ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.
O POPULAR
Medicina
Por remuneração baixa, pediatras somem do mercado
Pais encontram dificuldades em encontrar especialistas para crianças tanto na rede pública quanto privada
Galtiery Rodrigues
Uma verdadeira saga. É isso o que muitos pais vivem diariamente para encontrar médicos pediatras para atender os filhos pequenos. A falta de profissionais da área em Goiás, apesar de atingir com maior força a rede pública, também já é sentida na rede privada e nos planos de saúde. Essa situação é o reflexo de políticas passadas que desmereceram a especialidade e muitos médicos acabaram desistindo ou deixando de optar pela pediatra. Depois de muita luta e reinvindicação da categoria, a procura de recém-formados para fazer residência na área aumentou, nos últimos anos, mas os efeitos disso só serão sentidos em médio e longo prazo.
A pediatria é hoje a terceira especialidade com maior número de médicos registrados em Goiás (695), atrás de ginecologia e obstetrícia (789) e cirurgia geral (735). A boa posição no ranking pode contrapor a ideia de que esteja faltando profissionais, mas há 15, 20 anos, conforme lembra o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Erso Guimarães, a pediatria era a primeira colocada. Enquanto isso, a população continuou crescendo e a saúde da criança exige atenção especial e acompanhamento de quem entende do assunto.
Por ser uma especialidade clínica, que não realiza procedimentos, como cirurgia ou outros tipos de intervenção considerados mais complexos, o valor da consulta pediátrica, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) como nos planos privados, vale menos, se comparada com a de outras áreas. “O chamariz é o prazer e a realização pessoal mesmo, porque a vantagem é pouca do ponto de vista financeiro”, afirma o pediatra Fernando Pacéli, que atua na área há 30 anos. Somado a isso, a carga horária de trabalho é diferenciada, porque o profissional precisa estar disponível praticamente o tempo todo, já que crianças não escolhem hora para ficar doentes. “São elementos que se contrapõem, e isso desmotiva”, considera o médico.
No dia a dia, quem sente os efeitos diretos dessa situação são os pais e as inúmeras crianças que, na maioria das vezes, são atendidas por clínicos gerais, na falta de um pediatra. Isso é algo que está virando rotina nas unidades públicas de saúde da grande Goiânia. Nos últimos dois dias, O POPULAR visitou alguns locais e constatou a dificuldade vivida por aqueles que dependem do atendimento gratuito.
A empregada doméstica Cleonice de Castro Silva, de 33 anos, recorreu à urgência do Cais do Guanabara III por três dias seguidos, mas não encontrou pediatra em nenhum deles. A filha Dafny Silva Araújo, de quatro anos, estava com a garganta inflamada e com febre alta. Na segunda-feira à tarde, não lhe restou outro jeito e Cleonice teve que se deslocar até o Cais do Setor Vila Nova, onde havia cerca de 25 crianças aguardando para serem atendidas pelo único médico pediatra que estava trabalhando no horário.
Curiosamente, em planilha repassada à reportagem pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), consta que o setor de urgência do Guanabara e do Vila Nova possui nove e 13 pediatras, respectivamente. O POPULAR questionou à SMS sobre o porquê da ausência de médicos ou a presença maior deles nas duas unidades, mas a resposta não foi enviada até o fechamento da reportagem. Na segunda-feira, segundo funcionários do Cais Vila Nova, apenas dois pediatras atenderam pela manhã e um à tarde.
HUAPA
No mesmo dia, situação semelhante foi vivida pela empregada doméstica Luciana Gonçalves Vieira, 42, no Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa). O neto Pablo Renan Vieira Lima, de cinco anos, sofreu uma queda em casa e bateu com a cabeça. Ele ficou desmaiado por alguns minutos e a família, que mora no Setor Marista Sul, em Aparecida, se deslocou rapidamente para a unidade. Ao chegar no local, por volta das 17 horas de segunda-feira, a avó foi informada de que não teria pediatra para atendê-lo e que o único lugar onde poderia encontrar seria no Cais do Jardim Nova Era.
O garoto conseguiu ser consultado no Cais, mas foi encaminhado para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) para fazer uma tomografia. Feito o procedimento, o relógio já marcava meia-noite e a família retornou ao Cais para entregar o resultado do exame para o médico. “Ficamos lá esperando o laudo até 4 horas da manhã. Não dormimos”, conta Luciana. A história só teve fim e, de fato, foi solucionada na manhã de ontem, por volta das 10 horas, quando o laudo foi feito e analisado pelo médico. “Resolveu, mas foi um sufoco”, afirma a avó.
O POPULAR solicitou à Secretaria Estadual de Saúde (SES) detalhes sobre a quantidade de médicos pediatras em cada uma das unidades estaduais e a resposta foi breve, informando apenas que são, ao todo, 168 profissionais da área lotados no Estado.
55 pediatras aprovados em concurso ainda aguardam ser convocados
No último concurso realizado pela Prefeitura de Goiânia para contratação de médicos, em 2012, foram disponibilizadas 86 vagas para médicos pediatras e 76 foram aprovados. Destes, apenas 21 foram convocados desde então, restando outros 55 que aguardam para serem chamados. A situação é controversa, se analisada pela perspectiva de que existem profissionais que já poderiam estar trabalhando, enquanto a população enfrenta as consequências da falta de médicos dessa especialidade.
Em resposta ao POPULAR, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que existem quatro processos em andamento referente às convocações, mas que, no momento, estão parados em razão das medidas de contenção de despesas da Prefeitura. A previsão para começar a chamar os médicos é daqui a seis meses, caso o Executivo consiga reajustar os limites com gasto de pessoal. Em média, um pediatra em início de carreira recebe na Prefeitura entre R$ 4.177,05 e R$ 11 mil, dependendo da lotação, carga horária e serviço.
Ainda conforme a resposta, a secretaria está credenciando, em caráter excepcional, médicos clínicos e pediatras que tenham interesse em suprir vagas prioritárias na rede, que são as vagas de plantão no setor de urgência das unidades de funcionamento 24 horas (Cais/Ciams). Esses profissionais serão divididos em escalas de fim de semana e durante a semana, onde não há nenhum médico lotado no plantão.
Área de maior dificuldade de contratação
De todas as especialidades, a pediatria é a que gera a maior dificuldade de cadastramento por parte do Ipasgo. O assessor da presidência da autarquia, Francisc Celso Boitar, diz que, ao todo, existem em Goiás 172 pediatras que atendem pelo plano, sendo 102 só em Goiânia. Eles são responsáveis por atender um universo de 102 mil pessoas na faixa etária entre zero e 14 anos. Se levar em consideração a regra do Ministério da Saúde (MS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que a distribuição deve ser de um médico para cada 1 mil pessoas, a situação estaria confortável, mas a maioria desses profissionais trabalham na parte ambulatorial, restando poucos para os prontos-socorros.
“Na parte de consultas, não temos problemas, mas na urgência existe. Dá 22 horas, raramente você encontra pediatra nos prontos-socorros cadastrados”, expõe Francisc Celso. O Ipasgo tentou atrair mais pediatras, aumentando os valores pagos pela consulta, mas ainda carece daqueles que se dispõem a trabalhar no setor de urgência e emergência. Para tentar minimizar essa situação, especialmente em Goiânia, a autarquia vai inaugurar ainda este ano um pronto-socorro próprio, no Setor Universitário, onde, segundo o assessor da presidência, será garantida a presença 24 horas de pelo menos um pediatra. Outra novidade é que, nas próximas semanas, será anunciado o cadastramento de novos hospitais que passarão a prestar serviço pelo plano.
UNIMED
Na Unimed Goiânia estão cadastrados hoje 298 médicos pediatras. Sem falar se é suficiente ou não, a nota enviada ao POPULAR expõe apenas que a falta de profissionais nessa especialidade é uma realidade em todo o País e que o crescimento populacional está muito além do aumento da oferta de profissionais de pediatria. A nota informa ainda que a Unimed cumpre os prazos estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Interesse por especialização aumentou
Diante das notícias de que a quantidade de pediatras está diminuindo e a demanda aumentando, a residência médica em pediatria, que chegou a ficar com vagas ociosas em Goiás, tem sido alvo de grande concorrência nos últimos anos. O interesse de recém-formados começou a surgir após perceberem que o cenário está mais confortável, com maiores ofertas de emprego e remuneração aceitável. No Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), por exemplo, onde os estudantes fazem residência, são ofertadas anualmente nove vagas para pediatria. Na última prova, a concorrência foi de mais de nove por vaga.
Isabella Santiago, de 26 anos, e Talita Lopes Maciel, de 27, estão se especializando na área. Ambas dizem ter optado, inicialmente, por uma questão de identificação pessoal e idealismo profissional. Elas reconhecem as dificuldades impostas pela valorização diferenciada na rede pública e nos planos de saúde, mas pretendem seguir adiante na carreira. Isabella tentará fazer, depois, alguma subespecialização dentro da pediatria. Talita termina a residência em março do ano que vem e diz que não tem problema em trabalhar na rede pública, mesmo que no interior.
Em início de carreira, é comum os médicos recorrem ao sistema público. O prestígio e a fidelização de clientela só acontecem com o tempo. Isabella e Talita dizem que só pensam em enveredar na iniciativa privada mais para frente. Na rede pública, elas terão de lidar com elementos contrários, como o fato de que muitas prefeituras preferem contratar um médico emergencista no lugar do pediatra, porque ele faz tudo.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessora de Comunicação