ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
Laboratórios privados oferecem testes rápidos e PCR para covid-19
Médicos de cuba vivem de bicos
Voluntários da batalha
345 mortes têm causa incerta
OMS não se desculpou por reviravoltas com hidroxicloroquina
População com anticorpos aumentou 50% em 14 dias
Planos de seguro de vida se adaptam em função da pandemia
Falta de testes atinge rede privada e atrasa diagnósticos de Covid
Família deixa de velar idosa por covid-19, mas depois recebe resultado negativo
A REDAÇÃO
Laboratórios privados oferecem testes rápidos e PCR para covid-19
A Redação
Goiânia – A presidente da Federação dos Hospitais, Laboratórios, Clínicas de Imagem e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás (Fehoesg) e do Sindicato dos Laboratórios de Análises e Banco de Sangue do Estado de Goiás (Sindilabs-GO), Christiane Maria do Valle Santos, explica que o PCR tem uma indicação específica e que há outras formas de testagem dos pacientes.
Testes
O PCR, segundo ela, é importante na fase inicial da contaminação, nos primeiros sete dias, para a detecção da presença do novo coronavírus. Após esse período, entre o oitavo e o 16º dia, deve ser realizado o teste rápido, que detecta a presença de anticorpos, revelando se a pessoa já teve ou não contato com o vírus.
“O PCR realizado a partir do oitavo dia pode dar um resultado negativo, mesmo em pacientes que tenham sido contaminados”, diz, ressaltando que antes de falar em falta de exames é necessário esclarecer a população sobre a indicação de cada tipo de teste existente no mercado.
Laboratórios
Atualmente, vários laboratórios goianos realizam os testes rápidos e três privados da capital, além do contratado pela prefeitura de Goiânia, fazem também o PCR. “São laboratórios que já atendem a população e que estão à disposição das prefeituras e de grandes empresas para a testagens em massa com testes rápidos e PCR, o que vai contribuir para a identificação de um maior número de casos de covid-19”, afirma, ressaltando que há alternativas para a solução do problema apontado nas reportagens.
………………
O POPULAR
Médicos de cuba vivem de bicos
No Estado, 59 profissionais da saúde que vieram trabalhar no Brasil pelo programa Mais Médicos e decidiram ficar no Estado passam dificuldades por não terem o diploma validado
Desde que chegou a Goiânia, há um ano e meio, a médica cubana Nancy Bell Garcia, de 31 anos, tem sobrevivido de bicos. Já trabalhou como garçonete, ajudante de restaurante e ultimamente como cuidadora de idosos. Ex-integrante do Mais Médicos, ela veio de seu país para Governador Archer (MA) e, quando perdeu a vaga após o fim do programa nos moldes anteriores, decidiu migrar para Goiás em busca de novas oportunidades. Sua situação só piorou com a chegada do isolamento social em razão da pandemia do novo coronavírus. Nancy não está sozinha. Quase 60 profissionais médicos de seu país que vivem em Goiás estão na mesma condição.
"Eu não perco a esperança porque preciso muito. As contas estão chegando, mas com a situação da pandemia tem muita gente sem trabalhar", conta Nancy, que, como alguns colegas, já recorreu à organização não governamental (ONG) Refúgio Brasil para pedir ajuda. Ela foi dispensada do último trabalho que tinha conseguido, como cuidadora de idosos, por causa da pandemia. Ela e outros colegas cubanos que sobrevivem de bicos organizaram uma base de dados e fizeram há cerca de um mês uma carta endereçada ao governador Ronaldo Caiado (DEM), ao presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia (DEM), ao presidente do Senado Federal, senador Davi Alcolumbre (DEM) e parlamentares goianos, discorrendo sobre o drama que vivem e pedindo ajuda para que sejam aproveitados durante a pandemia do novo coronavírus.
Cerca de 700 médicos cubanos no País, entre eles 59 que vivem em Goiás, não conseguiram se beneficiar da portaria do Ministério da Saúde (MS) de 26 de março deste ano, que concedeu a eles registro único para o exercício da medicina no âmbito do Mais Médicos, ampliando por mais dois anos a permanência deles no Brasil (veja matéria ao lado). Pela Lei Nº 13.958/2019, que recriou o programa, os cubanos seriam reaproveitados se comprovassem vínculo com o Mais Médicos ao fim da cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas); terem sido desligados do programa em função da ruptura do acordo; e ter permanecido no Brasil até a data de publicação da Medida Provisória nº 890, de 1º de agosto de 2019, na condição de naturalizado, residente ou com pedido de refúgio.
O "ter permanecido no Brasil" é o detalhe que está deixando esses profissionais em situação difícil. Como o programa foi interrompido antes do tempo, muitos aproveitaram para visitar os familiares em Cuba antes da decisão do governo de retomar o Mais Médicos. Foi o que ocorreu com Miguel Ángel Lopez Lazaga, de 54 anos. "Trabalhei cinco anos e minha viagem coincidiu com minhas férias. Tenho status migratório que me permite fazer isso", afirma. Ele esperou ser incluído na portaria ministerial, mas frustrou-se. Miguel permanece em Goianésia, a 176 km de Goiânia, onde atuou pelo Mais Médicos. "Já trabalhei em farmácia, em restaurante, como cuidador de idoso, ganhando um salário que não corresponde à nossa formação." Hoje, ele atua na Secretaria Municipal de Promoção Social, mas não clinica.
Estados
Vários médicos cubanos foram chamados por governos estaduais, como o do Pará e do Maranhão, para atuar no combate ao novo coronavírus, mas as vagas não foram suficientes para todos. "Fiz inscrição nesses dois Estados, além de Roraima, Rio de Janeiro e Bahia, mas não me chamaram", diz a médica Nancy Garcia. O mesmo ocorreu com Beatriz Rosales Ponce, de 31 anos. "A gente estava esperando entrar no edital do Ministério da Saúde", lamenta ela. A médica, que trabalhou no Mais Médicos no interior do Rio Grande do Norte, com o fim do programa viajou a Cuba para ver a filha de 6 anos. Ela deixou o marido em Natal (RN) e veio para Goiás contratada como babá, mas acabou perdendo o emprego. "Desde então vinha trabalhando como garçonete, cuidadora de idosos e, por último, numa loja de impressão, mas com a pandemia o patrão me demitiu."
No Novo Gama, Entorno do Distrito Federal, Carmen Llanet Rama López Chávez, de 40, está há meses sem trabalhar. "Vivo de favor na casa do pastor da minha igreja", conta ela. Enquanto estava no Mais Médicos, Carmen atuava no município. Com as relações que fez no local, conseguiu ministrar algumas aulas para futuras cuidadoras de idosos. De lá para cá tentou trabalho em vários locais e não conseguiu. "Fui a uma agência me inscrever como cuidadora de idosos, mas exigem registro no Conselho Federal de Enfermagem", explica.
Carmem estava casada no Brasil quando o programa terminou. "Fui a Cuba por problemas familiares. Minha mãe é cadeirante e cuida dos meus três filhos, de 20, 7 e 8 anos. Como tinha meu marido aqui, voltei, mas o casamento não deu certo, agora vivo cada dia num lugar. Preciso trabalhar para ajudar minha família."
Associação
Os médicos não contemplados na portaria ministerial, como Carmem, se uniram na Associação de Médicos Cubanos (Astromed) que entrou com uma ação judicial para tentar a inclusão, mas até agora não deu certo. Carmem contratou um advogado por conta própria e conseguiu uma liminar, mas o Ministério da Saúde conseguiu reverter a decisão.
Os médicos cubanos que ficaram no Brasil após o fim do Mais Médicos estão se preparando para o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida). Eles acreditam que esta é a esperança para permanecerem no Brasil trabalhando na profissão que escolheram para vida. Nancy, Beatriz, Miguel e Carmem, ouvidos pelo POPULAR disseram que decidiram permanecer no Brasil não somente porque gostaram do daqui, mas também porque estão fugindo das dificuldades econômicas e da dura opressão na terra natal.
Exame Revalida é esperança para melhorar condição
Dos pouco mais de 8 mil médicos cubanos que trabalharam no País pelo Mais Médicos, cerca de 2 mil permaneceram no Brasil. Aqueles que não conseguirem ser reincorporados no programa, poderão continuar em território brasileiro trabalhando como médico, desde que sejam aprovados no Revalida, a prova que atesta conhecimentos de brasileiros e estrangeiros que se formaram no exterior. Depois de três anos, o Revalida será realizado em 2020 em duas fases, outubro e dezembro. A expectativa é de que mais de 15 mil médicos façam a prova aplicada pelo Ministério da Educação (MEC).
Na primeira etapa serão aplicadas cem questões objetivas e cinco discursivas. Na segunda, o candidato deverá fazer dez "consultas" com pacientes fictícios para elaborar diagnósticos de doenças. Fruto de uma parceria entre os ministérios da Educação e da Saúde, o Revalida foi criado em 2011. Em sete edições, até 2017, quase 25 mil candidatos se inscreveram. Na última, com 7.380 participantes, somente 393 foram aprovados.
A grande dificuldade dos cubanos que ainda não conseguiram ser reincluídos no Mais Médicos é o preço das inscrições. Carmem Chávez diz que esta questão amplia o leque de preocupações. "Se não consigo trabalho, como vou pagar a primeira etapa do Revalida que custa mais de 300 reais? Se eu for para a segunda fase, a parte prática, serão mais de R$ 3 mil. O que adianta estudar e não ter dinheiro para pagar?"
Programa foi reestruturado, mas críticas continuam
Lançado em 2013 pelo governo de Dilma Rousseff (PT), o programa Mais Médicos nasceu para prover médicos para populações vulneráveis em áreas remotas e pobres do Brasil. Diante da dificuldade de encontrar profissionais brasileiros dispostos a se deslocarem para lugares distantes, foi realizado um termo de cooperação com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) que intermediou acordo com o governo de Cuba para que médicos do país caribenho viessem trabalhar no Brasil.
Mais de 8.300 profissionais cubanos se espalharam por 2,8 mil municípios brasileiros e mais quatro Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Ao ser eleito, o presidente Jair Bolsonaro criticou os moldes do programa, classificando-o como "escravidão" porque os profissionais tinham de repassar ao governo de Cuba parte do salário que recebiam. Os profissionais foram chamados de volta ao seu país, mas cerca de 1,8 mil optaram por permanecer no Brasil.
No ano passado, o governo federal lançou o substituto do Mais Médicos, rebatizado de Médicos pelo Brasil. Foram abertas pouco mais de 18 mil vagas, 7 mil delas seriam destinadas ao que o governo chamou de "maior vazio assistencial". Os profissionais atenderiam a princípio 4.823 municípios no primeiro ano, podendo chegar a 13 mil. Para incentivá-los, foi prometida uma bolsa formação de R$ 12 mil mensais líquidos, gratificação de R$ 3.000 a quem for trabalhar em locais remotos e R$ 6.000 adicionais para aqueles que atuarem nos DSEIs. O contrato também prevê gratificação de 11% a 30% por desempenho.
Das 18.240 vagas originais, apenas 13.845 foram preenchidas. Em novembro de 2018 o programa tinha 15.002 médicos em atuação. Em janeiro passou para 14.298. No dia 26 de março deste ano o governo federal abriu edital para reincluir no programa, 1,8 mil médicos cubanos que ficaram no Brasil após o rompimento do contrato com a Opas e o governo de Cuba, prorrogando o tempo deles no País por mais dois anos. O edital coincidiu com a pandemia do novo coronavírus, mas estava previsto desde a aprovação do novo programa no fim de 2019.
Em Goiás, pelo novo edital voltaram a trabalhar no Mais Médicos 18 profissionais médicos cubanos que estão espalhados por 13 municípios, entre eles Águas Lindas, Novo Gama e Valparaíso de Goiás, todos no Entorno do Distrito Federal, que receberam dois médicos em cada localidade. A região metropolitana de Goiânia também foi contemplada. Foram chamados médicos para Goiânia (3), Aparecida de Goiânia (1), Goianira (1) e Trindade (1).
Conselho
O Conselho Federal de Medicina (CFM) tem se manifestado sistematicamente contra a inclusão dos médicos cubanos, sem diplomas validados, no novo modelo do Mais Médicos, agora chamado de Médicos pelo Brasil. Da mesma forma, o CFM também não concorda com a decisão de governadores nordestinos de contratar profissionais brasileiros que se formaram em escolas estrangeiras para atuar na linha de frente da pandemia do novo coronavírus. Em vídeo, publicado numa rede social, o presidente da instituição, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, chamou de "atitude covarde" a medida anunciada pelos governadores.
………………..
Voluntários da batalha
Papel heroico dos profissionais de saúde durante pandemia do coronavírus inspira estudantes goianos
Eles estão na linha de frente da batalha da pandemia do novo coronavírus. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, motoristas de ambulâncias, maqueiros, faxineiros e trabalhadores de apoio dos hospitais passaram a ser verdadeiros soldados no atual combate à Covid-19. Histórias de coragem, dedicação e amor ao próximo têm inspirado jovens estudantes goianos que escolheram a área da saúde, em geral, e a medicina, em particular, como profissão.
Nem mesmo o risco de vida que esses profissionais correm – em Goiás, já são mais de 600 contaminados e ao menos seis trabalhadores da saúde mortos – desanima quem deseja daqui a alguns anos estar trabalhando nos hospitais. "A atual pandemia não me assustou em relação à profissão. Pelo contrário, me encorajou a seguir na medicina. Deve ser ótimo saber que nosso trabalho pode ajudar e fazer a diferença na vida de alguém. Todo o esforço na faculdade vai resultar em bons frutos, aliviando a dor dos pacientes", explica a estudante Mariana Neves de Almeida, de 17 anos.
Cursando o terceiro ano do ensino médio, Mariana teve inspiração em casa na hora de escolher a medicina. Filha do cardiologista Ely Rodrigues de Almeida, de 58 anos, e da famarcêutica Marilde Tosta Neves de Almeida, de 50, ela sempre admirou o entusiasmo deles com as profissões na área da saúde. "Fazer medicina sempre foi uma opção que soava bem familiar. Mas eles me deixaram à vontade para escolher. Tomei a decisão este ano por ser uma profissão muito bonita", explica a garota.
Devido à pandemia do novo coronavírus, a rotina da casa precisou ser toda alterada. Os pais, ao chegarem do trabalho, tomam banho no banheiro da garagem antes de entrar na casa e evitam contato físico com as três filhas. Não dividir talheres e copos também está entre as medidas de segurança para evitar a contaminação pelo coronavírus. Mariana, que está sem aula presencial desde março, tem se desdobrado para manter o ritmo dos estudos necessários para conquistar sua vaga em um dos cursos mais concorridos da universidade.
Sonho reforçado
Além de ser realmente uma área fascinante, a medicina goza de grande prestígio na sociedade e há gerações se transformou no sonho de carreira de muitos jovens no Brasil. Não por acaso é o curso mais concorrido para ingresso nas principais universidades públicas e privadas. Para a pediatra Marise Helena Cardoso Tófoli, presidente da Sociedade Goiana de Pediatria, a pandemia atual ajuda a reforçar o sonho nos jovens realmente vocacionados para a profissão.
"As pessoas que são motivadas a ajudar e que têm o sentimento humanitário vão encontrar na medicina uma profissão que traz muita satisfação pessoal", explica. O primeiro conselho que a médica dá aos jovens é entender quais os reais motivos da aspiração profissional. "Muitas pessoas idealizam a medicina, colocando o status e a estabilidade financeira em primeiro lugar, e podem se frustrar e achar pesado o exercício cotidiano da profissão", alerta. Um bom profissional não desiste do paciente jamais.
Para Marise Helena, a medicina tem particularidades que nem sempre os jovens estudantes levam em consideração na hora de escolher a carreira. "É preciso constante dedicação aos estudos. Eles não podem parar depois da graduação para que se exerça a medicina com qualidade. É preciso também ter empatia. Um bom médico tem de estar pronto a ouvir e acolher seus pacientes", aponta. Por fim, tem de estar preparado para ser resiliente. "Em muitas situações, o médico tem de superar várias limitações para exercer a medicina. A falta de estrutura ideal de trabalho, de recursos no SUS, além de situações novas como a que estamos vivendo na pandemia da Covid-19, são exemplos disso", explica.
Certeza confirmada
O número de médicos em atividade está aumentando no Brasil. De acordo com dados da Demografia Médica 2018, existem mais de 400 mil profissionais formados. Atualmente, o País conta com 341 escolas médicas em funcionamento, das quais 162 (47,5%) iniciaram suas primeiras turmas entre 2011 e 2019. O número total de vagas estimado em fevereiro era próximo de 36 mil (de primeiro ano). Os dados são do Conselho Federal de Medicina. Apesar do aumento, a distribuição dos médicos brasileiros é desigual entre os Estados. Em Goiás, havia em 2018 cerca de 13 mil médicos com CRM ativos, a maior parte na capital.
Aluno do terceiro ano do ensino médio, João Pedro Ferreira Borges, de 17 anos, conta que decidiu ser médico há dois anos. "Sempre vi a profissão como uma área muito nobre, que tem o objetivo de ajudar outras pessoas. A pandemia veio apenas para confirmar o que já era uma certeza", conta o rapaz, que não tem nenhum familiar profissional de saúde. A mãe, a professora Danusa Crislei Gonçalves Borges, 45 anos, apoia a decisão do filho, mas não deixa de se preocupar.
"Acho que toda mãe deve apoiar a escolha profissional dos filhos. Quero que ele exerça algo que o deixe feliz. Mas confesso que fico com receio pelo que tenho visto durante essa pandemia. Às vezes, me pego imaginando como seria se ele já estivesse na linha de frente do combate com todos os risco inerentes à atividade", conta Danuza. Para João Pedro, a pandemia revelou verdades antes despercebidas. "Os profissionais de saúde são heróis que merecem todo nosso reconhecimento", acredita.
Mais médicos
"Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência." A frase do médico grego Hipócrates (460 a 377 a.C.), considerado o pai da medicina ocidental, dita no juramento dos recém-formados, costuma inspirar jovens estudantes que sonham um dia em exercer a profissão. Contudo, muito antes de conquistar a tão desejada vaga na universidade, eles sabem que precisam se dedicar muito para atingir o objetivo.
"A pandemia fez com que eu tivesse de estudar ainda mais", explica a estudante Isadora Ferreira, de 15 anos, que sonha em ser médica. Como as aulas presenciais foram suspensas em março, a garota intensificou o ritmo dos estudos em casa ciente do obstáculo a ser superado para conquistar a vaga no curso em uma universidade pública. O avô, pediatra, a irmã mais velha, fisioterapeuta, e o padrinho, ginecologista, serviram de inspiração na escolha da profissão na área da saúde. "Admiro a coragem e a empatia de todos que têm trabalhado na linha de frente de combate da pandemia", explica.
Na mesma rotina intensa de estudos, Gabriel Airton Soares de Assunção, de 17 anos, desde pequeno sonha com a profissão. A influência de um tio radiologista aliada à representação dos médicos na ficção foram fundamentais na escolha. "Sempre gostei de ver seriados e filmes com essa temática, mas a certeza veio mesmo quando a escola promoveu uma visita a um hospital. Ficamos o dia inteiro lá, conhecendo e conversando com os profissionais. Foi uma experiência muito bacana", conta. A atuação dos profissionais da saúde na atual pandemia reforçou o desejo de ajudar as pessoas.
Apesar de deixar o filho livre para escolher a profissão, a mãe de Gabriel Airton, a professora Nadja Soares, 42 anos, confessa que passou a ver a medicina com outros olhos após o início da pandemia do novo coronavírus. "Acaba que provoca certa preocupação porque a gente sabe que os profissionais de saúde correm risco maior do que o restante da população. De qualquer forma, apoio o sonho dele de exercer a profissão. Tenho até mesmo muita admiração dele não ter mudado de ideia mesmo vendo os desafios que o esperam", conta.
Estudar, estudar e estudar
Além da dificuldade em conquistar uma vaga em medicina – continua sendo o curso que apresenta maior nota de corte no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) -, o futuro profissional precisa estar preparado para uma intensa rotina de estudos. Para tornar-se um médico, é preciso cursar bacharelado, durante no mínimo seis anos. Nesse período, a grade curricular é dividida nos ciclos básico, clínico e internato. Parasitologia, citologia, imunologia e genética são algumas das disciplinas estudadas.
Após a graduação, o estudante pode atuar com clínica geral ou tornar-se um especialista. Para isso, é preciso fazer residência médica ou especialização, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, durante dois anos. Coordenador pedagógico de um colégio da rede particular de Goiânia, Flávio César Borges conta que a escola tem se esforçado em mostrar aos alunos a realidade da profissão.
"Temos feito palestras virtuais com profissionais para tirar as dúvidas dos estudantes". Ele explica que a pandemia reforçou o desejo dos alunos em trabalhar na área da saúde. "Senti os alunos mais motivados por acompanhar a luta diária desses profissionais", explica. Flávio César conta que o que ele percebe na escola é que mais da metade dos adolescentes chega ao ensino médico com indecisão em relação à carreira que vão seguir.
Na hora de escolher
Angústia e incertezas são os sentimentos mais comuns entre os estudantes na hora de escolher a profissão. A pressão dos pais, questões financeiras e a própria imaturidade podem agravar o processo decisório. Para quem está prestes a fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ainda em suspenso, a pandemia do novo coronavírus chegou para embaralhar ainda mais as coisas. O que já não era fácil ficou ainda mais difícil.
"Para fazer a escolha certa, o mais recomendado é optar pela profissão de maior apreço e aptidão. Para aqueles que não têm clareza de qual seja a vocação, temos no mercado testes disponíveis que poderão auxiliar nessa escolha, conhecido como teste vocacional", explica a psicopedagoga Kariny Gomes Garcia. Para ela, a família tem papel fundamental nesse momento. Apoiar e orientar o estudante a persistir nos sonhos, principalmente daqueles que estão seguros em suas decisões, ajudará a manter acesa a motivação e confiança pelo que tanto almeja.
Para Kariny, é natural que tantos jovens almejem ser profissionais de saúde. A medicina é bem-vista por diversos fatores, dentre eles a vocação, realização pessoal e financeira. "Independente de qual seja a motivação, o cenário atual que estamos vivenciando retrata perfeitamente o juramento dado à profissão e a responsabilidade exigida de todos os profissionais da saúde", explica. Para a especialista, toda carreira de sucesso é fundamentada em perseverança, dedicação e motivação, que devem ganhar força na hora da escolha da profissão.
……………….
345 mortes têm causa incerta
Óbitos em Goiás relacionados a síndrome respiratória aguda grave mais que dobraram neste ano em Goiás. Covid-19 é apontada como possível motivação de casos
Em Goiás há pelo menos 345 óbitos por síndrome respiratória aguda grave (Srag) sem que se tenha definido qual agente causou a infecção, entre o início do ano e a semana epidemiológica 23, que se encerrou no dia 6 de junho. No total, neste período, são contabilizados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde (MS), 526 mortes por Srag, sendo 173 confirmadas como sendo causadas pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), em número igual ao registrado no boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), e outros 8 falecimentos são pelo vírus Influenza. Os óbitos restantes (345) não são descritos como causados por nenhum agente viral que consta no sistema.
Para explicar a grande quantidade de mortes por Srag com agente indefinido, a superintendente de Vigilância Epidemiológica da SES-GO, Flúvia Amorim, aponta quatro possibilidades: o paciente pode ter feito o exame, mas o resultado deu falso negativo; a vítima pode não ter feito o teste; a pessoa pode ter sido testada, mas o tipo de vírus não foi identificado; ou o óbito pode até mesmo ter sido causado por um agente não infeccioso.
Pelo protocolo do Ministério da Saúde, que é seguido no Estado, todo caso grave de Srag passa pelo teste RT-PCR, considerado "padrão ouro". Apesar de ser a forma mais confiável de identificar o novo coronavírus, o exame pode dar falso negativo.
Flúvia explica que a precisão de um teste é medida pela especificidade e pela sensibilidade. "Falamos que o PCR é padrão ouro porque a especificidade dele é alta, ou seja, quando dá positivo, é positivo mesmo. Não dá falso positivo. Mas a sensibilidade do teste varia entre 70% e 80%. Ou seja, cerca de 20% pode dar negativo.
Além do novo coronavírus, o Laboratório Central de Goiás (lacen-GO) utiliza a mesma amostra para identificar outros 11 tipos virais. Sem dar números, Flúvia cita que entre, no caso de mortos com resultados negativos para Covid, foram dentificados casos de influenza, metapneumovírus, parainfluenza e H1N1, entre outros agentes etiológicos. No entanto, admite que há uma quantidade considerável em que a causa da síndrome não foi definida.
"Existem centenas de vírus respiratórios. Pode ser que essas mortes tenham ocorrido por algum que a gente ainda não conseguiu identificar. Mesmo antes da Covid já tinha casos que a gente não conseguia identificar agente etiológico", explica a superintendente.
Médico infectologista do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), Boaventura Braz de Queiroz diz que a hipótese mais provável, visto que estamos em uma pandemia de coronavírus, é que a maior parte destes casos seja Covid-19. Na aval<CW-10>iação dele, a grande quantidade de mortes por Srag sem agente viral identificado pode indicar que haja subnotificação. "Presumidamente, pode ser Covid-19, mas não temos os testes e não foram feitos", diz.
Pandemia
Em todo o ano de 2019, Goiás registrou 201 óbitos totais por Srag e em 2018 foram 235, o que demonstra o crescimento dos números a partir da pandemia. O dado total deste ano (526) é 2,56 vezes maior que o do mesmo período do ano passado.
Queiroz lembra que o agente causador da infecção para a síndrome pode sim ser outro diferente do coronavírus, mas indicaria que o País passa por surtos de mais de uma doença, o que agravaria a situação. Assim, seria necessário que, por si só, houvesse um estudo epidemiológico para entender esta quantidade de óbitos sem causa de infecção definida.
Para se ter uma ideia, das 345 mortes sem identificação da causa de Srag, 330 ocorrem a partir da semana epidemiológica 11, justamente quando também aparecem os primeiros óbitos confirmados de Covid-19.
Desde este período, que corresponde justamente entre os dias 8 e 14 de março, quando se teve também os primeiros registros da Covid-19 no Estado, mais propriamente no dia 12 daquele mês, houve ainda mais quatro mortes diagnosticadas como Srag causadas pelo vírus da Influenza (H1N1). Até então, a semana com mais casos de mortes por síndrome respiratória foi ainda em janeiro, com cinco óbitos que não foram relatados como Covid-19 e nem como Influenza.
A partir da semana 11 a escalada de mortes por Srag e por Covid-19 teve início. Válido ressaltar que os dados se referem à data da notificação do óbito e, nas últimas quatro semanas apresentam inconsistências, visto que ainda podem surgir novos casos.
Infogripe mostra variação de casos
O sistema ofertado via Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Infogripe, onde constam os dados de Srag de todos os Estados brasileiros, demonstra a possibilidade de variação no número de óbitos. Até a semana 23, consta a variação de justamente 29 casos que são identificados como suspeitos pela SES-GO no boletim divulgado à época. Essas suspeições não entram no cálculo de mortes confirmadas por Srag, mas apenas sem o agente causador da infecção definido. Ou seja, os 345 óbitos da síndrome sem definição da causa podem seguir sem o estudo epidemiológico, já que não vêm sendo feitos exames de necropsia ou verificação dos cadáveres.
A superintendente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), Flúvia Amorim, explica que há como fazer a verificação mesmo após a morte. "A orientação no SVO é colher a amostra mesmo após a morte. Dependendo do tempo que ela tenha ocorrido não dá nenhuma interferência no resultado. O próprio hospital pode coletar e, no caso de Goiânia, a equipe de plantão Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) faz a coleta", diz.
No entanto, caso a coleta não seja feita algumas horas após a morte, não há como verificar causa por exame cadavérico. Por conta da pandemia, pelo protocolo do Ministério da Saúde, apenas os Serviços de Verificação de Óbito (SVO) com nível três de segurança podem fazer necropsia. No caso de Goiás, o SVO é nível dois. Nesses casos, a recomendação é fazer uma autópsia verbal. "O médico do SVO entra em contato com o médico do paciente, faz um levantamento de todos os dados para identificar uma possível causa morte", diz.
Subnotificação
Médico do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), o infectologista Boaventura Queiroz explica que estes pacientes cuja causa dos problemas respiratórios não foi identificada podem ser casos em que a internação já se deu em uma situação bem agravada, onde não foi possível mais fazer o exame RT-PCR, que verifica a presença do Sars-CoV-2 ou mesmo quando foi realizado o exame o vírus já não era mais detectável. "Percebemos que podemos ter uma subnotificação maior ainda do que se esperava, pode ser mais do que imaginava e não só para casos leves, que não vêm sendo testados mesmo, mas para os graves, mas não vamos poder afirmar isso." Ele lembra que mesmo 100 anos depois o mesmo ocorre com outras pandemias. "Até hoje não se sabe se a Gripe Espanhola matou 30 milhões ou 70 milhões de pessoas."
Para Flúvia, não há subnotificação de pacientes graves. "Subnotificação é aquele caso que não foi informado. Nesses casos, a gente não conseguiu encerrar o caso, porque não identificou o agente, mas ele foi notificado. Hoje nós temos um comitê de investigação de óbitos não só pelos exames, mas pela parte clínica também."
Definição e causa têm ordem inversa
A análise dos dados de mortes por Covid-19 e por síndrome respiratória aguda grave (Srag) sem a definição do agente etiológico mostra uma correlação forte e inversa em todos os Estados brasileiros. Ou seja, os locais que possuem menos mortes causadas pelo novo coronavírus por milhão de habitantes são também aqueles que possuem um maior porcentual de óbitos por Srag com indefinição sobre a causa da infecção. Para se ter uma ideia, com dados até a última terça-feira (9), Goiás era o sexto Estado com menos mortes por milhão, com índice de 26. Mas também é o sexto entre aqueles que mais têm óbitos por Srag sem causa definida, com 65% do total.
O índice de mortes por milhão de Covid-19 mais baixo tem feito Estados modificarem suas políticas para o combate à pandemia. O Estado do Mato Grosso do Sul (MS) tem sido descrito nacionalmente como exemplo para a contenção da disseminação da doença, pois é aquele que apresenta a menor taxa de casos e de óbitos por milhão de habitantes. Até o dia 9, o índice era de 22. No entanto, em cálculo a partir da plataforma Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), até o fim de maio foram 214 óbitos por Srag, sendo 8 por Influenza e restando outras 185 sem agente causador definido. Ou seja, mais de 86% dos óbitos não possuem a causa da infecção definida.
Testes
Em nota disponível no site oficial, a Secretaria Estadual de Saúde do MS informa que todos os casos de Srag seguem o protocolo nacional de testagem para influenza, Covid-19 e painel viral e que aqueles que apresentam resultado negativo para todos eles são identificados no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) do Ministério da Saúde como "óbito por Srag não especificada", tal qual é o padrão. Assim, a indicação da secretaria é que os casos não estão sem identificação por falta de testagem e, sim, porque os agentes não foram detectáveis nos exames.
Em Goiás, a indicação da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) é que os médicos do Estado e dos municípios sigam o protocolo nacional. Há a determinação também de que todos os casos graves com sintomas da Covid-19, que são semelhantes aos de outras Srags, sejam testados. Mas não há, por outro lado, a garantia do protocolo ser plenamente seguido, incluindo as redes públicas ou privadas.
Pelos dados do Infogripe, até a 22ª semana epidemiológica, há oito Estados brasileiros em que as mortes por Srag sem identificação do agente estão acima de 50% do total. Todos eles estão entre os dez primeiros no ranking de Estados com menos mortes causadas por Covid-19 por milhão de habitantes. Nesta lista, além do Mato Grosso do Sul e de Goiás, estão Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Distrito Federal. As exceções são o Tocantins, com 38,3% dos casos sem identificação do agente, e Bahia, com 42,33%.
Estudo
Ainda em março, a Fiocruz divulgou o estudo que comparava o crescimento do número de casos de Srag com o aumento dos registros de Covid-19. "Em 2020, a hospitalização por Srag, contabilizada desde a data do primeiro caso de Covid-19 confirmado até a 12ª semana, superou o observado, no mesmo período, em cada um dos 10 anos anteriores", informou o relatório. Consta que o grande número de exames negativos sugeria a circulação de um novo vírus e o crescimento de casos do novo coronavírus indicava a relação entre as doenças.
Outra característica que chamou a atenção para reforçar a relação causal foi o período do ano em que os índices de internação aumentaram. O estudo aponta que, em 2019, 23% dos casos de Srag se deram pelo vírus sincicial respiratório (VSR), em que a maior parte dos atingidos foi de crianças de até 2 anos e no inverno do País. Assim, em 2020, o aumento das internações por Srag ocorreu mais precocemente, no fim do verão, justamente quando se deu o início da epidemia de Covid no Brasil.
Síndrome cresce 5 vezes no Estado
O número de casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag) em Goiás, de acordo com o Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é 5,62 maior até a 23ª semana epidemiológica de 2020 (6 de junho) do que em relação ao mesmo período de 2019. Neste ano, já foram 3.271 pacientes sendo tratados pela síndrome nos hospitais. Ano passado no mesmo intervalo de tempo foram 581. Do total deste ano, 678 foram testados positivamente para o novo coronavírus (Sars-CoV-2), agente causador da Covid-19. Ou seja, mesmo sem os registros confirmados da doença que surgiu neste ano, o número de casos de Srag seria 4 vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Os casos de Srag são aqueles que evoluem com sintomas mais graves e, logo, necessitam de hospitalização. Por isso, nem todas as confirmações de Covid-19 constam como Srag, pois há casos positivos na testagem no Estado que são de pacientes com sintomas leves, com tratamento domiciliar, ou mesmo assintomáticos, além daqueles que foram detectados apenas depois que a doença já havia passado a fase crítica, sendo percebido apenas a presença dos anticorpos contra o vírus, via teste rápido. Em 2019, nas primeiras 23 semanas epidemiológicas foram 581 registros de Srag.
No ano de 2018 os números são maiores, com 1.223 pacientes hospitalizados com algum tipo de síndrome respiratória aguda grave, mas ainda assim uma quantidade muito inferior ao que se tem neste ano até então. Dentre os casos de 2020, há ainda 53 onde o agente causador da infecção foi vírus do tipo Influenza, mas ainda restam 2.540 casos em que não se tem a determinação de qual seria a causa da Srag, ou seja, mais de 77% das internações estão nesta situação. Assim como nos dados de óbitos de 2020 é possível verificar o crescimento da curva a partir dos registros de casos de Covid-19.
Na 10ª semana, foram registrados em Goiás 16 casos de Srag, número inferior ao que se teve em 2019 e 2018 na mesma época. Na semana seguinte o número de internações mais que dobrou, com 33 registros, passando o que se teve em 2019, mas não em 2018, que teve 51 casos. Até então, de todo modo, não havia confirmação de qualquer caso de Covid-19 no Estado. Já na 11ª semana, surgiram os primeiros registros da doença, com 11 casos, ao mesmo tempo em que os registros por Srag subiram para 92, passando o que se tinha em 2018. A partir de então, só houve aumento no número de casos semanais para Srag, mesmo com variação nas confirmações de Covid-19, chegando a 420 registros na 23ª semana, enquanto apenas 71 casos testaram positivos para o novo coronavírus.
………….
Planos de seguro de vida se adaptam em função da pandemia
Procura por cobertura registra crescimento e seguradoras oferecem novas condições; empresa aponta aumento de 69,9% na contratação em Goiás
A procura por seguro de vida estava em alta mesmo antes do Estado de Goiás ter os primeiros casos registrados de Covid-19. Porém, o setor de seguros teve de se adaptar para atender aos novos interessados, já que epidemias e pandemias costumam fazer parte dos riscos excluídos das apólices. Agora, há até ofertas específicas para atender a este momento e empresas dizem perceber procura reforçada por conta da situação de emergência em saúde.
Levantamento realizado pela MAG Seguros, especializada em vida e previdência, aponta que houve aumento na demanda por seguro de vida de 69,9% em Goiás no primeiro trimestre de 2020, quando comparado ao mesmo período do ano passado. Superintendente regional da empresa, Ronaldo Gama afirma que havia a tendência de ter um crescimento e, após março, quando a pandemia chegou ao Brasil, passou a perceber maior interesse das pessoas.
A empresária Cláudia de Paula Couto, de 35 anos, está nesse grupo. Ela já teve seguro de vida há dez anos atrás. Agora, conta que "diante de tanta instabilidade e medo de não saber o que pode acontecer" decidiu, no final de março, voltar a ter apólice para ela e o esposo. "Tenho filhos, família, empresas e achei que era a hora de buscar mais segurança para eles."
Ela considera que a pandemia reforçou essa necessidade. "Não temos esse hábito e sempre deixamos para depois, como se não fôssemos precisar, porque não temos essa cultura." Do ramo de supermercados, Cláudia não parou de trabalhar e não pode desenvolver suas atividades em home office. Por isso, diz que o medo de ficar doente aumentou e reforçou a decisão de contratar um seguro.
Ainda não há dados estatísticos mais recentes sobre quantas pessoas tomaram a mesma decisão. Porém, Ronaldo Gama avalia que, com o avanço da doença, há uma maior curiosidade natural dos consumidores, porque houve quebra de barreiras. "As pessoas veem mais presente a morte. Falar de morte sempre foi um tabu e isso passa a não ser mais. Só não tem um efeito instantâneo porque tem um impacto econômico de outro lado", pontua sobre fator que freia também o setor de seguros.
Para se adequar ao momento, ele lembra que seguradoras fizeram um pacto para considerar o quadro de pandemia. Só que também passaram a adotar um período de carência. No caso de morte, há cláusula que define que o período para a cobertura para casos associados à Covid-19 é de 90 dias a partir da vigência da apólice. É um movimento do mercado que considera permitir "ter cobertura e contratação com mínimo de resguardo".
Movimentação
De janeiro a fevereiro deste ano, somente o segmento de seguro de vida, que faz parte do grupo de seguro de pessoas, movimentou R$ 2,9 bilhões, o que representa um aumento de 16% em comparação com o que ocorreu no mesmo período de 2019. Isso segundo os dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).
Por conta dessa demanda aquecida, o vice-presidente de Marketing e Relações com o Mercado do Sindicato dos Corretores e das Empresas Corretoras de Seguros no Estado de Goiás (Sincor-GO), Roney Almeida, pontua que houve aclamação de sindicatos e outras entidades por mudanças para o período. Pois sem isso haveria descontentamento de consumidores e o setor sentiria queda.
"O seguro é um item essencial para qualidade de vida, a população acredita muito nisso, apesar da pouca cultura e investimento", acrescenta. Junto com seguro de vida, auxílio funeral é outro produto que ele acredita que possa ter aumento na contratação.
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) considera um avanço a flexibilização, por parte das empresas que operam com seguros de pessoas, de condições contratuais e informou, por nota, que diversas "já decidiram cobrir os eventos decorrentes de pandemia nas apólices vigentes, em especial nas coberturas de morte".
Seguradoras miram empresas
O setor de seguros tem se adaptado diante da pandemia de coronavírus e algumas seguradoras se prepararam para atender especialmente as empresas privadas com muitos funcionários. Entre as novidades do mercado, há oferta com foco específico para proteção nesse momento de aumento no número de casos da doença no País e dentro das organizações.
Diversas seguradoras do ramo de vida – que representam mais de 80% do mercado, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep) – decidiram cobrir os eventos decorrentes de pandemia nas apólices, mesmo que tipicamente isso seja um risco excluído nos contratos, o que é permitido pelo Código Civil.
A Generali Brasil, por exemplo, criou um seguro específico para Covid-19 para companhias com mais de 250 funcionários. Prevê a cobertura de diária de internação hospitalar e convalescença após alta hospitalar.
Enquanto isso, para a TSValle, o número de abertura de empresas em Goiás é um dado promissor para a contratação de seguros neste momento de enfrentamento ao novo coronavírus.
"Vejo um potencial enorme para investimentos em seguro de vida, previdência privada e planos de saúde e odontológicos. No caso de empresas que necessitarão de espaço físico, há ainda o seguro incêndio empresarial que é fundamental", aposta o CEO da TSValle, Bruno Bronetta.
Para a empresa, os profissionais de corretagem já precisaram se reinventar para enfrentar desafios e encontrar oportunidades para atender às demandas dos clientes ao longo dos anos, mas nesta nova situação os profissionais precisam ainda mais explorar as possibilidades do segmento amplo que é o de seguros.
Bronetta pontua que há crescimento de mercado na área de saúde, empresarial e financeira. No entanto, lembra que há queda exponencial do seguro viagem, por exemplo. Por isso, um profissional que tenha amplo conhecimento do meio em que atua e que tenha um olhar inovador, conforme defende, vai aproveitar melhor o momento.
………………….
Falta de testes atinge rede privada e atrasa diagnósticos de Covid
Demanda por testes superlota laboratórios particulares Empresas tiveram de reduzir o número de amostras que recebem por dia, o que pode atrasar os diagnósticos P14
Três grandes laboratórios diminuíram o número de amostras recebidas na semana passada. Queda de exames atinge estatísticas e gestão de leitos em Goiás
O aumento de demanda por testes do novo coronavírus do tipo RT-PCR superlotou três grandes laboratórios privados que abastecem hospitais, secretarias municipais e outros laboratórios de Goiás. Na última semana, as três unidades tiveram que "pisar no freio" e diminuir a quantidade de amostras que recebem por dia. Em dois casos, houve diminuição na quantidade de testes realizados por dia.
Reportagem do POPULAR da edição da última quinta-feira (11) mostrou que essa diminuição no recebimento de amostras ocorreu no HLAGyn, laboratório que faz testes para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia e outros mais de 20 municípios. Situação semelhante também ocorreu no Grupo Pardini, laboratório com sede em Belo Horizonte, representado em Goiás pelo Padrão, e DNA Gyn, que funciona na capital, com parceria entre o Aptah Biosciences e o Grupo Biovida.
Estes testes são essenciais para alimentar as estatísticas e se ter uma noção real do avanço do vírus nos municípios e no Estado. Além disso, eles são importantes para decidir o destino de pacientes que estão internados. A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) constatou o aumento no tempo para sair os resultados dos testes de Covid-19.
"Demorava menos, ficava pronto entre 36 horas e 48 horas. Agora está levando até cinco dias. Isso atrapalha demais, porque você não sabe se mantém o paciente em isolamento, se manda ele para casa em observação", explica o presidente da Ahpaceg, o médico Haikal Helou. De acordo com o ele, existem outras ferramentas para o diagnóstico, como a situação clínica do paciente e a tomografia de tórax, mas o definitivo é o teste laboratorial.
Laboratórios
O laboratório DNA Gyn, parceria do Aptah com Grupo Biovida, fazia cerca de 600 testes por dia para Goiás e Distrito Federal, mas na última semana diminuiu sua capacidade à metade por falta de insumos. "A gente tinha tudo programado, mas o que a gente tem observado é que teve um aumento da demanda. Cliente que mandava 10 amostras, passou a mandar 50. A gente teve que reter e só receber casos de urgência. Não tinha insumos para atender a todo mundo", explica o CEO da Aptah, Caio Bruno Quinta.
Os preços inflacionados dos insumos para os testes PCR e a dificuldade de compras são problemas relatados em todo o País. "Tem que pagar adiantado com expectativa de receber, às vezes nem sabe quando. A gente tem que manter fluxo de caixa e toda uma logística para conseguir (insumos)", explica Caio Bruno. Novos insumos chegaram no sábado e a situação do laboratório DNA Gyn deve ser normalizada com a ampliação da capacidade para 1,3 mil testes por dia, segundo o CEO.
Já o Grupo Pardini, representado em Goiânia pelo laboratório Padrão, que faz exames de Covid-19 em todo o Brasil, teve que diminuir os cerca de 250 testes diários PCR que fazia em Goiás por conta de outra unidade da federação que aumentou muito a quantidade de amostras enviadas. O nome do Estado não foi revelado.
"Houve um excesso de volume recebido atípico, que ultrapassou nossa capacidade produtiva e tivemos que limitar um pouco as coletas", explica o vice-presidente do Grupo Pardini, Alessandro Ferreira. Segundo ele, há um prazo de validade da amostra e, além disso, o exame pode não ter eficiência se demorar muito para sair o resultado. A situação se normalizou nesta sexta-feira (12), segundo Alessandro.
Alessandro Ferreira relata que no começo da pandemia, o Grupo Pardini realizava cerca de cem testes PCR de Covid-19 por dia para Goiás, mas este número teve um aumento de 150% nas duas últimas semanas. Além disso, ele relata que houve um aumento expressivo da porcentagem de testes que dão positivo em Goiás, passando de 10% para 19% de todos os exames feitos.
Os testes de Covid-19 do Grupo Pardini representam uma fatia importante dos casos confirmados de Goiânia. Dos 3.022 casos confirmados do novo coronavírus na capital até a última quinta-feira (11), 798 foram testes do Grupo Pardini. Ou seja, 26,4% dos casos confirmados de Covid-19 na capital, segundo dados repassados por Alessandro.
Além dos laboratórios privados citados até agora na reportagem, os testes RT-PCR de Covid-19 são feitos no Laboratório Estadual de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO), que mantém sua produção de cerca de 250 exames por dia. Testes PCR também são feitos pela Rede de Laboratórios de Campanha da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).
Gargalo
Representantes do HLAGyn e do Grupo Pardini dizem que o grande gargalo do teste PCR é o kit de extração, tanto pela dificuldade de conseguir o insumo, como por conta do processo de extração ser mais demorado e precisar de mais cuidado, por ter risco de contaminação para o técnico que faz o procedimento.
O gargalo mundial são os kits para extração de RNA. O mundo nunca fez tanto RT-PCR, tanta extração de RNA. É uma extração complexa. "Não é uma etapa que coloca amostra em um equipamento e entrega o resultado. São etapas, vai adicionando substratos, isolando material genético, são várias etapas", explica Alessandro Ferreira, do Grupo Pardini.
A professora Valéria Cristina de Rezende Feres, que atua na Rede de Laboratórios de Campanha da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que a extração é a etapa em que se isola o RNA do vírus da amostra que chega ao laboratório. "É a etapa de maior risco do RT-PCR, na qual a gente realmente tem que se equipar. É aí que pode contaminar", avalia.
Esse RNA do vírus isolado é que vai para a etapa de amplificação, na qual sai o resultado. Três laboratórios da UFG estão fazendo cerca de 350 testes PCR por dia, entre eles, parte da demanda da SMS de Goiânia, segundo Valéria Cristina.
Espera
No último domingo, Ygor Felipe Bispo Torres, de 24 anos, fez o teste RT-PCR na Unidade de Pronto-Atendimento Geraldo Magela, a UPA Flamboyant, em Aparecida de Goiânia. Ele teve contato com pessoas com o novo coronavírus no trabalho e começou sentir sintomas da doença na última quarta-feira (10).
"Eu moro com minha avó, grupo de risco, por conta disso fico preocupado", relata o jovem, que teve febre, dificuldade para respirar e coriza. "Eu sentia fadiga com qualquer esforço que fazia", relata.
O resultado deve sair em 24 horas ou até três dias. Enquanto isso, ele permanece em isolamento com os familiares sem ter a certeza de estar com a doença.
Ampliação da capacidade depende de investimentos
O aumento da capacidade para fazer mais testes RT-PCR em Goiás passa pela aquisição de mais máquinas e o desenvolvimento de novos tipos de exames. É o que explicam os profissionais da área ouvidos pela reportagem do POPULAR.
A presidente do Sindicato dos Laboratórios de Análises e Banco de Sangue do Estado de Goiás (Sindilabs-GO), Christiane Maria do Valle Santos, sugere a importação de equipamento robotizado para que haja rapidez no processo, que ainda é muito manual.
Para ela, é preciso esclarecer à população sobre a prevenção e quando se deve realizar o exame, monitorando os casos e dando incentivos aos laboratórios para o aumento de sua capacidade instalada com a aquisição de produtos, mão de obra e mais máquinas.
O CEO da Aptah BioSciences, ligada ao laboratório DNA Gyn, Caio Bruno Quinta, conta que está sendo desenvolvido um novo tipo de teste rápido, baseado em um biossensor. "Estamos propondo um exame rápido, de baixo custo, com identificação do vírus (RNA) no início da contaminação e que pode ser feito de modo simplificado. Tudo isso permite a produção em grande escala, sem expor ninguém a riscos", explica. O exame tem resposta de no prazo máximo de uma hora. Os testes rápidos atuais utilizados em Goiás identificam os anticorpos.
Este novo teste é uma parceria do Aptah com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
Queda no número de exames pode ter afetado estatística de Goiânia
A queda no número de amostras recebidas e a diminuição na quantidade de testes diários em laboratórios privados podem ter influenciado as estatísticas de casos confirmados do novo coronavírus em Goiânia. A capital teve 743 novos infectados por Covid-19 na semana retrasada, entre os dias 31 de maio e 6 de junho, e 657 novos registros do tipo na semana passada, entre os dias 7 e 13 de junho, uma queda de 11%.
"Existe a possibilidade dessa redução ser por causa da diminuição da testagem", avalia o superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Yves Mauro Fernandes Ternes. No entanto, ele pondera que a epidemia não é avaliada apenas pelo indicador teste laboratorial. "Tem outros indicadores que devem ser avaliados, como o número de internações por síndrome respiratória aguda grave (Srag), número de óbitos por Covid e casos suspeitos", explica o gestor.
De a