Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

Na Mídia – Infecção: Perigo invisível nos hospitais

Infecção hospitalar é risco para todos os pacientes internados. Medidas simples de higiene contribuem para evitar problema
LEANDRO ARANTES

Mesmo podendo ser evitada por meio de simples ações de higiene, a infecção hospitalar ainda mata centenas de pessoas, por ano, no Brasil. Por isso, a partir de um decreto do Ministério da Saúde, hoje é comemorado o Dia Nacional do Controle da Infecção Hospitalar. Criada em 15 de maio de 1999, o objetivo da data é ajudar na conscientização dos profissionais de saúde quanto à importância dos procedimentos que devem ser adotados no sentido de diminuir a ocorrência de mortes ligadas a esse problema.
É considerada infecção hospitalar qualquer tipo de infecção adquiria após 48 horas o paciente ter dado entrada em qualquer unidade de saúde, ou mesmo após receber alta, quando a doença estiver relacionada à internação ou algum procedimento médico realizado. Elas geralmente são causadas por bactérias já existentes no próprio hospital e acometem, com mais frequência, pacientes que são submetidos a algum tipo de procedimento tido como invasivo, como intubações, intervenções cirúrgicas e uso de cateter em geral.
De acordo com o médico infectologista Boaventura Braz de Queiroz, todos os hospitais possuem, em algum nível, casos de infecção hospitalar. Ele afirma que é preciso buscar sempre reduzir as incidências desse mal, mas é impossível chegar a um ponto de não haver nenhuma ocorrência. “Quem falar em infecção hospitalar zero, ou não conhece o próprio ambiente de trabalho ou está mentindo”, comenta.
No Brasil, os primeiros relatos desse mal remetem aos anos de 1956 e 1959 e até então o País não tinha nenhum sistema de controle. Embora em outros países já tivessem uma maior preocupação relacionada à contaminação de pacientes internados em hospitais, aqui o problema não recebia a importância devida. Em 1963, um hospital no Rio Grande do Sul criou a primeira Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), mas foi apenas em 1983, por meio de uma portaria do Ministério da Saúde, que se determinou a implantação obrigatória dessa comissão em todos os hospitais brasileiros.
O nome infecção hospitalar acabou ficando defasado e foi substituído por infecções relativas aos cuidados da saúde, isso porque os hospitais não são mais os únicos centros onde o paciente recorre para o tratamento de doenças. Hoje, há grande procura por clínicas particulares, além de muitos pacientes serem tratados em casa, e que também podem contrair alguma infecção decorrente de procedimentos médicos.
Superbactérias
A presidente da Comissão de Controle de infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital de Doenças Tropicais de Goiânia (HDT), médica Luciana Pinelli, explica que as bactérias que causam infecção hospitalar são as mesmas encontradas em outros locais como bancos de ônibus ou cédulas de dinheiro. A diferença é que, nos hospitais, esses germes são tratados com antibióticos, e os que não morrem ficam imunes a eles. “A principal diferença é que os germes ficam mais resistentes aos antibióticos. Há situações em que vários tipos de antibióticos não os matam, isso faz uma seleção dos germes, deixando-os cada vez mais resistentes”.
A infectologista explica que essas bactérias aproveitam da debilidade dos pacientes em tratamento, estando eles já fragilizados pela doença, para agravar seu quadro clínico. Esse é o motivo de, mesmo em contato com pacientes infectados, e funcionando até mesmo como agentes infectantes, os médicos não adoecem, pois não estão com o sistema imunológico debilitado.
Quando é constatado que um paciente contraiu uma super bactéria, ele é colocado em local isolado, para não transmitir o mal para outros doentes. Um cuidado especial deve ser dado pelos agentes de saúde que se relacionam com esse paciente infectado, para que a bactéria não se dissemine no hospital.
Lavar as mãos
Embora a infecção hospitalar cause muitos problemas aos pacientes, podendo levar até a morte, a forma de prevenção é relativamente simples, bastando para isso adquirir o hábito de lavar as mãos com mais frequência e em momentos chaves. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que quase 80% dos casos das infecções ocorrem devido à falta de higiene com as mãos.
A ação é tão importante que a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o Dia Mundial da Lavagem das Mãos, no dia 5 de maio. Na data são realizadas inúmeras atividades mostrando que a mão é o principal veículo de transmissão de micro-organismos de uma pessoa para outra e que lavar as mãos de forma correta pode evitar muitas infecções.
Os médicos e enfermeiros são os maiores transmissores de germes de um paciente para outro, por isso a infectologista Luciana Pinelli explica que a equipe de saúde tem que saber a hora de lavar as mãos e a forma correta de fazê-la. “A comunidade tem que exigir que o profissional de saúde lave as mãos antes de tocar no paciente. Quando chegar ao consultório, antes de ser atendido, pergunte ao médico se ele lavou as mãos, ou peça para que ele lave, na sua frente”, destaca. Ela explica que lavar a mãos é uma forma eficiente de prevenção a muitas doenças. “Não tem segredo, é só higienizar as mãos, não tem milagre”, comenta .
Controle e
Prevenção
Em 1998 o Ministério da Saúde expediu uma portaria criando normas e diretrizes para a prevenção e o controle das infecções hospitalares. A partir de então, todas as unidades de saúde são obrigadas a manter uma comissão responsável por realizar o monitoramento desse tipo de ocorrência, relatando todos os casos.
O problema é que muitas instituições descumprem essas regras, ignorando os perigos que isso trás aos pacientes. Segundo informações da coordenadora estadual de Prevenção e Controle de Infecção Relacionada à Saúde, Neiva Fernanda Chinvelski Duarte, em Goiânia, no ano de 2010, menos da metade dos estabelecimentos de saúde notificaram os casos de infecção hospitalar originado em suas dependências. Isso impossibilita um maior controle sobre as ocorrências, inibindo possíveis ações de controle.
Neiva Fernanda explica que não existe uma média nacional da quantidade dos casos de infecção hospitalar e que os hospitais não são obrigados a informar aos pacientes os casos ocorridos na unidade. “Não podemos fazer média, pois cada hospital tem uma quantidade de infecção aceitável diferente do outro. Existem hospitais que têm mais e outros têm menos, o importante é que nós estamos monitorando e buscando sempre reduzir esses números”, afirma.
A coordenadora conta que, quando há um surto de um grande número de ocorrência em um mesmo local, a Comissão de Prevenção cobra uma solução dos responsáveis. “Quando há surto nós temos cobrado um plano de ação do estabelecimento. Trabalhamos para ter um maior controle e maior prevenção desse tipo de caso”, comenta.
Conscientização
A unanimidade entre todos os entrevistados é quanto a conscientização dos trabalhadores da saúde no que diz respeito ao controle das infecções e a correta lavagem das mãos como forma de prevenção. Pensando nisso, durante toda essa semana está ocorrendo a Quinta Semana de Controle de Infecção do Hospital de Doenças Tropicais (HDT). O evento é voltado para todos os profissionais de saúde e áreas técnicas e busca conscientizar os profissionais de saúde, o governo, os administradores hospitalares e o público em geral sobre a importância da higienização das mãos para evitar infecções.
A semana contará com atrações culturais e vários minicursos voltados aos cuidados com a prevenção. O objetivo é fazer com que os profissionais assimilem que uma atitude tão simples, como lavar as mãos, pode salvar muitas vidas. (Fonte: Diário da Manhã)