ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
Caiado recebe alta médica e deixa Hospital Sírio-Libanês
Iris visita unidades de saúde da região Noroeste e anuncia obras de reforma
AMB é censurada
Planos de saúde respondem por 13,1% da folha de pagamento
Dos países com mais de 200 mi de habitantes, Brasil é único com sistema universal de saúde
Artigo – Ativismo pró-aborto: dados falsos e desinformação
Conselho Federal de Medicina é contra o termo "maconha medicinal"
Saiba como a PrEP está mudando hábitos sexuais do público vulnerável ao HIV
Mais lucrativa e menos humana: O que os planos de saúde escondem
Deputada assume luta antimanicomial em Goiás com projeto para humanizar tratamentos
A REDAÇÃO
Caiado recebe alta médica e deixa Hospital Sírio-Libanês
Governador deve retomar agenda na terça (15)
Goiânia – O governador Ronaldo Caiado recebeu alta neste domingo (13/10) e deixou o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, no início da tarde.
Segundo nota assinada pela médica que o acompanha, Ludhmila Hajjar, "todos os exames realizados atestaram o restabelecimento completo da saúde do governador".
Caiado ficará na casa das filhas, em São Paulo. A retomada da agenda institucional em Goiás deve ocorrer na terça-feira (15/10).
O governador estava internado na unidade de saúde de São Paulo desde a noite de quarta-feira, após ter sentido um mal estar. O caso aconteceu na tarde de quarta-feira, quando ele deu entrada no Hospital do Coração de Goiânia, com hipótese diagnóstica de insuficiência coronária. Na unidade, ele foi submetido a um cateterismo cardíaco. Mais tarde, a própria família optou pela transferência para São Paulo.
No Sírio-Libanês, foi realizado um novo cateterismo e optou-se pela realização de uma angioplastia com a implantação de um stent. Caiado chegou a ficar internado na UTI, e depois foi para um apartamento, onde permaneceu em observação médica durante 48 horas.
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Iris visita unidades de saúde da região Noroeste e anuncia obras de reforma
Força-tarefa continua neste domingo (13/10)
Goiânia – Durante a 29ª edição do Mutirão da Prefeitura de Goiânia, neste sábado (12/10), o prefeito Iris Rezende realizou diversas visitas pela região Noroeste, que recebe a força-tarefa neste fim de semana. Na ocasião, o prefeito anunciou a reforma e ampliação da Maternidade Nascer Cidadão e do Cais Cândida de Morais.
Durante a festividade pelos 19 anos de atuação da Maternidade Nascer Cidadão, o prefeito Iris Rezende lembrou que a unidade é referência em parto humanizado e que já realizou 40 mil procedimentos. “Nosso objetivo é ampliar ainda mais o atendimento às mulheres de Goiânia”, frisou o prefeito, ao acrescentar que hoje estão disponíveis duas unidades especializadas no atendimento às mulheres e que tão logo a cidade ganhará mais uma, o Hospital da Mulher e Maternidade Oeste, cujas obras estão avançadas.
Ainda na Nascer Cidadão, acompanhado da secretária de Saúde de Goiânia, Fátima Mrué, vereadores e auxiliares, o prefeito visitou os leitos da unidade e anunciou que maternidade será ampliada. “O número de leitos vai passar de 37 para 60. Além disso, a instituição vai ganhar seis novos leitos de urgência para melhor atender mulheres e futuras mães goianienses”, citou.
Depois da Maternidade Nascer Cidadão, o prefeito Iris Rezende visitou o Cais Cândida de Morais, que também passará por reforma e ampliação. “Saúde é uma das nossas prioridades e, por isso, não estamos medindo esforços para melhorar o atendimento à população”, afirmou o prefeito ao visitar as dependências do Cais. A unidade do Setor Cândida de Morais vai passar a contar com enfermarias masculina e feminina separadas, sala de isolamento, banheiros acessíveis, além de ampla adequações, como troca de piso e reparos nas redes elétrica e hidráulica.
Além das visitas às unidades de saúde, o prefeito Iris Rezende também esteve na Escola Municipal Professora Leonísia Naves de Almeida, unidade que atende 1,1 mil alunos da pré-escola, ciclos I, II e III e Educação de Adolescentes, Jovens e Adultos (Eaja). A escola é uma das maiores da rede e passou por reformas mediante aplicação de recursos do Escola Viva e mão de obra da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra).
Logo em seguida, a comitiva do prefeito Iris Rezende visitou o Cmei Morada do Sol. A unidade atende 203 crianças de até 4 anos de idade na Educação Infantil. O Cmei também passou por reformas pelo Escola Viva e mão de obra da Seinfra. A Educação Municipal atende, na Região Noroeste, mais de 4,6 mil alunos em todas as modalidades.
Ações
Durante os dois dias de trabalho, equipes da várias pastas da administração municipal e do governo estadual, como saúde, educação, meio ambiente, direitos humanos, finanças, procuradoria, controladoria e outras, prestam vários serviços aos moradores da região e aquelas demandas que não puderem ser solucionadas no local são encaminhadas aos órgãos competentes para posterior solução.
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AMB
AMB é censurada
Três publicações da AMB que denunciavam irregularidades nos processos de revalidação de diplomas por faculdades privadas foram retiradas do site e das redes sociais da entidade por determinação do Tribunal de Justiça de Rondônia. A liminar foi requerida pelo Centro de Ensino São Lucas Ltda e pela reitora da faculdade, Maria Eliza de Aguiar e Silva, suplente do senador Confúcio Moura, relator da Medida Provisória 890/2019, que acolheu emendas que liberam universidades privadas para atuar no processo de revalidação de diplomas de medicina de escolas estrangeiras.
"Isso é uma verdadeira censura. Inexplicável e indefensável. Querem calar a AMB e abafar as denúncias que a entidade tem feito. Vamos recorrer para garantir o direito dos médicos e da população brasileira de terem acesso a informações públicas sobre temas que são de seu interesse. Represálias como estas não irão nos intimidar e servem apenas para reafirmar que estamos no caminho certo. Obedecemos a decisão judicial e retiramos os conteúdos dos nossos canais de comunicação, mas iremos recorrer onde for possível para fazer valer nosso direito constitucional à liberdade de expressão", afirmou Diogo Sampaio, vice-presidente da AMB e responsável pela área de comunicação da entidade.
Como o Supremo Tribunal Federal já decidiu, "a Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde a liberdade de expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao pluralismo de ideias, que por sua vez é um valor estruturante para o salutar funcionamento do sistema democrático" (ADI 4.451, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 21-6-2018, P, DJE de 6-3-2019).
No pedido feito à Justiça, as autoras sugerem que nada irá mudar na legislação quanto a quem pode ou não atuar nos processos de revalidação. Isso não é verdade, tanto que as emendas acolhidas pelo relator e senador Confúcio Moura apontam a necessidade de mudança na legislação para que as universidades particulares possam participar do processo de revalidação de diplomas. Hoje a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) deixa claramente expresso que a revalidação de diplomas deve ser feita por universidades públicas. O que é extremamente pertinente, pois trata-se de um procedimento de fé pública e, que, portanto, precisa ser exclusivamente de responsabilidade de agentes públicos.
A íntegra da petição e da própria liminar concedida no Processo n. 7041851-44.2019.8.22.0001 são públicas e estão disponíveis no site do Tribunal de Justiça de Rondônia (https://pjepg.tjro.jus.br/login.seam). Também podem ser baixadas do site da AMB .
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O TEMPO
Planos de saúde respondem por 13,1% da folha de pagamento
Mais de 70% da população do país não tem plano de saúde. E, entre os 47 milhões de brasileiros com algum tipo de cobertura, 80% têm planos empresariais, de acordo com a Agência Nacional e Saúde Suplementar (ANS). Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 61% das empresas que não oferecem o plano alegam o alto custo como motivo: ele responde por 13,1% da folha de pagamento. No ano passado, o aumento médio foi de 10,1%, mais do que o dobro da inflação (3,75%).
Para encontrar soluções de barateamento, a CNI criou um grupo de discussão que já conta com 68 grandes empresas.
"Precisamos contratar um sistema estruturado, de boa qualidade e de custo compatível com a promoção da saúde e a prevenção, controle e o tratamento de doenças", destaca o presidente Robson Andrade.
Nesse caminho, a integração da cobertura com programas de prevenção já tem alcançado bons resultados.
Com o objetivo de conscientizar os beneficiários sobre o melhor uso e promover mais qualidade de vida, a Saúde Concierge oferece um serviço complementar ao plano para classificar o estado clínico das pessoas e propor ações de monitoramento em tempo real.
"Quem nos contrata é a empresa, mas com o foco no colaborador. Nosso plano de ações é voltado para garantir que aquela pessoa usufrua dos serviços que precisa e esteja amparada por nossa equipe profissional de saúde multidisciplinar e por todos os benefícios da tecnologia para um acompanhamento remoto e em tempo real", afirma a diretora executiva da Saúde Concierge, Tatiana Giatti.
Segundo ela, a implementação da classificação da complexidade dos casos, aliada às ações, proporcionou uma redução de 30% em sinistros de saúde entre os clientes. Em menos de um ano, o número de vidas cobertas saltou de 5.000 para 7.000.
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BAND
Dos países com mais de 200 mi de habitantes, Brasil é único com sistema universal de saúde
Postagem publicada no Twitter pede a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e afirma que o SUS é o único sistema público de saúde que "atende a uma população com mais de 200 milhões de pessoas" e que "fornece remédios de graça" – algo que, segundo a postagem, nem o equivalente britânico, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), supostamente faria.
De fato, todo e qualquer brasileiro tem o direito de ser atendido gratuitamente pelo SUS, algo definido na Constituição e na lei 8.080, de 1990. Também é verdade que o SUS fornece remédios gratuitamente. Hoje a população brasileira é de 210,5 milhões.
A publicação, no entanto, comete um erro ao dizer que o NHS não fornece medicação "totalmente de graça". O sistema britânico oferece remédios gratuitos para uma lista de doenças e para alguns grupos, como idosos, jovens de até 16 anos, populações pobres ou com doenças graves.
O Ministério da Saúde, contatado pelo Comprova, destacou que "o Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que conta com um sistema público (financiado pelo governo), universal (para todos) e gratuito para toda a população".
Há vários sistemas de saúde no mundo. Em alguns países, o sistema é público, mas, diferentemente do Brasil, a gratuidade cobre apenas parte da população e o atendimento a que as pessoas têm direito pode variar.
Dos países reconhecidos por possuírem sistema de saúde público e universal, como Reino Unido, Canadá, Dinamarca, Suécia, Espanha, Portugal e Cuba, nenhum tem população superior a 100 milhões de habitantes. O mais populoso é o Reino Unido, com cerca de 66,4 milhões de pessoas.
O Comprova só analisou individualmente os sistemas de saúde dos países com mais de 200 milhões, número citado pela postagem. De fato, nenhum deles possui um sistema público de saúde universal, como o SUS. Foram pesquisados China, Índia, EUA, Indonésia, Paquistão e Nigéria.
Esta verificação do Comprova analisou uma publicação do perfil @Adrieli_S do Twitter.
Para o Comprova, uma evidência é comprovada quando não restar nenhuma dúvida sobre a sua veracidade.
Como verificamos
Na verificação foram consultados o Ministério da Saúde, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) e estudos sobre o SUS.
O Comprova também entrevistou Oswaldo Yoshimi Tanaka, diretor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP); Alcides Miranda, médico especialista em saúde comunitária e professor de Saúde Coletiva na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e Ivo Lima, mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Além disso, por meio de sites dos governos nacionais e relatórios de organizações internacionais, analisamos como funciona o sistema de saúde em cada um dos outros países com mais de 200 milhões de habitantes
Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.
Quem tem direito ao SUS?
A Constituição Federal brasileira define que todo brasileiro tem direito a ter acesso à saúde via SUS. A frase "a saúde é direito de todos e dever do Estado" define a ideia. Qualquer pessoa pode ir a uma unidade básica de saúde ou a um hospital e receber atendimento de graça. O SUS não é apenas atendimento médico, mas também vigilância em saúde e fornecimento de medicamentos.
Beneficiários de planos de saúde também têm direito a atendimento pelo SUS – nesse caso, no entanto, as operadoras dos planos privados são obrigadas pela lei a ressarcir os cofres públicos pelos serviços prestados que tenham cobertura do plano.
O que mais o SUS faz?
Há, também, outros serviços que beneficiam a toda população, como atendimento de emergência por acidentes por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu); regulação de hemocentros assim como transplante de órgãos.
Além disso, o SUS financia pesquisas epidemiológicas, importantes para ajudar o governo a avaliar o risco de ocorrência de surtos ou epidemias e também trazer dados para o controle e prevenção de doenças. E, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), fiscaliza a qualidade de alimentos em restaurantes e supermercados.
Vacinas exigidas para bebês também são oferecidas pelo SUS, por meio do Programa Nacional de Imunização, que oferece todas as proteções recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A estratégia é reconhecida mundialmente como um sucesso na vacinação infantil.
O SUS fornece remédios de graça? Quais?
Sim. Entre as doenças cujos medicamentos são fornecidos gratuitamente pelo SUS estão diabetes, pressão alta, asma, HIV e alzheimer. A lista de drogas fornecidas é atualizada anualmente e se chama Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename). O Ministério da Saúde informou ao Comprova que, na última década, o número de remédios incluídos na lista aumentou em 54%: passou de 574 drogas em 2010 para as atuais 885.
Quem precisa de um remédio que está na lista, mas não é oferecido pelo posto de saúde, ou que não está na lista, pode processar o governo (judicializar) para obrigá-lo a pagar o tratamento. Em geral, pacientes ganham a ação se provam à Justiça que correm risco de vida caso fiquem sem o remédio solicitado.
Como era a saúde no Brasil antes do SUS?
Antes de o SUS ser regulamentado em 1990, só eram atendidas as pessoas que tinham carteira assinada, contribuíam para a Previdência e, portanto, faziam parte do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps).
Quem não tinha carteira assinada podia apenas participar de programas específicos do Ministério da Saúde ou das secretarias de Saúde estaduais ou municipais (como vacinação ou combate a alguma doença específica). Caso contrário, era preciso pagar plano privado ou buscar atendimento em instituições filantrópicas, como as Santas Casas de Misericórdia.
A criação do SUS aconteceu no contexto do fim da ditadura militar e diante de denúncias sobre a medicina previdenciária, como os seus custos. O sistema brasileiro foi inspirado no britânico, o NHS (National Health Service), que havia sido implantado 40 anos antes, após o fim da Segunda Guerra.
O NHS é pioneiro no modelo beveridgiano de serviço nacional de saúde, que entende a saúde como uma forma de cidadania. Outros modelos na Europa também se baseiam na ideia do NHS de fornecer cobertura integral para todos os cidadãos, como o de Portugal, criado em 1974, o da Itália, de 1978, e o da Espanha, de 1986.
Uma diferença entre esses sistemas e o SUS é que, no Brasil, apesar de o Estado ser obrigado a dar assistência de saúde gratuita à população, o governo, proporcionalmente, investe menos na área do que outros países.
De acordo com um relatório do Banco Mundial de 2017, mais da metade dos gastos totais com saúde no Brasil são financiados privadamente (individualmente e planos de saúde privados). No país, a despesa pública com saúde representa 48,2% do total, enquanto a média entre os integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 73,4%. Já entre nações com condições econômicas semelhantes, o Brasil está acima apenas da média entre os países do BRICS (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), 46,5%.
Como afirma Alcides Miranda, médico especialista em saúde comunitária e professor de Saúde Coletiva na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os demais países com sistemas de saúde universais como o SUS investem um valor, em relação ao PIB, bem maior do que o brasileiro. "Temos mais população e financiamento público que chega a um terço de outros países na saúde. Mas, mesmo com essas dificuldades, o SUS tem cumprido uma função de priorizar os mais vulneráveis e os mais expostos a riscos."
O SUS britânico fornece remédios de graça?
A publicação que verificamos erra ao dizer que o NHS não fornece medicação "totalmente de graça". O sistema britânico é financiado por impostos e fornece medicamentos de graça para doenças crônicas (como diabetes) e para alguns grupos populacionais, como idosos, menores de 16 anos, grávidas e pessoas beneficiadas por programas assistencialistas.
Para o resto da população, há uma taxa de até 9 libras (cerca de R$ 45) para medicações receitadas por médicos do NHS, pois os remédios são subsidiados pelo governo. Quando está internado, o paciente não paga pelo remédio. Remédios para câncer e infecções sexualmente transmissíveis (IST) não têm impostos.
"O NHS tem regras mais restritas sobre o que é ou não oferecido. O SUS, pela Constituição brasileira, deve oferecer tudo. Está escrito: 'A saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado'. Temos uma relação de medicamentos obrigatoriamente fornecidos, como para diabetes ou pressão alta. Se o remédio não estiver na lista, a pessoa pode judicializar [entrar com processo] e ganhar", explica Oswaldo Yoshimi Tanaka, diretor da faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
O atendimento primário (em postos de saúde) é de graça e cobre praticamente toda a população britânica – o SUS, por outro lado, cobria cerca de 40% dos brasileiros até 2012. O NHS ainda oferece ambulâncias de graça, internações e assistência social para doenças mentais e tratamento dentário de graça para alguns grupos. Em alguns casos, oferece desconto, assim como o SUS, para que o indivíduo pague o resto.
Como é em outros países com mais de 200 milhões de habitantes?
Nenhum dos outros países com mais de 200 milhões de habitantes no mundo tem um sistema de saúde com atendimento integral para todos os cidadãos.
De acordo com Ivo Lima, mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), países em desenvolvimento têm adotado como alternativa a adoção de sistemas baseados em seguros para ampliar a cobertura em vez da criação de um sistema universal. "Há a cobertura por um seguro, mas é básico. Há uma desigualdade relevante, porque pessoas mais pobres estão mais submetidas ao risco de adoecer, mas são as que menos têm acesso ao serviço de saúde", afirmou. "É diferente do seguro nacional alemão (onde a cobertura está ligada ao emprego). Lá, não tem diferenças no acesso ao serviço de saúde".
Saiba qual é o modelo em cada um dos outros países com mais de 200 milhões de habitantes:
China
Na China, o sistema público de saúde não é gratuito. Existem os seguros de saúde públicos e os privados. O seguro público é financiado em conjunto por empregados, empregadores e pelo governo. A depender se a região é urbana ou rural, mais ou menos desenvolvida, variam também as porcentagens de subsídio pelo Estado. Além de ajudar a financiar o seguro de saúde em si, os pacientes têm que pagar taxas pelos atendimentos e medicações prescritas, e parte desses gastos pode ser reembolsada posteriormente. Estimativas mostram que, em 2011, a parcela da população coberta por seguro de saúde público passava dos 95%. O sistema de saúde chinês era universal e gratuito até a década de 80. A partir daí, ele sofreu diversas reformas.
Índia
O acesso à saúde é um direito constitucional na Índia. Apesar disso, não há um sistema para atendimento universal como o SUS e, segundo a Newsweek, em 2018, 70% dos custos com saúde eram pagos pelos pacientes e essa foi a causa de quase 7% da população estar abaixo da linha da pobreza. Naquele ano, foi implantado o Modicare (em referência ao primeiro-ministro Narendra Modi), um programa que oferece cobertura de até 500 mil rúpias anuais por família (R$ 28,6 mil, na conversão do dia 7 de outubro) para tratamento hospitalar para moradores pobres de áreas rurais e urbanas (neste caso, usando como pré-requisito a ocupação e incluindo empregados domésticos e trabalhadores da área de construção, por exemplo). Quatro anos antes, havia sido criado o National Health Mission, que coordenou iniciativas como o combate à pólio.
Estados Unidos
Não há sistema universal de saúde – é necessário pagar para ter atendimento ou remédios. Em hospitais, o paciente pode não ser atendido se não tiver plano de saúde (é o caso de 10% dos norte-americanos, o equivalente a 30,4 milhões de pessoas). O governo subsidia planos de saúde para alguns grupos específicos, como idosos ou pessoas de baixa renda – no entanto, mesmo para eles o atendimento e os remédios não são de graça. Estudo publicado em março no American Journal of Public Health aponta que, dos pedidos de falência feitos nos EUA entre 2013 e 2016, 66,5% estavam ligados a dívidas de saúde.
Indonésia |
Existe um programa de saúde pública criado em 2014, o JKN, com o objetivo de reduzir as dificuldades de acesso a serviços básicos pela população. O atendimento é feito por meio de seguros oferecidos pelo governo, com cobertura e preço que variam a depender do indivíduo – quem tem emprego formal, por exemplo, pode ter um seguro, parecido com o funcionamento do Inamps no Brasil, antes da criação do SUS. Em alguns casos, o seguro é de graça, como para populações vulneráveis. Vacinas básicas gratuitas são oferecidas para bebês, crianças em idade escolar e para meninas jovens, por exemplo. O atendimento em unidades básicas de saúde tem custo mais acessível, enquanto serviços mais complexos são bastante caros, segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Paquistão
De acordo com relatório de 2015 do Escritório Europeu de Apoio ao Asilo (Easo) da União Europeia, o sistema de saúde do Paquistão é fortemente privado. O relatório afirma que à época, mais de 65% da população rural não tinha acesso a instalações básicas de saúde ou serviços de qualidade. Segundo texto de 2018 do jornal Dawn, um dos mais prestigiosos do país, cerca de 51% da população paquistanesa não tem acesso a serviços básicos de saúde. O sistema de saúde público é descentralizado, o que significa que ele pode variar entre as diferentes regiões do país. Em 2015, o primeiro-ministro do país lançou um programa nacional de seguro de saúde (PMNHIP) voltado a famílias vivendo abaixo da linha de pobreza, e que atualmente atinge cerca de 4,7 milhões de pessoas, de 77 distritos diferentes (o país tem mais de 150 distritos). O programa consiste em fornecer cupons de saúde de valor fixo, para cobrir serviços emergenciais e de maternidade, por exemplo. Há também um segundo vale com valor maior para sete doenças consideradas de tratamento prioritário, como diabetes, câncer e HIV.
Nigéria
O país tem o National Health Insurance Scheme (NHIS), que é um órgão criado pelo governo federal em 1999. Ele funciona como um plano pré-pago: paga-se um valor regular fixo e os fundos dessa arrecadação devem ser destinados a Organizações de Manutenção em Saúde (HMOs), que administram os hospitais e clínicas da Nigéria. Contudo, o sistema de saúde no país é precário devido à corrupção governamental.
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FOLHA DE S.PAULO
Artigo – Ativismo pró-aborto: dados falsos e desinformação
O principal argumento de ativistas pró-aborto é que o aborto ilegal mata milhares por ano no Brasil. Falou-se em 70 mil. Em 2016, o então ministro da Saúde, Ricardo Barros, propagou estimativa mais modesta, mas igualmente falsa, de 11 mil por ano. Seria de fato epidemia. Mas, felizmente, esses números são falsos.
O dado real não chega a 0,001% do primeiro: são 48 mortes anuais por aborto no Brasil, segundo o DataSUS, do Ministério da Saúde. Esta é a média de 2014 a 2016, incluindo abortos naturais. As 48 mortes por ano não configuram questão de saúde pública –por definição, evento que tenha impacto por meio de mortalidade aumentada, custos de tratamento para a sociedade e potencial epidêmico.
O número superestimado não é de boa-fé. O médico americano B. N. Nathanson, defensor pró-aborto que se tornaria opositor à causa, admitiu que usava a tática. "Confesso que sabia que os números eram falsos. Mas, na moralidade da nossa revolução, eram números úteis, amplamente aceitos, então por que não usá-los em nosso proveito, por que corrigi-los?", escreveu, no livro "América que Aborta". Para alguns, vale até mentir para poder eliminar bebês em idade gestacional cada vez maior. O ser humano no ventre é tratado como "amontoado de células".
Em 2018, falei no Supremo, na ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 442, sobre descriminalização da prática. Desconstruí dados falsos, demonstrando que não há no Brasil mulher presa por aborto; que o aborto legal não é seguro; que países onde é liberado têm aumento das taxas (no Uruguai cresceu 37%, contradizendo a tese de que legalizar reduz).
A maior parte dos estudos sobre o tema é parcial, feita por pessoas favoráveis ao aborto. Pouco se fala de trabalhos nas melhores revistas médicas, como a The Lancet, que revelam maior mortalidade, índices de trombose e distúrbios psicológicos de quem fez aborto.
O Supremo voltou a pautar a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 5.581 para autorizar infectadas por zika a abortarem. A liberação em casos de anencefalia, em 2012, gerou decisões permitindo a prática em outras doenças fetais. A legalização nos casos de zika teria o potencial de autorizar o aborto em centenas de condições que possam causar malformações, como infecção por rubéola, sífilis etc. Não há outro nome que não eugenia.
A ADI é de 2016, quando o conhecimento sobre zika era incipiente. Estudos recentes mostram taxas de 5% –14% em fetos de mães infectadas, a maioria leve. Temia-se que todas dessem à luz feto microcefálico.
Os exames são incapazes de detectar com segurança a infecção na gravidez –e os resultados, descartáveis, por terem reação cruzada com outros flavivírus, como o da dengue, e até para quem se vacinou contra febre amarela. Podem indicar, ainda, infecção antes da gravidez. O PRNT, exame que permite tirar a dúvida, é caro e indisponível.
Estudo da agência americana CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) mostrou que 73% dos laboratórios daqui têm baixa precisão. Não podemos falar em bebês infectados por zika, mas em grávidas talvez infectadas. Mataremos fetos baseados neste baixo grau de precisão?
Embora o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tenha dito ser contra o aborto, até aqui o Ministério da Saúde não agiu. Em julho, eu e senadores demos sugestão não incorporada para diminuir aborto provocado. Uma portaria vigente de governo anterior permite o aborto quando a mulher diz ter sido estuprada sem se denunciar o estupro, o que contraria lei de 2018, que obriga a denúncia. Uma grande maternidade do Rio de Janeiro teve diminuição de 50 abortos legais mensais para zero após resolução do Cremerj (conselho de medicina do estado do Rio) para médicos notificarem estupro.
Quando um governo conservador assume, é natural que o cenário "vire", mas não é o que tem ocorrido. Ativistas pró-aborto adotam estratégia eficaz: qualificam como "retrocesso" qualquer avanço conservador e não aceitam nenhum "passo atrás". Com o apoio da mídia, a pressão tem sido exitosa.
Além de políticas de planejamento familiar efetivas, os casais que engravidaram e pensam em abortar deveriam se lembrar de que há, em todo o Brasil, longas filas de adoção, formadas por pessoas cujo maior sonho é o de serem pais.
Raphael Câmara Medeiros Parente – Doutor em ginecologia e mestre em saúde pública; é médico ginecologista da UFRJ e conselheiro do CFM (Conselho Federal de Medicina)
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METRÓPOLES
Conselho Federal de Medicina é contra o termo "maconha medicinal"
Instituição divulgou um conjunto de dez ações sobre nomenclaturas para tratar a Cannabis e seus efeitos colaterais
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) divulgaram, na última quinta-feira (10/10/2019), um conjunto de dez orientações acerca de termos e nomenclaturas para tratar a maconha, além de destacar possíveis efeitos colaterais negativos do uso da planta. O documento começa desqualificando o uso da expressão "maconha medicinal", afirmando que a Cannabis sativa e a Cannabis indica não seriam consideradas medicamentos e que, portanto, "não existe" essa classificação.
O decálogo, que cita 42 estudos científicos como referências, destaca que a maconha tem mais de 400 substâncias e que uma delas, o THC, pode causar dependência e apenas uma, o CBD, é investigada com o objetivo de verificar se existe ou não um potencial terapêutico.
"Como os poucos resultados obtidos estão longe de ser generalizados, e mesmo que o uso controlado possa ser feito, deve-se levar em conta os potenciais malefícios já comprovados", sustentam a instituições.
"Para qualquer substância com potencial de causar dependência em uso terapêutico, até hoje, a regulamentação é especial, pois os benefícios iniciais podem ser substituídos por danos decorrentes do uso crônico, visto que ainda não existem estudos a longo prazo que comprovem a segurança", prossegue o documento.
Além da dependência, CFM e ABP pontuam que a maconha pode levar à diminuição da atenção, da memória, das funções executivas, da percepção da realidade, da tomada de decisões e ao "declínio de até 8 pontos no quociente intelectual (QI)".
Eles lembram estudos que apontam o aumento do risco de suicídio entre adolescentes e adultos que fazem uso da substância e a possibilidade de indução à esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, quadros de ansiedade e ataques de pânico.
Grávidas
Em mulheres grávidas, as orientações ressaltam que a maconha pode resultar em alterações no cérebro do feto e, por fim, argumentam que o consumo da erva pode levar a "câncer de pulmão, bronquite, enfisema e infecções respiratórias, dentre outras alterações nos diferentes sistemas orgânicos" que "são mais graves que aquelas decorrentes do uso de cigarro comum".
O decálogo também diz que as consequências do uso da "maconha fumada" atingem "toda a família, provocam alterações de humor e mudanças de comportamento, afetam as pessoas próximas e provocam acidentes no trânsito".
Atualmente, o CFM trata da maconha na resolução de número 2.113/14, que dispõe sobre o uso "compassivo" do canabidiol no tratamento de epilepsias em crianças e adolescentes refratários aos tratamentos convencionais. Na prática, isso significa que é necessária uma autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que a indústria forneça um medicamento novo que ainda não foi registrado oficialmente.
Esta resolução do CFM também proíbe que a Cannabis, ou qualquer derivado além do canabidiol, seja prescrita para uso medicinal.
Histórico
Em junho, o CFM e a ABP emitiram uma nota conjunta pedindo a revogação de consulta pública da Anvisa sobre a regulamentação do plantio da Cannabis e alertaram para o "alto risco" da proposta. No documento, eles sustentavam que a decisão da agência de aprovar preliminarmente proposta nesse sentido "desconsiderava evidências científicas" e "não garantia efetividade e segurança para os pacientes".
"Ao admitir a possibilidade de liberação de cultivo e de processamento dessa droga no país, a Anvisa assume postura equivocada, ignorando os riscos à saúde pública que decorrem dessa medida", escreveram as entidades.
Antes, em abril, o conselho promoveu o "Fórum sobre a Maconha – causas, consequências e prevenção", em Brasília, com o objetivo de discutir a planta e a possibilidade de revisão da resolução 2.113/14. Na ocasião, o 3º vice-presidente do CFM e conselheiro Emmanuel Fortes, relator da normativa, disse que novos estudos que isolaram o canabidiol e o THC poderiam ser utilizados para atualizá-la.
A maconha também foi assunto do IX Congresso Brasileiro de Direito Médico, em setembro – de novo, com especialistas alertando para a diferença entre o uso de maconha, de forma geral, e do uso do canabidiol controlado.
Atualmente, a Câmara dos Deputados discute em uma Comissão Especial um projeto de lei de 2015 que pode viabilizar a produção e venda de medicamentos à base de princípios ativos da maconha, mas o governo federal já articula para impedir a medida.
Avaliações
Ao Metrópoles, a coordenadora do Movimento Brasil sem Drogas, grupo contrário à legalização de "qualquer nova droga" no país, Andreia Salles, disse ver com "bons olhos" o posicionamento do CFM e da ABP em destacar a diferença entre o canabidiol e a maconha. "Isso é algo a gente já sabia. Mas uma coisa é um grupo dizendo isso, outra coisa são eles colocando os pingos nos is", ressalta.
Ela afirma, ainda, que o grupo não é contrário ao cannabidiol e defende, inclusiv,e que ele seja disponibilizado gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). "É um remédio de verdade e desde que se garanta o uso seguro, a gente acredita que as crianças precisam. Agora, o termo 'maconha medicinal' é errado", destacou.
Já a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace), a única entidade do Brasil que tem autorização da Justiça para produzir produtos à base de Cannabis, defende que as pesquisas avancem no sentido de explorar o uso também de outros ativos. Jamiles Lopes, que trabalha no acolhimento da Abrace, ressalta que, hoje, o óleo terapêutico que eles produzem tem compostos como o THC e o CDB e que, embora o cannabidiol tenha sido a primeira substância descoberta, "não é só ela que tem efeitos terapêuticos".
Evidências
"Temos resultados com bastante evidências, na sua grande maioria positivos. Claro que como qualquer outra medicação, existe sua taxa de não funcionar ao certo, mas a gente trabalha com o composto integral da Cannabis e toda ela tem efeitos. A gente luta para que a Cannabis seja vista sim, como primeira opção de medicação e suplementação", opina.
Ela também contestou a contrariedade quanto ao termo "maconha medicinal": "É só o termo brasileiro para se referir à planta, então pode ser, sim, medicinal. Essa restrição na nomenclatura dificulta muito pela falta de informação, pelo preconceito", encerra.
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UOL
Saiba como a PrEP está mudando hábitos sexuais do público vulnerável ao HIV
O uso da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), um método relativamente novo de prevenção à infecção pelo vírus HIV, foi alvo recente de grande discussão no Twitter. Um internauta dizia que o método, sozinho, sem o uso de preservativo, seria uma alternativa para prevenir a contaminação pelo HIV e clamava: "Chega da ditadura da camisinha dos anos 90".
A polêmica estava lançada. Alguns foram contra, outros a favor, e os argumentos acalorados.
O que explica a disparada de infecções por HIV entre jovens brasileiros Lésbicas e DSTs: saúde sexual das mulheres que transam com mulheres Série mostra humanidade e acolhimento nos piores anos da epidemia de HIV
Pesquisas mostram que, quando tomada diariamente, a PrEP –combinação dos medicamentos tenofovir e entricitabina, que bloqueiam caminhos que o HIV usa para atacar o organismo– reduz drasticamente o risco de contrair HIV (dados apontam de 90% a até 99% de eficácia). A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda, desde 2012, a oferta da PrEP como uma das estratégias para prevenir a Aids. O centro da discussão envolve um possível abandono da camisinha pelas pessoas vulneráveis ao vírus HIV já que a PrEP não protege contra outras doenças sexualmente transmissíveis (como gonorreia e sífilis) e, portanto, não substitui a proteção trazida pelo preservativo.
A quem a PrEP é destinada?
A profilaxia é oferecida pelo SUS de forma gratuita apenas ao público que tem mais chances de entrar em contato com o HIV: gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, trabalhadores do sexo e pessoas que estejam em uma relação em que somente um dos parceiros tem o vírus.
Alexandre Grangeiro, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Projeto Combina, acredita que, assim como aconteceu com os medicamentos antirretrovirais (usados para tratar o HIV), a PrEP se tornará mais barata à medida que laboratórios fabricarem versões genéricas. "A PrEP ainda é recente no Brasil e é oferecida apenas a esse público vulnerável pelo SUS, pois, do ponto de vista coletivo, partimos do pressuposto de que há uma diminuição de 20% nas taxas de incidência do vírus."
Para outras pessoas que quiserem fazer uso da PrEP, é possível comprar o medicamento sem receita, mas o valor não é nada barato: custa cerca de R$ 300.
"Para quem não faz parte do grupo vulnerável e não pode comprar PrEP, o preservativo ainda é a única forma efetiva de prevenir o HIV e as ISTs [Infecções Sexualmente Transmissíveis]", afirma o infectologista Luiz Francisco D'Elia Zanella, do Centro de Pesquisas Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
PrEP + preservativo
Zanella afirma que a PrEP é um mecanismo a mais no combo de proteção, junto com o preservativo. "No entanto, a questão vai além e tem a ver com o comportamento de cada um", diz o infectologista. "Sabemos que há um número de pessoas com dificuldades em usar camisinha. Então, é importante se proteger dentro da sua forma de viver."
Júlio Moreira, diretor do Grupo Arco-íris, do Rio de Janeiro, e coordenador de Mobilização Comunitária do ImPrEP (Projeto para Implementação da Profilaxia Pré-exposição ao HIV no Brasil), da Fiocruz, foi um dos voluntários que participaram do projeto I Practice, em 2009, quando foi realizado o primeiro estudo duplo cego para entender se a composição tenofovir + entricitabina tinha eficácia na prevenção do contágio pelo HIV. "Virei voluntário para contribuir com o avanço da ciência, uma vez que, comprovada a efetividade da prevenção combinada, seria um grande ganho na luta contra a Aids."
Hoje, Júlio toma a PrEP diariamente. Incorporou a medicação à sua rotina no café da manhã, para não esquecer. "Tenho uma relação sorodiscordante [em que somente um dos parceiros tem o vírus]. Utilizo o medicamento como um plus de proteção. Acredito na liberdade e na autonomia de cada indivíduo e nada impede que tanto eu quanto meu companheiro possamos nos relacionar com outras pessoas", diz.
Para ele, a PrEP tem relação direta com a liberdade que cada pessoa tem de gerenciar riscos em sua própria vida. É ter a informação e optar pela melhor forma de se cuidar.
Busca por informação
O infectologista Vinícius Borges, da Agência Aids e do Projeto Lá em Casa, é taxativo: "Se apenas o preservativo fosse a solução, a epidemia de HIV já estaria resolvida, o que não é o caso, já que está crescendo entre os jovens".
Para ele, é comum ver no público vulnerável ao HIV o uso do preservativo e da PrEP juntos, principalmente em encontros casuais marcados por meio de aplicativos.
Borges conta ainda que há grupos que fazem sexo (geralmente anal) sem preservativo, o chamado "bareback", que remete ao ato de cavalgar um cavalo sem sela. "Geralmente, nesses casos, os indivíduos estão sempre se testando e fazendo acompanhamento médico. Costumo dizer que transar sem preservativo é um direito de cada um, mas indico realização de testes trimestrais, atualização de vacinas, uso de mais lubrificantes e busca por informação. É preciso focar no cuidado com a pessoa e não apenas no ato sexual", afirma o médico, que criou no YouTube o canal Doutor Maravilha, porque percebeu que havia um despreparo dos profissionais da saúde para lidar com a soropositividade e a diversidade sexual.
O infectologista Zanella alerta que ainda há, em 2019, muito tabu e preconceito com relação ao sexo. Para ele, as Infecções Sexualmente Transmissíveis são vistas por muitos como um castigo ou algo pecaminoso. "Pensar que só o preservativo vai dar conta da proteção é um engano. Quem trabalha diretamente com sexualidade precisa fazer uma abordagem mais ampla. E as pessoas que não usam camisinha não vão se privar de sexo. Ter outras formas de prevenção do HIV é algo fantástico."
Mudança de hábito?
Para Júlio Moreira, a chamada ditadura da camisinha persiste. "Dentro de uma perspectiva epidemiológica é preciso educar a população. O preservativo há muito tempo é tido como a principal proteção. E é assim até hoje já que a PrEP não garante a prevenção de outras ISTs. Mas a informação é poder, é o que transforma a sociedade. Estamos lidando com a dicotomia que é a relação entre o prazer e o cuidado. As coisas precisam casar para que as escolhas sejam conscientes", afirma.
Os infectologistas entrevistados são unânimes em afirmar que o mais importante é a informação. Para Vinícius Borges, o uso da PrEP mudou os hábitos sexuais à medida em que as populações mais vulneráveis puderam viver sua sexualidade de forma mais tranquila e equilibrada, sem culpa ou com o fantasma da Aids que ainda paira sobre os LGBTs. "É possível ter mais liberdade para vivenciar seus desejos com qualidade de vida."
No entanto, como nem todos têm direito à Profilaxia Pré-Exposição gratuita ou podem pagar por ela, a camisinha deve continuar a ter um papel fundamental no cuidado e prevenção da Aids e de outras doenças já que é distribuída de forma gratuita no SUS e pode ser comprada por um preço mais camarada.
Novos estudos em andamento
O cabotegravir, um medicamento injetável para profilaxia de longa duração contra o HIV, está sendo testado em diversos países como Estados Unidos, Peru, Argentina, África do Sul, Vietnã e Tailândia. No Brasil, os testes são feitos em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, cidades com alta incidência de infecção por HIV.
O público-alvo são jovens com menos de 30 anos, homens gays e mulheres transexuais. O objetivo do estudo é saber se uma injeção de cabotegravir a cada oito semanas seria tão segura e eficaz para prevenir o HIV quanto a PrEP, medicação oral oferecida em forma de comprimido que deve ser tomada diariamente.
Em outubro, será dado início a mais um estudo sobre a PrEP. Voltado a homossexuais e mulheres trans, nas cidades de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza e Ribeirão Preto, vai abranger cerca de 700 pessoas. Segundo o pesquisador Alexandre Grangeiro, da USP, o intuito é analisar o uso da PrEP sob demanda. Para isso, será preciso tomar dois comprimidos até duas horas da relação sexual, um 24 horas após a relação e outro após 48 horas. A pesquisa será liderada pelo Projeto Combina, da USP, que avalia como os métodos de prevenção ao HIV disponíveis nos serviços públicos de saúde são usados, e deve beneficiar o público que atualmente está fora da população vulnerável ao risco de HIV.
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ES HOJE
Mais lucrativa e menos humana: O que os planos de saúde escondem
O excesso de exames requeridos por médicos de planos de saúde culmina em altos reajustes praticados pelas operadoras? É uma realidade das operadoras médicas que mantém os clientes internados por mais tempo do que o necessário para receber em cima das visitas? Médicos do plano recebem comissão por procedimentos indicados aos pacientes, como é o caso de quimioterapia e radioterapia? Quais são as especialidades e exames que mais oneram o plano e, consequentemente, os clientes do mesmo? Existe algum indicador de produção para premiar o médico pela sua produtividade na otimização dos atendimentos do plano? Qual foi a média de reajuste que a operadora praticou nos planos coletivos (os que têm a maior adesão)?
Essas perguntas a reportagem de ESHOJE fez aos dois planos de saúde que têm a maior cobertura no Espírito Santo: Unimed e Samp. Mas ambos se recusaram a responder. Os questionamentos foram feitos a partir de denúncias de profissionais médicos e clientes. Mas as operadoras preferiram o silêncio.
Em reportagem publicada na edição 769 (de 4 de outubro de 2019), clientes e ex-clientes reclamaram dos altos preços de mensalidades e taxas, que fez (e continuam fazendo) muita gente deixar de ser usuário de plano de saúde. Os médicos ouvidos pela reportagem garantem: atendimento de plano tem que ser rápido, para atender mais. Ou seja, não é a qualidade que é pregada, mas a quantidade. Por isso, exageros de pedidos de exames. Ou seja, uma medicina mais lucrativa e menos humana.
"Existe um excesso de exames desnecessários porque muitos médicos hoje não examinam os pacientes direito. O exame físico é essencial para a hipótese diagnóstica a qual os exames podem ajudar. Atualmente muitos dos médicos sequer encostam no paciente para examiná-lo e já pedem exames. Depois têm que fazer outros, porque aquele exame não ajudou em nada", afirma um médico urologista que preferiu não ter o nome divulgado.
Sinistralidade e ética
O aumento da sinistralidade, indicador financeiro que reflete a relação entre as mensalidades recebidas e os custos dos planos de saúde, é a repercussão do número excessivo de exames complementares, conforme afirma Otto Baptista, presidente do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Simes). "Isso é discutido em todos os planos e é a maior preocupação dos gestores. Sinistralidade tem ligação direta com aumento excessivo de exames de laboratórios, de imagens e outros procedimentos. Isso consequentemente repercute no usuário", afirma Baptista.
Ele explica que as queixas, muitas vezes dos usuários dos planos, relacionadas a consultas rápidas, são de competência do Conselho Regional de Medicina (CRM) e dos próprios planos de saúde. Mas que a humanização na medicina foi, inclusive, tema de congresso recente da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), gerando polêmica.
"Isso foi até um polêmica, a discussão de que médicos, com objetivo de atender de forma mais pratica e mais rápida já lançando mão de exames criaram uma distancia entre médico e paciente. Essa distância faz parte da critica dos médicos mais antigos que têm um outro tipo de anamnese, dinâmica, e filosofia de trato com paciente", explica.
A vice-presidente do CRM-ES, Telma Pimenta, diz que a quantidade de exames deve estar de acordo com o Código de Ética Médica. "O que recomendamos é que o paciente seja corretamente examinado, que se faça uma boa anamnese da história clínica e que posteriormente se peça o exame para corroborar o diagnóstico clínico. É direito do médico solicitar quantos exames achar que o caso necessite, sempre de acordo com a ética clínica. Caso o médico seja denunciado, vamos abrir uma sindicância e posteriormente processo para apurar se infringiu o Código de Ética", informou Telma.
Mais tempo internado, mais dinheiro
Embora o Código de Ética Médica verse em seu capítulo V, artigo 35, que é vedado ao médico "exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedimentos médicos", médicos denunciam a prática de outros colegas em relação a visitas excessivas, nas quais ganham em cima.
"Muitas vezes o paciente já teria condição de alta, só que alguns médicos vão deixando o paciente mais algum tempo lá, sem a real necessidade, para ganhar no valor da visita. Isso é ruim para o paciente, para o convênio, que gasta mais. Só é bom para este médico mesmo. Depende do plano de saúde, o valor pode ser de R$ 50 até R$ 200. Médico que tem 10 pacientes para olhar por dia, ganha R$ 2 mil a mais", conta outra profissional médica que conversou com a reportagem. Ele atende por plano e no particular.
A vice-presidente do CRM afirma que estas situações devem ser apuradas, e que a decisão de cada médico deve ser pautada pela ética. "O médico deve saber quando o paciente está em condições de receber alta ou quando deve permanecer sempre orientado pela ética", explica Telma Pimenta. Para o presidente do Simes, a prática de manter pacientes internados por mais tempo do que o necessário é passível de auditoria.
Ganhos em cima de procedimentos
Para encarecer o custo ao cliente final, planos de saúde oferecem aos médicos "parcerias". Segundo uma oncologista, há ganhos altos em cima de medicamentos quimioterápicos por parte de profissionais. "Toda a hora tem drogas novas surgindo e uma droga que surgiu há alguns anos já se tornou obsoleta. Sempre que um estudo mostra que determinada droga quimioterápica aumenta sobrevida do paciente, ela é incorporada aos anais da ANS e plano de saúde vai ter que pagar. Muitos oncologistas preferem essas drogas, até sem indicação, porque ganham uma comissão muito grande, que pode ser até 20% do valor do medicamento", afirma a fonte.
O oncologista Cristiano Drummond explica que o médico que realiza o procedimento de quimioterapia recebe um valor percentual pelo tratamento que varia. "O médico que tratou o paciente recebe pelo tratamento de quimioterapia que está fazendo. Varia de clínica para clínica. A forma de remuneração do médico passa por uma análise multifatorial: pela assiduidade no trabalho, pelo número de consultas que faz A tendência futura é que não seja remunerado pelo número de quimioterapias ou pela droga que descreveu em cima do paciente", afirma Drummond. "Está dentro da ética médica. Senão, não funcionaria no Brasil todo".
O presidente do Simes afirmou que não tem conhecimento sobre os fatos descritos, mas que o ganho em cima de procedimentos ou fármacos "fere os preceitos do código de ética médica". A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) não quis comentar.
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JORNAL OPÇÃO
Deputada assume luta antimanicomial em Goiás com projeto para humanizar tratamentos
Por Rafael Oliveira
Matéria apresentada na Assembleia Legislativa institui a semana de luta antimanicomial no Estado
A deputada estadual Lêda Borges (PSDB) apresentou um projeto na Assembleia Legislativa para instituir a semana de luta antimanicomial em Goiás. A ideia é conscientizar a ala psiquiátrica, famílias e os próprios pacientes