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O POPULAR
Associação diz que há escassez, mas não falta
A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) diz que não há falta, mas escassez de alguns produtos hospitalares. A afirmação foi uma resposta ao questionamento da reportagem sobre quais os medicamentos que não estão disponíveis na rede privada.
Reportagem do POPULAR da edição desta quarta-feira (24) mostrou que há falta de sedativos e bloqueadores neuromusculares em unidades de terapia intensiva da rede pública, substâncias necessária para a entubação de pacientes graves com Covid-19. A substituição desses medicamentos por análogos de segunda linha tem consequências para a pessoa hospitalizada, como aumento do tempo de internação, segundo especialistas.
De acordo com a Ahpaceg, os hospitais associados sempre estão compartilhando informações sobre estoques entre as unidades. "A Associação também tem trabalhado junto a autoridades competentes para agilizar a importação destes medicamentos e evitar a falta. A Central de Compras da Ahpaceg trabalha de forma intensa, com a colaboração dos compradores das 33 instituições associadas, na cotação e aquisição destes produtos, o que aumenta o leque de oportunidades de compra", diz trecho de nota enviada para a reportagem.
A presidente do Sindicato dos Médicos do Estado de Goiás (Simego), Franscine Leão, defende a suspensão de cirurgias eletivas, que não são de urgência e emergência, para diminuir a necessidade de sedação e reservar esta medicação para os pacientes internados com Covid-19.
Sobre a possibilidade de diminuir cirurgias eletivas para economizar estes medicamentos escassos, a Ahpaceg informou que o atendimento nos hospitais associados segue normal, com o monitoramento frequente dos gestores. ()
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Pandemia afasta 479 mil do trabalho em Goiás
Pesquisa do IBGE mostra que 15,4% dos trabalhadores goianos foram afastados em maio por causa do isolamento social e mais da metade deles deixou de receber remuneração
As medidas de isolamento social para evitar a proliferação do coronavírus impactaram fortemente o mercado de trabalho em Goiás e no Brasil. Em maio, 479 mil pessoas ainda estavam afastadas do trabalho por causa da pandemia, o equivalente a 15,4% da população ocupada no Estado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Covid-19, divulgada ontem pelo IBGE. Mais da metade destes trabalhadores afastados deixou de receber alguma remuneração, o equivalente a 305 mil pessoas.
Antes da pandemia, Lucia Vieira Fernandes trabalhava como vendedora de pacotes de festa em bufê infantil da capital, onde ela já estava há cerca de dez anos. Ela lembra que, cerca de 15 dias após o isolamento social ter sido decretado pelo governo estadual, no dia 19 de março, os funcionários tiveram seus contratos de trabalho suspensos dentro da Medida Provisória 936. Com isso, sua remuneração mensal, que antes oscilava entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil, foi reduzida para R$ 1.240.
"Eu fui muito prejudicada porque recebia comissão pelos pacotes vendidos. Nosso ramo de festas foi um dos mais afetados porque nem sabemos quando poderemos voltar a trabalhar", avalia Lucia. Agora, o bufê onde ela trabalhava ofereceu um acordo para o desligamento dos funcionários. A estimativa é de que cerca de 90% dos trabalhadores ligados à realização de eventos em geral já tenham sido demitidos.
Mais afetados
A pesquisa foi realizada com apoio do Ministério da Saúde para identificar os impactos da pandemia no mercado de trabalho e quantificar as pessoas com sintomas associados à síndrome gripal no Brasil. De acordo com o superintendente do IBGE em Goiás, Edson Roberto Vieira, entre os trabalhadores mais afetados pelo afastamento do trabalho, além dos ligados aos setores de turismo e eventos, estão os do comércio, os empregados domésticos, diaristas e com ocupações informais.
A feirante Maria do Carmo Rodrigues tinha como única fonte de renda uma pequena banca na Feira Hippie. Desde março sem poder trabalhar, sozinha com dois filhos pequenos e ainda enfrentando um câncer na mama, ela conta que ficou totalmente sem renda e está vivendo da ajuda de parentes e amigos, além do auxílio emergencial do governo, de R$ 1,2 mil, liberado em maio. "Não há trabalho no mercado. Passei muita necessidade até conseguir o auxílio", lembra.
O superintende do IBGE em Goiás lembra que muitos trabalhadores tiveram os contratos de trabalho suspensos e passaram a depender do recurso liberado pelo governo, que geralmente foi menor que sua renda anterior, sofreram com o corte de horas trabalhadas ou simplesmente perderam toda remuneração. Para muitos, o socorro veio do auxílio emergencial de R$ 600 ou R$ 1,2 mil do governo federal. Entre as pessoas que continuaram ocupadas no mercado, muitas perderam renda: em maio, elas receberam cerca de 80% da média normal, uma redução de R$ 422.
Desalento
A pesquisa também mostrou que 412 mil pessoas deixaram de procurar trabalho por conta da pandemia em maio. Edson lembra que esses trabalhadores optaram por não buscar uma vaga no mercado de trabalho por medo da pandemia ou por acharem que não existem vagas disponíveis neste momento. "São pessoas que não procuraram trabalho, mas que gostariam de trabalhar", destaca.
A Pnad Covid-19 revelou que apenas 9,4% dos trabalhadores ocupados trabalharam de forma remota em Goiás em maio, porcentual menor que a média nacional, de 13,3%, equivalente a 238 mil pessoas. "Geralmente, os trabalhadores que podem ficar no regime de home office são aqueles com nível superior. As atividades mais básicas não costumam oferecer esta possibilidade", comenta o superintendente.
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Leitos rapidamente ocupados
Demanda cada vez maior por internação em UTI impede que poder público consiga ampliar oferta de vagas a ponto de fazer cair taxa de ocupação abaixo de 80% em Goiás e na capital
Desde o dia 1º de junho, a rede municipal de Goiânia conseguiu ampliar de 40 para 90 o número de leitos de UTI dedicados para Covid-19 e de dois para quatro o número de hospitais atendendo casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Entretanto, no mesmo período, o número de pessoas internadas em estado grave nestes leitos subiu de 31 para 77 só nestas unidades reguladas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Até a noite desta quarta-feira (24), o número de leitos de UTI foi só 8,7% maior do que de novas internações simultâneas.
Na rede estadual, o drama é similar. Dos 145 leitos de UTI disponíveis em 5 hospitais, 120 estavam preenchidos nesta quarta-feira, uma taxa de ocupação de 82%. Há uma semana, no mesmo dia em que o Hospital de Campanha (HCamp) de Goiânia havia chegado a sua capacidade máxima de oferta de UTI (70 leitos), a taxa estava em 60,5%.
A situação também está pior, mas em menor escala, em Aparecida, onde a ocupação dos leitos de UTI da rede municipal subiu de 22% para 48% e em Rio Verde, onde subiu de 30,7% para 36,9%. Em Anápolis, a taxa de ocupação dos leitos regulados pelo município subiu de 15,1% para 24,2%.
Na rede municipal de Goiânia, a titular da SMS, Fátima Mrue, garante que nenhum paciente que necessitou de um leito de UTI com suspeita ou confirmação de Covid-19 ficou mais de 24 horas esperando. Em entrevista ao POPULAR, a secretária destacou o sucesso da prefeitura em conseguir com hospitais particulares a ampliação de vagas.
Desde o dia 11, o Gastro Salustiano Hospital vem oferecendo de forma gradativa leitos de UTI até chegar ao total atual de 24. E desde esta quarta-feira, o Jacob Facuri passou a disponibilizar 12 leitos. Destes 36, entretanto, 30 já estavam ocupados. A SMS também está contratando mais 10 leitos com a Santa Casa de Misericórdia, que depende de conseguir equipe profissional para cuidar desta ala.
Na sexta-feira passada, foi publicado um edital de credenciamento de leitos para Covid-19 no qual a SMS se dispõe a pagar R$ 3 mil por vaga de UTI (94% a mais do que se paga por um leito comum do tipo) e R$ 1 mil por um de enfermaria (233% a mais). Fátima diz que já apareceram interessados e nos próximos dias alguns destes leitos já devem estar no sistema.
A superintendente de Regulação e Políticas de Saúde da pasta, Andréia Alcântara, diz que não houve fila nem mesmo quando todos os leitos de UTI ficaram lotados, na semana passada. "Nenhum paciente nosso ficou esperando", afirmou.
A situação é mais complexa no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), que oferece de 4 a 10 vagas de UTI (o número varia conforme o perfil das pessoas internadas). A unidade é a única a atender casos mais complexos envolvendo Covid-19, como pacientes que precisam de cirurgias, grávidas e pessoas que sofreram infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) e está sofrendo com lotação diariamente desde o dia 10 de junho. Sem conseguir encontrar profissionais para ampliar mais 8 vagas no prédio antigo e nem equipamentos para os 78 leitos no prédio novo, o HC tem dependido de uma articulação da regulação municipal para conseguir atender novos pacientes que demandam seus serviços.
De acordo com Andréia, quando há necessidade de uma internação no HC, se observa a existência de algum paciente já internado que não demanda mais de serviços na unidade, como por exemplo alguém que já fez a cirurgia que precisava, para uma transferência intrahospitalar. A expectativa é que os leitos a serem abertos na Santa Casa atendam também este perfil.
Situação grave em cidades sem leitos municipais
Em cidades que não contam com leitos de UTI na rede municipal, a situação teria começado a se complicar na última semana. O Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin), regulado pelo Estado, está com as 6 vagas ofertadas lotadas desde o fim de semana e a prefeitura não tem leitos municipais para os casos mais graves. Para ampliar a capacidade de atendimento, o hospital criou duas vagas na chamada "sala vermelha", com equipamentos para pacientes em estado crítico, mas também estão ocupadas. Por ser regional, o Hutrin estava com pacientes de Campestre de Goiás, Goiânia, Bonfinópolis e Campo Limpo.
Em Senador Canedo, uma moradora de 48 anos com Covid-19 está há 2 dias aguardando uma vaga de UTI na rede estadual. O titular da SMS local, Thiago Moura, diz que há uma semana tem demorado mais para conseguir vagas em UTIs públicas, uma vez que Senador Canedo não conta com este tipo de atendimento. Na UPA onde a paciente se encontra, há uma "sala vermelha", com leitos equipados para fornecer um atendimento similar ao de uma UTI, segundo o secretário. "Estamos em contato diário com a secretaria estadual pedindo vagas."
Hospitais privados
Na rede particular, a situação não é diferente. A taxa de ocupação dos leitos de UTI dos hospitais filiados à Associação dos Hospitais de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) caiu de 69% para 65,6% em uma semana apenas porque nesta quarta-feira (24) as unidades conseguiram ampliar a oferta de 100 para 131 leitos de UTI. Já o total de internados subiu de 69 para 86, ou seja 14 a menos que o de novos leitos.
A Ahpaceg é a única entidade que monitora e compartilha os dados sobre internações por Covid-19 na rede particular. Desde o final de março divulga um boletim com informações.
Passados mais de 100 dias desde o primeiro caso de Covid-19 registrado em Goiás – estamos no 105º dia -, o poder público ainda não tem um número fechado de leitos de UTI ofertados por todos os municípios e pela rede particular. Isso porque é grande ainda o número de unidades hospitalares que não informam ou demoram para repassar os dados.
Na noite desta quarta-feira, por exemplo, dos 334 hospitais listados pela SES-GO 47 não haviam atualizaram as informações sobre internação em mais de 48 horas.
No site da pasta estadual, constava que ao menos 355 pessoas estavam em UTI por suspeita ou confirmação de Covid-19, mas este número costuma variar bastante durante o dia.
Perfil do paciente influencia espera
O superintendente de Ação Integrada à Saúde da SES-GO, Sandro Rodrigues, diz que os problemas em relação aos leitos de UTI não se resumem a vagas, mas também ao perfil das vagas. Por isso, muitas vezes pacientes com comorbidades específicas ou em situações específicas como gravidez e necessidades cirúrgicas demoram mais para encontrar um leito do que outros que apresentam um quadro mais simples.
"O que pode acontecer (para demorar a ter leito): principalmente se tem alguma outra comorbidade associada. Exemplo clássico: gestante com Covid pode precisar de centro cirúrgico. Único da questão das gestantes é o HC, que foi desenhado nesse sentido. Pessoa que tenha tido um infarto não pode internar em lugar sem suporte para doença cardíaca, vai prioritariamente para o HC", comentou.
Na rede estadual, dois hospitais estavam com as UTIs lotadas: o de Urgências de Trindade (Hutrin), com 6 leitos, e os 12 ofertados pelo Nars Faiad (particular), em Catalão. O HCamp de Porangatu estava com 66,7% de ocupação e o de Águas Lindas, com 60%. O HCamp de Goiânia, que chegou a ficar com 95,7% durante o dia, estava no começo da noite com 87%. Já o de Urgências de Anápolis (Huana) estava com 40% dos leitos ocupados no final da tarde, mas à noite, segundo o site da SES-GO, estava com apenas uma das 15 vagas disponíveis. Já o Hospital Regional de Luziânia (HRL) e o das Clínicas Dr. Serafim de Carvalho (Jataí) estavam com 40% de lotação na UTI para Covid-19. Com exceção do HCamp de Goiânia, a taxa de ocupação mesmo baixa nos outros hospitais não representa alívio às autoridades porque o total de vagas é pequeno. (Colaborou Thalys Alcântara)
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Goiás tem média de quatro mortes por dia
Desde o dia 26 de março, quando Goiás registrou a primeira morte pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), 363 pessoas morreram de Covid-19. Isso quer dizer que, em média, quatro pessoas por dia perderam a vida no Estado em decorrência do vírus. O sinal de alerta vem ficando mais forte porque a quantidade de óbitos acelerou nos últimos dias.
Em duas semanas, o número de óbitos dobrou. Na última semana, 99 morreram e, nesta quarta-feira (24), Goiás bateu recorde de registros diários, com 34 mortes confirmadas nas últimas 24 horas, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO).
O painel Covid-19 do Estado detalha que 65 municípios goianos confirmaram mortes. Goiânia, Aparecida de Goiânia , Águas Lindas, Rio Verde e Valparaíso de Goiás são as cidades que concentram o maior número de vítimas.
Os homens são a maioria das vítimas (59,7%) no Estado e os idosos, os que mais morrem. Mas 108 do total de óbitos são jovens e adultos. As principais comorbidades identificadas entre as vítimas são: doença cardiovascular, diabetes, doença respiratória e imunossupressão. (Pedro Nunes)
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Pró-reitor conta como venceu a Covid
Após 13 dias de internação, 8 deles em UTI, Laerte Júnior, encarregado da área de Pós-Graduação da UFG, revela que teve 70% dos pulmões comprometidos, apesar dos poucos sintomas apresentados
No início deste mês, quando auxiliava o pai idoso que se preparava para uma cirurgia, o professor doutor Laerte Guimarães Ferreira Júnior, de 55 anos, pró-reitor de Pós-Graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG), percebeu que não estava bem. Resfriado e sentindo cansaço, decidiu fazer o teste para Covid-19 em um laboratório da instituição. "Fui informado de que, além de positivo, eu estava com uma carga viral muito grande", conta ao POPULAR. Do dia 9 até a última segunda-feira (22), ele ficou internado no Hospital do Coração Anis Rassi, em Goiânia, oito dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), com 70% dos pulmões comprometidos, mesmo sentindo poucos sintomas.
Em casa, convalescendo antes de retomar as atividades acadêmicas, ele fala da experiência de vivenciar uma doença ainda desconhecida e do privilégio de ter sido envolvido numa enorme rede de solidariedade. "Isso é muito gratificante. O que mais quero agora é agradecer às pessoas." Laerte Guimarães se considera uma pessoa de sorte por ter adoecido num momento em que há muito conhecimento sobre a doença e protocolos consolidados. "Me dei conta do quanto eles evoluíram em tão pouco tempo. Há muita gente engajada. Me chamou a atenção o quanto os médicos estão estudando essa doença", afirma.
O pró-reitor, que ainda ficou quatro dias em casa após o resultado do teste antes de ir para o hospital, acredita que a asma, da qual sofre, pode ter influenciado em seu quadro. "Não sei o quanto a asma contribuiu, mas me chamou a atenção a rapidez da evolução. No primeiro exame de imagem meus pulmões estavam 50% tomados pela infecção e quando fui internado tinha atingido 70%. As radiografias mostraram um quadro devastador do meu pulmão e, ao mesmo tempo, meus sintomas foram leves. Sentia algum desconforto, mas não na mesma proporção". Na UTI precisou usar uma máscara para receber oxigênio.
Planos
Laerte Guimarães diz que aos poucos vai tomando conhecimento de tudo o que aconteceu aqui fora, da rede de amigos e familiares que correu contra o tempo para que ele ficasse livre da Covid-19. Ainda busca o momento de responder as mensagens que recebeu durante a internação e faz planos para um futuro breve. "Quero voltar ao hospital para agradecer pessoalmente a todos os profissionais tudo o que fizeram por mim".
Ele menciona profissionais que foram pontuais desde o início. "Foram pessoas que me monitoraram e me disseram o que deveria ser feito." Entre eles estão os médicos Antônio Fernando Carneiro, diretor da Faculdade de Medicina da UFG e do Anis Rassi, e Hélvio Martins Gervásio, uma das pessoas que mais tem atuado junto aos pacientes contaminados pelo novo coronavírus e que precisam de cuidados em UTIs. Também foi muito presente a epidemiologista, professora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da UFG, Cristiana Toscano. A professora foi a única brasileira indicada para compor o grupo de trabalho de vacinas para Covid-19 coordenado pela Organização Mundial da Saúde.
Plasma
"Fico imaginando o quanto fui beneficiado pela minha rede de conhecimentos e que a maioria das pessoas não tem essas oportunidades." O professor soube da enorme mobilização nas redes sociais para que ele conseguisse plasma de convalescente da Covid-19 com anticorpos contra a doença, uma solução que vem sendo utilizada com sucesso em casos graves da doença. Por não se tratar ainda de um protocolo oficial, sua mulher, Maria Cristina, optou por não assinar o termo de autorização para que ele fizesse uso do soro. Por outro lado, houve também uma grande movimentação pela internet para a obtenção de um medicamento de última geração. "Vivi o lado positivo das redes sociais. Uma mobilização de pessoas que fez toda diferença."
Laerte Guimarães, que se considera um trabalhador inveterado – "férias para mim sempre foram um problema" – não vê a hora de retomar a função na UFG. Ele diz que o momento agora é de cuidar da saúde e da alimentação, o que não faz há anos. "Estou esperando uns dias para entender o pós-doença", explica, antes de mencionar que está usando medicação para evitar coagulação e para melhorar a respiração. "Estou fraco e ainda tenho dificuldade para dormir", diz, mesmo assim acredita que já, na segunda-feira (29), tenha condições de retomar suas atividades de forma remota, embora a recomendação médica tenha sido para repouso de 30 dias.
"A UFG nunca parou", diz professor
Quando estiver de volta à UFG, Laerte Guimarães retoma os debates em andamento num grupo de trabalho criado para decidir sobre atividades acadêmicas remotas. "As discussões demandam tempo e energia, mas construções feitas na busca do consenso tendem a ser mais robustas." Aos críticos sobre a ausência de aulas virtuais na UFG a partir da instalação da pandemia no Brasil, ele ressalta que a instituição nunca parou. "Essa crise sanitária teve um impacto muito grande na universidade. Num primeiro momento a UFG teve a preocupação de cuidar das pessoas, foi quando entramos no isolamento social. Já na semana seguinte montamos um grupo de trabalho para ver como poderíamos nos engajar nas ações de combate a Covid-19.
O pró-reitor ressalta que foram várias frentes, com centenas de alunos e professores envolvidos. "Naquele momento não podíamos falar em aula porque precisávamos entender o que estava acontecendo. Foi extremamente bonito ver as pessoas se voluntariando. Partimos para conserto de equipamentos, fabricação de respiradores e de equipamentos de proteção individual (EPIs). A UFG foi a primeira instituição do Estado a montar uma plataforma com números, mapas e projeção da Covid-19. Agora, sim, está tendo uma ampla discussão sobre o retorno das aulas e já com aprovação do Conselho Universitário a retomada de algumas atividades, entre elas da pós-graduação."
Laerte Guimarães faz questão de enfatizar a complexidade da UFG. Somente na pós-graduação, com 8 mil alunos, 5% possuem dificuldades concretas, de equipamentos e de acesso a dados. "Precisamos encontrar uma solução para eles. Temos de enfrentar essa crise com o princípio da isonomia, a inclusão é um valor forte na UFG." O pró-reitor estima que a crise estará totalmente vencida apenas em março de 2021. Os debates na UFG convergem para a retorno das aulas em agosto, mas de forma virtual.
Para o professor, que quase perdeu a vida para a Covid-19, crise traz vulnerabilidades, mas também oportunidades de melhorarmos como pessoas, como nação e como país. "Se não fosse o Sistema Único de Saúde e as universidades estaríamos com cadáveres nas ruas. Espero que o País consiga se recuperar e refletir sobre tudo isso e começar uma reconstrução de valores. Experimentei muito o valor da solidariedade, me curei por isso. Está sendo muito importante dizer obrigado".
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação