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O POPULAR
Editorial – Tarja preta
Mais um escândalo de corrupção vem à tona, agora com a Operação Tarja Preta, do Ministério Público (MP), que investigou sistema para fraudar compra de remédios em prefeituras.
Trata-se de denúncia de extrema gravidade, que ganha contornos ainda mais espantosos pelo fato de entre as 37 pessoas presas estarem 11 prefeitos e um ex-prefeito de seis partidos. No total, conforme apurado, 19 prefeituras goianas participaram do esquema.
A indignação se acentua pela suspeita de desvio de recursos da saúde, área tão essencial e carente de investimentos, o que faz com que muitas vezes o cidadão se veja desamparado, quando o atendimento digno lhe é garantido em lei.
As transações ilícitas movimentaram pelo menos R$ 15 milhões somente neste ano, segundo o MP, que constatou licitações direcionadas e superfaturamento para beneficiar empresas que teriam financiado a campanha eleitoral de alguns dos acusados. Além disso, os agentes públicos cobravam propina para garantir exclusividade na negociação.
Esse conluio evidencia brechas na lei eleitoral que ainda permitem a prática condenável de caixa 2, que contamina a administração pública. Também deixa claro que são imprescindíveis rigor, transparência e fiscalização dos gastos e prestação de contas na gestão pública, mesmo em áreas de maior urgência, como é o caso da saúde.
Operação Tarja Preta
Família comandava esquema
Grupo de empresas em que sócios são parentes é apontado como núcleo organizacional de fraudes envolvendo compra de remédios
Alfredo Mergulhão
Um grupo empresarial familiar é apontado como centro do esquema criminoso investigado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) na Operação Tarja Preta, deflagrada na terça-feira. As quatro empresas teriam formado um cartel com grande poder de influência em 19 prefeituras, chegando a comandar licitações, inclusive elaborando os editais para beneficiar o grupo e eliminar a concorrência. Tudo isso era viabilizado com pagamentos de propina, conforme a decisão judicial que determinou a prisão de 12 prefeitos goianos.
De acordo com o documento assinado pelo desembargador Edison Miguel da Silva Júnior, a quadrilha investigada era chefiada pelo empresário Edilberto César Borges. Ele é apontado como sócio-administrador das quatro empresas que formariam a chamada “diretoria” da organização criminosa, na classificação dada pelo MP-GO.
As empresas influenciadas por Edilberto estão registradas em nomes de parentes. A J. Médica está no nome do seu sogro e sua mulher. A pró-Hospital tem como sócios dois filhos do empresário. Há indícios de que ele tenha forte influência nas empresas JR Lacerda e Maeve Hospitalar, cujos sócios são sua mãe e irmão na primeira, e sua irmã e sobrinha na segunda.
Essas quatro empresas contariam com cobertura de outras duas: a Ideal Hospitalar e a Única Dental Vendas de Produtos Odontológicos e Hospitalares. Ambas dariam lances superiores aos das empresas controladas por Edilberto para ter em contrapartida uma fatia dos valores pagos nos negócios ou exclusividade de uma parcela dos produtos demandados pelos municípios. O MP-GO sustenta que as transações eram fraudadas, com medicamentos superfaturados em licitações viciadas e direcionadas.
O órgão ministerial colheu provas que demonstram que alguns editais eram montados pelas próprias empresas. Para isso, elas contavam com o auxílio de escritórios de advocacia que davam consultoria às prefeituras. As investigações apontam que o principal escritório envolvido seria o Chayb & Máscimo Advogados Associados, de Tomaz Edilson Felice Chayb. Os advogados seriam responsáveis por forjar procedimentos licitatórios e de dispensa de licitação. Outros teriam ficado infiltrados em municípios para, supostamente, segurar e direcionar os editais, adiando pregões ou cancelando licitações, quando elas não fossem favoráveis à organização criminosa.
ATUAÇÃO NOS MUNICÍPIOS
As escutas telefônicas sugerem que o prefeito de Inaciolândia, Zilmar Ancântara (PTB), teria beneficiado o grupo chefiado por Edilberto. Em uma conversa, o empresário relata a seu braço direito, o representante comercial Milton Machado Maia, que estava descontente com o comportamento do gestor público, que não estaria cumprindo sua parte no acordo. A irritação dois era tanta que eles cogitaram exigir de volta o dinheiro que haviam repassado ao chefe do executivo.
Na decisão consta que o prefeito de Aragarças, Aurélio Mauro Mendes (PSDB), em parceria com um advogado e uma servidora pública, teria recebido vantagens indevidas para garantia da exclusividade na venda de medicamentos e insumos. Em Aloândia, o prefeito Sinomar José do Carmo (PMDB) teria feito o mesmo, sendo inclusive flagrado em diálogos telefônicos que apontam acertos com a cúpula da organização criminosa para fornecimento de medicamentos e insumos farmacêuticos, hospitalares e odontológicos. O documento afirma que há sérias suspeitas de que os gestores públicos teriam recebido propina.
Um e-mail interceptado na operação flagrou uma advogada que trabalhava para o prefeito de Perolândia, Neldes Beraldo Costa (PT), solicitando orçamento à J. Médica para a realização de um procedimento de dispensa de licitação. No dia seguinte, Milton respondeu o e-mail com a proposta e escreveu que aguardava ligação para providenciar a mercadoria. A decisão também ressalta que a quadrilha investigada tinha “expressiva atuação em Uruana”, com vendas de medicamentos de modo informal, por meio de “vales”, e cometimento de fraudes em pregão presencial. Tudo isso com possível participação do prefeito Glimar rodrigues do Prado (PP).
“Diretoria” da organização começou a ser ouvida ontem
Classificados como a “diretoria” da organização criminosa, os empresários presos na Operação Tarja Preta, do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) começaram a ser ouvidos na tarde de ontem. Eles foram os últimos a prestar depoimentos aos promotores que atuam no caso. Durante a manhã, os prefeitos presos deram esclarecimentos na sede do MP-GO e no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO).
Na terça-feira, quando a operação foi deflagrada, os promotores ouviram os suspeitos conduzidos coercitivamente. Ontem também foram ouvidos os advogados presos. Os defensores de dois empresários que estão cumprindo prisão temporária admitiram que há fortes indícios de cometimento de crimes. Eles também relataram que existem muitas provas coletadas por meio da quebra de sigilo telefônico e telemático. Este último dá acesso a conversas por e-mail, Facebook e Skype.
Os advogados entraram com pedidos de habeas corpus, mas eles foram negados. Os defensores pretendem também pedir o desbloqueio dos bens dos envolvidos na organização criminosa. Além do bloqueio de bens de 34 pessoas, a decisão do desembargador Edison Miguel da Silva Júnior também determina as quebras de sigilos fiscal e bancário dos investigados “para esclarecimento da origem e destinação dos débitos e créditos de operações com o possível propósito criminoso”.
Nove estão no primeiro mandato
Os três que ocuparam o cargo em outras oportunidades já estiveram envolvidos em escândalos
Caio Henrique Salgado e Fabiana Pulcineli
Nove dos 12 prefeitos presos na Operação Tarja Preta, na terça-feira, estão no primeiro mandato. Os outros três que já estiveram no cargo antes já haviam se envolvido em outros escândalos de corrupção. Um deles, de Pires do Rio, Luiz Eduardo Pitaluga da Cunha (PSD), o Gude, teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO) há um mês.
Em um dos casos que chamam a atenção, o prefeito de Corumbaíba, Romário Vieira (PR), que está no quarto mandato, chegou a ter seus direitos políticos suspensos em 2008. A condenação por improbidade administrativa, já revertida na Justiça, foi motivada pelo envio de lei à Câmara da cidade para a contratação de cem servidores públicos sem concurso.
Antes disso, em 2001, Romário também foi condenado a devolver dinheiro aos cofres públicos pela suposta utilização de R$ 19 mil para o pagamento de honorários advocatícios para sua defesa em processo movido pelo Ministério Público (MP) em 1996. Na ação, ele era acusado de crime contra a administração pública.
Também veterano, Otair Teodoro (PSDB) está em seu terceiro mandato e foi acusado de superfaturamento em 1997. Na época, o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) acatou denúncia. Pecuarista, o tucano faz parte da cúpula da Associação Goiana dos Municípios (AGM), integrando o Conselho de Avaliação.
Gude teve o mandato cassado em processo por abuso de poder político e oferta de vantagens em troca de voto. No mês passado, ele também foi ouvido na Operação Miqueias, que investiga fraudes em fundos de previdência de servidores municipais. Gravações da Polícia Federal apontaram reunião entre o ex-prefeito e um dos “pastinhas” da quadrilha.
O TRE marcou data para nova eleição no município: 1º de dezembro. Com a condenação, Gude e o vice-prefeito José Antônio Silva ficaram inelegíveis por oito anos.
Entre os prefeitos novatos, dois já foram alvos de processos judiciais. Zilmar Alcântara (PTB), de Inaciolândia, também foi afastado pelo TRE, em maio. A decisão, sobre a qual cabe recurso, resultou de denúncia por abuso de poder econômico e compra de votos.
Em dezembro de 2012, Zilmar não foi diplomado por conta de decisão do juiz da 46ª Zona Eleitoral, Liciomar Fernandes da Silva. A eleição no município foi decidida por uma diferença de apenas oito votos.
Aurélio Mendes (PSDB), de Aragarças, foi absolvido em ação por abuso de poder econômico nas eleições. Em agosto, a justiça considerou improcedente a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo proposta pelos partidos que integravam a coligação adversária do prefeito.
Aurélio foi candidato em 2008, mas saiu derrotado. Ao assumir, acusou a gestão anterior de ter deixado situação de terra arrasada na prefeitura. Na campanha, contou com apoio do então candidato a prefeito de Bom Jardim de Goiás, Cleudes Baré, que teve o mandato cassado em agosto por compra de votos e abuso de poder econômico.
Entre os demais prefeitos, dois entraram na política depois de crescerem como empresários: Janduhy Diniz (PSDB) e Glimar do Prado (PP), de Rialma e Uruana. O primeiro é dono da Saborelle e o segundo, da Soloplanta. Ambos foram candidatos da situação – tiveram apoio dos ex-prefeitos Evaldo José e Divan Resende, respectivamente.
Também novatos, Marcos Roger, de Cromínia, e Sinomar José, de Aloândia, ambos do PMDB, iniciaram a carreira política como vereadores. Sinomar exerceu dois mandatos no legislativo. Por sua vez, Marcos foi eleito vereador em 2008 e exerceu apenas um mandado antes de se tornar prefeito.
Muito próximo do deputado estadual Talles Barreto, o prefeito de Carmo do Rio Verde, Delson José (PSDB) é advogado. Já o prefeito de Araguapaz, Fausto Brito (PSDB), é, segundo o registro de candidatura, servidor público estadual. Ele também foi produtor rural.
Prefeito de Perolândia, Neldes Beraldo (PT) tem proximidade com o deputado federal Rubens Otoni (PT) e é administrador de empresas.
Número de prefeitos presos é inédito
Thaís Romão
A Operação Tarja Preta, a maior já realizada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), que culminou na prisão de 11 prefeitos e um ex-prefeito goianos suspeitos de fraudar licitações para compra de medicamentos superfaturados, inaugura uma marca histórica em Goiás. É a primeira vez no Estado que uma quantidade tão grande de prefeitos são detidos de uma única vez. No País, apenas duas situações parecidas foram registradas, em 2008 e 2005, quando 16 e 11, respectivamente, chefes ou ex-chefes de Executivos municipais foram presos em operações deflagradas pela Polícia Federal (PF). Partidos políticos evitaram manifestações a respeito do assunto e foram unânimes no discurso de que devem aguardar mais esclarecimentos.
Há menos de um mês, Goiás foi alvo da Operação Miqueias, da Polícia Federal, que investiga o desvio de dinheiro de fundos de previdência municipais por meio de investimentos em papéis podres. Na ocasião, as casas de quatro prefeitos tiveram busca e apreensão determinada pela Justiça, mas somente um foi detido. Não há registros recentes de casos em que um grupo de prefeitos, ainda que menor, tenha sido detido de uma única vez.
Nacionalmente, duas grandes operações se assemelham à Tarja Preta, quanto ao número de prefeitos ou ex-prefeitos presos. A maior delas ocorreu em abril de 2008, quando 16 prefeitos, de Minas Gerais e Bahia, foram presos na Operação Pasárgada, da PF, suspeitos de envolvimento com esquema de compra de sentenças para liberação irregular de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) a municípios em débito com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Em outro caso, mais antigo, nove prefeitos e dois ex-prefeitos foram presos, em Alagoas, acusados de formação de quadrilha, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e desvio de recursos da merenda escolar. A operação ganhou o nome de Guabiru – um rato conhecido no sertão por se alimentar de produtos estocados em armazéns – e foi realizada em 2005, também pela PF.
Partidos cautelosos sobre prisão de correligionários
Procurados pela reportagem, os presidentes dos partidos dos prefeitos envolvidos evitaram emitir opinião sobre a prisão de correligionários. Dos 11 prefeitos, 5 são do PSDB, 2 do PMDB e 1 de cada um dos seguintes partidos: PTB, PR, PT e PP. O presidente do PSD, Vilmar Rocha, não soube informar se o ex-prefeito Luiz Eduardo Pitaluga, de Pires do Rio, continua filiado ao partido. “A relação já era ruim, ele já queria sair antes mesmo de ser cassado. Preciso confirmar se ele já havia pedido oficialmente a desfiliação.”
O líderes partidários demonstraram discursos afinados, todos no sentido de aguardar mais informações a respeito das investigações. “Eu parto do princípio do respeito à Constituição federal, que diz que todo mundo é inocente até que se prove o contrário. Vamos aguardar as apurações, o resultado das investigações e, se for o caso, vamos tomar medidas. Pode ter certeza de que o partido não ficará omisso, desde que comprovada a culpa do prefeito”, disse o presidente do PP e vice-governador José Éliton.
O discurso cauteloso foi repetido pelo presidente do PR, Flávio Canedo. “Penso que temos de aguardar o desenrolar da história. Não sabemos de que são acusados, o que vão responder. É precipitado fazer qualquer análise agora”, disse. Jovair Arantes, do PTB, foi o único a citar a possibilidade de levar o prefeito ao conselho de ética do partido. “Acho que é uma pirotecnia muito grande, não dá para pré-julgar sem saber o que é. Vamos tomar pé e, se for necessário, levar o caso ao conselho de ética para saber o que fazer”. Os presidentes dos diretórios estaduais do PSDB, PMDB e PT não atenderam as ligações e também não deram retorno.
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HGG
CTI com 29 leitos é inaugurado
Malu Longo
Começou a funcionar ontem o novo Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Alberto Rassi (HGG). A nova ala da unidade tem 29 leitos e equipamentos apontados como sendo de última geração.
Dez pacientes que estavam internados em tratamento intensivo foram transferidos para o CTI e os demais leitos deverão ser ocupados em novembro, após o treinamento das equipes escaladas para o setor.
A solenidade de inauguração contou com a presença do governador Marconi Perillo (PSDB) e o secretário de Saúde, Antônio Faleiros, além d o procurador-geral de Justiça, Lauro Machado Nogueira e o procurador de Justiça da área de Saúde, Marcelo Celestino, cujo nome foi sugerido pelo governador para batizar o CTI. Segundo o governador, a homenagem seria em decorrência do reconhecimento de Marcelo Celestino ao conceito das organizações sociais (OS) que hoje administram diversas unidades públicas de saúde em Goiás. “Ele não só se convenceu, como passou a ser um de seus defensores.”
RECADASTRAMENTO
Alheios ao momento festivo no HGG, centenas de pessoas continuavam passando pelo recadastramento que teve início na unidade na segunda-feira. No início da semana, cerca de 2 mil pessoas fizeram uma enorme fila para conseguir atendimento na marcação de consultas. Eles foram pegos de surpresa com a nova estratégia da unidade, que decidiu identificar pessoalmente seus pacientes. Até ontem mais de 5,5 mil pessoas já tinham passado pelo atendimento.
Santa Casa recebe repasse de R$ 19 milhões
Na tarde desta quarta-feira o governador Marconi Perillo assinou convênio com a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia para o repasse de R$ 19,8 milhões, recursos serão destinados para a obra de revitalização do Bloco 3, desativado há 16 anos.
Com o dinheiro, segundo o diretor geral, padre Éverson de Faria Melo, serão ampliados a UTI adulta, que ganha mais dez leitos, os serviços de banco de sangue, laboratório de patologia clínica e medicina laboratorial, hemodinâmica e instalado um equipamento de ressonância magnética. O bloco será destinado também aos serviços administrativos.
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SAÚDE BUSINESS WEB
Interesses particulares aumentam problema da judicialização no País
Todo cidadão brasileiro pode recorrer à Justiça quando tem um direito negado pelo Estado. Essa máxima não só é inquestionável como vale também para o direito à saúde, previsto pela Constituição Cidadã de 1988, mas diariamente negado pelos hospitais superlotados, pela falta de médicos e de recursos para aquisição de medicamentos e outros insumos. Mas a prática de recorrer ao Judiciário para exigir tratamentos ou remédios tem se tornado exagerada e em alguns casos atende interesses “escusos”.
Essa é a conclusão dos juristas e especialistas do setor reunidos na Federação das Indústrias do Estado de São (Fiesp) na terça-feira (15) para o Fórum de Judicialização na Saúde. “Esse excesso de utilização pode vir das dificuldades de incorporação de medicamentos ou de tecnologia através das autoridades. Quando os pacientes não conseguem uma solução favorável pelas vias administrativas, acabam recorrendo à justiça”, explicou presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), Florisval Meinão, que falou durante a abertura do evento.
Para Meinão, existe um excesso de utilização do Judiciário na área da saúde. “É preciso encontrar uma solução que do ponto de vista administrativo aponte caminhos sem que seja necessário recorrer ao judiciário”, disse.
Esse excesso causa impactos ao Sistema Único de Saúde (SUS). Para o promotor e chefe de gabinete da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Reynaldo Mapelli Júnior, há uma divisão de opiniões a respeito da judicialização. De um lado, há os que acreditam as ações judiciais impulsionam, na marra, o desenvolvimento do sistema e, por consequência, o acesso da população ao sistema de saúde.
Por outro lado, há os que acreditam que a maioria dessas ações judiciais é de caráter individual, e buscam direitos particulares a medicamentos e produtos ainda não aprovados para uso no Brasil. Essa busca por privilégios aumentaria os já altos custos do sistema para beneficial “pessoas que têm melhores condições financeiras, prejudicando o sistema como um todo”.
Para o presidente da comissão de cooperativismo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Costantino Salvatore Morello Jr., a judicialização decorre da falta de investimento do Estado no cumprimento da sua obrigação com a saúde do brasileiro. “Segundo a OMS, o Brasil investe anualmente US$ 411 per capita em saúde, quando a média mundial é de US$ 711. Os Estados Unidos, por exemplo, gastam, por pessoa, cerca de US$ 4 mil dólares – dez vezes mais que aqui”, disse.
Para o advogado, é urgente um “pacto em que todos os envolvidos levem nossa saúde a uma condição minimamente digna”.
“A nossa conclusão é de que, se cabe ao judiciário decidir, melhor que ele tenha muita informação para decidir melhor”, ponderou o coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde (Comsaude), Ruy Baumer. “A criação de câmaras de assessoria médicas pode suprir essa lacuna e dar informações para o juiz tomar a melhor decisão.”
OPME
Para Denise Eloi, presidente da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), a cadeia produtiva da saúde tem o desafio de buscar soluções para os problemas gerados pela judicialização. Isso passa, segundo ela, pela necessidade de mais transparência no sistema de saúde – tanto do SUS como da indústria.
“As liminares servem para reparar muitos abusos e é bom que elas apareçam sempre com o sentido de promover a qualidade da saúde”, disse. “E não para promover a satisfação de pessoas que têm uma visão do lucro em detrimento da qualidade assistencial”.
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O HOJE
Tarja Preta: desvendado esquema nos municípios
Grupo agia com a conivência de prefeitos, conclui o MP. Dispensada a licitação, venda de medicamento era organizada por quadrilha
O Ministério Público Estadual (MP-GO) deflagrou a Operação Tarja Preta na madrugada de ontem com o objetivo de desarticular uma quadrilha que burlava licitações e negociava a venda de medicamentos superfaturados para municípios goianos. O esquema envolvia pelo menos 27 cidades de Goiás e Mato Grosso e incluia prefeitos, secretários, servidores municipais, um escritório de advocacia e seis empresas de venda de medicamentos. Foram cumpridos 37 mandados de prisão, 28 de condução coercitiva e 48 de busca e apreensão.
A investigação começou há um ano, após denúncia de um ex-sócio de uma empresa envolvida no esquema fraudulento. Entre os presos em caráter provisório estão 12 prefeitos e seis secretários municipais (leia mais na página 5). Os agentes públicos são suspeitos de formação de cartel, peculato, corrupção ativa e passiva, indevida dispensa de licitação, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro. A quadrilha teria movimentado, durante 2013, cerca de R$ 15 milhões em recursos públicos.
De acordo com o coordenador do Centro de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), José Carlos Nery, o esquema funcionava a partir da simulação de concorrência em licitações de medicamentos nas prefeituras. As empresas de vendas de medicamentos, com a conivência de agentes públicos aliciados, formavam verdadeiros cartéis que impediam a participação de outras empresas nas concorrências. Subvalorizaram os custos e forjavam editais direcionados às empresas participantes da fraude.
O esquema funcionava a partir de uma organização dividida em quatro núcleos: diretoria, representantes, parceiros e agentes públicos. A diretoria era responsável pela gestão dos negócios e contava com um núcleo jurídico, que forjava documentos necessário na licitação. A diretoria tinha a função de aliciar agentes públicos e garantir o fornecimento de medicamentos e materiais hospitalares superfaturados por meio das licitações fraudadas junto às prefeituras. Alguns prefeitos chegaram a ser aliciados ainda durante a campanha política de 2012.
“Como muitos prefeitos e servidores estavam nas mãos da quadrilha, a própria empresa que concorria montava o processo de licitação, definindo alguns pré-requisitos, que eliminavam a concorrência. O edital não era divulgado, ou era divulgado de forma restrita, para conhecimento apenas da empresa envolvida. Para evitar que o esquema chamasse a atenção havia uma rotatividade das quatro ou cinco empresas envolvidas”, atesta Nery.
Dispensa de licitação
Outro modo de ação da quadrilha era por meio da dispensa de licitação. Criava-se uma urgência na compra de material, após isso, expedia-se a nota fiscal dos produtos. Após a expedição dessa nota, o braço jurídico montava um procedimento jurídico de dispensa para justificar a falta de licitação, por meio de um decreto emergencial com data retroativa.
“A investigação percebeu que um medicamento entrou numa prefeitura em março, mas o procedimento para justificar a entrada desse material tinha data de janeiro. Procedimento forjado para dar um caráter de legalidade à ação de dispensa manipulada. Nesse esquema formado a partir de um caráter de emergência, de calamidade, entrava de tudo, de esparadrapo a remédios.”
Quadrilha mantinha base em Goiânia
A base dessa organização estava em Goiânia. O conluio das empresas envolvidas teria praticamente loteado o Estado de Goiás, com cada empresa responsável pelas vendas de materiais para uma região ou série de municípios específicos. Ficou constatado que essas empresas forneciam remédios e material hospitalar com aumento de até 400% do valor dos produtos.
Os mandados, em Goiás, foram cumpridos em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Aloândia, Aragarças, Araguapaz, Carmo do Rio Verde, Ceres, Corumbaíba, Cromínia, Goianira, Indiara, Israelândia, Luziânia, Inaciolândia, Matrinchã, Mozarlândia, Perolândia, Pires do Rio, Rubiataba, Rialma, Rianápolis, Senador Canedo, Piranhas, Trindade e Uruana.
A ação foi efetuada pelo MP-GO, em conjunto com Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e Centro de Segurança Institucional e Inteligência (CSI). Os mandados de prisão foram expedidos pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO). Participaram da operação 70 promotores de Justiça e 386 policiais militares de Goiás e do Mato Grosso. (EP)
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação