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DESTAQUES
Imas fixa teto de gastos com prestadores de serviços
Superintendente em Saúde fala sobre possível colapso no sistema em Goiás
Lotados, hospitais colocam cartazes nas portas para avisar que fecharam o pronto-socorro
Lotado, hospital coloca cartaz na porta para avisar que fechou o pronto-socorro, em Goiânia
Médica cotada para assumir Ministério da Saúde perde a preferência após Bolsonaro ouvir áudio atribuído à profissional
Veja principais mudanças do novo decreto de Goiânia; saiba o que pode abrir
Goiás tem 828 novos casos e 35 mortes por covid-19 em 24 horas
Ao Jornal Opção, médica goiana cotada para Ministério da Saúde diz que Brasil paga preço por fazer “tudo errado” na pandemia
MP recomenda que hospitais particulares mantenham prontos-socorros em funcionamento
TV ANHANGUERA
Imas fixa teto de gastos com prestadores de serviços
https://globoplay.globo.com/v/9347172/
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Superintendente em Saúde fala sobre possível colapso no sistema em Goiás
https://globoplay.globo.com/v/9347023/?s=0s
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Lotados, hospitais colocam cartazes nas portas para avisar que fecharam o pronto-socorro
https://globoplay.globo.com/v/9347160/?s=0s
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PORTAL G1
Lotado, hospital coloca cartaz na porta para avisar que fechou o pronto-socorro, em Goiânia
Associação afirma que unidades estão suspendendo atendimentos por incapacidade de receber novos pacientes, por falta de profissionais, equipamentos e insumos. Neste domingo, rede privada e pública estão com todas as UTIs para Covid-19 ocupadas na capital. MP pediu que as unidades não fechem as portas.
Por Millena Barbosa e Ana Paula Moreira, G1 GO e TV Anhanguera
Com todos os leitos de enfermaria e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) lotados, o Hospital Jacob Facuri, em Goiânia, fechou o pronto-socorro para novos pacientes. O aviso que informa a falta de vagas foi publicado nas redes sociais da unidade. Em uma recomendação, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) pediu que as unidades não fechem as portas.
Na manhã deste domingo (14), tanto a rede privada quanto a pública da capital estavam com 100% de ocupação dos leitos de UTI para tratamento de pacientes com Covid-19, segundo o Painel da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO).
A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) confirmou, por meio de nota, que os hospitais estão sendo obrigados a suspender temporariamente o atendimento nos prontos-socorros por total incapacidade de receber novos pacientes, por falta de profissionais, equipamentos e insumos.
Na manhã de sábado (13), a TV Anhanguera entrou em contato com outros três hospital particulares da capital, que foram unânimes em dizer que as unidades estão atendendo com a capacidade máxima operacional. Em um deles, a atendente chegou a informar que um paciente aguardava há três dias por uma vaga de internação.
“Atender a gente atende. Você está me perguntando se tem vaga, falei que não, no momento não. Eu tenho um paciente que está aguardando desde ontem, não, desde anteontem. Tem três dias que ele está aqui (…). Tem que vir aqui, retirar a senha e aguardar. A gente não sabe que horas o paciente vai sair [ser atendido]”, disse.
Colapso do sistema de saúde
Em entrevista à TV Anhanguera, a presidente da Sociedade Goiana de Infectologia (SGI), Cristiane Kobal, afirmou que Goiás enfrenta atualmente um colapso no sistema de saúde tanto da rede privada quanto da rede pública. De acordo com ela, os profissionais que atuam na linha de frente do combate à pandemia não estão conseguindo oferecer o tratamento adequado para todos os pacientes, justamente por falta de vagas.
“Se o colapso na saúde for não ter leitos o suficiente em tempo hábil para tratar os pacientes graves, eu entendo que estamos em colapso. Ou seja, eu não estou dando a oportunidade de tratamento adequado para aquele paciente que está com a forma grave da doença. Estamos enfrentando uma dificuldade tremenda de acharmos vaga tanto na rede pública quanto na rede privada para doente grave com Covid-19”, afirmou.
Questionada sobre o sistema de saúde em Goiás estar em colapso, a superintendente em Vigilância de Saúde SES-GO, Flúvia Amorim, afirmou que, levando em consideração a pior fase da pandemia, com recordes de mortes e internações, o estado enfrenta atualmente uma situação gravíssima, que pode ser chamada de estado de calamidade.
“Independente da terminologia utilizada, se é colapso ou estado de calamidade, que é como a gente tem classificado, inclusive nas várias regiões do estado, o que nós temos nesse momento é, com certeza, uma situação gravíssima. É uma situação onde a gente tem visto a cada dia o número de mortes acontecendo, pessoas sendo infectadas. E a gente sabe quais são as ferramentas para diminuir esse dano que tem sido causado na população, que é a vacina ou a taxa de isolamento”, afirmou.
Segundo o último balanço da SES, divulgado na tarde de sábado, Goiás registrou 432.878 pessoas contaminadas e 9.537 mortes por coronavírus desde o início da pandemia. Foram 2.501 casos positivos e 65 mortes por coronavírus nas últimas 24 horas.
Com o aumento no número de contaminados, a Prefeitura de Goiânia decretou, também no sábado, o fechamento do comércio não essencial por mais 14 dias no município, como forma de tentar com o avanço da pandemia.
Unidades devem continuar abertas
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) recomendou aos hospitais particulares de Goiânia que mantenham as unidades de pronto-socorro em funcionamento. A recomendação foi assinada no último sábado (13), com a argumentação de que as unidades devem continuar atendendo por se tratar de um serviço essencial.
Segundo o órgão, a medida foi tomada diante da constatação de que estabelecimentos de saúde fecharam suas unidades de pronto-atendimento sob o argumento de que não há leitos, por conta do aumento no número de internações decorrentes da pandemia de coronavírus. No entendimento dos promotores de Justiça Antônio de Pádua Rios e Susy Áurea Carvalho Pinheiro, responsáveis pela recomendação, a negativa de atendimento pode incorrer em crime.
A recomendação do MP foi encaminhada para os hospitais Jacobi Facuri e Ruy Azeredo, ambos da rede privada. De acordo com o órgão, chegou ao conhecimento do MP que tais unidade fecharam seus prontos-socorros e, com isso, estariam “infringindo dispositivos da Constituição Federal e do Código Penal, além de normativas relacionadas à contenção da pandemia pelo coronavírus”.
O G1 entrou em contato com os dois hospitais citados, por e-mail, na manhã deste domingo, e aguarda retorno das unidades sobre a recomendação do MP.
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O GLOBO
Médica cotada para assumir Ministério da Saúde perde a preferência após Bolsonaro ouvir áudio atribuído à profissional
Em gravação antiga, recebida por Bolsonaro após se reunir com Ludhmilla Hajjar no Planalto, presidente é chamado de ‘psicopata’. Bolsonaristas criticam cardiologista nas redes
Cotada para assumir o Ministério da Saúde, a cardiologista Ludhmila Hajjar perdeu a preferência na lista de nomes avaliados pelo governo para o cargo. A indicação da médica perdeu força no mesmo dia em que ela foi recebida pelo presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Ao longo deste domingo, chegaram a Bolsonaro informações que circulam nas redes sociais sobre declarações da médica nos últimos anos, incluindo um áudio atribuído a Hajjar em que o presidente é chamado de “psicopata”.
No áudio, recebido por Bolsonaro após se encontrar com a cardiologista no Planalto, a interlocutora defende a eleição do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), para presidente, chamando-o de “corajoso”. No início da pandemia da Covid-19, Caiado determinou medidas de restrição de circulação e confrontou Bolsonaro por declarações em que o presidente minimizava o impacto do vírus.
— Nem sei o que vai acontecer com esse Brasil. Vai pegar fogo. Só sei que quero o Caiado presidente, só isso. Porque ele foi corajoso. Chega. Tem que cair esse JB. É um psicopata — disse a mulher no áudio enviado ao presidente e ao qual O GLOBO também teve acesso.
Nas redes sociais, seguidores do presidente reagiram com críticas à possibilidade de nomeação de Ludhmilla, citando um vídeo em que a médica aparece numa conversa com a ex-presidente Dilma Rousseff. A cardiologista também é criticada pela militância bolsonarista por defender posicionamentos que são consenso na comunidade científica, como a inexistência de um “tratamento precoce” eficaz contra a Covid-19, além da adoção de medidas de isolamento social.
Depois que O GLOBO divulgou que a demissão do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, estava definida pelo presidente Bolsonaro e que Ludhmila era uma das cotadas para o cargo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) saiu em defesa da cardiologista. “Coloquei os atributos necessários para o bom desempenho à frente da pandemia: capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas. São exatamente as qualidades que enxergo na doutora Ludhmila”, escreveu Lira.
“Espero e torço para que, caso nomeada ministra da Saúde, consiga desempenhar bem as novas funções. Pelo bem do país e do povo brasileiro, nesta hora de enorme apreensão e gravidade. Como ministra, se confirmada, estarei à inteira disposição”, complementou o presidente da Câmara em outra publicação.
A possível demissão de Pazuello vem sendo discutida por Bolsonaro desde o início do fim de semana, em meio à pressão de parlamentares do Centrão.
Em nota divulgada neste domingo, o Ministério da Saúde disse que “até o presente momento” Pazuello segue à frente da pasta, “com sua gestão empenhada nas ações de enfrentamento à pandemia”. Através de um assessor, Pazuello afirmou, em uma rede social, que não está doente, mas que entregaria o cargo “assim que o presidente solicitar”.
“Não estou doente, não entreguei o meu cargo e o presidente não o pediu, mas o entregarei assim que o presidente solicitar. Sigo como ministro da saúde no combate ao coronavírus e salvando mais vidas”, escreveu o assessor, atribuindo as aspas ao próprio Pazuello.
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A REDAÇÃO
Veja principais mudanças do novo decreto de Goiânia; saiba o que pode abrir
A prefeitura de Goiânia publicou neste sábado (13/3) novo decreto indicando quais medidas serão tomadas para o enfrentamento frente à pandemia de covid-19. O documento define que a partir desta segunda (15/3) as atividades não essenciais, econômicas e não econômicas, terão seu funcionamento suspenso pelos próximos 14 dias, seguidos por 14 dias de abertura.
O novo decreto mantém para os próximos 14 dias as restrições previstas no decreto anterior, que obrigou o fechamento das atividades não essenciais por 7 dias, inicialmente, e que acabou se estendendo por mais uma semana. Mas algumas normas foram acrescentadas, como a obrigatoriedade de supermercados venderem exclusivamente alimentos, bebidas, produtos de higiene, saúde e limpeza.
Restaurantes e lanchonetes estão autorizados a funcionar apenas nas modalidades delivery, drive thru e pegue/leve. Já as escolas terão de fechar as portas e funcionarem apenas na modalidade remota. As igrejas e organizações religiosas também estão proibidas de realizar missas, cultos, celebrações e reuniões coletivas similares de forma presencial – são permitidos atendimentos individualizados.
Após a divulgação do decreto, o procurador-geral do município, Antônio Flávio de Oliveira, concedeu entrevista coletiva explicando as normas. Ele reforçou que o transporte coletivo deve continuar funcionando apenas com pessoas sentadas nos ônibus. Segundo Oliveira, a fiscalização será intensificada.
“As coisas só vão ficar normais depois de 14 dias se a gente conseguir diminuir a curva (de contaminação)”, enfatizou o procurador-geral. De acordo com ele, a situação nunca foi tão grave quanto agora, o que pode ser visto, conforme Oliveira, nos sistemas de saúde, que estão colapsando todos os dias.
Principais mudanças do novo decreto:
– Supermercados e congêneres, não se incluindo lojas de conveniência, permitida a venda exclusivamente de alimentos, bebidas, produtos de higiene, saúde e limpeza, ficando expressamente vedado o consumo de gêneros alimentícios e bebidas no local, bem como o acesso simultâneo de mais de uma pessoa da mesma família, exceto nos casos em que necessário acompanhamento especial;
– Hotéis, pousadas e correlatos, devendo ser respeitado o limite de 65% (sessenta e cinco por cento) da capacidade de acomodação, ficando autorizado o uso de restaurantes exclusivamente para os hóspedes, devendo ser observados protocolos específicos estabelecidos pela Secretaria Municipal de Saúde;
– Obras da construção civil de infraestrutura do poder público, de interesse social, bem como as relacionadas a energia elétrica, saneamento básico e as hospitalares;
– Restaurantes e lanchonetes, exclusivamente nas modalidades delivery, drive thru e pegue/leve;
– Estabelecimentos privados de ensino regular nas etapas infantil, fundamental e médio, somente na modalidade remota;
– Organizações religiosas para atendimentos individualizados previamente agendados, ficando vedada a realização de missas, cultos, celebrações e reuniões coletivas similares, salvo no caso de celebrações para público não-presencial, por meio de transmissão por mídias sociais ou televisivas.
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Goiás tem 828 novos casos e 35 mortes por covid-19 em 24 horas
Dados divulgados neste domingo (14/3), pela Secretaria de Estado da Saúde, indicam que Goiás registrou 828 novos casos de covid-19 e 35 mortes pela doença nas últimas 24 horas.
Ao todo, já são 433.706 casos confirmados no território goiano. Destes, há o registro de 411.180 pessoas recuperadas e 9.572 óbitos. A taxa de letalidade é de 2,21%.
O Estado tem 364.374 casos e 246 óbitos suspeitos em investigação.
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JORNAL OPÇÃO
Ao Jornal Opção, médica goiana cotada para Ministério da Saúde diz que Brasil paga preço por fazer “tudo errado” na pandemia
Por Mayara Carvalho
Médica cardiologista e intensivista lamenta que presidente e governadores se mantenham em briga quando esforços deveriam estar voltados ao combate da Covid-19 no Brasil, a aquisição de vacinas e a necessidade de adotar medidas protetivas
Após a notícia de que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, comunicou ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que deverá deixar o comando do ministério para tratar de problemas de saúde, o nome da médica anapolina Ludhmila Abrahão Hajjar tem sido cotado como o favorito para assumir a Pasta;
Ludhmila teria o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e de deputados do Centrão para assumir a vaga.
Confira abaixo o que pensa a médica que atua na linha de frente no tratamento de pacientes com Covid-19 desde o início da pandemia no Brasil, entre fevereiro e março de 2020 em entrevista ao Jornal Opção no dia 7 deste mês.
Ludhmila é médica cardiologista e intensivista que atua em São Paulo, e se tornoi uma das referências na doença. Professora associada da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP), a goiana diz que o Brasil apresentou avanços no tratamento da Covid-19 em um ano, mas apresentou retrocessos nas medidas sanitárias e sociais de contenção do avanço do coronavírus (Sars-CoV-2).
“Foi uma ineficiência na adoção de medidas que poderiam ter minimizado muito a prevalência da doença”, lamenta a médica supervisora da Cardio-Oncologia do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC-FM/USP). Coordenadora da Cardiologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Ludhmila Hajjar critica o momento que vivemos na pandemia. “Hoje temos um número muito pequeno da população vacinada. Isso tudo tem um resultado hoje catastrófico, que estamos, infelizmente, assistindo no nosso dia a dia.”
Para a vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Cardiologia da FM/USP e diretora de Ciência, Inovação e Tecnologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o Brasil perde muito em gastar energia e assistir a presidente e governadores em guerra para discutir quem deu mais ou menos dinheiro para combater a Covid-19. “Tem de haver um plano organizado e sistemático. O que já deveria ter sido feito. O Brasil deveria estar hoje com cinco ou seis vacinas disponíveis”, observa Hajjar, que atua na Rede D’Or e já foi coordenadora da UTI Cardio Covid do Instituto Central do HC da Faculdade de Medicina da USP.
“A questão de fazer lockdown e toque de recolher tem de ser tratado Estado por Estado, semana a semana, pelos técnicos e cientistas locais. Não acredito que deve haver uma medida nacional única que sirva para todo o Brasil. Tem de ser tratado individualmente”, avalia a cardiologista e intensivista goiana. Formada pela Universidade de Brasília (UnB), com residência em Clínica Médica no HC-FM/USP e em Cardiologia no InCor da Universidade de São Paulo, Hajjar diz que, mesmo com todo o cenário catastrófico vivido pelo Brasil com combate à pandemia, ainda confia que a situação pode mudar. “Eu sempre acredito. Não digo reverter, mas minimizar a gravidade, reduzir o tamanho da perda. Tem de haver uma transformação da sociedade como um todo.”
Especialista em Clínica Médica, Cardiologia, Terapia Intensiva, Medicina de Emergência e Livre-Docência em Cardiologia Crítica pela Faculdade de Medicina da USP, a anapolina não pouca crítica aos médicos que defende o ineficaz tratamento precoce contra a doença. “Imagine, Augusto, se só o Brasil teria a cura dessa doença! Só os instagrammers, tuiteiros e os youtubers brasileiros saberiam como tratar a fase precoce. Isso é uma vergonha internacionalmente discutida.” Para Hajjar, defender e propagar o uso de medicamentos já descartados pela ciência contra a Covid-19 é um ato de ignorância. “É uma conjunção de fatores – o não conhecimento e a não adoção de práticas baseadas em evidências científicas – que só coloca a vida das pessoas em risco”, alerta.
O que mudou passado um ano de pandemia da Covid-19 no Brasil? O que enfrentamos de desconhecido em 2020 e o que estamos enfrentando em 2021?
Tivemos avanços nos tratamentos, mas tivemos retrocessos nas medidas sanitárias e nas medidas sociais. O que estamos assistindo agora é realmente uma onda de aceleração no número de casos e do número de mortes com, mais uma vez, o colapso do sistema de saúde. Ao mesmo tempo que avançou a terapia e avançou o diagnóstico, melhorou o rastreio dos casos, a desaceleração e a incongruência nas medidas sanitárias foram, infelizmente, responsáveis pelo o que estamos vivendo hoje.
Quando a sra. cita incongruências e relaxamento nas medidas sanitárias, quais foram especificamente os erros cometidos?
Foi uma ineficiência na adoção de medidas que poderiam ter minimizado muito a prevalência da doença. Ao mesmo tempo, não tivemos uma liderança nas três esferas que pudesse falar a língua do povo, que pudesse organizar a resposta das pessoas e da população. Não tivemos medidas sociais para tentar adequar todas as medidas protetivas que são orientadas.
E, ao mesmo tempo, não tivemos uma política de adoção das vacinas que pudesse ter atendido a população de uma maneira geral. Hoje temos um número muito pequeno da população vacinada. Isso tudo tem um resultado hoje catastrófico, que estamos, infelizmente, assistindo no nosso dia a dia.
Como podemos avançar na vacinação? O básico seria a compra de mais vacinas? Há algo mais a ser feito?
Sem dúvida a compra. Mas a compra não é só ter o recurso e comprar. Depende de uma reconstrução rápida de uma política internacional. Depende de o Brasil demonstrar que está em uma situação frágil e que precisa de ajuda. E depende, ao mesmo tempo, de existir uma união de todas as esferas da sociedade, do governo federal, estadual e municipal, entidades clínicas, entidades públicas e privadas no sentido de organizar uma sistemática de aquisição de vacinas e de transferência de tecnologia para o Brasil produzir.
É um assunto que não pode ser tratado na miudeza e nem na necessidade diária. E, sim, tem de haver um plano organizado e sistemático. O que já deveria ter sido feito. O Brasil deveria estar hoje com cinco ou seis vacinas disponíveis. E o Brasil não fez isso. Mas ainda dá tempo de fazer. E é o que temos cobrado incessantemente.
Vemos os governadores e secretários estaduais de saúde discutirem com o Ministério da Saúde a adoção de um toque de recolher nacional das 20 às 6 horas. É o suficiente para tentar conter o avanço dos casos de Covid-19?
Não concordo com a medida. Discordo completamente. O Brasil é um país continental que tem 27 Estados. Cada Estado tem a sua epidemiologia local, a sua realidade, o seu número de leitos. A questão de fazer lockdown e toque de recolher tem de ser tratado Estado por Estado, semana a semana, pelos técnicos e cientistas locais. Não acredito que deve haver uma medida nacional única que sirva para todo o Brasil. Tem de ser tratado individualmente.
O que tem de ser tratado sistematicamente é a adoção das políticas de proteção e da distribuição das vacinas. E, obviamente, do reforço do sistema de saúde. Isto tem de envolver todas as esferas e tem de ser feito universalmente. Mas a questão do lockdown e do toque de recolher nacionalizado eu discordo completamente porque o Brasil tem realidades distintas em cada Estado, em cada município. E a pandemia é dinâmica. Hoje tem um Estado com falta de leito, amanhã tem outro Estado com sobra de leito. É assim que funciona. Não acredito que a realidade tem de ser a mesma.
Mas a responsabilidade passada para o povo, o momento atual, o momento de um ajudar o outro, tem de ser difundido de uma maneira igual.
Em Goiás, tanto a rede pública quanto a particular de UTIs e enfermarias destinadas ao atendimento de pacientes com Covid-19 superaram 95% de ocupação. Foi quando a Região Metropolitana de Goiânia decidiu pelo fechamento das atividades econômicas consideradas não essenciais. No primeiro dia de vigor da medida, só 32,6% da população do Estado ficou em isolamento social. Há uma resistência da população em aderir às medidas restritivas?
Há uma resistência, sim, no sentido de que não tem uma ordem nacional neste aspecto. Há muita controvérsia. As pessoas não sabem se acreditam ou não. Na verdade, a primeira coisa que devemos fazer enquanto país é tentar unir as forças no combate à pandemia. Isto eu não vejo até agora.
É lamentável ver governador brigar com o presidente, presidente brigar com governador. Toda esta energia tinha de ser usada no combate à pandemia. Este é o problema. Isto não está sendo feito. No que o povo vai acreditar? Na propaganda da televisão, no que o presidente fala, no que o Ministério da Saúde orienta ou no que o governador fala? O discurso tem de ser um só.
É óbvio que o isolamento social tem de ser preservado, todas as pessoas têm de estar aderentes. Agora, se é lockdown ou toque de recolher depende do Estado. Depende do Estado e depende do município. Mas isolamento social tem de ser para todos. O problema é que as pessoas perderam o crédito na classe política, perderam o crédito em muitos órgãos de imprensa, cada um falando uma coisa.
Por outro lado, os conselhos de medicina muitas vezes adotando fake news, não ajudando a população, só piorando tudo com a venda de uma imagem de que o tratamento preventivo com aquelas medicações completamente ineficazes pode salvar as pessoas. Um conjunto de erros que culminou agora nesta tragédia que o Brasil está vivendo.
Na minha opinião, o que realmente faltou foi ciência, combater o negacionismo, união das classes. Não tem sentido, no momento em que as pessoas estão morrendo por falta de leitos, governador e presidente ficar trocando farpas, um que deu muito dinheiro, o outro que não deu dinheiro. O que que é isso? Era para estar todo mundo buscando fazer diagnóstico, tratar os doentes, aumentar o número de leitos, não deixar de atender os outros doentes que têm outras doenças.
Vamos lembrar que quando explodem os casos de Covid-19, o que tem ocorrido com os infartos? Onde é que estão os doentes? Cadê as consultas dos cânceres que não podem esperar? Alguém está pensando nisso? Não. Só se fala que não tem leito, não tem leito, não tem leito. Sendo que o sistema de saúde tem de mudar.
Eu tenho de pegar meu hospital, seja público ou privado, e tenho de organizar este hospital para continuar atendendo câncer, continuar atendendo infarto e aumentar o número de leitos para Covid. Com o dinheiro da iniciativa privada, com o dinheiro do Ministério da Saúde, com o dinheiro da Secretaria da Saúde e não ficar tuitando coisa.
Realmente há uma desordem nacional, uma desconfiança gigantesca que a população está vivendo e isso tem nome. As pessoas… na própria classe médica, quanta gente atrapalha o tratamento da doença difundindo medicações fantasiosas, difundindo cura da doença, sendo que essas pessoas deveriam estar buscando fazer diagnóstico, assistir os pacientes, aumentar o número de leitos.
É tanto erro, tanto erro, tanto erro. E agora estamos pagando.
“Boa parte dos médicos que defendem tratamento precoce para Covid-19 são completos ignorantes na profissão”
Por que parte da classe médica e dos conselhos regionais de medicina tem defendido o tratamento precoce mesmo com várias pesquisas confirmadas por cientistas independentes de que os remédios propagados não têm eficácia alguma para Covid-19?
Deve-se a dois fatores. Um é ignorância. Infelizmente, o Brasil é um país que nos últimos anos investiu nada em educação. As faculdades de medicina estão cada vez piores. Digo de uma maneira genérica, mas essa é a verdade. O médico tem uma formação cada vez pior. Boa parte dos que dizem isso são completos ignorantes na profissão.
Segundo, tem uma questão de vaidade. Muita gente quer aparecer, que ter paciente, quer ter nome no jornal, quer dar entrevista. Pegaram uma retórica. Construíram uma narrativa. Na construção dessa narrativa, essa pessoa passa a ser ouvida, passa a ter paciente, a atender por telemedicina.
Gente que não tinha espaço, gente que tinha um trabalho comum. Infelizmente, tem um pouco de aproveitamento da situação atual, do sofrimento das pessoas, porque é absolutamente absurdo, associado a uma ignorância, que, infelizmente, hoje está no nosso Brasil não só nos profissionais da saúde, mas em muitas pessoas.
E cabe a nós combater isso com a ciência, com a educação. Olhar para um país de futuro e ver o tanto que deixamos de investir. Imagine, Augusto, se só o Brasil teria a cura dessa doença! Só os instagrammers, tuiteiros e os youtubers brasileiros saberiam como tratar a fase precoce. Isso é uma vergonha internacionalmente discutida.
Sabemos que cloroquina não funciona há muitos meses, que azitromicina não funciona há muitos meses, que ivermectina não funciona há muitos meses. Mas ainda tem esses kits por aí. Tem conselhos que defendem. Tem conselhos que não negam. É uma conjunção de fatores – o não conhecimento e a não adoção de práticas baseadas em evidências científicas – que só coloca a vida das pessoas em risco.
Tivemos dois momentos emblemáticos recentes na pandemia. Na quinta-feira, 25 de fevereiro, foram confirmadas 1.582 mortes em 24 horas [número superado por dois dias seguidos na semana passada]. Na mesma data, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi para live semanal criticar o uso de máscara com base em uma enquete feita na Alemanha, mas a utilizou como se fosse um estudo científico. Como convencer a população a usar a máscara da forma correta, tampando boca e nariz, e não no queixo, em um contexto assim?
A pesquisa científica da Alemanha citada é uma vergonha. É um questionário. Não teria nem que ser discutido. Quem faz isso refuta tudo que há de ciência. A máscara e a vacina são as duas melhores maneiras de se prevenir. É mais um fruto da falta de conhecimento, que é o que estamos – de uma maneira lamentável – vivendo.
Em meio à confusão de informações falsas, como insistir para que as pessoas adotem protocolos básicos de prevenção e higiene pessoal contra a doença?
Tem de insistir. É um trabalho da imprensa, dos profissionais da saúde, da sociedade, dos nossos líderes. Tem muitos líderes sérios fazendo um excelente trabalho. É preciso realmente que a sociedade acorde, olhar o que está acontecendo na própria janela, na vida, nas portas dos hospitais, com as famílias perdendo pessoas.
Não era nunca para estarmos em crescimento do número de doentes mortos sendo que o mundo todo demonstra uma queda. O Brasil está fazendo tudo errado e está pagando um preço por isso.
A sra. acredita que ainda dá tempo de reverter a situação?
Eu sempre acredito. Não digo reverter, mas minimizar a gravidade, reduzir o tamanho da perda. Tem de haver uma transformação da sociedade como um todo. A pessoa, o paciente, o cidadão tem de ter um engajamento na sua vida, sobre a sua saúde. Isso é fato. A começar da responsabilidade de cada um.
Segundo, tem de haver uma mudança de comportamento básico da classe política de uma maneira geral. É momento de união. Eu, como médica, estou na linha de frente desde o início da pandemia no Brasil. Fico extremamente triste quando vejo que, ao invés de estarem unidos, nossos líderes estão discutindo para ver quem deu e quem não deu recurso. Não tem cabimento!
Agora é hora de olhar para as pessoas, para os pacientes, para os hospitais e para o sistema de saúde. Para o sistema de transporte, para as medidas protetivas, para a aquisição de vacinas. Tem de haver um choque nessa história. Parece que as pessoas estão adormecidas.
Vimos nas últimas duas semanas os hospitais particulares Albert Einstein e Sírio-Libanês em São Paulo serem obrigados abrir fila de espera para transferência de pacientes para leitos de UTI destinados ao tratamento de Covid-19.
Todos os hospitais de São Paulo. A Rede D’Or inteira, que tem mais de 50 hospitais no Brasil, está abrindo leitos. Porque nós não vamos deixar de atender os pacientes de fora, os que foram transferidos. Não vamos deixar de atender os pacientes cirúrgicos com outros problemas clínicos. De jeito nenhum!
Por muito tempo, divulgou-se que os jovens poderiam ser menos afetados pela Covid-19 na evolução para quadros clínicos graves da doença. E agora vemos uma quantidade grande de jovens internados, inclusive nos óbitos.
É verdade. Mudou um pouco o comportamento da doença. Hoje temos jovens de 20, 30 e 40 anos intubados com forma grave de Covid-19. Isso é comum nas doenças infecciosas na medida em que os vírus vão circulando e adquirem formas mais graves, mesmo em população de menor risco. Isso é fato.
Quando o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta foi demitido do Ministério da Saúde em 16 de abril de 2020, o nome da sra. surgiu na imprensa como possível substituta na pasta. Chegou a ser convidada pelo presidente Jair Bolsonaro na reunião que participou em Brasília pouco antes da saída de Mandetta do governo?
Muita especulação. Agora o Brasil tem de focar não em que irá substituir, e sim em entender que a saúde é uma política de Estado, não do governo atual. Sou médica. Sou médica de beira de leito. Não sou política. Não tenho qualquer tipo de objetivo de vida política.
Meu objetivo é ser médica. Neste momento, estou pronta para ajudar os pacientes, entendeu? Sempre disse isso. As pessoas querem politizar tudo. É hora de a sociedade olhar para a doença. E para os pacientes.
A sra. nasceu em Goiás.
Sou de Anápolis.
Qual é a relação da sra. com o Estado e a cidade de Anápolis?
É ótima. Sou muito amiga do governador [Ronaldo] Caiado (DEM). Participo de muitas decisões, inclusive da minha cidade, com o prefeito Roberto Naves (PP). Sou uma conselheira e amiga.
Seu pai, o empresário Samir Hajjar, de 69 anos, teve Covid-19 e a sra. decidiu pela internação dele. Como foi passar pela situação de ter de tratar do próprio pai no hospital?
Meu pai me ligou e disse, em uma terça-feira, que estava se sentindo estranho. Fiz um vídeo com meu pai, ele em Anápolis e eu aqui em São Paulo. Ele estava com muita febre. Pedi para que ele fosse imediatamente para Brasília. Na hora já desconfiei de Covid.
Quando meu pai chegou a Brasília, já estava com a saturação baixa. Os primeiros sintomas foram febre e uma dor lombar. Não teve falta de ar, como é típico dessa doença. Quando ele fez a tomografia em Brasília naquela mesma noite, eu acompanhando tudo a distância, meu pai já estava com 70% dos pulmões inflamados, acometidos.
No outro dia eu já o internei na UTI do Hospital DF Star, de Brasília, da Rede D’Or. No dia seguinte, peguei um avião pela manhã e fui para Brasília. Fiquei com meu pai por 48 horas e na sexta-feira decidi trazê-lo porque o quadro estava se agravando. Primeiro, eu precisava ficar perto dele o tempo todo. Segundo, apesar de Brasília contar hoje com uma estrutura muito boa, queria que meu pai estivesse em São Paulo caso fosse necessária a intubação orotraqueal, a ventilação mecânica invasiva.
Foi bem difícil para mim. Foram dias muito tensos. Mas, ao mesmo tempo, no final foi bastante recompensador. Eu mesma que cuidei do meu pai no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo. Fui a médica dele e fiquei extremamente feliz em poder ter participado de sua cura. Claro que contei com assistentes e toda equipe de saúde, mas eu era responsável por examiná-lo, fazer a prescrição, por cuidar e tomar as decisões.
Meu pai passou perto de ser intubado. Mas já naquela ocasião, eu lancei mão do corticoide, do anticoagulante, do plasma e do tocilizumabe. Hoje, depois de algum tempo, essas medicações fazem parte de uma evidência científica maior. Só tenho a agradecer a Deus e à estrutura hospitalar do nível que ele teve. Sempre disse que desejo a todos os pais que tenham o que o meu pai teve.
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MP recomenda que hospitais particulares mantenham prontos-socorros em funcionamento
Por Mayara Carvalho
Hospitais Jacob Facuri e Ruy Azevedo tinham suspendido o atendimento de pronto-atendimento sob o argumento de que não há leitos, situação decorrente da superlotação ocasionada pela pandemia da Covid-19
Após tomar conhecimento de que dois hospitais particulares de Goiânia, Jacob Facuri e Ruy Azevedo, fecharam suas unidades de pronto-socorro ob o argumento de que não há leitos, situação decorrente da superlotação ocasionada pela pandemia da Covid-19, o Ministério Público de Goiás recomendou às unidades que mantenham o atendimento de pronto-socorro em funcionamento por se tratar de serviço essencial,
De acordo com o MP-GO, a negativa de atendimento pode incorrer em crime infringe dispositivos da Constituição federal e do Código Penal, além de normativas relacionadas à contenção da pandemia pelo coronavírus.
“Os hospitais, em que pese fazerem parte da rede privada, devem obedecer às normativas do Sistema Único de Saúde (SUS), pois integram também a Saúde Suplementar”, defendem os promotores Antônio de Pádua Rios e Susy Áurea Carvalho Pinheiro.
Eles também argumentam que a negativa de atendimento pode gerar subnotificação de casos da Covid-19, mascarando a real situação da pandemia na capital.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação