ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
DESTAQUES
Médico ortopedista fala sobre as causas das dores nas costas em homens e mulheres
Procon-GO divulga resultado da fiscalização dos valores da vacina contra dengue em Goiânia
Ipasgo alerta sobre golpe em hospitais
Duas drogas sintéticas são alvo de operação da polícia
Artigo – Leitos hospitalares são substituídos por instituições "sem médicos"
Não queria ser mãe
Biópsia líquida contra o câncer
Prefeitura inaugura novo Centro de Saúde da Família
Justiça bloqueia bens de 30 médicos do SAMU que receberam sem trabalhar
3 em cada 10 planos de saúde não pagam nem 1% da dívida com SUS
Unimed-Rio poderá exigir aporte de R$ 347 milhões de cooperados
TV ANHANGUERA/ GOIÁS
Médico ortopedista fala sobre as causas das dores nas costas em homens e mulheres
http://g1.globo.com/goias/videos/t/bom-dia-go/v/medico-ortopedista-fala-sobre-as-causas-das-dores-nas-costas-em-homens-e-mulheres/5253777/
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Procon-GO divulga resultado da fiscalização dos valores da vacina contra dengue em Goiânia
http://g1.globo.com/goias/videos/t/bom-dia-go/v/procon-go-divulga-resultado-da-fiscalizacao-dos-valores-da-vacina-contra-dengue-em-goiania/5254363/
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O HOJE
Ipasgo alerta sobre golpe em hospitais
O chamado Golpe da UTI, que está sendo aplicado em todo o País, chegou em Goiás e aos usuários do Ipasgo. Em visitas de rotina aos hospitais da rede credenciada, servidores do Instituto ouviram relatos de dois pacientes que teriam recebido ligações de golpistas. O Ipasgo orienta os usuários para o comportamento correto e alerta que como esse tipo de golpe é crime de estelionato e as vítimas, ainda que não tenham feito o depósito, devem registar ocorrência policial para que o caso seja investigado.
UTI Segundo o Ipasgo, se a pessoa tem um paciente internado em UTI e recebe esse tipo de ligação, antes de qualquer coisa deve entrar em contato com a unidade hospitalar para confirmar a veracidade da história. "O Ipasgo tem até 48 horas para liberar um procedimento.
Nesse período então, é importante que se houver algum contato nesse sentido, que o familiar confirme no hospital ou mesmo no Teleatendimento do Ipasgo", explica o assessor da diretoria de assistência ao servidor, Lívio Barreto.
O golpe O golpe acontece da seguinte forma: quando um paciente se interna em uma UTI e necessita de algum procedimento, o hospital faz a solicitação do exame ou cirurgia. O plano tem um prazo para fazer a autorização.
Nesse meio tempo alguma pessoa que tem acesso aos dados da pessoa, como nome, plano de saúde e o procedimento solicitado, entra em contato com a família, se passando por médico e informa que o Ipasgo não autorizou o procedimento e que é necessário que a família deposite uma certa quantia para que o paciente tenha o atendimento.
O golpista passa então o número de uma conta bancária para depósito do valor. E costuma usar ainda a estratégia de citar, reiteradas vezes, da necessidade urgente do procedimento ser realizado.
Nos casos que chegaram ao conhecimento do Ipasgo, os familiares desconfiaram e quando buscaram informações no hospital, descobriram a tentativa de estelionato.
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O POPULAR
Duas drogas sintéticas são alvo de operação da polícia
Oito pessoas já foram presas e mais de 200 frascos de Special K e GHB foram apreendidos em cinco fases da operação, que foca universo LGBT
Gabriela Lima/gabriela.lima@opopular.com.br
Drogas potentes invadiram as festas da comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e
Trans (LGBT) e preocupam a Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), que realiza a Operação Key para combater a venda e uso da ketamina (Special K ou key) e do ácido gama-hidroxibutírico (GHB, a Gisele/poderosa ou Gi). Até o momento, a ação culminou na prisão de oito pessoas, entre elas um escrivão da Polícia Civil, e apreendeu mais de 200 frascos e porções das duas substâncias. Titular da Denarc, o delegado Alécio Moreira conta que a polícia sabia da existência das duas drogas, mas a primeira apreensão aconteceu esse ano, durante a Operação Key. A investigação já teve cinco fases e ainda está em andamento. A polícia não descarta novas prisões.
“Estamos trabalhando para identificar quem são os fornecedores dessas drogas nas festas LGBT. São drogas violentíssimas, que as pessoas usam até desmaiar. O público está se colocando em um risco enorme, que eles não têm noção do tamanho do problema”, alerta Moreira.
De acordo com a polícia, a operação teve início em abril, após uma denúncia do uso exagerado das duas drogas nos eventos e boates voltados ao público LGBT. “Essas festas não eram fiscalizadas, não havia uma repressão a essas drogas”, explica o delegado.
A Operação Key seguia sem chamar muita atenção da imprensa até que um servidor da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) acabou preso, na última sexta-feira. O escrivão Ramiug Costa de Farias, de 38 anos, teve a prisão preventiva decretada por atuar como informante dos criminosos.
De acordo com o delegado, desde a primeira fase os investigadores identificaram o policial civil, que “estava junto desses traficantes o tempo todo”. Moreira disse ainda o escrivão ameaçou as investigações, pois além de passar informações para pessoas que eram investigadas, também apontou agentes da Polícia Civil que filmavam os suspeitos dentro de uma festa.
“É uma grande surpresa para nós. Ele sempre foi um profissional respeitado dentro da instituição, mas infelizmente não tínhamos outro caminho a seguir e não é porque está na instituição que está imune de ser investigado”, disse Moreira.
Segundo o delegado, não há indícios de outros policiais envolvidos com o grupo. “Foi uma situação esporádica.
Escrivão diz que só quis “alertar amigos”
O escrivão da Polícia Civil Ramiug Costa de Farias, de 38 anos, preso preventivamente por suposta associação com grupo de traficantes, disse em depoimento que não tinha intenção de atrapalhar as investigações da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc). Afirmou que “só queria prevenir os amigos” e se diz arrependido.
A prisão ocorreu na sexta-feira, na casa do servidor da Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP), no Setor Urias Magalhães. De acordo com o titular da Denarc, Alécio Moreira, ele alertou traficantes citados em depoimentos da Operação Key, que investiga a venda de drogas em festas da comunidade LGBT. “Por ser policial, ele tinha uma facilidade acesso ao sistema”, explicou.
Na casa do escrivão, policiais apreenderam porções de key, ecstasy, cocaína e frascos do anestésico de cavalos Cetamin. Aos colegas da Denarc, Farias afirmou que usa drogas há cerca de um ano e repassava o produtos a amigos “quando ficavam sem”, sem obter lucro. O delegado explica que, apesar de não obter lucro, a prática de repassar entorpecentes configura tráfico.
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol-GO), Paulo Sérgio Araújo, pede cautela.“Reconhecemos o trabalho da Denarc, mas esperamos que as pessoas não prejulguem, esperem que Justiça se pronuncie. Muitas vezes, policiais são execrados pela opinião pública e no final não são nem denunciados por falta de provas”, diz.
Balada turbinada e perigosa
Ketamina e GHB são usadas juntamente com ecstasy, cocaína e álcool nas baladas LGBT. Drogas altamente alucinógenas são prejudiciais à saúde.
Ácido Gama – Hidroxibutírico (GHB) – Droga que surgiu como anestésico, foi proibida por causa do alto poder alucinógeno e até letal. No Brasil, uma versão genérica encontrada em solventes causou uma morte, em Santa Catarina, e deixou duas pessoas na UTI durante o carnaval do ano passado. Também é conhecida como Gi, Gisele ou ecstasy líquido.
Ketamina – Droga extraída do anestésico Cetamin, de uso veterinário, provoca um estado mental alterado e psicodélico. Em doses elevadas, produz delírios e alucinações. Também é conhecia como Special K ou Key. O remédio, vendido em forma líquida, é secado e transformado em pó para ser aspirado. Muitos usuários utilizam a droga misturada à cocaína, potencializando os riscos.
Efeitos colaterais
Bastante potentes, as duas drogas podem causar alucinações, depressão profunda, coma ou até mesmo a morte por parada cardiorrespiratória.
Operação Key
As investigações se iniciaram em abril, após uma denúncia do uso de drogas em festas da comunidade LGBT. Dividida em quatro fases, até o momento, conta com 8 presos.
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DIÁRIO DA MANHÃ
Artigo – Leitos hospitalares são substituídos por instituições "sem médicos"
E graças à política governamental
POR MARCELO CAIXETA
Ontem recebemos na unidade juvenil do hospital psiquiátrico que eu dirijo três homens com uniformes militares. Disseram que faziam parte de uma fazenda de recuperação evangélica com "regime militar" e que estavam lá para retirar, a pedido do pai, um paciente grave , com psicose tóxica (cannabis/maconha). Disseram que sua unidade não tem médico, o que existe vai lá uma vez a cada 15 dias, mas que eles não tem medo de pegar pacientes psiquiátricos graves: "A gente tem até uma tabelinha: 1/ para alcoolismo a gente dá isso. 2/ para maconha a gente dá aquilo. 3/ para agitação a gente ministra aquilo outro, etc. O pai optou por retirar de nosso hospital porque nele o pai de crianças e menores precisam ficar de acompanhante, e o pai queria ficar livre da incumbência".
Na semana passada recebemos um rapaz de 18 anos, com sua mãe, dizendo que já estava cansado de ficar na "solitária" de outra casa de recuperação. Lá eram medicados pela "dona", segundo eles uma missionária evangélica casada com outro missionário. Ela seria, segundo o rapaz traumatizado, enfermeira do Samu, de onde , segundo ele, ela retiraria medicações para dar para os internos. Segundo ele, "ainda nesta semana eles passaram um apuro danado, pois um interno quase morreu com uma dose forte de neozine que deram para ele". Neozine ( levomepromazina ) é um antipsicótico neuroléptico muito potente, de manuseio muito delicado, que facilmente pode levar à morte por uma série de motivos , colapso cardiovascular, obstrução respiratória com consequente insuficiência, arritmias, etc. Mesmo num hospital psiquiátrico seu uso é muito restrito e cuidadoso. Mas, segundo este interno, na casa de recuperação onde ele estava, tal medicação era ministrada inclusive por "obreiros", ou seja, pessoal que nem da área da saúde é.
Isso acima reflete a situação não só de Goiás, mas do Brasil inteiro. Até 15 anos atrás, apenas 30% dos doentes psiquiátricos tinham associação com drogas. Hoje isso pulou para mais de 60%, em nossa casuística, de modo que praticamente todo doente mental, hoje, tem ligação com droga. Aí eles montam "fazendinhas, casas de recuperação, clínicas", para drogados e isso passa a atender toda a população com doença psiquiátrica. Em síntese, são os novos hospitais psiquiátricos. Como um camelô na rua, as casas de recuperação "competem" com o "comércio que paga impostos, tem exigências, restrições, multas". Eles não tem nenhum compromisso sanitário oficial, podem fazer o que querem, e ainda por cima com gastos ínfimos, quando comparados a um hospital, com toda sua canga enorme de impostos, exigências, normas, etc.
E o que é pior, tudo isso apoiado e financiado pelo Governo, o mesmo Governo que se gaba de ter "acabado com os leitos psiquiátricos" e tê-los colocados em centros psicológicos-sociais na comunidade. O que é pior é que o Governo montou essas estruturas caríssimas , em volume, pelo Brasil afora, que hoje gastam muito mais do que centenas de hospitais psiquiátricos. Disse que as montou , que custam caro de fato, mas que isso justifica o fim dos leitos psiquiátricos. Tais centros, segundo o Governo, substituem os hospitais, apesar de muitos deles já estarem virando um arremedo de hospital, e muito mais precário, pois, como as casas de recuperação, não tem médicos especialistas, plantonistas, etc. Governos gastam centenas de milhões de reais com os tais centros psicológico-sociais e ainda assim não conseguiram acabar com os leitos psiquiátricos. Pelo contrário, como mostro no gráfico, fizeram foi multiplicá-los de outras formas. Os custos, então, fizeram foi multiplicar-se, sem melhora real no atendimento técnico.
Não sou favorável a internação discriminada de pacientes psiquiátricos, assim como de qualquer outro paciente médico, sou favorável, isso sim, a seu tratamento técnico, digno, humano, seja onde for. Se precisar internar para fazer exames, para uma abordagem médica-especializada mais profunda, que se interne, assim como se dá em qualquer outra especialidade médica. Que fique o menor tempo e logo vá para um ambulatório médico-psiquiátrico especializado, coisa que também praticamente inexiste nas instâncias governamentais. Se for o hospital que tem os melhores ambulatórios, os melhores especialistas, os melhores meios de exames, as melhores equipes de enfermagem, os melhores recursos terapêuticos, então que se valorize o hospital, e não o demonize, como o faz o Governo Federal. É uma pura questão de hipocrisia, só isso.
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)
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Não queria ser mãe
POR Ariana Lobo
Afinal, o trauma pelo qual a garota passou por si só já não era castigo suficiente?
Jovem que abortou em uma unidade de saúde da capital e abandonou o feto dentro da lata de lixo do banheiro foi presa, será julgada e, se condenada, poderá pegar até 3 anos de prisão
A questão do aborto, longe de se tornar um consenso, continua a causar polêmica e dividir opiniões. Dessa vez, o foco da discussão é a jovem de 22 anos que, após tomar medicamentos contraindicados para gestantes em excesso, abortou dentro da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Curitiba no último domingo (21), (quando foi buscar atendimento médico após passar mal por causa dos remédios ingeridos) e abandonou o feto na lata de lixo do banheiro da unidade. Ela, que já havia saído da UPA quando funcionários encontraram o feto, foi identificada, presa em flagrante e passará por julgamento que poderá levá-la a ficar até 3 anos na prisão.
Segundo informações veiculadas na mídia, a jovem é natural de Darcinópolis (TO) e atualmente morava na casa dos tios em Goiânia. Ela é formada em Direito, estava estudando para passar no exame da OAB e o bebê era fruto de um relacionamento que teve com um homem em Araguaína (TO). No momento do atendimento médico, ela não informou aos médicos que estava grávida, disse apenas que o mal-estar que sentia era em função de cólicas menstruais. Após expelir o feto, ela ligou para os tios irem buscá-la na unidade. A jovem agora se encontra internada para receber atendimentos necessários pós-aborto.
Punição justa?
Enquanto grande parte da sociedade aprova a prisão da jovem, há quem avalie a pressão psicológica pela qual ela passou, principalmente por parte da família (de quem ela estava escondendo a gravidez), além da falta de apoio do Estado, que não disponibiliza meios seguros de realização de abortos voluntários, o que acabou levando-a a realizar na clandestinidade, correndo risco de vida. Isso sem contar o fato de que, ao buscar ajuda, ainda acabou presa. Há quem questione se o trauma pelo qual ela passou já não seria castigo suficiente.
É certo que o que a jovem fez não parece certo para ninguém, principalmente quando se leva em consideração que a gravidez já estava avançada e o feto quase completamente formado. Mas há quem questione, principalmente nas redes sociais, que se houvesse hospitais autorizados por lei que permitissem a ela interromper a gravidez de forma mais humanitária, com segurança e apoio psicológico, o trauma sofrido por ela seria menor, sendo que o que mais choca no caso (o fato de a jovem ter abortado e abandonado o feto na lata de lixo do banheiro) só aconteceu pelo fato de o aborto ser, além de proibido, um tabu.
É o que defende a internauta Yasmin Renata: “se não houvesse essa proibição, a jovem não precisaria ter abortado em um banheiro, afinal, ela também correu risco de vida. Ela teria feito com assistência. Mas o medo faz a gente ser capaz de fazer muitas coisas. Eu não a julgo e acho que ela precisa mais de assistência psicológica do que de ser presa, porque ela deve estar muito abalada”, comenta.
Questão de classe
Paula Nogueira, 25, mestranda em Antropologia Social e membro do coletivo feminista “Marcha das Vadias”, explica que o caso é mais um exemplo de que o aborto é um problema de saúde pública no Brasil e que precisa ser tratado como tal, independente de crenças pessoais e/ou religiosas. “O fato de o aborto ser criminalizado não impede que mulheres abortem. O que ocorre é que aquelas com um poder aquisitivo maior recorrem às clínicas clandestinas, enquanto as mais pobres se submetem a toda a sorte de situações insalubres e arriscadas, expondo a própria vida. Não por acaso, as mulheres negras, também mais pobres, são as que mais morrem durante abortos clandestinos”, argumenta.
Paula assevera que nos países em que o aborto é legalizado, há regras a serem respeitadas, como o tempo de gestação, que não pode ser superior a 12 semanas e usa como exemplo o Uruguai. “Além disso, há acompanhamento psicológico. Lá (no Uruguai), o número de abortos inclusive diminuiu após a legalização”.
Sobre o acontecido na capital goiana no último fim de semana, Paula defende: “Essa moça ser punida individualmente não resolve o problema dos abortos clandestinos e mortes deles decorrentes, que continuarão a existir sob as péssimas condições, independente de criminalização. O Estado não pode continuar a tapar o sol com a peneira”, conclui.
Recorrência
Acontece que, independente de determinação legal, opiniões ou discursos religiosos, abortos acontecem todos os dias. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 19 milhões de abortos são realizados por ano. Por serem feitos clandestinamente e de forma insegura, causam a morte de 70 mil mulheres.
Além disso, segundo a Pesquisa Nacional do Aborto, realizada no ano de 2010, uma a cada cinco brasileiras de até 40 anos de idade realizou ao menos um aborto durante a vida. Esse fato implica que, independente da ilegalidade do ato, ele é descriminadamente cometido, tanto nas clínicas clandestinas quanto pelas próprias gestantes ou por pessoas conhecidas, e por diferentes meios, como por exemplo, a medicação.
O caso da jovem na UPA, portanto, foi apenas mais um, com a diferença de que, dessa vez, a jovem foi pega. Isso porque a criminalização, além de não impedir que o ato seja praticado, contribui para que abortos sejam realizados clandestinamente e, na maioria das vezes, em condições precárias e inadequadas.
Legislação
Rodrigo Lustosa, 40, advogado criminal, especialista em Direito Penal, mestre pela UFG em Direitos Humanos, professor universitário e conselheiro da OAB-GO, explica que o abortamento segue incriminado pelo Código Penal Brasileiro, legislação que data da década de 40 do século passado. Nele estão tipificados os delitos de autoborto (quando a própria gestante destrói a vida intrauterina) e o aborto praticado por terceiros (com ou sem o consentimento da gestante).
Ele esclarece que “o mesmo Código Penal exclui a incriminação do abortamento quando praticado por médico (e apenas por médico) naqueles casos em que não houver outro meio de se salvar a vida da gestante (aborto terapêutico) e quando a gravidez for resultante de estupro e o aborto for precedido do consentimento da gestante. Além disso, o Supremo Federal entende que o abortamento, nos casos de fetos anencéfalos, não constitui crime”. Nos demais casos, o aborto é considerado crime podendo levar a mulher que o praticou a até 3 anos de prisão, e a pessoa que o fizer na mulher pode ficar até 10 anos presa.
Segundo o advogado, “a deficiência do serviço público no atendimento deste tipo de situação apenas contribui para a busca de meios ilegais para a realização do abortamento, colocando em risco a vida da gestante e a vitimizando mais uma vez”.
Além disso, mesmo sendo permitido pela lei e a jurisprudência, o abortamento em alguns casos, Rodrigo alerta que, na prática, “sobretudo quando a gestação resulta de violência sexual, as mulheres enfrentam dificuldades para exercer tal direito, não sendo raros os casos de recusa médica na realização do abortamento e, também, de exigências prévias, a exemplo do registro de ocorrência policial e autorização judicial”.
O advogado explica que essas barreiras não têm o amparo legal, já que a legislação pertinente não formula qualquer exigência neste sentido, bastando, da perspectiva jurídica, a afirmação da gestante sobre ser a gravidez produto de violência, o que pode ser feito mediante simples preenchimento de documento que formalize tal declaração. “Por isso, as justificativas para as dificuldades impostas à prática do abortamento em virtude de crime de estupro devem ser buscadas não na lei, mas em fatores outros, tais como ignorância e machismo, sendo este último aspecto largamente disseminado na nossa cultura”, argumenta Rodrigo.
“Essa moça ser punida individualmente não resolve o problema dos abortos clandestinos e mortes deles decorrentes, que continuarão a existir sob as péssimas condições, independente de criminalização”, Paula Nogueira, mestranda e membro do coletivo feminista “Marcha das Vadias”.
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Biópsia líquida contra o câncer
Teste realizado por amostra de sangue permite a identificação de células cancerígenas
POR Rafael Freitas
É possível ainda antecipar o diagnóstico de alguma mutação e medicamento com melhor resultado
Estudos científicos descobriram que as células cancerosas de tumores deixam rastros e sinais no sangue. Mas, por meio de uma técnica simples e eficiente, foi desenvolvido um exame que promete revolucionar o diagnóstico e o tratamento do câncer – a “biópsia líquida”: um método minimamente invasivo que permite a identificação do grau do câncer, a regressão ou o aumento, ou seja, com a biópsia líquida é possível detectar mutações no momento em que elas surgem. Com ela, o oncologista clínico tem informações personalizadas sobre seus pacientes, podendo direcionar a abordagem terapêutica mais adequada para cada situação.
A dificuldade de acessar as diferentes populações de células tumorais por biópsia convencional é um dos maiores desafios no cuidado contínuo e monitoramento do câncer. O método, que identifica células tumorais no sangue ou até mesmo o DNA destas células, pode auxiliar os médicos a caracterizar o tumor e determinar o melhor caminho para o tratamento sem que o paciente sofra tanto no organismo.
“A questão é que os tumores podem desaparecer e voltar em outro órgão. Daí, fazer a biópsia convencional leva a uma série de processos e acarreta sofrimento ao paciente como todos já sabem. Ao invés de tratarmos a doença de modo convencional, queremos facilitar o tratamento para o doente. A eficácia da biópsia líquida é de 80%”, enfatiza o médico Maurício Zafis.
A técnica desenvolvida nos Estados Unidos chegou ao Brasil. O exame foi desenvolvido no País pela Progenética Hermes Pardini. Em Goiânia, o exame é feito pelo Laboratório Padrão, o único a oferecer esse exame no País. Em Goiás, a população já pode realizar o exame. O teste está disponível para câncer de pulmão, colorretal e melanoma, mas a expectativa é de que o exame seja usado para outros tipos de tumores sólidos. No início de junho, os laboratórios apresentaram os resultados de um trabalho realizado com a biópsia líquida em 15 mil pacientes, evidenciando a eficiência da técnica para detecção e monitoramento da doença.
“Muitas vezes é possível obter uma qualidade melhor no resultado por meio da biópsia líquida, pois se trata de um exame que não demanda presença de um cirurgião, não requer anestesia e oferece um custo inferior ao processo tradicional”, explica Mariano Zalis.
A biópsia líquida é capaz de impedir a evolução da doença, antes mesmo dos exames de imagem ou do surgimento de sintomas clínicos. O teste consegue, ainda, identificar se o tumor está desenvolvendo qualquer mutação ou resistência ao tratamento. “Ele ajuda a detectar metástases e reincidência do tumor. É um método fácil e de grande eficácia”, garante o médico.
Segundo o especialista, o tumor vascularizado entra em contato com a corrente sanguínea e as células mortas colocam no sangue o DNA tumoral. “A ideia da biópsia líquida consiste na coleta e análise de uma amostra de sangue, de onde se extrai o DNA do plasma e por meio de um teste genético é possível descobrir mutações no gene”, explica Zalis.
O teste é revolucionário e tem suas vantagens. O médico Maurício Zafis explica que “a principal vantagem do teste é a possibilidade de monitorar a doença por meio de um método que reconhece as características moleculares do câncer, especialmente em diferentes momentos da evolução da doença. Isso permite aos médicos fazer as recomendações terapêuticas personalizadas para as especificidades do paciente”.
A objetivo é que pacientes que fazem o tratamento pelo método da biópsia líquida tenham uma sobrevida maior do que os que fazem com a convencional. Ainda é possível que o exame possa identificar a presença e o tipo do tumor antes que ele apareça nos exames convencionais de imagem. “Com a biópsia líquida é possível monitorar o paciente para verificar o aparecimento de algum tipo de modificação genética desse câncer. Como é um procedimento simples, ele permite a coleta em períodos mais frequentes do que a biópsia tradicional de quimioterapia. É possível antecipar o diagnóstico de alguma mutação ou perceber a resistência a determinado medicamento e, com isso, prever a mudança do tratamento”, afirma Mariano Zalis.
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JORNAL OPÇÃO
Prefeitura inaugura novo Centro de Saúde da Família
Unidade no Recanto das Minas Gerais tem capacidade para atender 12 mil pessoas por mês e oferece serviços de médicos, dentistas e enfermeiros
Inicialmente, três equipes atenderão na nova unidade | Foto: Secretaria Municipal de Saúde
A Prefeitura de Goiânia inaugura, nesta terça-feira (23/8), um novo Centro de Saúde da Família (CSF) no Recanto das Minas Gerais. Batizada de Militão Rodrigues Araújo, a unidade atenderá cerca de 12 mil pessoas por mês, com atendimento médico, odontológico e de enfermagem. Inicialmente, serão quatro equipes atendendo, mas com possibilidade de expansão para seis.
Segundo o gerente de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Fabrício Montijo, serão feitas avaliações da abrangência dos serviços para verificar a necessidade de aumentar o número de equipes. Cada uma das equipes é formada por um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem, médicos, cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário e agentes comunitários de saúde.
A unidade deve realizar mais de 2,3 mil consultas por mês, de acordo com a SMS. Entre os serviços ofertados estão o atendimento à recém-nascidos, vacinação, teste do pezinho e procedimentos odontológicos restauradores e cirúrgicos. O horário de funcionamento do novo posto é das 7 às 19 horas de segunda à sexta-feira e das 7 às 18 horas aos sábados.
O investimento na nova unidade, que atende os bairros Recanto das Minas Gerais, Loteamento Tupinambá dos Reis, Jardim Maria Helena, Jardim Abapuru, Residencial Senador Paranhos, Parque das Amendoeiras e Residencial São Leopoldo foi de pouco mais de R$ 1,7 milhão.
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AGÊNCIA ESTADO
Justiça bloqueia bens de 30 médicos do SAMU que receberam sem trabalhar
Goiânia – A Justiça Federal em Anápolis (GO) decretou a indisponibilidade de bens de 30 médicos acusados de fraudar plantões do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e receber sem trabalhar, segundo a Procuradoria da República, causando um prejuízo de pelo menos R$ 617 mil aos cofres públicos do município de 366 mil habitantes situado no interior de Goiás. Onze dos envolvidos continuam trabalhando como servidores da prefeitura local.
O bloqueio alcança todo o valor ilegal obtido por cada um dos médicos, mais o triplo do desviado, que equivale a multa que cada um deles terá que pagar em caso de condenação. Com isso, os valores totais chegam a R$ 2,4 milhões, mas as investigações apontam que os desvios podem ser ainda maiores, pois dois livros com atas de registro de frequência e atividades dos médicos desapareceram ao longo da apuração do esquema.
Auditoria
A decisão do juiz Alaôr Piacini, da 2ª Vara Federal de Anápolis, foi tomada no dia 5 de agosto e atende a uma ação civil pública movida pelo procurador Rafael Paula Pereira da Costa contra os 30 médicos que teriam cometido as fraudes entre 2009 e 2010. Eles respondem por improbidade administrativa e estelionato contra a União.
A ação foi movida a partir de uma auditoria do Departamento Nacional de Auditoria do SUS no município após uma denúncia anônima de que o coordenador-clínico do SAMU local estaria registrando a própria frequência e a dos outros médicos em plantões de 24 horas, mesmo quando os médicos não apareciam ou cumpriam apenas 12 horas de jornada.
Investigações
As investigações do SUS, de uma comissão interna do município e da Polícia Federal, com depoimentos de funcionários da prefeitura e até de um ex-coordenador-geral do SAMU local, acabaram confirmando as suspeitas de irregularidades. Foi identificado, por exemplo, que de setembro de 2009 a fevereiro de 2010, 29 períodos de 12 horas ficaram descobertos. Segundo o Ministério Público Federal, os médicos tinham um contrato com a Prefeitura de Anápolis que previa a carga horária de 24 horas semanais, além de cinco plantões mensais, que deveriam ser definidos e monitorados pela Secretaria de Saúde do município.
Quem fazia as escalas e registrava as frequências dos médicos, contudo, era o então coordenador clínico do SAMU, que encaminhava o material com as fraudes à Secretaria de Saúde.
"A condenação dos requeridos deve servir também para afastar a equivocada ideia difundida entre alguns profissionais médicos de que o fato de exercerem uma profissão de prestígio na sociedade os elevaria a uma posição de superioridade em relação aos demais servidores públicos, facultando-lhes o descumprimento da lei e imunizando-lhes de qualquer questionamento ou sanção", afirma o procurador Rafael Paula Pereira da Costa na ação.
A prefeitura de Anápolis alega que colabora com as investigações e que os médicos estavam com um contrato temporário com o município e foram substituídos por profissionais efetivos admitidos por concurso público em 2010 e 2015. Onze dos envolvidos no esquema, porém, acabaram sendo aprovados no concurso público e seguem trabalhando para a prefeitura, que alega que como não houve sentença com trânsito em julgado não há nenhum impedimento para eles trabalharem no município.
Defesa
A Prefeitura de Anápolis, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que "os médicos envolvidos na investigação, à época dos fatos, atuavam via contratos temporários, que vieram a ser substituídos por profissionais efetivos aprovados em concursos públicos realizados no ano de 2010 e 2015. Parte destes profissionais permanece no quadro de servidores do município em razão de sua aprovação no certame público e, como não há sentença transitada em julgado, não há obste jurídico que impeça o exercício de suas funções como servidores públicos".
Sobre a assinatura de folha de ponto, a Secretaria Municipal de Saúde esclarece que recebia o relatório de controle de jornada "assinado e atestado pelo diretor da época, o qual detinha a responsabilidade de controle, fiscalização e envio das informações". Sobre as investigações a Prefeitura ainda ressalta que "colaborou e contribuiu com todas as informações e documentações solicitadas pelas autoridades".
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FOLHA DE S. PAULO
3 em cada 10 planos de saúde não pagam nem 1% da dívida com SUS
NATÁLIA CANCIAN
Cerca de 30% das operadoras de planos de saúde alvos de cobrança de ressarcimento por atendimentos feitos a seus usuários no SUS ainda não pagaram nem 1% do valor que devem à rede pública.
Os dados de 2001 para cá foram tabulados pela Folha a partir de planilhas da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), órgão regulador e responsável por exigir esse valor de volta ao SUS.
A cobrança ocorre todas as vezes em que a agência, por meio de cruzamento de dados do Ministério da Saúde, verifica que um paciente foi atendido na rede pública para um serviço que poderia obter na rede suplementar -ou seja, dentro do que foi contratado com o seu plano de saúde.
Planos de saúde ressarcem o SUS
Desde 2001, quando iniciou o monitoramento, até julho deste ano, foram cobrados R$ 2,1 bilhões de ressarcimento ao SUS por esses atendimentos. Na prática, 40% desse valor não foi pago nem parcelado para recebimento futuro, o equivalente a R$ 826 milhões (em valores nominais).
A demora ou a completa falta de pagamento envolve parcela significativa de operadoras de saúde. De 1.551 que receberam cobranças para ressarcir o SUS, 444 não pagaram nada ou menos de 1%.
Há outras 125 que pagaram ou parcelaram entre 1% e 9% e 210 que acertaram de 10% a 49% —ou seja, menos que a metade do valor.
Do total, 372 pagaram ou se comprometeram a pagar em parcelas tudo o que devem —outras 154, acima de 90%.
Lideram o ranking de operadoras com maiores débitos sem pagamento Hapvida (R$ 40 milhões), Central Nacional Unimed (R$ 35 milhões) e Unimed BH (R$ 24 milhões).
Planos de saúde X SUS – Valor já cobrado das operadoras desde 2001, em %
Grupos de planos de saúde atribuem a falta de pagamento a uma discordância sobre quais procedimentos podem ser cobrados, quais deveriam ter sido feitos ou até mesmo em relação ao próprio processo de ressarcimento.
A cobrança é prevista desde a lei 9.656, de 1998, que trouxe regras para os planos de saúde. "É um instrumento de justiça contábil, criado para evitar que planos se sintam motivados a se desobrigar de coberturas e enviar seus pacientes ao SUS", afirma Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP.
Na prática, porém, as notificações de cobrança só começaram em 2001. Ainda assim, só para procedimentos mais simples —serviços de alta complexidade, como hemodiálises e quimioterapia, por exemplo, só foram incluídos nas análises em 2015.
"Há um passivo imenso que não foi cobrado. E do pouco que é cobrado, muito não é quitado", diz Scheffer.
CONTESTAÇÕES
Depois da identificação dos atendimentos, o processo prevê a notificação das operadoras, que podem contestar os valores em até duas instâncias administrativas antes de serem cobradas.
Desde 2001, foram notificados 3,1 milhões de atendimentos na rede pública a usuários de planos de saúde, valor que equivaleria a R$ 5,5 bilhões —desse total, cerca de 80% foram alvo de contestação pelas operadoras.
Entre as contestações, 28% foram aceitas e tiveram a cobrança cancelada. Segundo operadoras e a ANS, as principais justificativas são o período de carência dos contratos ou atendimentos feitos em cidades fora da abrangência do plano.
Planos de saúde X SUS – Empresas que pagaram, por % do valor cobrado
Outras 41% foram rejeitadas e enviadas à cobrança e 30% ainda estão em análise —só essa parte pendente equivale a R$ 1,4 bilhão.
Entre estratégias para aumentar o ressarcimento, a ANS diz apostar na cobrança de juros, iniciada em 2015, no envio de notificações eletrônicas e na inclusão do índice de pagamento em avaliações de qualidade dos planos.
OUTRO LADO
Alvos de cobranças de ressarcimento ao SUS, as operadoras de planos de saúde atribuem os casos de demora ou falta de pagamento a discordâncias sobre quais procedimentos deveriam ser cobrados, ao tipo de atendimento prestado na rede pública ou até em relação à própria legalidade do pagamento.
"O ressarcimento ao SUS é uma ilegalidade. Só fico sabendo que meu paciente está no SUS quando recebo a conta", diz Pedro Ramos, diretor da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde).
PLANOS DE SAÚDE X SUS – Ressarcimentos identificados pela ANS desde 2001, em R$ bilhões
O tipo de atendimento efetuado é outro impasse. "A maioria dos hospitais do SUS são privados, que adoram pegar o convênio médico porque fazem coisas que precisam e que não precisam", afirma ele, que também diz ver fraudes no processo.
Segundo Ramos, situações como essas levam muitas operadoras a recorrerem à Justiça —um desses processos, oriundo do recurso de uma operadora, aguarda análise no Supremo Tribunal Federal.
Já Solange Mendes, presidente da FenaSaúde, federação que representa algumas das maiores operadoras do país, afirma que as empresas "cumprem a legislação" e "usam os meios legais para questionar eventuais indenizações indevidas".
Solange lembra que nem todos os atendimentos são passíveis de ressarcimento —por exemplo, casos em que o usuário do plano de saúde ainda está no período de carência do contrato ou para alguns tipos de transplantes.
Raio-x dos planos de saúde – Beneficiários no Brasil em junho, em bilhões*
Posição semelhante à das associações foi informada pelas três operadoras citadas.
A Central Unimed Nacional diz ter "uma reserva integral para o valor em discussão, pois tem o direito de recorrer à Justiça e questionar valores ou cobranças que não estejam de acordo com a lei".
A Unimed BH diz que tem feito depósitos judiciais de parte dos valores exigidos e tratado o tema com a ANS, "em função de questionamentos técnicos" sobre a cobrança". A Hapvida não quis comentar os valores, mas disse concordar com a Abramge.
MINISTRO DA SAÚDE
Defensor de propostas que acenam ao setor privado, como a oferta de planos de saúde mais baratos e com cobertura reduzida, o ministro Ricardo Barros (Saúde) também tem defendido criar medidas para acelerar o ressarcimento ao SUS pelos planos.
Uma das possibilidades já citadas por Barros é que hospitais que prestam serviços ao SUS façam um contrato prévio com as operadoras. A ideia é definir quais procedimentos podem ser cobrados "automaticamente", e por qual valor, caso um usuário de plano busque a rede pública para atendimento.
A iniciativa tem gerado preocupação entre especialistas e representantes de planos. Um dos impasses é que o processo de ressarcimento sairia das mãos da ANS para ser definido entre os planos e as unidades da rede.
Para Fátima Siliansky, especialista em economia política da saúde, isso pode gerar um conflito de interesses ao fazer hospitais terem que identificar se estão atendendo usuários de planos.
"Qual a tendência? Se a tabela é melhor, é querer privilegiar a pessoa que tem plano porque vai trazer mais dinheiro", diz Fátima, que já foi diretora-adjunta da ANS.
Mesma preocupação tem Mário Scheffer, professor da USP e vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), para quem a medida pode criar uma "dupla porta" em hospitais públicos —uma para pacientes com plano e outra para quem não tem. "Onde tem dupla porta, tem dois agendamentos. Isso vai criar dificuldade maior para quem só pode recorrer ao SUS."
Representantes dos planos de saúde também fazem ressalvas. "É uma proposta que não tem condição nem amparo na lei. Não tenho que mandar paciente meu para o SUS, mas sim para minha rede própria ou credenciada", diz Pedro Ramos, da Abramge.
Segundo Ramos, a associação irá propor ao governo que o ressarcimento só passe a ser feito com duas condições: que o plano seja avisado imediatamente após a entrada do paciente no SUS e que, se possível, possa removê-lo e levá-lo a outro hospital.
"Em caso de urgência, o SUS tem que atender, mas avisar a operadora, porque na hora que o paciente estabilizar, eu tiro de lá. Se não avisar, não pago", afirma.
Já a FenaSaúde, que também representa operadoras, diz considerar "imprescindível aprimorar a análise de quais procedimentos devem ser realmente pagos."
Questionado sobre as críticas, o ministro evitou comentar possíveis efeitos da medida e diz aguardar resultados de estudos sobre a viabilidade da mudança.
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GLOBO ONLINE
Unimed-Rio poderá exigir aporte de R$ 347 milhões de cooperados
Alternativa seria redução no pagamento a médicos ou injeção de recursos de investidor
Luciana Casemiro / Ione Luques
RIO – A nova diretoria da Unimed-Rio, que será eleita em assembleia hoje, poderá exigir dos médicos da cooperativa um aporte que, segundo fonte que acompanha de perto o plano de recuperação da empresa, chegaria a R$ 347 milhões. Assim, os 5.423 cooperados teriam de contribuir com cerca de R$ 64 mil cada um. A cooperativa, que há quase dois anos passa por uma crise financeira e institucional, está sob a direção fiscal da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), desde 2015.
Outra pessoa a par do processo diz que o aporte poderia ser feito de diferentes formas:
— Pode-se negociar um aporte em dinheiro, aumento nos descontos feitos nos procedimentos pagos aos cooperados (remuneração dos médicos) ou até por parceiro investidor.
A expectativa de credores e órgãos públicos é que, decidido quem assumirá o comando da cooperativa hoje, acordos comecem a ser fechados para o pagamento de débitos — que, segundo números oficiais, chegam a R$ 600 milhões —, e o plano de recuperação decole.
GARANTIA DE ATENDIMENTO A CLIENTES
Ontem o Ministério Público de Niterói precisou intervir para garantir que fosse mantido o atendimento aos cerca de 50 mil dos 950 mil clientes da cooperativa que vivem na região coberta pela Unimed Leste Fluminense: Niterói e arredores. A cooperativa sediada do outro lado da Baía de Guanabara havia comunicado, na última sexta-feira, a seus cooperados e à rede prestadora que suspenderia o atendimento aos beneficiários da Unimed-Rio. A suspensão pegou de surpresa até a Promotoria.
— Tivemos uma reunião com o presidente da Unimed Leste Fluminense hoje (ontem) e pedimos que aguarde a eleição da nova diretoria para tomar uma atitude. Ele nos garantiu o atendimento normal até a próxima segunda-feira, dia 29. Amanhã (hoje), será a vez de conversamos com os representantes de hospitais, clínicas e laboratórios para que honrem o compromisso firmado pela cooperativa — explica o promotor Augusto Lopes, do Ministério Público de Niterói.
Em nota, a Unimed Leste Fluminense confirmou que, por solicitação do Ministério Público, “decidiu revogar a orientação anterior quanto à suspensão de atendimento aos beneficiários da Unimed-Rio, até o desfecho da eleição dos novos representantes legais daquela operadora.”
A dívida da Unimed-Rio com a Leste Fluminense, segundo a Promotoria, é de R$ 36 milhões. Cerca de 30% dos atendimentos feitos pela Leste Fluminense são a beneficiários da cooperativa carioca.
A Unimed-Rio ratificou que o atendimento está mantido e normalizado. E lembrou que “vive um processo de restruturação econômico-financeira e vem mantendo diálogos permanentes com a rede prestadora a fim de estabelecer termos que agradem aos interesses de todas as partes envolvidas.” Ainda segundo a nota oficial da cooperativa, “a nova diretoria eleita terá o compromisso de manter em andamento todas as negociações com a Unimed Leste Fluminense e com os demais parceiros da rede prestadora.”
O fato é que, quase um mês depois da derrubada da diretoria da Unimed-Rio — comandada por Celso Barros, há quase duas décadas —, os cooperados ainda não se entendem. O movimento de oposição 3ª Via, liderado pela médica Ana Clara Sande, chegou a pensar em embargar a eleição, por considerar que, mais uma vez, o processo não foi democrático nem transparente. O grupo questiona, ainda, a gestão do Conselho Provisório da Unimed-Rio, liderado por Antônio Romeu Scofano Junior, que é candidato a uma vaga na diretoria.
CONSUMIDORES INSEGUROS
Enquanto a situação institucional e financeira da empresa não se resolve, os consumidores manifestam preocupação. A publicitária Lucia Diuana, ao tentar marcar uma consulta para a filha no Hospital dos Olhos, em Niterói, ontem, foi informada de que o atendimento estava suspenso.
— Tentei marcar em outras clínicas, mas a resposta era a mesma: não estavam atendendo mais os planos da Unimed-Rio — conta Lucia, que se tornou cliente, em 2008, quando a carteira da Caarj foi absorvida pela cooperativa.
Com uma consulta marcada para amanhã, Rita Oliveira de Araújo, também moradora de Niterói, já foi alertada pela secretária do médico de que o plano pode não ser aceito:
— Vou fazer a consulta de qualquer forma, pois estou precisando, mas estou muito decepcionada e insegura. E as minhas necessidades são básicas, imagina quem tem questões mais complexas.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação