DESTAQUES
Planos de saúde seguem no topo de queixas registradas no Idec
Artigo – Perspectivas do mercado de saúde e benefícios em 2023
Artigo – Evolução do setor de saúde é legado da pandemia
População deve ficar atenta quando for realizar procedimento estético
Brasil passa longe da meta de vacinação contra o HPV
Vacina recém-aprovada contra a dengue deveria ser incluída no SUS
Jornalista transforma sofrimento com violência obstétrica em documentário
Dormir pouco pode reduzir efeito de vacinas
Mês da Mulher: Supremo decidiu que grávidas não podem ter funções insalubres
Número de títulos em residência médica cresce mais de 80% em uma década no Brasil
Estados e municípios acumulam bilhões parados em fundos de saúde
AGÊNCIA BRASIL
Planos de saúde seguem no topo de queixas registradas no Idec
Pela segunda vez consecutiva, os planos de saúde seguem liderando o ranking de reclamações e de atendimentos registrados no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Segundo dados divulgados hoje (13), 27,9% das reclamações, no ano passado, se referem a empresas de planos de saúde.
Trata-se da nona vez, nos últimos dez anos, em que os planos de saúde lideram o ranking. Os planos de saúde só deixaram de figurar no topo da lista em 2020, durante o primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, quando os serviços financeiros passaram a figurar em primeiro lugar entre as reclamações.
Notícias relacionadas: ANS suspende a comercialização de 19 planos de saúde.
A principal queixa aos planos de saúde em 2022 foram dúvidas e reclamações a respeito de contratos (27,4%), seguido por falta de informação (18,1%) e reajustes (13,7%).
Em segundo lugar no ranking estão os serviços financeiros, responsáveis por 21,2% dos registros. A maior parte das reclamações diz respeito a segurança das transações bancárias e golpes (20,1%), seguida por reclamações referentes a cláusulas contratuais (11,4%).
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MEDICINA S/A
Artigo – Perspectivas do mercado de saúde e benefícios em 2023
Por Cláudio Pepeleascov
Resiliência e criatividade têm sido duas características críticas para as organizações nestes últimos três anos. As equipes de Recursos Humanos tiveram que aprender a orientar os funcionários quanto às novas formas de trabalho e fornecer suporte contínuo para mantê-los seguros e saudáveis, tudo isso enquanto lidavam com as incertezas financeiras.
O tema pandemia já ganhou uma distância significativa da nossa vida cotidiana e das discussões corporativas. Agora há uma nova priorização que é o cenário macroeconômico. As questões políticas atuais afetam as perspectivas dos empresários e, consequentemente, influenciam nas estratégias com foco nos empregados.
Neste ano de 2023, os líderes enfrentarão o desafio de sobreviver ao ambiente incerto e, ao mesmo tempo, fazer com que a experiência de empregados e clientes seja algo cada vez mais benéfico. Soma-se a isso a necessidade de atrelar o tema de custos, que volta a ser uma preocupação prioritária quando falamos de um aspecto primordial nas empresas: saúde e benefícios.
Há uma perspectiva importante sobre a severidade nos custos e os impactos da inflação médica. As discussões entre rol taxativo e rol exemplificativo pressionam ainda mais as questões sobre custos, perenidade e estabilidade financeira. Operadoras, empresas e consultorias estão se desafiando para criar caminhos inteligentes e seguros frente às incertezas que impactam o dia a dia dos segurados. A missão é encontrar o equilíbrio financeiro e a melhor experiência do empregado e, com base nisso, a WTW vem desenvolvendo uma série de pesquisas e estudos para ajudar as organizações a entender e se adaptar a cada ambiente e nos diversos cenários de negócio.
O ESG (environmental, social and governance) ganhou força no Brasil e está embarcado como estratégia de negócio, aportando novas perspectivas sobre soluções, serviços e dinâmica de produtos, convergindo em uma agenda prioritária e vital aos negócios.
À luz de ESG, o papel social dos benefícios se fortaleceu muito nestes últimos três anos. O seguro de vida, por exemplo, antes era visto como uma commoditie por ter um baixo custo quando comparado ao seguro saúde. Agora, esse produto se tornou de alto valor na perspectiva social ao garantir cobertura de morte por invalidez, auxílio funeral e doenças graves.
Ainda na visão de bem-estar social, a diversidade se tornou uma questão cada vez mais importante na atração de talentos. Diante disso, as seguradoras passaram a viabilizar produtos mais coerentes com essa diversidade. Há demandas para transição de gênero e congelamento de óvulo, por exemplo.
A saída tem sido criar soluções mais integradas de proteção e que levem em conta o perfil dos públicos. Esse trabalho tem sido feito em conjunto e envolve as consultorias, que estão muito bem-posicionadas e entendem essas variáveis novas, as seguradoras e as empresas que perceberam que precisam se diferenciar oferecendo uma experiência do empregado mais eficaz. Há um engajamento cada vez maior da alta diretoria nas questões relativas à saúde e benefícios e isso tem facilitado em tomadas de decisão muito mais assertivas.
As abordagens de saúde e benefícios mais eficazes são incorporadas à governança e cultura corporativas. Para isso é preciso uma boa estratégia com revisões e melhorias contínuas. Isso vale para qualquer momento, mas é ainda mais necessário no cenário de incertezas que vivemos atualmente. Nestes tempos sem precedentes, as empresas precisam do máximo possível de dados e insights de alta qualidade para tomar decisões informadas e garantir que sua força de trabalho se sinta segura, saudável, apoiada e produtiva.
*Cláudio Pepeleascov é líder da área de Saúde e Benefícios da WTW Brasil.
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Artigo – Evolução do setor de saúde é legado da pandemia
Por Fernando Silveira Filho
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de pandemia em relação à Covid-19. São três anos de combate a um vírus que vitimou cerca de 6,8 milhões de pessoas ao redor do mundo e que precisou do melhor que a humanidade tem a oferecer em termos de inovação e cooperação para ser controlado. Segundo a OMS, no período de 23 de janeiro a 19 de fevereiro deste ano, houve uma diminuição de 89% no número de casos e de 62% no número de mortes em relação aos 28 dias anteriores.
Enquanto o fim oficial da pandemia não é decretado, já é possível celebrar os avanços na área da saúde conquistados nesses últimos três anos. Em primeiro lugar, a produção em tempo recorde de vacinas, com diferentes tipos de tecnologia empregadas para a sua confecção RNA, vetor viral ou vírus inativado. Já estamos na fase de atualização desses imunizantes para lidar com as variantes que surgiram, levando menos da metade do tempo em que as vacinas pré-pandemia eram fabricadas e disponibilizadas para a população.
Outro avanço relevante foi a incorporação da telessaúde à rotina dos pacientes. Particularmente no Brasil, em termos legais, a Lei 13.989/2020, que regularizava a utilização da telessaúde durante o período pandêmico, foi revogada e substituída pela Lei 14.510/2022, que normatiza de maneira definitiva a prestação remota de serviços relacionados a todas as profissões da área de saúde.
Embora ainda seja mais utilizada no setor privado, a telemedicina já é empregada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e por boa parte dos médicos. De acordo com o estudo Os múltiplos usos da telemedicina durante a pandemia: as evidências de uma pesquisa transversal com médicos no Brasil (em tradução livre), conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Queen Mary University of London (Reino Unido), cerca de um terço dos médicos declarou ter praticado teleconsulta ao longo da pandemia. A telemedicina ainda foi utilizada para a discussão de quadros clínicos (55%), reuniões de serviço (48%) e na capacitação e atualização de conhecimentos (40%).
É preciso falar ainda dos dispositivos de aferição e controle, que já vinham ganhando popularidade com os wearable gadgets, conhecidos aqui como dispositivos vestíveis, e tiveram um boom com a pandemia. Vários estudos mostram que o mercado global de dispositivos vestíveis voltados à saúde deve chegar a US$ 30,1 bilhões até 2026.
Além dos conhecidos relógios e pulseiras com biomonitoramento, a tecnologia vem sendo integrada ao ambiente domiciliar. Hoje existem sensores integrados a colchões para o monitoramento do sono, banheiros com tecnologias para medir glicose no sangue e níveis de ureia na urina, entre tantas outras possibilidades. E há ainda o desenvolvimento de uma tecnologia vestível que consiga medir os principais mecanismos cerebrais através da pele, podendo monitorar a saúde mental do usuário.
Principal legado da pandemia, essas inovações, e outras que virão com os avanços tecnológicos, no entanto, sempre devem ter como objetivo principal a democratização do acesso da população à saúde de qualidade e o bem-estar dos pacientes.
*Fernando Silveira Filho é presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (Abimed).
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TV SERRA DOURADA
População deve ficar atenta quando for realizar procedimento estético
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FOLHA DE S.PAULO
Brasil passa longe da meta de vacinação contra o HPV
Cobertura da segunda dose é de 57% entre as meninas e de 37% entre os meninos
A vacinação contra o HPV (papilomavírus humano) no Brasil terminou o ano passado com uma cobertura abaixo da meta de 80%.
Entre as meninas, a primeira e a segunda dose tiveram, respectivamente, 75,91% e 57,44% de adesão, de acordo com balanço divulgado neste ano pelo Ministério da Saúde. Entre os meninos, os números são ainda menores: 52,26% na primeira aplicação e 36,59% na segunda.
A vacina foi introduzida pelo ministério em 2014 e, atualmente, é oferecida em duas doses para garotas e garotos de 9 a 14 anos.
Profissional de saúde aplica vacina contra HPV; cobertura entre as garotas é de 57,44% na segunda dose – Rodrigo Nunes/Ministério da Saúde
O imunizante também é ofertado a pessoas de 9 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos, grupo com maior risco de desenvolver complicações relacionadas ao papilomavírus.
As baixas taxas preocupam a pasta e profissionais da saúde pela associação do HPV ao câncer de colo do útero, de pênis, vulva, canal anal e orofaringe, além das verrugas genitais.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o vírus é responsável por mais de 95% dos casos de câncer de colo uterino, doença que mata cerca de 340 mil mulheres a cada ano.
No Brasil, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima 17.010 novos casos em 2023, o que posiciona o câncer cervical como o terceiro mais incidente na população feminina. Aqui, a neoplasia é a causa de mais de 6.620 mortes por ano.
A despeito disso, o levantamento do Ministério da Saúde mostra que em diversos estados a cobertura está longe dos 80%.
Dos 5.570 municípios brasileiros, 1.001 (18%) apresentaram cobertura inferior a 50% na segunda dose feminina e 3.251 (58%), na segunda aplicação masculina.
Cobertura vacinal contra o HPV em 2022 (%) UF Meninas Meninos Dose 1 Dose 2 Dose 1 Dose 2 AC 37,22 26,35 14,65 10,44 AL 72,16 49,98 42,60 26,94 AM 81,52 61,94 56,83 40,00 AP 61,24 43,16 30,55 19,70 BA 68,14 50,99 44,45 30,24 CE 80,04 60,23 48,47 33,55 DF 78,47 58,89 56,68 37,26 ES 83,31 66,74 71,12 52,01 GO 71,65 52,03 50,09 31,38 MA 67,67 50,21 39,71 27,35 MG 85,33 69,24 62,79 47,99 MS 76,13 55,87 53,83 34,72 MT 78,67 58,94 46,07 38,79 PA 62,86 45,43 35,74 23,38 PB 80,65 59,23 50,56 34,32 PE 71,01 52,95 45,96 30,97 PI 74,90 56,99 54,25 36,96 PR 94,64 78,56 77,08 62,42 RJ 62,59 42,89 38,81 24,42 RN 67,25 47,16 45,55 28,95 RO 70,30 51,24 50,33 31,72 RR 88,21 54,24 58,58 30,66 RS 78,18 57,90 59,23 38,66 SC 91,27 71,38 75,56 53,54 SE 72,43 53,96 34,62 32,84 SP 78,31 59,75 55,48 38,43 TO 78,87 61,57 59,11 40,23
“Pesquiso HPV desde o fim dos anos 1990. Achava que em 2023 já teríamos toda uma geração protegida e ainda não temos”, lamenta a ginecologista Cecilia Maria Roteli Martins, presidente da comissão de vacinas da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Entre os fatores que contribuem para as taxas reduzidas, destacam-se as dúvidas de pais e adolescentes, aspectos religiosos, a dificuldade de comparecimento a postos de saúde e as fake news.
“Muitos pais ainda têm dificuldades para indicar a vacinação para os filhos e dizem: ‘Mas a minha filha ou meu filho não é sexualmente ativo ainda. Não tem necessidade'”, conta Martins.
O fato de as doenças que o HPV provoca não serem visíveis e a interrupção da vacinação nas escolas também impactam os números.
“No começo, tivemos uma adesão muito grande porque fizemos a vacinação baseada na escola. No posto, há a dificuldade de horário, ninguém quer sair das tarefas para levar o filho ou a filha, o adolescente não quer interromper as atividades que tem nas horas de folga para ir tomar uma vacina”, diz a ginecologista.
Outro aspecto é a confusão entre reações psicogênicas e reações adversas. Episódios registrados em 2014, com 11 garotas em Bertioga (SP), e entre 2014 e 2017, com 74 meninas e meninos no Acre, causaram polêmica e levaram a uma associação da vacina a desmaios, dor generalizada, dificuldade de locomoção e convulsões.
A análise dos casos por especialistas, porém, demonstrou que não havia nenhuma causa biológica ligada ao imunizante. Foram reações psicogênicas, fenômeno definido pela OMS como conjunto de sintomas que se desenvolvem em resposta ao estresse (medo, ansiedade) associado à vacinação e que decorrem da combinação de fatores biológicos, sociais e psicológicos.
“Os eventos adversos que são observados com mais frequência nos diferentes países em que essa vacina é aplicada são dor no local da aplicação, inflamação, febre, algum mal-estar gástrico e diarreia. Não há nenhum registro de morte”, esclarece Martins.
Como forma de mudar o quadro, o relatório do ministério aponta estratégias como intensificar campanhas; monitorar as notícias falsas e apresentar conteúdo com linguagem clara; capacitar os trabalhadores da saúde e oferecer horários alternativos nas salas de vacinação.
“Temos uma vacina excelente e oferecida de graça. Não temos desculpa para continuar vendo casos de câncer de colo uterino nas próximas gerações”, frisa a pesquisadora.
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O GLOBO
Vacina recém-aprovada contra a dengue deveria ser incluída no SUS
Brasil registrou em 2022 recorde de mortes pela doença. Combatê-la exige atenção das autoridades
A aprovação, pela Anvisa, de uma nova vacina contra a dengue é um passo fundamental para o Brasil combater a doença, que há décadas fustiga a população e desafia autoridades sanitárias. Aplicada em duas doses, a Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, protege contra os quatro tipos de dengue e, de acordo com a fabricante, tem eficácia de 80% para prevenir casos leves e de até 95% contra hospitalizações e mortes. O uso, recomendado para a faixa de 4 a 60 anos, já havia sido aprovado na União Européia.
No ano passado o Brasil registrou 1.016 mortes por dengue, 316% acima de 2021 e o recorde desde o ressurgimento da doença nos anos 1980. Os casos em 2022 passaram de 1,4 milhão. A alta é explicada pela temperatura elevada, combinada às chuvas; pela pandemia, que prejudicou o combate a focos do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti; e pela sazonalidade. Nada indica que neste ano a situação melhorará. De acordo com os números mais recentes, em janeiro e fevereiro houve aumento de 46% nos casos, em relação ao mesmo período de 2022.
Antes da Qdenga, a Anvisa já licenciara outra vacina, a Dengvaxia, do laboratório Sanofi. Mas ela não é usada em larga escala. Aplicada em três doses, é recomendada apenas para quem já foi infectado e esteja na faixa de 9 a 45 anos. Não está disponível no SUS, apenas em clínicas particulares. O Instituto Butantan, em São Paulo, também desenvolve sua vacina de dose única contra a dengue. Os estudos estão na fase 3, e a expectativa é que os resultados sejam submetidos à Anvisa até o ano que vem.
O importante agora é incorporar a nova vacina já aprovada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), para que possa ser oferecida gratuitamente no SUS. Segundo o Ministério da Saúde, antes ela terá de passar pelo crivo da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Espera-se que a burocracia não atrase sua chegada a quem precisa.
Um dos principais desafios no combate à dengue é que ele depende não só do Ministério da Saúde, de estados e de prefeituras, mas também da população. Em geral os focos do mosquito se concentram em residências ou áreas próximas e exigem ação constante. Nisso os três níveis de governo têm falhado. Por reduzir a circulação do vírus, a vacina ajudará a lidar com o desafio.
Convencer os brasileiros a tomar mais uma vacina é sempre difícil. Para isso existem campanhas de publicidade e outras estratégias. Nem todos precisarão tomá-la. De posse dos dados disponíveis sobre incidência, casos e mortes, as autoridades sanitárias definirão as prioridades. O essencial é dar aos brasileiros a chance de não morrer por uma doença para a qual existe vacina testada e aprovada.
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PORTAL G1
Jornalista transforma sofrimento com violência obstétrica em documentário
“A dor do parto que eu não tive” intitula o documentário da jornalista Denise Soares que revela diversos relatos de mulheres que passaram por violência obstétrica, além de entrevistar profissionais da área da saúde e do Direito. O documentário ainda propõe uma reflexão sobre assistência humanizada, que garanta acesso seguro, digno e de qualidade na gestação, parto e puerpério.
“Se um dia nossos filhos nos perguntarem ‘como foi quando eu nasci, mamãe?’, que história nós vamos contar para eles? Percebe o impacto que tem o nascimento?”
A frase da jornalista está na divulgação da obra, que conta com equipe voluntária na produção, e foi esse pensamento que a motivou a realizar o documentário.
“É difícil expor uma dor como essa. É delicado tocar em um assunto polêmico. Mas fizemos esse documentário porque a informação correta educa, e é capaz de evitar outras vítimas, de punir os responsáveis pela violência obstétrica, e de provocar mudanças significativas no sistema”.
O documentário será exibido em duas sessões no Shopping Bosque Grão Pará, na sexta-feira (17) às 19h30, e no sábado (18), às 20h30. É necessário realizar inscrição antecipada por conta do número de lugares. Clique aqui e saiba mais.
A história que dá força para a luta
Denise optou por ter parto normal e se informou durante todo o período gestacional porque tinha medo de passar por violência obstétrica ou qualquer situação abusiva. Ela tinha plano de saúde, o qual não cobria obstetrícia, então ela optou pelo parto através do SUS.
“Há três anos, como ainda é hoje, infelizmente, era muito loteria. Você vai com uma equipe de plantão, não sabe quem vai encontrar e se as pessoas ali vão te acolher e te dar a melhor assistência. E aí comecei a pesquisar onde poderia ter um parto respeitoso, onde eu tivesse autonomia e onde eu fosse a protagonista do meu parto. E de todos os hospitais que atendiam SUS, vi que corria risco de sofrer violência obstétrica em Belém”, lembra.
Denise decidiu ir para a Casa de Parto, em Castanhal, cidade distante cerca de 70 km da capital, Belém. A Casa é o único centro de parto normal na região.
Isto ocorreu em junho de 2020. Belém estava no segundo lockdown devido à pandemia de covid-19, e todos os estabelecimentos passavam por restrições, inclusive hospitais e a Casa de Parto também.
“Antes de ir para lá, fui fazer minha avaliação em Belém, pois estávamos em período de pandemia e já deveria chegar na Casa de Parto em trabalho de parto. Em uma maternidade na capital, não permitiram que o acompanhante entrasse comigo, o médico rompeu a minha bolsa com 2 cm de dilatação, sem falar nada, e disse que eu deveria pagar pelo atendimento”.
Denise lembra que o médico que a atendeu fez um toque extremamente violento, com o qual ela se sentiu abusada.
Ao perguntar se a água no chão era a bolsa dela que tinha rompido, ele respondeu friamente que era.
“Ele começou a preencher minha ficha e eu disse que não ficaria ali, que eu só tinha ido fazer uma avaliação, e então ele disse que eu teria que pagar [pela consulta]. Pagar? O senhor não está vendo minha ficha? Eu vim pelo SUS, não vou pagar nada, meu atendimento é de graça. Aí ele colocou minha ficha dentro de uma pasta e disse ‘boa sorte’ e arquivou em um armário”.
Chegada na Casa de Parto e a esperança de parir com dignidade
Chegando em Castanhal, Denise e marido foram recebidos na Casa de Parto e lá sentiram que conseguiriam protagonizar aquele momento único e inesquecível.
“Consegui até esquecer do tratamento inicial em Belém. Estava transcorrendo tudo bem, apesar de muita dor. As contrações eram muito próximas por conta dele ter rompido minha bolsa e não conseguia relaxar. Mas lentamente estava evoluindo”, conta Denise.
Mas ao chegar em 9 cm de dilatação o trabalho de parto parou de evoluir. As horas avançaram e pelo protocolo do espaço, era necessário transferir a gestante para o hospital.
“Todo o sonho, toda a preparação, tudo o que estudei não valeu de nada. Fui maltratada da porta do hospital até Eva nascer, inclusive na assistência pós-parto”.
“Eu lembro de ter pedido para uma enfermeira que se minha filha nascesse bem, que eu queria que ela viesse para o meu colo. Eu tinha sonhado com a ‘hora de ouro’, eu sabia da importância daquele contato pele a pele, que não tinha necessidade de limpar o bebê, de fazer vários procedimentos com o bebê desnecessários, que podia pesar, medir, fazer isso depois. Pedi chorando e elas olharam uma para a outra, riram e começaram a debochar”, conta a jornalista.
Denise conta que sentiu que desde que foi transferida da Casa de Parto para o hospital de Castanhal, que a situação não sairia como ela esperava.
“Meu Deus, o que estou fazendo aqui?”, pensei.
Violência fora e dentro do centro cirúrgico
Enquanto Denise aguardava em uma cadeira de rodas, passou por dois procedimentos de toque sem ser comunicada devidamente e sem qualquer informação sobre a situação da criança e se ainda tentaria a via normal ou se seria submetida à cesariana.
Uma enfermeira informou que o marido de Denise não poderia entrar por conta da restrição pandêmica e eles discutiram sobre a Lei do Acompanhante e pediram para falar com o médico.
“O médico saiu do centro cirúrgico já impaciente e meu marido pediu para que acompanhasse a cirurgia e o médico disse que não podia, que era uma regra do hospital, que estavam em pandemia. Meu marido falou para ele ‘mas em Belém estão obedecendo a Lei do Acompanhante’, e o médico respondeu ‘então vá para Belém’ e entrou no centro cirúrgico e bateu a porta na nossa cara”.
Denise começou a chorar e disse que sentiu diversos sentimentos ao mesmo tempo, inclusive medo de entrar sozinha no centro cirúrgico.
Ela conta ainda que lembra de uma técnica de enfermagem, que a ajudou a trocar de roupa e tentou acalmá-la.
Quando o anestesista chegou, Denise tentou perguntar algo, mas ele pegou seus ombros com força, baixou-os e disse “vou aplicar a anestesia” . Ela deitou e a amarram.
“Amarrada, sozinha, sofrendo tudo aquilo, o que eu poderia fazer? Ainda consegui falar que mulher nenhuma merecia passar pelo que eu estava passando ali’.
Eva veio ao mundo e a técnica de enfermagem que tentou acalmá-la pegou a bebê e falou “olha, ela é parecida com você”. Denise pediu para que não dessem banho na bebê, e a profissional disse que só iria levar a criança para os procedimentos, mas que não daria banho.
Denise apagou e já acordou com Eva no meio de suas pernas para ser levada para o quarto.
Compartilhar para mudar
“A revolta continua. Ela não vai nascer de novo, mas precisava fazer alguma coisa, e o documentário veio a partir desse entendimento de que o que eu passei não foi em vão”. Foi esse pensamento que deu forças para Denise compartilhar a difícil experiência.
Quando compartilhou em uma rede social, mais ou menos um mês após o nascimento da filha, muitas mulheres também relataram ter sofrido violência obstétrica. Naquele momento, Denise guardou os contatos das mulheres porque sabia que poderia servir futuramente.
“Saber que essa sementinha está sendo plantada e o fato de pessoas de todas as áreas poderem ter acesso a esse tipo de informação, saber o que é violência obstétrica, reconhecer, denunciar, isso me motivou a trabalhar no documentário dando meu relato, ouvindo outras mulheres e profissionais que trabalham em prol da humanização dos nascimentos e mostrar que um parto humanizado é um parto respeitoso, que respeita o protagonismo da mulher, dá voz aquela mulher, que ela tem direito de falar e ser ouvida”.
“Uma vez eu ouvi que esse é um assunto de interesse social porque todas as pessoas nascem e a imensa maioria das mulheres vai querer ter filho”.
O que é violência obstétrica?
A violência obstétrica se caracteriza por qualquer atitude que fere a dignidade e autonomia da mulher no processo gestacional.
Exemplos de violências:
Violência obstétrica é crime?
O termo em si, não, porque não está expresso no Código Penal Brasileiro, mas condutas consideradas como violência obstétrica podem ser enquadradas em algum crime.
Omitir socorro, violência sexual, lesão corporal, por exemplo, são condutas criminosas
Como denunciar
A denúncia de violência obstétrica pode ser feita de forma administrativa e judicial.
A via judicial é utilizada para fins de indenização. Neste caso, é necessário que a violência tenha ocorrido há, no máximo, três anos, pois esse é o prazo máximo para dar entrada na ação judicial cível. Dependendo do tipo de violência, também pode ser aberto um processo criminal.
Procure um advogado especialista ou a Defensoria Pública para dar entrada na ação de indenização ou no processo criminal.
O processo judicial é importante para a responsabilização dos envolvidos e para ajudar a dar visibilidade à quantidade de casos de violência obstétrica no Brasil.
Solicite por escrito seu prontuário no hospital. Você tem direito a ele por lei e é lá que constam todas as informações sobre seu atendimento. Escreva seu relato de parto com a maior riqueza de detalhes possível, descrevendo todas as violências que sofreu e quem as cometeu (lembre-se que os nomes da equipe estão no prontuário), e sem ofensas pessoais ou palavras de baixo calão.Caso o parto/cirurgia/aborto seja recente, você pode ir a uma delegacia e fazer um boletim de ocorrência relatando a violência sofrida, mas não é obrigatório.
Administrativamente, é possível fazer a denúncia em todos os órgãos abaixo ou somente em alguns deles:
Protocolo do relato de parto e do prontuário no protocolo geral/ouvidoria do hospital, no conselho de classe referente ao profissional que praticou a violência, na Ouvidoria do SUS ou da ANS, caso você tenha plano de saúde, e no Ministério Público.
Lembre-se de entregar cópias e, na sua, pedir que eles carimbem ou deem um “recebido” com a data. Diga que quer que seja gerado um processo administrativo e o número dele para acompanhamento.
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CORREIO BRAZILIENSE
Dormir pouco pode reduzir efeito de vacinas
Imunização em pessoas que descansam menos de seis horas por dia gera uma resposta de anticorpos menor do que o esperado
A má qualidade do sono já foi associada a doenças cardiovasculares, metabólicas e neurológicas. Agora, ao revisar dados de estudos anteriores, uma equipe da Universidade de Chicago e do Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm) descobriu que donnir pouco reduz a eficácia de vacinas. O artigo, publicado na revista Currenl Biolog)’, mostrou que pessoas que tiveram menos de seis horas de repouso por noite nos dias que antecederam a imunização apresentaram uma resposta reduzida de anticorpos.
O trabalho tem como base um estudo de 2002 realizado por integrantes da equipe. Eles mostraram que restringir o sono nos participantes diminui a contagem de anticorpos contra influenza pela metade, comparado ao grupo de controle, 10 dias após a inoculação. O interesse pela pesquisa foi reavivado durante os bloqueios da pandemia de covid-19, quando os cientistas passaram a se conectar com outros pesquisadores que estudaram a questão. Assim, começaram a reunir dados para a meta-análise.
Em sete estudos que examinaram o impacto da duração do sono na vacinação contra doenças virais, como influenza e hepatite, os pesquisadores descobriram que o descanso noturno insuficientedefinido como menos de seis horas – nos dias que antecedem a vacinação resulta em uma diminuição da resposta de anticorpos. “O sono insuficiente é um fator comportamental que pode ser corrigido antes da vacinação e não apenas fortalecer, mas também estender a resposta à vacina”, disse Eve Van Cauter, professora emérita de medicina na UChicago e autora sênior da meta-análise.
A cientista enfatiza que é sabido que as pessoas respondem de maneira diferente a imunizações conforme a idade, o sexo, as condições médicas existentes e outros fatores de difícil modificação. “Ter um comportamento facilmente modificável que se pode ajustar na hora da consulta oferece algo que você pode
Estudo considerou o sono insuficiente dias antes da imunização: em média, dois meses a menos de células de defesa depois da inoculação
controlar e que, provavelmente, melhorará a resposta do seu corpo”, afirma Cauter.
A associação foi observada apenas em estudos que avaliaram objetivamente a duração do sono usando rastreadores de atividade vestíveis ou estudos em laboratório. A duração do repouso autorreferida não foi um preditor de resposta à vacina, o que pode indicar falhas no relato dos participantes, ponderam os autores.
Os pesquisadores também observaram que, embora a associação fosse forte para os homens, era mais fraca e não estatisticamente significativa para as mulheres. Eles argumentam que isso, provavelmente, se deve ao fato de que nenhum dos estudos em participantes do sexo
0 sono insuficiente é um fator comportamental que pode ser corrigido antes da vacinação e não apenas fortalecer, mas também estender a resposta à vacina”
Eve Van Cauter, professora emérita da Universidade de Chicago e autora sênior do artigo
feminino considerou as variações nos níveis de hormônios sexuais por ciclo menstruai, o uso de contraceptivos e o estado da menopausa.
“A ligação entre o sono e a eficácia da vacina pode ser uma grande preocupação para pessoas com horários de trabalho irregulares, especialmente para trabalhadores em turnos que normalmente têm duração reduzida do sono”, disse Van Cauter. “Isso é algo que as pessoas devem considerar planejar para garantir que estejam dormindo o suficiente na semana anterior e posterior às vacinas.”
Covid-19
Usando os resultados da meta-análise e comparando com dados conhecidos sobre a resposta de anticorpos à vacina Pfizer-BioNTech para a covid-19, os pesquisadores estimaram que os efeitos do sono insuficiente na resposta ao imunizante seriam equivalentes a dois meses de diminuição dos anticorpos após a inoculação. “Curiosamente, vimos os mesmos resultados tanto na gripe, que é um vírus respiratório, quanto na hepatite, que afeta o fígado, sugerindo que esse efeito pode se estender a todos os tipos de vírus, incluindo os coronavírus, como o Sars-CoV-2”, disse Karine Spiegel, primeiro autor do estudo e pesquisador da Inserm.
Os pesquisadores esperam que o estudo inspire mais pesquisas sobre o fenômeno para esclarecer os efeitos em homens e mulheres, bem como para entender melhor como diferentes vacinas podem ser afetadas pela duração do sono e como o repouso pode ser otimizado para promover uma melhor resposta à imunização. “Precisamos de estudos muito maiores que controlem o ambiente de hormônios sexuais em mulheres, em particular”, indicou. “Precisamos também de uma melhor definição de quantos dias de sono curto afetam a resposta de anticorpos e se é pouco antes da vacina ou também durante e depois. Estudos em larga escala que consideram características comportamentais, demográficas e hormonais devem fornecer novas percepções que se traduzirão em impactos mensuráveis na eficácia da vacina.”
Van Cauter lembra, ainda, que o sistema imunológico não é o único modulado pelas noites mal dormidas. “O sono insuficiente está ligado a outros problemas de saúde, como um risco aumentado de desenvolver obesidade, diabetes ou hipertensão. As vacinas são uma ferramenta importante para prevenir e reduzir os impactos de doenças infecciosas, e acreditamos que você pode implementar uma simples mudança de comportamento – dormir o suficiente- para obter um benefício imediato. É barato e não há efeito adverso.”
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FOLHA DO ESTADO ONLINE
Mês da Mulher: Supremo decidiu que grávidas não podem ter funções insalubres
Em maio de 2019, o Supremo Tribunal Federal invalidou dispositivo da Reforma Trabalhista que condicionava o afastamento de gestantes ou lactantes do exercício de atividades insalubres à apresentação de atestado médico. A decisão foi tomada no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5.938, ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos.
A norma declarada inconstitucional havia sido inserida na CLT pela Lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista) e admitia que gestantes exercessem atividades consideradas insalubres em grau médio ou mínimo e que lactantes desempenhassem atividades insalubres em qualquer grau, exceto quando apresentassem atestado de saúde, emitido por médico de sua confiança, recomendando o afastamento.
O ministro Alexandre de Moraes (relator), em decisão individual, já havia deferido liminar para suspender a aplicação da regra. Na análise do mérito, o Plenário confirmou a cautelar e julgou procedente o pedido, vencido o ministro Marco Aurélio (aposentado).
Em seu voto, o relator destacou que a proteção à maternidade e à criança são direitos irrenunciáveis e não podem ser afastados pelo desconhecimento, pela impossibilidade ou pela própria negligência da gestante ou da lactante em apresentar atestado médico, sob pena de prejudicá-la e prejudicar o recém-nascido.
O ministro destacou a dificuldade das mulheres que não têm acesso à saúde básica para obterem um atestado para essa finalidade. Segundo ele, a Constituição Federal garante uma série de direitos sociais, como a proteção à maternidade, a licença-maternidade e a estabilidade no emprego durante a gravidez, além de normas de saúde, higiene e segurança.
Na sua avaliação, mesmo em situações de manifesto prejuízo à saúde da trabalhadora, a mudança na lei passou a atribuir a ela o ônus de demonstrar essa circunstância, o que desfavorece a plena proteção dos interesses constitucionalmente protegidos.
Também no seu entendimento, a norma, ao prever o afastamento automático da gestante somente no caso de insalubridade em grau máximo contraria a jurisprudência da Corte que tutela os direitos da empregada gestante e lactante, do nascituro e do recém-nascido lactente, em quaisquer situações de risco à sua saúde e ao seu bem-estar.
Retrocesso social
Para a ministra Rosa Weber, a alteração promovida pela Reforma Trabalhista foi um “inegável retrocesso social”, pois revogou a norma anterior que vedava o trabalho insalubre da gestante ou lactante, além de menosprezar direito fundamental à saúde da mãe trabalhadora.
Ela lembrou que o valor social do trabalho e o princípio da dignidade da pessoa humana permeiam todo o texto constitucional e, por isso, alterações legais não podem comprometer os valores construídos na sociedade brasileira e os direitos fundamentais nas relações de trabalho.
Segundo o ministro Luís Roberto Barroso, a nova redação afrontou o direito social à proteção da maternidade, o princípio do melhor interesse da criança (artigo 227 da Constituição Federal) e o chamado princípio da precaução, pelo qual, sempre que houver risco ou incerteza, deve-se favorecer a posição mais conservadora e protetiva.
Amarras
Em seu voto, o ministro Luiz Fux ressaltou que a trabalhadora, na busca de manter seu emprego no médio prazo, poderia preferir se submeter a fatores de risco e não apresentar atestado médico. Essa atitude poria em risco a sua saúde, decorrente de um eventual aborto espontâneo, e também do bebê, vulnerável na lactação e, mais ainda, na fase gestacional.
Além disso, a seu ver, a regra, ao atribuir à trabalhadora o ônus de apresentar o atestado, reforça amarras socialmente construídas, que recaem desproporcionalmente sobre a mulher. Já a ministra Cármen Lúcia disse que a gestação não é uma vulnerabilidade, mas uma bênção, e que acaba sendo retaliada “por uma sociedade na qual qualquer possibilidade de afastamento do empregado opera em seu desfavor”.
O ministro Celso de Mello (aposentado) também ressaltou que a regra legal, caso fosse validada, provocaria “inadmissível efeito perverso resultante do desrespeito e da ofensa ao princípio que veda o retrocesso social”.
Divergência
Único a divergir, o ministro Marco Aurélio (aposentado) votou pela improcedência do pedido. Para ele, a norma não conflita com a Constituição Federal e é razoável ao exigir pronunciamento médico sobre a conveniência do afastamento do ambiente insalubre em grau médio.
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REVISTA HOSPITAIS DO BRASIL
Número de títulos em residência médica cresce mais de 80% em uma década no Brasil
Demografia Médico Brasileira aponta que o número de registros de médicos titulados no país em 2022 foi de 495.716, um aumento de 84% nos últimos dez anos
A residência médica está em alta no Brasil. A modalidade de pós-graduação é o desejo de muitos médicos para dar continuidade aos estudos e se especializar em determinada área profissional. No país, o número de títulos de residência aumentou consideravelmente nos últimos anos. A edição da Demografia Médica Brasileira (DMB) 2023, lançada pela Associação Médica Brasileira (AMB), em parceria com Faculdade de Medicina da USP, divulgou que o número de registros de médicos titulados em 2022 no país foi de 495.716, 84% a mais em relação à 2012.
Para iniciar e concluir uma residência médica vários desafios são exigidos dos participantes, como passar por um difícil processo seletivo e vivenciar a rotina no hospital. Também é o momento de reafirmar a escolha profissional na prática, com a ajuda de supervisores, ou mudar a trajetória.
A Fundação São Franciso Xavier tem uma longa trajetória na oferta de programas de residência. Os programas de residência médica foram iniciados no Hospital Márcio Cunha, há mais de duas décadas. Hoje, são quase 100 residentes em 14 especialidades médicas. “O programa de residência dos hospitais da FSFX tem como objetivo fundamental o aperfeiçoamento progressivo do padrão profissional e científico do médico e a melhoria da assistência à comunidade, além de formar profissionais capacitados para atender nas mais diversas áreas da medicina”, explica Milton Henriques Guimarães Junior, coordenador de Ensino e Pesquisa da FSFX.
O médico de família da Usisaúde, operadora de planos de saúde da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), Eike Lúcio Vieira Viana, que atua no Hospital Márcio Cunha (HMC) em Ipatinga – instituição de alta complexidade e referência para todo o leste de Minas Gerais – credita seu sucesso profissional à residência médica. “A residência agregou muito valor à minha vida, tanto para a satisfação profissional como pessoal. Ela me permitiu adquirir mais conhecimento e com certeza abriu portas”, conta.
Natural de Ipatinga, Eike se formou em 2016 na faculdade de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (MS). Nos últimos anos do curso, ele se interessou pela medicina de família e comunidade, uma especialidade que atende aos problemas mais comuns de saúde da população. “Eu me encantei com a possibilidade de ser um especialista nessa área de atuação, que tem como foco o atendimento humanizado a pacientes de todas as idades e a assistência integral”, lembra.
Em 2018, Eike voltou para sua terra natal e iniciou a residência médica no Hospital Márcio Cunha. “Eu nasci neste hospital, minha família tem grande relação com ele. É uma instituição que eu conheço bem e de grande credibilidade. Por isso, decidi fazer a residência médica no HMC. Foi um período de intenso aprendizado. Me identifiquei logo de cara com a área escolhida e tive a certeza de que era isso que queria. A experiência foi muito interessante, temos contato diário com especialistas, tanto da medicina de família como de outras áreas que são referências”, completa.
Quando terminou a residência, em março de 2020, Eike foi convidado a fazer parte da equipe de colaboradores do HMC e assumiu a função de preceptor de residência, ou seja, ele recebe outros residentes e os auxilia no dia a dia do hospital. “É uma responsabilidade muito grande. Estou formando outros médicos especialistas. É uma troca, a gente ensina e aprende o tempo todo”, ressalta.
Mudança de trajetória
A residência médica também é um importante período para confirmar o caminho a ser seguido. A pediatra Iara Gail Lopes tem uma história de autoconhecimento e dedicação com a residência médica. Formada pela Universidade do Vale do Aço (Univaço), a médica fez dois meses de ginecologia e obstetrícia no Hospital Márcio Cunha e depois resolveu mudar a trajetória. “Eu compreendi que a ginecologia não era a área que queria seguir. Sempre quis pediatria e, então, voltei a estudar novamente e consegui novamente uma vaga no Hospital Márcio Cunha”, conta.
Para ela, a mudança foi essencial para sua carreira. “Nem sempre a gente tem a certeza no início do curso. E a residência é essencial para confirmar nossas escolhas. Com a rotina do dia a dia, você consegue ter o entendimento da sua área. Mudar o caminho é prova de amadurecimento e autoconhecimento”, frisa.
A pediatra exalta o conhecimento adquirido na residência. “A residência médica capacita, auxilia, treina e refina o conhecimento. É o momento de tirar dúvidas, de aprender na prática, de abrir os horizontes. Ela é dinâmica, você aprende trabalhando, com a discussão de casos, com o apoio dos supervisores”, comenta. Assim como Eike, Iara também foi contratada depois da residência e hoje é preceptora de residentes.
Consultório espelhado
Uma ferramenta especial que vem sendo utilizada para garantir o bem-estar do paciente e contribuir para o aprendizado é o consultório espelhado. É um consultório que tem um vidro especial que dá visibilidade a quem está do lado de fora e é equipado por uma câmera e um microfone. O preceptor pode avaliar o atendimento do residente do outro lado do espelho sem interromper a consulta.
Pioneiro no Vale do Aço, o Hospital Márcio Cunha possui dois consultórios espelhados, um na área de enfermagem e outro na residência de medicina de família. Segundo o Dr. Eike Lúcio Vieira Viana, o consultório tem como objetivo auxiliar o atendimento do paciente e avaliar a conduta do residente. “O paciente sempre é informado que estamos monitorando, e o residente tem conhecimento que pode ser monitorado a qualquer hora, ele é avisado no início da residência. Do lado de fora, podemos monitorar a atuação do médico, como ele interage com o paciente e discutir esse atendimento”, explica.
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FOLHA.COM
Estados e municípios acumulam bilhões parados em fundos de saúde
Gestores e especialistas apontam pouco monitoramento; ministério diz que gestão dos recursos é de responsabilidade de quem recebe a verba
Brasília
Estados e municípios acumulam saldos de mais de R$ 25 bilhões em repasses feitos pelo governo federal ao SUS (Sistema Único de Saúde). Esse valor disparou com verbas destinadas ao combate à pandemia de Covid-19 e emendas parlamentares.
Gestores da saúde e pesquisadores consideram que a cifra acumulada reflete diversos gargalos, como a dificuldade de gestão e execução da verba e até mesmo a ingerência política para manter os recursos em caixa e fechar o ano com resultado positivo.
Os recursos provêm do FNS (Fundo Nacional de Saúde), cuja função é irrigar os cofres dos entes da Federação para custeio, investimento e financiamento de ações da rede pública. Do saldo total, R$ 10,3 bilhões estão em contas estaduais. E o restante, com os municípios.
Autores de estudos sobre os saldos, Blenda Pereira e Daniel Faleiros dizem que falta monitoramento por áreas especializadas, como de atenção básica ou vigilância sanitária, do Ministério da Saúde sobre o destino da verba.
“O ministério faz parte da gestão do SUS, não pode só repassar o recurso”, disse Pereira, que é doutoranda em saúde pública na USP.
Por outro lado, eles afirmam que é preciso olhar os valores dos saldos com cautela. “Não considero que o volume seja alto. Equivale a cerca de três meses de repasses [do FNS]”, afirmou a pesquisadora.
Para o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), “um monitoramento efetivo por parte do Ministério da Saúde para orientação aos entes subnacionais é fundamental”.
“Ajudaria a comprovar ou não os fatores apontados acima e daria um suporte técnico aos entes subnacionais, contribuindo assim para uma maior celeridade aos respectivos processos”, disse a entidade em nota.
O Ministério da Saúde afirma que a responsabilidade do montante é dos entes da Federação. “Uma vez que os recursos são transferidos, pelo Fundo Nacional de Saúde, aos estados e municípios, sua gestão cabe aos mesmos”, disse.
A pasta também ofereceu uma outra hipótese para os saldos: os recursos podem já estar comprometidos, aguardando comprovação de uma obra, por exemplo, para serem executados.
Entretanto, há casos em que um local poderia ficar meses sem receber novos repasses e continuaria com recursos. Não há nenhuma regra determinada pelos legisladores ou gestores para repasses nas situações em que as contas já tenham saldo mais do que 100% superior ao recurso destinado pelo ministério.
É o que ocorre em Goiás. O estado, governado pelo médico Ronaldo Caiado (União Brasil), tem R$ 440 milhões em saldos do FNS. No ano passado, recebeu cerca de R$ 390 milhões e executou R$ 410 milhões. Ou seja, um valor menor do que há em saldo.
“Estes valores [R$ 440 milhões] são provenientes de várias portarias do Ministério da Saúde, que transferiram recursos para a SES-GO [Secretaria da Saúde], e cada um desses instrumentos possui regramento específico de utilização, com objetos definidos”, disse a secretaria em nota.
Desse montante, continuou a pasta, cerca de R$ 150 milhões são de recursos destinados à pandemia da Covid-19 e aguardam a finalização de licitações, “cujo trâmite não permite a utilização imediata do recurso”.
Goiás teve 28 mil mortes pelo vírus. No auge da pandemia, o sistema de saúde de Goiânia colapsou.
Doutor em economia da saúde pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Daniel Faleiros afirma que há uma cultura do Ministério da Saúde de enviar recursos carimbados para “pequenos planos”, o que trava a execução da verba.
A Saúde chegou a repassar R$ 600 milhões na pandemia que só poderiam ser usados na compra de medicamentos de saúde mental, quando o gasto poderia ter servido para compra de respiradores ou outras ações
“A Saúde chegou a repassar R$ 600 milhões na pandemia que só poderiam ser usados na compra de medicamentos de saúde mental, quando o gasto poderia ter servido para compra de respiradores ou outras ações”, disse ele.
Outro estado com saldo muito superior aos repasses é Mato Grosso. Há R$ 571 milhões no caixa. No ano passado, o estado recebeu repasses de R$ 385 milhões.
No mês de melhor execução, Mato Grosso gastou R$ 33,14 milhões do fundo. Nesse ritmo, o saldo duraria por mais de um ano, sem precisar de um novo aporte do ministério.
Parte dos repasses do FNS é obrigatório. Outros recursos são destinados por emendas parlamentares ou para ações definidas durante o ano.
As chamadas emendas do relator, que foram consideradas inconstitucionais pelo STF (Supremo Tribunal Federal), ampliaram distorções no financiamento do SUS.
São Gonçalo, no Rio de Janeiro, tem um dos maiores saldos entre os municípios, de R$ 146 milhões. Essa reserva era de R$ 60 milhões em maio de 2022. O valor mais do que dobrou após a chegada das emendas em junho, meses antes das eleições.
Em nota, a prefeitura disse que há recursos de emendas feitas há mais de cinco anos e que só agora, com regulação pelo Ministério da Saúde, poderão ser utilizados. O valor exato, contudo, não foi compartilhado.
O município diz ainda haver uma crescente demanda por serviços públicos de saúde; por isso, os repasses.
“A atual gestão vem trabalhando com planejamento e otimização dos recursos, a fim de aplicá-los de forma assertiva, para garantir a efetiva melhora na prestação de serviços”, afirmou.
O FNS é regido por lei e portarias do ministério. Os recursos que chegam aos entes são carimbados, ou seja, têm destinação específica. Uma regra estabeleceu ainda que, a partir de 2018, só teriam dois objetivos: investimento e custeio.
A portaria que versa sobre o fundo veda a utilização dos recursos para pagamento de servidores, ativos ou inativos, e gratificações. O texto também proíbe o uso do dinheiro para pagar assessorias ou consultorias.
Para investimento, os gestores podem utilizar os recursos na compra de equipamentos, obras de reformas ou construções novas. Esse tipo de gasto costuma ser mais trabalhoso, por exigir licitações e depender de empresas.
São Paulo, por exemplo, tem o maior saldo em contas, com R$ 2,1 bilhões. Mas o estado tem patamares altos de execução, o que mantém o saldo relativamente estável.
Sergipe, por sua vez, é o estado com o menor saldo de recursos do FNS, R$ 43 milhões.
O critério do rateio do FNS está definido em lei e tem como objetivo reduzir desigualdades regionais. Para pesquisadores, as emendas parlamentares ferem esse princípio.
Médico sanitarista e professor da FGV, Adriano Massuda afirma que o SUS deve encontrar caminhos para melhorar a execução dos recursos e atender demandas regionais. Ele cita como uma saída a criação de arranjos de contratação de obras e equipamentos,
O professor diz ainda que verbas de ações prioritárias foram cortadas para acomodar as emendas. “Problema não é o volume do recurso [em saldos], mas a alocação. O SUS é subfinanciado. Esse dinheiro deveria estar alocado em outros lugares.”
REPASSES FEDERAIS DO SUS
Estados e municípios recebem verbas federais
Verba distribuída em 2022: R$ 101 bilhões
R$ 101 bilhões Saldo atual de estados e municípios: R$ 25,8 bilhões em dezembro de 2022
R$ 25,8 bilhões em dezembro de 2022 Saldo antes da pandemia: R$ 17,2 bilhões em janeiro de 2020
R$ 17,2 bilhões em janeiro de 2020 Maior repasse em 2022: R$ 19,14 bilhões, em junho, sob influência de emendas
R$ 19,14 bilhões, em junho, sob influência de emendas Melhor execução em 2022: R$ 9,98 bilhões, em dezembro
R$ 9,98 bilhões, em dezembro Execução dos fundos no ano: cerca de 74,6% em 2022
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Assessoria de Comunicação