Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

Com grande sucesso, Health Meeting debateu o cenário atual e perspectivas do mercado de saúde

Aspectos socioeconômicos, mercado digital e turismo de bem-estar foram alguns dos temas abordados em um dia de evento

Qual caminho as instituições devem seguir diante das mudanças no mercado da saúde, das novas demandas dos pacientes, dos desafios criados pela pandemia, das tecnologias que revolucionaram os atendimentos e do cenário socioeconômico atual? Essa foi a pergunta que o Health Meeting 2022 tinha como objetivo responder. O evento, o maior do mercado de saúde do Brasil, foi realizado pelo Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás (Sindhoesg), no dia 3 de junho, em Goiânia.

Com a participação de cerca de 700 médicos, gestores, advogados, acadêmicos, empreendedores e diversos outros especialistas que lidam diariamente com as demandas que o mercado apresenta, os debates visaram analisar as perspectivas, trocar experiências e também contribuir com ideias.

O presidente do Sindhoesg, Valney Luiz da Rocha, ressaltou que o Health Meeting 2022 é um marco na saúde em Goiás e no Centro-Oeste. “A programação foi cuidadosamente elaborada para contribuirmos com a reflexão, debate, análise e tomada de decisões para o setor de saúde privado e público. Nós sabemos que os desafios da área são muitos, mas com conhecimento poderemos superá-los. Neste evento, queremos lançar uma luz nesse caminho, sempre com base na qualidade, segurança e sustentabilidade”, afirmou.

Na abertura do evento, o presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Cristiano Caixeta, lembrou que, em janeiro deste ano, durante a convenção do CBO, recebeu da oftalmologista e vice-presidente do Sindhoesg, Márcia Toledo, o convite para ser parceiro do Sindicato na promoção do Health Meeting e ficou muito grato por colaborar com a realização deste grande encontro.

Haikal Helou, presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), outra instituição parceira do Sindhoesg na realização do evento, destacou a importância do Health Meeting, inclusive como um marco na história do Sindicato, que completa 41 anos em 2022.

O diretor de Planejamento e Governança da Unimed Goiânia, Weimar Canguçu Barroso de Queiroz, destacou a importância do Health Meeting para o debate do cenário da saúde suplementar e do paciente no centro deste negócio. Presidente do Conselho de Administração da Sicoob UniCentroBR, Clidenor Gomes Filho, também saudou os participantes.

O secretário Estadual de Saúde, Sandro Rodrigues, representou o governador Ronaldo Caiado, na abertura do encontro, e o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, foi representado pelo secretário Municipal de Saúde, Durval Pedroso. Ambos elogiaram a iniciativa do evento, parabenizaram a organização e a importância do debate da inovação, tecnologia e da gestão na área da saúde

Saúde fragmentada

A primeira mesa do evento abordou o tema “Saúde Fragmentada”, com a palestra inicial de Marcelo Minutti, CEO do InLabs Jornadas de Aprendizagem e Inovação. Ele explicou que o conceito de saúde fragmentada é a situação em o paciente não é conduzido por nenhum caminho para suas escolhas. Quando sente algum sintoma, ele mesmo deve buscar saber com qual especialista se consultar.

Além disso, segundo ele, as instituições de saúde ainda trabalham como um sistema de linha de produção, com diferentes tipos de abordagem, da primária à terciária, de acordo com o grau de gravidade dos atendimentos.

“O cuidado com o paciente é fragmentado, pois cada um está olhando para um pedaço”, resumiu. Esse tipo de atendimento, de acordo com Marcelo, não é escalonável mas, sempre que há um problema, surge espaço para soluções e inovações. Isso já foi visto pelas Big Techs, que estão investindo na mudança do sistema “sick care” para o “health care”, ou seja, investir mais em cuidados com a saúde dos beneficiários e evitar doenças, que são onerosas aos sistemas.

São aplicativos e recursos tecnológicos que dão ao paciente as informações necessárias para que eles entendam qual o caminho a ser guiado.

“Essas iniciativas de saúde são o futuro? Não sei, mas tudo isso que está acontecendo hoje servirá de estímulo lá na frente. Por isso, é preciso se fazer perguntas: recolher mais dados biométricos do paciente tornará os serviços mais fáceis? O sistema de diagnóstico domiciliar irá impactar os negócios? O sistema direct-to-consumer abrirá novas oportunidades? A gente percebe que as rupturas estão acontecendo cada vez mais rápido. Então, olhem para essas questões e saibam que existem oportunidades nelas”, alertou ele.

O paciente no centro

O seguinte palestrante foi o diretor do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e presidente da Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia (SBAO), Frederico Pena.

Ele iniciou sua fala mostrando dados de como os pacientes brasileiros estão insatisfeitos e, por isso, toda inovação e reflexão deve ser realizada com o aspecto humano no centro. “Não adianta ter um mega aplicativo que irá analisar a minha pele, se eu ficar confuso na minha casa sem ter um diagnóstico feito por um profissional. Precisamos também de médicos bem treinados”, ressaltou o diretor, que apresentou ainda os números de médicos recém-formados a cada ano.

Frederico mostrou a fragmentação das operadoras de saúde, mas nem todas com atendimentos baseados na qualidade. Portanto, a visão de futuro do CBO é ter um sistema de saúde em que a remuneração dos profissionais seja focada na eficiência. As estratégias seriam: alocação de serviços de acordo com a complexidade; definição de indicadores de desfechos clínicos e negociação entre prestadores e pagadores focada em eficiência.

O novo paradigma na relação entre operadora e prestador de saúde

Os desafios dos pagamentos e outros aspectos da relação entre as operadoras de saúde foi o tema tratado por Adriano Londres, empreendedor na empresa de consultoria técnica Arquitetos da Saúde.

Com uma descrição detalhada do cenário mercadológico vivido pelo Brasil na última década, ele apresentou ainda debates e projetos divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que abordavam a remuneração baseada em valor.

Porém, vários fatores mudaram com a pandemia de Covid-19 e a situação socioeconômica piorou, com custos de vida subindo, desemprego alto e inflação. A partir disso, observou-se que quem conseguiu crescer, um pouco, nesse período foram as empresas de pequeno porte.

Portanto, de acordo com Adriano, o novo paradigma não é positivo. “A reflexão que a gente tem é que o mundo mudou e nós fizemos muito pouco para superar as dificuldades”. Porém, existem caminhos que podem driblar todos esses problemas, como firmar parcerias estratégicas.

“Talvez a grande mudança de paradigma seja essa: alterar as nossas atitudes. Temos deixado a desejar quanto à cadeia produtiva e precisamos fazer mais e melhor. Vamos ver o que o tempo nos reserva a respeito disso”.

Revolução digital

Não é segredo que todos os campos econômicos estão passando por uma evolução digital. Na saúde, isso não é diferente, como mostrou Alexandre Taleb, coordenador do Núcleo de Medicina e Telessaúde da Universidade Federal de Goiás (UFG).

“Hoje, nós colhemos os frutos das tecnologias que vinham sendo desenvolvidas há 10 e 15 anos”, relatou ele, que apresentou um vídeo acerca de uma instituição de saúde totalmente interligada com serviços digitais e como eles podem melhorar a experiência do paciente.

A palestra também foi ministrada por Chao Lung Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da Universidade de São Paulo (USP) e líder do grupo de pesquisa em Telemedicina e Health da mesma instituição.

“Até 2014, impressão 3D, robótica e casas inteligentes eram assuntos de ficção científica. Hoje, oito anos depois, não é mais assim. Portanto, também devemos nos preparar para a saúde de 2030. Lá, não estaremos mais falando em 5G, mas, sim, em 6G, quando não haverá fronteiras entre o mundo real e o digital”, descreveu Chao Lung.

Para vivenciar essa nova realidade, será necessário formar profissionais capacitados. Afinal, de acordo com ele, estamos na curva da hiperconectividade, hiper-realidade (aumentada, imersiva e virtual) e também a hiper-presença (a robótica como uma forma complementar de cuidar da saúde).

“A saúde conectada será aquela sem distância. Em 2030, ninguém mais poderá dar a desculpa de que não acompanhou o paciente porque estava viajando”. Em meio a tudo isso, de acordo com Chao, iremos ainda encarar o cenário de uma população envelhecida, com mais idosos do que crianças. Isso exigirá uma promoção de saúde com base na qualidade de vida. “Teremos que reorganizar o nosso sistema não só para cuidar bem dos doentes, mas para estimular a qualidade de vida”.

O turismo de saúde e bem-estar

O turismo não é só lazer, é economia e geração de emprego, de acordo com Fabrício Amaral, secretário de Turismo do Estado de Goiás. A maior rentabilidade da área é a organização de eventos.

Nos últimos anos, um setor que vem se despontando, de acordo com ele, é o turismo de bem-estar. Em Goiás, por exemplo, há a Chapada dos Veadeiros, onde as pessoas buscam o contato com a natureza e experiências diferentes.

“Nós temos boas características, no Estado de Goiás, para todas essas demandas. Em Rio Quente, existem pessoas que auxiliam nos valores agregados da água quente. Muita gente já percebeu isso e está criando serviços para receber esses turistas”.

Porém, a cadeia produtiva de saúde e a de turismo ainda não estão totalmente interligadas. É preciso analisar se os hotéis, restaurantes, táxis e motoristas de aplicativos estão preparados para as necessidades específicas de turistas da saúde.

Saúde baseada em valor

A saúde deve priorizar a entrega de desfechos importantes para os pacientes, mas com os custos adequados, de acordo com César Abicalaffe, presidente do Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (IBRAVS).

No entanto, colocar valor em saúde é algo complexo, pois é preciso fazer com que o médico deixe a função de espectador e passe a ser o protagonista, mas sempre colocando os cuidados com o paciente no centro, deixando de lado o modelo de remuneração por produção que, de acordo com o especialista, apenas “vende a doença”.

Para esse pagamento em performance, é preciso, antes, saber medir os fatores envolvidos do jeito certo. É importante analisar a experiência do beneficiário; a qualidade de vida resultante de um tratamento; e indicadores que medem o desfecho clínico, sendo que esses também precisam ser relatados pelo médico e também pelo paciente.

Saúde e economia

Os impactos do atual cenário socioeconômico na saúde foram apresentados por André Medici, Senior Health Economist. Afinal, ainda que a economia esteja em retração, o impacto da Covid-19 em 2022 não foi tão grande, mesmo com a onda da variante Ômicron.

Por outro lado, a guerra na Ucrânia e a consequente crise energética e alimentar criam um processo difícil de recuperação econômica, o que também afeta os fluxos de saúde. “Os próximos anos serão marcados pelo crescimento da inflação e das taxas de juros, que estão retornando aos patamares iguais aos de 20 anos atrás”, explicou.

Com todos esses desafios, os mercados precisam buscar soluções. “A saúde passa por um processo de renovação para evitar que os custos continuem a crescer e que consiga se organizar de maneira mais barata”. Ele acrescentou que a inflação está trazendo recordes nos planos de saúde, sejam eles individuais ou coletivos.

Com dados, o especialista mostrou que o Brasil ainda gasta pouco com saúde, apesar do leve crescimento nos investimentos gerados pela pandemia. Portanto, de acordo com André Medici, ainda é uma grande questão como o mercado de saúde irá reagir. Porém, todas essas perguntas têm o potencial de levar às inovações, como por meio das startups. “As crises são formas de reorganizar a sociedade”.

O novo mercado da saúde

O Health Meeting 2022 foi finalizado com uma palestra que resumiu todos os debates realizados durante o dia. O físico e sócio da Innovatrix, Clemente Nóbrega, foi convidado para falar sobre o novo mercado da saúde.

“Todos esses temas encontram um ponto de convergência em algo irreversível, a saúde deixa de ser focada na produção em si para se transformar em uma atividade que parte do conhecimento das necessidades dos usuários para construir suas soluções”, afirmou ele, que ressaltou que essas mudanças já estão acontecendo.

Isso significa uma inversão na maneira de atuar, pois o caminho que era traçado até então é insustentável, uma vez que os contratos não levavam em consideração as especificidades dos indivíduos, como aqueles com diferentes problemas crônicos.

Isso é agravado pelas mudanças demográficas, com uma população mais velha. “Hoje, os pacientes crônicos são os responsáveis pelo desequilíbrio dessa lógica antiga”.

Para essa nova conduta, Clemente Nóbrega concorda que é preciso ter mais atenção às preocupações dos pacientes, principalmente em relação aos desfechos que envolvem a qualidade de vida. “Não pode ser o hospital quem irá dizer que o desfecho foi bom. Temos que perguntar ao indivíduo que se submeteu aos tratamentos. Isso acontece em todos os setores. Por que não no de saúde?”, finalizou.

Pré-meeting

Antes destas apresentações, no período da manhã, o público reunido no Centro Cultural Oscar Niemeyer acompanhou com atenção a programação do pré-meeting. O encontro debateu a importância da “gestão” na formação do médico do século XXI; empresa júnior na área médica: oportunidades e dificuldades;  5 Forças de Porter e sua aplicação na prática médica e o novo gestor: médico gestor, enfermeiro empresário e novos modelos de gestão

A experiência do paciente também foi debatida. Uma das convidadas para falar sobre o assunto foi Carla Ledo, que abordou o tema “A experiência na íntegra é possível?”. A mesa debateu aindam a “Atenção integral em saúde: alta, pós alta e readmissão” e “Experiência em cardiologia”.

Brindes

Nos intervalos do evento, houve o sorteio de brindes e, no encerramento, todos puderam se confraternizar durante um coquetel e ao som de uma animada banda.

Na Mídia

Professores e alunos da Escola de Ciências Médicas e da Vida da PUC Goiás foram ao Health Meeting

Perdeu algo ou que rever o Health Meeting?

Basta acessar: https://www.youtube.com/watch?v=mxsCUUiocFs