugo nega falhas em atendimento
O diretor-geral do Hospital de Urgências de Goiás (Hugo), Ciro Ricardo de Castro, afirmou que o entregador Bruno Henrique Mendonça Viana foi vítima de uma embolia pulmonar e nega que o paciente tenha sofrido algum tipo de omissão. Castro também afirmou que o caso de Bruno, uma fratura fechada, não é o perfil de cirurgias realizadas no Hugo, que atende vítimas com fraturas expostas.
“Fratura fechada não é perfil nosso. Isso deveria ter sido resolvido lá no Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof) ou encaminhado para a rede conveniada”, justificou Castro. Mesmo assim, o hospital recebeu o paciente e, segundo o diretor, fez tudo que podia ser feito.
“Sempre que chegam casos de fratura fechada temos um protocolo a seguir. Imobilizamos e entramos com a medicação, analgésico e anticoagulante. Ele recebeu todos os cuidados necessários. Respeitamos a dor da família, mas não venham responsabilizar o hospital por uma intercorrência que não é de responsabilidade do hospital”, afirmou.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirmou que o rapaz entrou no Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Campinas às 14 horas, e não logo após às 12 horas, como Bruno havia relatado à reportagem. Disse ainda que o tempo de espera na unidade básica estava dentro do prazo normal.
Sobre a transferência do Crof para o Hugo, a assessoria da SMS afirmou que, dentro do protocolo da secretaria, fratura no fêmur é de responsabilidade do Hugo, justamente por conta do risco de embolia pulmonar. Informou que, se não fosse perfil do Hugo, a equipe não teria recebido o paciente.
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O HOJE
Família denuncia negligência no Hugo
Paciente de 17 anos, que aguardava cirurgia, morre no hospital. Diretor da unidade de saúde reconhece que rapaz estava em boas condições físicas
Cynthia Costa
A família de Bruno Henrique Mendonça Rodrigues Viana, de 17 anos, morto na quarta-feira (10) enquanto estava internado no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) aguardando uma cirurgia, denuncia que o jovem teria sido vítima de negligência por parte da unidade.
O corpo do rapaz foi enterrado na tarde de ontem, no Cemitério Parque Memorial de Goiânia. Bruno sofreu um acidente de moto na segunda-feira (8) e, após uma peregrinação por várias unidades de saúde da capital para realizar o exame de raio X para confirmar a extensão da fratura, foi levado para o Hugo, onde faleceu às 6 horas da manhã de quarta-feira (10).
Durante o período em que ficou internado no hospital, o rapaz aguardava uma cirurgia para correção da fratura da perna direita. Flávia Mendonça Alves, irmã de Bruno, conta que, durante o período em que ele ficou na enfermaria do Hugo, Bruno foi medicado. “Mas não temos a mínima ideia sobre quais remédios estavam sendo administrados ao meu irmão, já que as enfermeiras não nos diziam nada”, relata ela.
Além disso, Flávia reclama que nenhum médico se aproximou da família para oferecer informações sobre o tratamento. “Durante a madrugada, eu e o Bruno conversamos pelo whatsapp e ele me disse que ia fazer a cirurgia na quinta, após ter sido cancelada a de quarta-feira, mas que não havia visto nenhum médico”, conta.
Cirurgia
Conforme a irmã de Bruno, no período em que voltou para o hospital, a situação se repetiu. “Passei o dia inteiro lá, mas também não vi nenhum médico entrando na enfermaria em que ele estava para esclarecer alguma dúvida que poderíamos ter”, diz Flávia.
Ela informa que o irmão estava interessado em saber o que poderia acontecer na cirurgia e se demoraria muito para que fosse feita, mas que não obteve nenhuma resposta das profissionais de enfermagem. A dona de casa conta que ajudou o irmão a almoçar e a tomar banho, após a visita de uma nutricionista. “Foi a única profissional de saúde, além das enfermeiras, que o visitou enquanto esteve internado no Hugo”, diz.
Outra queixa apresentada pela família à reportagem de O HOJE é de que o rapaz não passou por nenhum outro tipo de exame. “Não foram feitos exames, principalmente hemograma. Este último serviria para saber se ele teria reação alérgica a algum medicamento”, conta a irmã de Bruno.
Laudo
Flávia revela ainda que o irmão cuspiu e vomitou sangue, tendo sido levado para a sala de reanimação. “Depois disso, minha mãe não teve mais notícias, a não ser a do falecimento dele, por volta de 6 horas da manhã de ontem [quarta-feira, 10]”.
A família do rapaz pretende esperar o prazo de entrega do laudo do Instituto Médico Legal (IML), que deve ser liberado em 90 dias, para apresentar o resultado a um especialista. “Vamos verificar o que diz o laudo e vamos ver o que pode ser feito. A vida do meu irmão, nós não teremos de volta, mas vamos tentar evitar que outras famílias passem pelo que nós estamos passando”, desabafa Flávia.
“Paciente recebeu o atendimento necessário”
De acordo com o diretor geral do Hugo, Ciro Ricardo Pires de Castro, Bruno Henrique foi para o Hugo com uma fratura fechada. “Ele estava em boas condições físicas e, apesar da fratura, estava consciente e não apresentava problemas neurológicos.”
O médico explica que todos os casos que chegam ao Hugo são acompanhados por uma equipe multidisciplinar. “No prontuário médico de Bruno há avaliação médica detalhada de tudo o que aconteceu com ele, inclusive depois de ter dado entrada na sala de reanimação.”
Ciro diz que o médico que avaliou o rapaz pode não ter parado para conversar com a família, até porque, segundo ele, são feitas, em média, de 30 a 40 cirurgias por dia na unidade e “nem sempre os médicos estão disponíveis para atender os familiares dos acidentados”.
O diretor do Hugo esclarece que, tanto durante o período em que ficou internado e depois, quando apresentou complicações, o paciente recebeu todo o atendimento necessário.
Medicamentos
Sobre os medicamentos aplicados em Bruno, o diretor afirmou que foram remédios ministrados conforme o quadro clínico apresentado pelo paciente. “Ele tomou analgésicos para aliviar as dores; soro para hidratação; anti-inflamatórios e anticoagulantes”. Nesse último caso, o médico esclarece que os medicamentos foram receitados já se prevendo o risco de embolia. “Nesses tipos de fratura, surge a suspeita clínica de até 1% de trombos (coágulo sanguíneo); em cada 100 casos, um pode formar os trombos”.
Ciro Ricardo diz que, dentro desse percentual [de 1%], 10% pode embolizar. “Pode sair um pedaço do coágulo sanguíneo e ir para os pulmões, coração ou o cérebro”, explica ele. “O paciente evoluiu bem, mas apresentou sintomas respiratórios indicativos de embolia pulmonar”. Além disso, ele afirma que, em casos como o de Bruno, não é necessária a realização de exames laboratoriais, mas apenas os de radiologia.
O diretor também informa que, como houve complicações decorrentes do trauma, não é possível emitir o atestado de óbito. “O corpo do paciente é encaminhado ao IML para descobrir a causa da morte. Só depois disso é que irá ser apurada a responsabilidade médica.”
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação