Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

CLIPPING SINDHOESG 21/02/13

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.


DIÁRIO DA MANHÃ

Tendência suicida

Você vai demorar trinta minutos para ler essa reportagem. A cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida, segundo dados da OMS

Uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Para órgão o problema é grave, já que este dado é superior ao número combinado das vítimas de guerra e assassinatos. A Delegacia de Homicídios (DIH), com sede em Goiânia, registrou, em 2011, 81 casos de suicídio, em 2012 esse número chegou a 52, só neste ano, 10 pessoas já se mataram segundo os registros.
Mas o que leva uma pessoa a cometer um ato suicida? A perda de um ente querido, problemas financeiros, ou uma angústia no peito que parece não ter remédio para aquele que sofre do mal da depressão? Para o psicólogo e presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Wadson Arantes Gama, a tendência suicida pode ser explicada, mas é preciso tratar o tema com cuidado, pois existem diversos fatores que podem justificar o ato suicida.
De acordo com Wadson, existem vários perfis de pessoas que possuem tendência de tirar a própria vida. Ele explica que fatores biológicos, genéticos, psicológicos e sociológicos estão relacionados com o desejo de se matar. O fator biológico interfere nas pessoas fazendo com que alguns indivíduos possuam certa vulnerabilidade para suicídio. Estas, possuem baixos níveis de serotonina (neurotransmissor que atua no cérebro regulando o humor e também funciona como “combustível” do prazer no corpo humano) e dopamina (outro neurotransmissor que também produz sensações de satisfação e prazer).
Outro fator é genético. Segundo o psicólogo, existem estudos genealógicos que confirmam que a propensão para o suicídio pode decorrer de uma transmissão genética. “Existem sim a possibilidade de a genética ter influência no desejo que alguém sente de tirar a própria vida. É importante ressaltar que genética não pode ser confundida com hereditariedade”, alerta o psicólogo.
O perfil psicológico do indivíduo também aponta para possíveis tendências suicidas. Dessa forma, pode-se explicar que algumas se matam devido a uma sensação de abandono em relação ao mundo que os envolve. Pessoas que possuem perfil suicida também podem ter passado por dificuldades durante a vida e não conseguiram lidar com estes problemas.
“É possível notar que a pessoa possui tendência suicida quando ela não consegue lidar com fatos ruins que aconteceram ao longo de sua vida. A morte de alguém muito querido, a perda de um emprego. Isso leva a pessoa a apresentar um perfil psicológico de alguém depressivo que pode praticar um homicídio contra si mesmo”, afirma Wadson.
A questão sociológica também justifica, em parte, casos de suicídio. “O meio social que vivemos influência na nossa personalidade”, diz o psicólogo. Por este motivo, vemos que as taxas de suicídio diferem em número de região para região.
E por mais paradoxal que possa parecer, países mais desenvolvidos apresentam número maior de pessoas que tiraram a própria vida. Segundo a OMS, as taxas de suicídio mais elevadas são a dos países do leste da Europa, como Lituânia ou Rússia, enquanto as mais baixas se situam na América Central e do Sul, em países como Peru, México, Brasil ou Colômbia. Estados Unidos, Europa ocidental e Ásia estão na metade da escala. Não há estatísticas sobre o tema em muitos países africanos e do sudeste asiático.
Fatores de risco
Segundo Wadson, é possível notar que uma pessoa pode cometer um atentado contra a própria vida por meio de sinais apresentados por estes indivíduos. Ele explica que quem comete ou tenta cometer suicídio, na maioria das vezes, demostra sinais de depressão.
Segundo o psicólogo, os sintomas da depressão são diversos e podem passar despercebidos, ou não, dependendo de cada indivíduo. Entre os sinais, estão insônia, desleixo com a aparência, falta de vontade de trabalhar, ter relações sexuais, comer e até tomar banho.
“É claro que não podemos generalizar. Nem sempre insônia, falta de apetite sexual significa depressão. Esta doença é gerada por uma série de fatores. Mas é importante ficar atento os sintomas citados para diagnosticar o problema”, pontua Wadson.
Tristeza X Depressão
O psicólogo informa que é comum que as pessoas confundam tristeza com depressão. Ele diz que muitos pacientes procuram seu consultório acreditando estar com depressão, no entanto, eles estão apenas tristes. “Podemos definir a depressão como um sentimento de incapacidade de sentir prazer, de estar feliz. O que é diferente da tristeza, que aparece por alguma razão explícita e dura determinado tempo.
No entanto, o psicólogo alerta que uma tristeza profunda pode se tornar depressão. “Como eu expliquei, existem pessoas que possuem tendência a depressão e suicídio. Essas pessoas podem ficar tristes por algum fato ruim que aconteceu na vida dela e não conseguirem se recuperar. Desta forma, elas acabam desenvolvendo depressão” esclarece Arantes.
Prevenção
ao suicídio
A melhor forma de evitar que alguém tire a própria vida é tratando a depressão. Segundo Wadson, o tratamento se da por meio de consultas tanto com o psicólogo quanto com psiquiatra. “O paciente que tem depressão precisa tanto de acompanhamento com psicólogo como com um médico. Com uso de medicamentos e terapia é possível que o paciente se recupere e perceba que sua vida tem valor. É preciso que ele entenda o poder que ele tem e que ele é capaz de lidar com as dificuldades da vida”, relata.
Assim como o psicólogo a OMS também acredita que as taxas de suicídio podem ser reduzidas por meio de tratamento contra a depressão. Em setembro do ano passado, a organização pediu que mais ações sejam desenvolvidas nos Estados para evitar que as pessoas continuem tirando a própria vida. Por meio de um documento publicado no portal da instituição, foi feito um apelo aos governos para que políticas e estratégias nacionais de prevenção ao suicídio sejam desenvolvidas. A organização ainda destacou que é preciso ter consciência de que o suicídio é a principal causa evitável de morte prematura. “A nível local, resultados de pesquisa precisam ser traduzidos em programas de prevenção e atividades nas comunidades”, pontuou a OMS.
O Ministério da Saúde o também demostrou preocupação com o fato, já, estima-se que 9% da população brasileira apresenta sintomas de depressão. Desta forma, o órgão também publicou uma portaria que instituiu as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, a serem implantadas em todos os estados e no Distrito Federal. A ideia é que cada ente federado desenvolva estratégias de promoção de qualidade de vida, de proteção e  recuperação da saúde e de prevenção de danos, além de promover a sensibilização de que o suicídio é um problema de saúde pública que pode ser prevenido.
No Estado de Goiás, ainda não existem políticas públicas voltadas exclusivamente para a prevenção de suicídio. Mas os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) também atendem cidadãos que possuem tendências suicidas. Assim, quem precisa de ajuda podem buscar auxilio de forma gratuita e diária. Os depressivos e seus familiares encontram no Caps o acompanhamento de enfermeiros, psiquiatras e agentes para auxiliar no tratamento.
Os agentes dos CAPs também realizam visitas à domicilio. Durante esse processo, os profissionais trabalham para identificar pessoas que apresentem apresenta sinais de depressão ou tendências suicidas. Caso o agente percebe que o indivíduo precisa de ajuda, ele tenta convence-lo a procurar auxílio nos centros.
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Memórias de um suicida
Mauro tentou tirar a própria vida na tarde de terça-feira. Ele foi impedido por policiais e relatou à reportagem o que se passa

JAIRO MENEZES
Final de tarde. Avenida Santa Genoveva, Setor Jaó, Goiânia. Mauro tem 52 anos, casado, mas em fase de separação, não suporta mais tantas revoltas e desolamentos, após ver sua mulher na cama com outro homem, em Belo Horizonte (MG), onde moravam com as duas filhas. A família dele mora na Capital de Goiás, onde veio passar os últimos dias de carnaval. Mauro acordou destinado em acabar com o sofrimento. Queria a morte.
O personagem é um dos que tentaram suicídio, ontem. O  nome é fictício, a história toda se passou no final da tarde do dia 19 de fevereiro, quando ele, para criar coragem e tentar o feito, precisou ingerir um trago de uísque barato, ficar tonteado e encorajado. Mauro é motorista particular, pai de uma filha, um homem comum, como tantos outros que têm uma vida pacata e tranquila – do trabalho para casa e vice versa.
“Não sei o que pensei na hora. Foi muito rápido. Era como se eu não soubesse o que queria, para resolver os problemas de minha vida. Depois de vê-la (a esposa) com outro na cama que trabalhei para comprar e nos dar conforto, me senti um trapo humano”, disse o homem, em um desabafo à reportagem do Diário da Manhã.
Ele tentou pular da ponte sobre o Rio Meia Ponte, na divisa do Setor Jaó com o setor Negrão de Lima. Já estava no parapeito quando foi visto por um militar que saía do serviço a caminho de casa. O Sargento Divino Nascimento, da cavalaria, descia em sua moto de 300 cilindradas, quando avistou o homem prestes a pular da ponte. “Ele iria pular. Era questão de segundos. Não tinham condições de fazer o contrário do que fiz. Realizei toda a situação não por ser policial, mas por ser um humano e faria por qualquer um que precisasse”,  comenta o policial.
Além de Nascimento, outros dois policiais também estavam lá, os militares do Batalhão Ambiental, soldado Thiago Silva Berigo e sargento Humberto de Lima, que passavam pela ponte e deram apoio ao colega de farda. Berigo ressaltou que teve de segurar o homem para que ele não pulasse da ponte, mas mesmo assim, com muita força, Mauro “quase conseguiu derrubar os dois policiais, que tiveram de agir com destreza e muita cautela”, destaca.
“Era uma situação em que se deveria usar tranquilidade, agir com frieza e muita cautela. A vítima estava muito agitada. Se debatia. Era como se não quisesse viver de modo algum. O imobilizamos e o colocamos na viatura até que ele conseguisse ficar calmo. Só então o retiramos e fomos ver o que estava acontecendo. A história dele comoveu toda a guarnição, que agiu com profissionalismo e responsabilidade social”, destacou o sargento da Silva.
GRATIDÃO
“Minha vida eu devo a Deus e, em segundo lugar, aos policiais, que conseguiram me impedir de fazer o que eu estava tentando”, diz o homem que evita a todo momento falar palavras como morte, suicídio e interrupção. Mauro procurou atendimento médico e recebeu ajuda dos policiais, que levaram ele e o irmão até o Hospital Santa Genoveva, onde recebeu medicamentos e toda assistência ambulatorial.
O homem abraça os policiais e chora em soluços, dizendo estar grato a eles, mas não sabe dizer se essa decisão que tomou foi momentânea, ou se dará seguimento e tentará mais uma vez. “Não sei dizer. Pode ser que eu esteja com algum problema, precisando de ajuda, mas se for para morrer mesmo, acho que Deus me permitiria diminuir o meu sofrimento e o sofrimento de quem me ama”, conta.
Assim que Mauro fala isso, os policiais o tocam e lhes dizem palavras de apoio. “Não faça isso, rapaz. Será mais fácil enfrentar essa realidade”, diz da Silva. Soldado Thiago é mais enfático: “Se você fizer isso, como acha que sua filha vai se sentir quando se lembrar que o pai teve coragem de se matar?”,  O sargento Nascimento apela para o lado racional: “vamos procurar um médico, um tratamento para te ajudar. Não precisa tentar se matar. A vida tem seus altos e baixos, mas prefira sair dessa sorrindo”, anima.
Mauro segue sua vida. Ontem à tarde a reportagem do DM entrou em contato com seu irmão, que preferiu não ser identificado. O homem atendeu a reportagem de forma estranha. “Que reportagem? A de ontem? Queremos esquecer o que houve!” Será mesmo que o melhor é esquecer, ou prevenir o que pode acontecer no futuro?
consumado
Infelizmente não houve quem impedisse um adolescente de 11 anos de cometer suicídio. O jovem pulou do 9º andar de um edifício na Rua João de Abreu.
O menino teria deixado um manuscrito em uma folha A4, com dizeres em uma espécie de testamento, em que deixava os brinquedos aos colegas de escola. A informação foi confirmada pela Polícia Militar.
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Artigo – O suicídio na pauta jornalística

CAROLINA POMPEO GRANDO

Existe uma convenção profissional extra-oficial, uma espécie de acordo entre cavalheiros, que determina: suicídios não serão noticiados pela grande imprensa. Ninguém sabe exatamente quando foi que este acordo foi selado, nem precisamente o porquê. O fato é que ele existe, mas aos poucos e discretamente tem sido descumprido: notícias sobre suicídios são publicadas, sim. Às vezes de modo sensacionalista, outras de modo superficial, e poucas de maneira aprofundada. Ainda assim, linhas editoriais e profissionais de imprensa sustentam que nas páginas de seus jornais não há espaço para suicídios. Por quê?
Talvez o suicídio seja colocado à margem da ação jornalística por ser um ato individual cujas motivações são bastante íntimas e particulares. No entanto, os índices de suicídio no mundo e no Brasil aumentam a cada ano. Esse aumento nos números de tentativas e mortes efetivas por suicídio o caracteriza como um tema de interesse social, como um fenômeno social. E é dos interesses e fenômenos da sociedade que a imprensa trata. O jornalismo, enquanto agente construtor do imaginário coletivo, reflete e suplanta pensamentos comuns, ora promovendo a manutenção de tabus, ora sugerindo novas formas de conceber os acontecimentos no mundo.
relações sociais
A violência em geral não é mais tabu no sentido proposto por Cazeneuve (1958) – em que tabus seriam proibições tanto na esfera da ação como na esfera do pensamento e do discurso. Na prática diária da convivência em sociedade, episódios de grande violência não são mais raros ou exclusivos de uma parcela marginalizada da população e o fato de algumas práticas serem consideradas tabus não é impedimento para que as mesmas ocorram com frequência. Diariamente, podemos ler nos jornais sobre acontecimentos que, até se tornarem efetivamente fatos, poderíamos supor impossíveis ou ao menos improváveis, dada a extrema crueldade dos atos praticados, os quais muitas vezes resultam em mortes.
No entanto, contrariando todo o aparente desconforto provocado por essas notícias negativas, as páginas dos jornais diários estão cada vez mais repletas de matérias sobre homicídios, latrocínios, estupros seguidos de assassinato, etc. A morte, como escreveu Baudrillard (1996), se transformou em um espetáculo através da mídia, mas não apenas por ela: o autor também afirma que o jornal satisfaz uma necessidade inconsciente do leitor, que saboreia secretamente “a destruição do outro como espetáculo”.
Por parte da imprensa, a discussão recorrente nas redações e cursos superiores de jornalismo é: deve-se publicar tanta violência? Qual é o limite da atuação jornalística: o bom senso, o bom gosto? Pesquisadores da área da comunicação, antropólogos, sociólogos, psicólogos, uma gama imensa de profissionais da academia ataca com frequência a imprensa, afirmando que ela é a grande publicitária da violência – quanto mais divulga, mais influencia a prática, incita-a. O fato é que, noticiados ou não, atos violentos não deixarão de ser praticados. O compromisso da imprensa é com a realidade. O bom senso e o bom gosto devem ser manifestados na linguagem editorial adotada por cada veículo para noticiar determinados acontecimentos.
Mas, se o espetáculo da morte descrito por Baudrillard conquista audiência e por isso os veículos de comunicação transformam acontecimentos negativos e chocantes em pautas executáveis, oferecendo notícias que dão conta de vários tabus, é curioso que uma prática menos violenta provoque tamanha polêmica e, mais que isso, tanto silêncio na imprensa: o suicídio.
Por que a decisão de noticiar um suicídio provoca tanta discussão entre a comunidade jornalística? O que faz o assassinato do menino João Hélio, morto depois de ser arrastado por um carro por quase sete quilômetros preso ao cinto de segurança, e a descrição de sua massa encefálica espalhada pelas ruas do Rio de Janeiro ser menos chocante e exasperante que o suicídio de uma pessoa que optou por não viver mais? Os dois fatos causam impacto. Então por que vários profissionais dissecam a história de João Hélio por semanas ao passo que decidem simplesmente ignorar a ocorrência de suicídios?
Talvez a explicação para essa postura generalizada da imprensa se justifique com base na hipótese de que um caso como o de João Hélio (o menino João Hélio Fernandes Vieites, de seis anos, morreu depois de ser arrastado por vários quilômetros preso ao cinto de segurança do carro em que estava com a mãe e irmã, após o veículo ter sido assaltado. O crime ocorreu em fevereiro de 2007, no Rio de Janeiro, e foi noticiado por veículos de comunicação de todo o País) seja paradigmático, isto é, que represente uma série de outros acontecimentos brutais semelhantes e simbolize uma situação alarmante: a prática mais frequente de atos violentos cada vez mais cruéis, além disso, a notícia trata também da segurança pública do espaço urbano e dos riscos aos quais estão submetidas crianças e adolescentes, vítimas comuns de atos de violência urbana. Dessa forma, noticiar um acontecimento como esse seria uma maneira de comunicar, denunciar e alertar a sociedade sobre desequilíbrios nas relações sociais que, com frequência, culminam em ações e reações violentas. No entanto, o suicídio é também um fenômeno social que denuncia tensões e perturbações nas relações sociais, sob os mais diferentes aspectos.
perspectiva sociológica
De acordo com o sociólogo francês Émile Durkheim (1977), o suicídio é uma manifestação individual de um fenômeno coletivo e cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias. As razões dos suicidas seriam processadas individualmente, mas sempre de modo a refletir uma realidade social. Durkheim não foi o único pesquisador a considerar o suicídio a partir de seu aspecto sociológico, Marx (1976), em ensaio produzido com base nas memórias de Jaques Peuchet, à época diretor dos arquivos de polícia de Paris, escreveu que o suicídio é apenas mais um entre tantos sintomas de uma luta social e que muitos indivíduos, impelidos por uma realidade miserável, cometiam suicídio ou para eliminar a dor existencial ou para escapar de convenções sociais devastadoras.
Mas é Durkheim que, acreditando no estabelecimento de uma relação de forças injustas entre indivíduo e sociedade, nos fornece, após um longo e detalhado trabalho de campo, dados estatísticos que inserem o suicídio também no campo de conhecimento da Sociologia, enquanto fenômeno social. Durkheim definiu quatro tipos de suicídio recorrentes em realidades sociais distintas – conforme a perturbação existente entre indivíduos e sociedade.
O primeiro tipo, chamado de suicídio egoísta, é provocado pela ausência de interesse do indivíduo pelo meio social do qual faz parte. Uma sociedade que falha na tentativa de integrar e proteger todos os seus membros adequadamente produz um contingente considerável de indivíduos indispostos e incapazes de ser parte da máquina social. Durkheim concluiu que a ocorrência de suicídios varia na proporção inversa ao grau de integração das sociedades religiosa, doméstica e política. Indivíduos que sofrem de depressão e cometem suicídio integram esse grupo.
Oposto ao suicídio egoísta, o segundo tipo definido por Durkheim é o suicídio altruísta. Se no primeiro a sociedade não conseguiu estabelecer relações sólidas com o indivíduo, agora essas relações são complexas e exercem grande poder sobre o sujeito, fazendo com que ele opte pela morte voluntária em benefício de alguma necessidade da sociedade. Em algumas sociedades, matar-se em determinadas circunstâncias é não apenas um dever pessoal, mas uma obrigação social. Essa modalidade de suicídio é pouco comum nas sociedades ocidentais, sendo mais praticada no Oriente, como a prática do haraquiri ou do seppuku, no Japão.
O terceiro tipo de suicídio apontado por Durkheim é o anômico. Anomia é um conceito empregado para definir sociedades que sofrem profundas transformações em algumas esferas e em outras não, provocando uma perturbação das normas que regem o comportamento e a conduta dos homens e garantem a ordem social. O suicídio anômico ocorre, portanto, em decorrência dessas transformações, negativas ou positivas, que perturbam ou modificam abruptamente a ordem coletiva antes estabelecida. Crises econômicas, catástrofes naturais, alterações nos padrões de relacionamentos pessoais e profissionais são exemplos de situações que provocariam o suicídio anômico.
noticiar e estimular
O suicídio pode ser, portanto, entendido e investigado como um Fenômeno social, uma ação individual que, se observado mais aprofundadamente, questiona e denuncia falhas na regulamentação moral exercida pelo coletivo. Da mesma forma que o jornalismo dá conta de cobrir noticiosamente outros temas tabus que figuram entre as manchetes dos jornais diários, como pedofilia ou incesto, contribuindo para a denúncia de práticas ilegais e para informar acerca de outras realidades, as notícias sobre suicídios poderiam obter o mesmo êxito, alcançando senão a finalidade do jornalismo, que é gerenciar a arena simbólica e proporcionar um compartilhamento de informações e experiências, promovendo debate e maior compreensão sobre temas sociais.
Ao abordar o suicídio em suas páginas diárias, a imprensa também poderia contribuir oferecendo informações e incentivando um debate sobre como auxiliar pessoas com tendências suicidas, como superar a perda de uma pessoa querida por suicídio, como relações familiares e escolares podem influenciar crianças e adolescentes a pensarem em suicídio em decorrência de uma pressão social vinda dessas instituições que eles não conseguem suportar e, por fim, e talvez principalmente, fomentar um debate sobre como a morte voluntária não é uma forma menos digna de morrer. Assim, contribuir para a desconstrução de um tabu e de preconceitos que povoam o imaginário coletivo e impedem que famílias e amigos de suicidas bem como suicidas potenciais consigam compreender melhor o significado e as consequências desse ato.
Publicado em 29/06/2010 na edição 596 do Observatório da Imprensa
(Carolina Pompeo Grado, mestra em jornalismo pela universidade Federal de Santa Catarina)
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TV ANHANGUERA (CLIQUE NO LINK PARA ACESSAR A MATÉRIA)

Equipes da TV Anhanguera percorreram vários cais de Goiânia para verificar o atendimento

http://g1.globo.com/videos/goias/bom-dia-go/t/edicoes/v/equipes-da-tv-anhanguera-percorreram-varios-cais-de-goiania-para-verificar-o-atendimento/2418050/
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O POPULAR

Dengue
Casos diminuem durante feriado
Bárbara Daher

O número de casos de dengue registrados a cada semana caiu 39% em Goiânia. Os dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) indicam que, no período entre os dias 12 e 19 de fevereiro, a capital teve pouco mais de 2 mil novos casos de suspeita da doença. Esta queda pode estar relacionada ao feriado de carnaval, quando muitas pessoas, infectadas ou não, saíram da cidade. É o que diz a superintendente de Vigilância Ambiental da SMS, Flúvia Amorim. “Não temos como confirmar isso ainda. Só mesmo após as duas próximas semanas, para continuarmos observando. Por enquanto, acreditamos que tenha sido mesmo a evasão durante o feriado.”
O número total de casos registrados nos dois primeiros meses de 2013 já superou o de 2012. São 17.195 registros de suspeita de dengue entre janeiro e fevereiro, contra 13.191 casos identificados no ano passado. De acordo com o Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Aedes aegypti (Liraa) feito pela SMS, Goiânia ainda vive uma epidemia de dengue. O índice da capital foi de 3,69% – de cada cem imóveis visitados, foram encontrados focos do mosquito em 3,69 –, caracterizando iminente perigo à saúde pública, já que o aceitável deve estar abaixo de 1%.
O número de mortes por suspeita de dengue também aumentou em uma semana: foram dois novos casos, totalizando nove mortes. A superintendente da SMS informou que a epidemia está sendo causada pela introdução de um novo vírus, o tipo 4, em Goiânia, tornando as pessoas que já contraíram a dengue transmitida pelos vírus 1, 2 e 3 vulneráveis novamente.
É o caso de Aline Xavier, promotora de eventos de 29 anos, que estava sendo tratada no Centro de Atendimento Integrado a Saúde (Cais) do Jardim América. Ela já teve a doença em 2007 e, assim que começaram os sintomas, procurou ajuda médica. “Eu já sabia que era dengue porque comecei a sentir muita dor no corpo e febre. Mas dessa vez está diferente, as dores são mais intensas e as manchas na pele começaram a aparecer bem mais cedo”, contou.
Não foi possível identificar qual o tipo de vírus havia infectado Aline, pois os ainda não estavam prontos. Para as enfermeiras que trabalham no Cais, esta nova epidemia está mais forte. Uma delas contou que a unidade chega a receber cem pacientes por dia com suspeita de dengue, sendo que em média, 80 são casos confirmados.
CAPACIDADE
A superlotação do Cais se deve ao medo da epidemia, informou uma das enfermeiras, que preferiu não se identificar. “O pessoal chega só com febre ou dor no corpo e já acha que está com dengue, porque estamos todos com medo. Então isso acaba demorando no atendimento, porque temos poucos médicos para esse tanto de paciente”, revelou. O Jardim América é o segundo bairro de Goiânia com maior incidência de casos de dengue: são quase cem por semana. Apesar do surto, a SMS anunciou em janeiro que iria equipar as unidades de saúde com 80 novos leitos para dengue. O Cais do Jardim América recebeu 6 deles: cadeiras onde os pacientes podem sentar enquanto recebem o tratamento com soro.
Mesmo com as novas adições, as enfermeiras afirmaram que não há leitos suficientes para todos. “Temos de improvisar. Colocamos cadeiras nos corredores do ambulatório e às vezes até aplicamos o soro lá na sala de espera mesmo”, contou uma delas. A orientação dos profissionais da saúde é que os pacientes procurem ajuda médica após três dias de sintomas.
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Artigo – As gerações e seus tormentos

Eles não se prendem a nada. Na segunda-feira, o jogo novo de vídeo-game, que chegou no sábado, não tem mais graça alguma. Pouca coisa – ou quase nada – parece merecer maior esforço, busca ou sonho. Mudam de opinião quanto ao melhor filme, melhor livro, melhor amigo da vida como quem troca de roupa. Imediatistas, o que hoje é essencial para respirar no minuto seguinte, amanhã não integra mais suas lembranças. Desconhecem o que é alimentar laços – e para o que eles servem. Mas deixam pais, mães e avós boquiabertos com a desenvoltura com que navegam no ambiente digital.
O retrato parece catastrófico. E talvez seja também um tanto exagerado e generalista. Mas o exagero – nem tanto! – faz-se necessário para o que se pretende discutir.
A legião dos adolescentes de hoje, nascidos sob o domínio da tecnologia e das facilidades que ela oferece – sociologicamente denominados de geração Z –, distancia-se cada vez mais do globo real. Aquele em que a luta e o esforço antecedem a vitória e a recompensa. O que exige um pouco mais de esforço é logo abandonado, porque o tempo tem uma outra lógica. O principal desafio tem a ver com os níveis a vencer na partida do vídeo-game. O objetivo: zerar o jogo.
Mas não se zera o jogo da vida assim. Estamos diante de uma geração de adolescentes medicados contra doenças aparentemente cada vez mais comuns e presentes no cotidiano das famílias, como a depressão ou o TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade –, para citar apenas duas delas. Pais e mães envelhecem mais cedo ao frequentar consultórios de psiquiatras que diagnosticam nossos rebentos com esta ou aquela característica que necessita de intervenção – quase sempre de natureza medicamentosa. Parêntese para clarear esta afirmação: claro que se espera que profissionais lancem mão de intervenções deste tipo, quando necessárias. Mas considero que há remédio demais sendo usado para doenças inexistentes. Medicamentalizar a vida tornou-se a melhor alternativa para quem precisa vencer suas dores.
Quem tem filho adolescente hoje integra uma geração que, segundo quem entende do riscado, encara a vida de uma maneira bem diferente. Uma gente que até escorrega nos comandos do computador, que pode enfrentar certa dificuldade em adaptar-se à montanha-russa das mudanças tecnológicas, mas que vive mais do lado de cá que no de lá. Uma gente que se dispõe, bem mais que seus filhos, a alimentar laços familiares e de amizade. Uma gente que não se sente frustrada por colecionar alguns anos no mesmo emprego. Uma gente cujas frustrações nos vários campos da vida – no trabalho, na escola, nas relações – não são repelidas, como se fossem algo nocivo, mas encaradas como instrumento de amadurecimento. Que saibamos dar à geração Z exemplos de que vale a pena viver assim.

• Deire Assis
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SAÚDE BUSINESS WEB

Artigo – Verticalização em saúde: vantagens e riscos

As mudanças no cenário de saúde atualmente são impressionantes. Impressionam pela sofisticação e rapidez com qual mudanças são incorporadas. É uma boa notícia para a saúde de uma forma geral, mas traz uma conseqüência que demanda estratégia responsável pra evitar colapso: os custos estão crescendo muito. Há algum tempo, então, empresas na saúde tem investido em modelos que busquem integração horizontal (consolidação de empresas da mesma etapa da cadeia produtiva) e integração vertical (associação de empresas de etapas distintas da cadeia).
Na indústria da saúde este arranjo apresenta, basicamente, dois padrões: grupos de prestadores de serviço, principalmente hospitais, que desenvolvem suas próprias empresas operadoras de planos de saúde para atender as suas demandas; e operadoras de planos de saúde que, pressionadas pelo grande aumento dos custos, passam a oferecer serviços próprios para os seus beneficiários, incluindo hospitais , laboratórios e serviços que prestam atendimento de áreas e alto custo, como quimioterapia.
Em oncologia – tratamento do câncer – em todo sentido um olhar atento. Grande parte do que representa elavdo custo do tratamento oncológico é os medicamento usado.
Para se ter uma idéia, o custo médio de um novo produto para tratamento do câncer saltou de US $ 4 mil para US $ 10 mil mensais nos últimos 5 anos. Alguns produtos chegam a ultrapassar R$ 100 mil! Criar um dispositivo (além, evidente, da regulação científica criteriosa), para racionalizar custos (reforço… não é racionar) é um compromisso da operadora que pretende manter sua viabilidade atuarial sem repasses de despesas para população.
Existem, entretanto, alguma armadilhas neste cenário. Estes novos medicamentos – protegidos por patentes – são de alto custo e geralmente oferecem pouca margem de comercialização para os prestadores, de forma que a expectativa de grandes descontos com a compra direta pode ser frustrada. Outro ponto a ser ampliado: a crescente demanda de atendimentos na área de câncer (conseqüência de uma população que envelhece e uma doença mais frequente e mais crônica) pode pegar um gestor de surpresa ao perceber que seu serviço já nasceu pequeno!
Ao mesmo tempo, montar um serviço superdimensionado ou ocioso significa desperdício que anula toda e qualquer vantagem prática. Ainda há mais um ponto de alta tensão: nem todo cliente aceita transferência de prestador do serviço (principalmente se for compulsório – o que o professor de Harvard Business School Michael Porter chama de competição de soma zero).
O cliente que contrata uma rede ampla não pode – por determinação legal – ter esta rede “encolhida” sem justificativa. Daí a importância que toda e qualquer verticalização seja balizada pela qualidade excepcional, com serviços próprios entrando num mercado competitivo de forma eficiente e encantadora. De qualquer forma, existe consenso sobre necessidade de buscar soluções criativas e produtivas, com equipe qualificada que conheça o cenário de forma ampla e ágil, apta a reconhecer as dificuldades e oportunidades de agora e de amanhã. Já dizia o importante pensador austríaco Peter Drucker: “o maior risco nos tempos de turbulência não é a turbulência em si; é agir com a lógica de ontem”.

*Stephen Stefani é médico internista e oncologista. Especialista em auditoria médica. É consultor de várias operadoras de planos de saúde no país. Autor de dezenas de trabalhos, artigos e capítulos de livro sobre auditoria na área de oncologia e sobre economia da saúde. Coordenador da Câmara Técnica de Oncologia da Unimed do Brasil. Professor de Farmacoeconomia e de Gestão em Oncologia da Fundação Unimed. Presidente do capítulo Brasil da International Society of Pharmacoeconomics and Outcome Research (ISPOR). Membro do Comitê Executivo da ISPOR América Latina.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação